quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O AUXÍLIO LUXUOSO

Estava por aí entre crônicas e poemas, Recanto e blogs sorvendo ora cheiros de flores distribuídas aos montes em saudação à primavera, ora perscrutando corações apaixonados uns, desiludidos outros em tanta poesia romântica, e lendo textos de prosa de variada cepa, gama, alfa (e beto) inteiro, quando me vi envolvido com uma reflexão da nossa grande Zélia Maria Freire. Eu sei gostar daquele espaço, viu gente! Cada dia uma tema filosófico da mais alta relevância e substância para ajudar a preencher o nosso vazio existencial, o que não encontramos muito facilmente nessa vida cheia de confusão aventuras e muito pouca satisfação para fincarmos no peito como permanentes. O dia a dia é isso que se vê, que se faz por obrigação, a contra gosto muitas vezes e fica a sensação de sempre estar faltando mais alguma coisinha. No meu caso, a literatura tem conseguido ocupar esse vão com uma competência que até agradeço a Deus, de tão alegre e contente que fico. Mas vamos entrar no assunto senão vocês nem chegam ao final da leitura. Vira divagação sem substância que nem pão sem manteiga.

Já começo citando. Ela falava na crônica (Contrariando o Pai de Nero) sobre as citações que a gente costuma a fazer de outros autores. Sêneca seria contrário. Segundo o texto, ele afirmava que o saber divulgado através de citações seria próprio dos incompetentes. Lembrei-me de Schopenhauer. Nessa direção, ele afirmava que ler demais atrapalhava a produção de idéias próprias*.  Acho que, no caso era um recado aos seus detratores da época, pois no contexto onde afirmou, ele fala mal pra caramba dos literatos e filósofos contemporâneos seus. Isso eu é que depreendi lendo todo o livro.

Se você pegar um trabalho científico, uma tese ou uma dissertação, dificilmente vai se ver livre das intermináveis citações de outros autores que contribuem para uma homogeneização daquele pensamento que está sendo proposto ali. Ou também pode ser que os outros autores citados contribuam para a heterogeneização das ideias, se tiverem sido usados para contestar tal ou qual verdade ou assertiva. Vale dizer, então que os pensamentos se entrelaçam. Isso não se dá apenas em trabalhos científicos. Não ocorre também na literatura, na música e na poesia? Quantas vezes a gente se identifica com um texto em prosa ou verso e pensa assim: “por que eu não escrevi isso antes?” A formação do nosso pensamento se dá pelo nosso próprio pensamento (graças a Deus, isso acontece pouco, mas acontece) e com a contribuição mais diversificada que o nosso livre arbítrio e senso apontam ao tomarmos conhecimentos do texto alheio. Tomar conhecimento, porém não pode significar copiar, colar, nem mascarar, alterando uma coisinha aqui, outra ali e vendendo um peixe que não pescamos. Não estou falando de plagio e trapaça, isso é outro papo (muito ruim, por sinal).

Não vejo nenhum problema na utilização de outros autores: é um “auxílio luxuoso” às nossas idéias próprias e não lhes tira a originalidade , aliás, deixe-me citar aqui o grande Luiz Melodia, que auxílio luxuoso é daquela música dele, “lava roupa todo dia, que agonia...”

Zélia, minha doce amiga, o Sêneca creio ter falado isso porque na época dele muito pouca gente sabia ler, e os que sabiam deviam ser preguiçosos para escrever. Quanto ao Schopenhauer, se ele afirmou que quem lê muito não cria as próprias ideias eu gostaria de perguntar a ele (uma pena que não vai mais poder me responder) por que então ele escreveu tanta obra, quase vinte livros?  Não atrapalharia a gente?

* A arte de Escrever – A. Schopenhauer

12 comentários:

boutique de ideias disse...

Oi amigo querido!!! Vc está uma vez mais certo sobre as citacoes, embora "luxuosas" acredito que em excesso, empobrecem um texto, salvo as teses academicas que necessitam um milhao delas!!! Acho que a citacao (curta) sempre é válida e eficiente, quando consegue deixar aquela mensagem impactante que faltava, favorecendo a leitura, do contrário, quando mal empregada e exagerada, só enche linguica, hehe
A propósito, é verdade que o final do Lost teve uma conotacao religiosa? E... foi legal? Era o esperado?? Estou esperando baixar o preco por aqui, senao, fico sem olhos, haha mas estou super ansiosa... Beijao, meu querido!!!!!

chica disse...

Eu adoro te ler e hoje, trazendo nossa queridaelia pra cá ficou ótimo novamente. ADORO OS DOIS! abração,tudo de bom,chica

Zélia Guardiano disse...

Querido Cacá
Gostei muito do seu texto!
Muito, mesmo!
Você soube colocar de forma clara a sua opinião a respeito do assunto e eu concordo com você.
É muito bom encontrar matéria assim: enriquece-nos!
Grande abraço, amigo!

pensandoemfamilia disse...

Muito boa reflexão e realmente temos que nos colocar no lugar do outro (tempo/espaço)para analisarmos suas palavras.
Como leitura não abre a mente? Ela nos faz navegar por tantos mares, paisagens personagens, enfim ampliam nossa visão e nos faz pensar e escrever melhor, assim eu penso.

zelia maria freire disse...

Oi zé, sabe como cheguei até aqui? Por conta de um comentário feito por Norma, uma leitora sua, que por ter lido sobre mim em voce me visitou. Valeu. Obrigada meu amigo querido. beijo de zélia

Helena Frenzel disse...

Concordo com a Geyme: citar quando extremamente necessário. Tem gente que confunde texto literário com texto científico, onde aí sim, tem que estar tudo bem especificadinho. Até para casos de intertextualidade, pôr simplesmente entre aspas duplas, sei lá, deixar claro no texto que aquele pensamento não é originariamente nosso, pra evitar problemas com o autor. Por vezes é desnecessário, de tão conhecido que é. Auxílio luxuoso, sim, em parte. Quem deve bater o martelo no final que seja a necessidade: 'é imprescindível, então vai!' "Por que citar, por que não citar, citei-o-o!" Lembra disto? Talvez... Eu gostava deste quadro do Chico Anysio... Um abraço fraterno!

Neno disse...

oi,cacá,vim dizer que fico contente com tua visita e quase não posso vir aqui, tenho muitos trabalhos e temas. Hoje sabe qual bicho construi?
uma joaninha como a vovó chica,tudo com reciclado.
bjos,neno

Anônimo disse...

Cheguei!!!
Seu Antonio fala tanto do senhor que já estou aqui ha um tempão lendo seus escritos.
Seu Antonio tem razão, o senhor é muito talentoso com as palavras.
Bjs.

Toninho disse...

Gostei do chamado" O Auxilio Luxuoso",mas que bem ficou na conclusão do texto.Um pouco polemico e isto é bom,é como a gente se sente ao criar algo e pensar que já leu aquilo em algum lugar. Sua colocação é perfeita e eles nao poderão lhe responder nem puxar as orelhas. A referencia Zélia é lindo pois tem a magia mesmo na arte. E voce sempre com um tema que nos faz olhar e reler,isto gera o aprender e refletir. Um abraço amigo itabirano.

Maria Emilia Xavier disse...

Oi amigo,
Eu concordo com tudinho que você colocou. Loucura não citar o que nos impressionou, nos faz modificar um comportamento, um pensar...eu cito e acho ser um respeito e um elogio que certamente ele/a adorarão. Pena que eu não seja "estrelada" e nem tenha lastro para ser citada, AHahah...
Agora, amigo, não é só você que "sabe gostar" daquele espaço, eu vou por lá sempre que dá.
Zélia é um excelente "alimento" literário, e uma pessoa muito especial. bjs.

lis disse...

Oi Cacá
Gostei da idéia que tem sobre as citações, tão comuns em quase tudo que se lê.
Penso como voce, em muitos momentos torna-se um luxo !! eu gosto.
Claro que em nada o exagero é permitido!

deixando abraços

Sueli Gallacci disse...

Cacá, bela reflexão.

Penso que a literatura influencia nossa mente, sim. E poder ser de uma forma positiva ou negativa. Tudo depende das nossas escolhas.

Quando lemos um autor que admiramos muito, muitas vezes "pegamos emprestado" suas idéias, e até mesmo sua maneira de explanar esse ou aquele assunto.

Sou da opinião de colocar sempre na frente de cada texto a seguinte observação: "Conforme disse fulano de tal...”
Fica mais autentico e mais honesto.

E se vamos transcrever na íntegra o texto ou pensamento de alguém, destacar em negrito ou em ítalo pode ser uma boa idéia. E não se esquecer de colocar o crédito ao autor.
Quando transcrevo um texto que não é meu, mas desconheço o autor sempre coloco em parêntese (extraído) ou (desconheço o autor).
Não vejo nada demais em usar frases ou texto de autores que admiramos. É também uma forma de homenagem.

Um bjo gde.

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