sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

HOJE É UM DIA DE VERDADE?

O DIA 29 DE FEVEREIRO É DE VERDADE OU UMA INVENÇÃO HUMANA? O TAL ANO BISSEXTO, QUE DEVERIA SE CHAMAR BIQUARTO, DADA A SUA EXISTÊNCIA A CADA QUATRO ANOS, PARECE FICÇÃO, MAS ESTÁ AÍ. AMANHECEU 29, LINDO POR SINAL. PELO MENOS AQUI NO SUDESTE DO BRASIL E VAI CUMPRIR SUA SINA INEXORAVELMENTE. Com sol aqui, chuva acolá, frio mais além, COMO FAZ A CADA QUATRO ANOS, DESDE QUE O HOMEM, PARA ADAPTAR O CALENDÁRIO ROMANO AOS MOVIMENTOS DA TERRA PERANTE O MAJESTOSO SOL, INSTITUIU QUE FEVEREIRO, A CADA QUATRO ANOS SERIA ASSIM. TENHAMOS MAIS OU MENOS DÍVIDAS PARA PAGAR. TEMOS SETE mESES COM 31 DIAS E APENAS QUATRO COM 30, O QUE JÁ É UMA COVARDIA DO TEMPO COM A IGUALDADE DOS MESES E COM OS QUE VIVEM ÀS CUSTAS DAS VENDAS DE SUAS HORAS DE TRABALHO.

PODEM CONSULTAR NOS DICIONÁRIOS E COMPÊNDIOS DE CIÊNCIAS AS EXPLICAÇÕES ASTRONÔMICAS PORQUE NÃO VOU FAZÊ-LAS AQUI. APENAS DIREI DO INCÔMODO E AO MESMO TEMPO DO ENCANTO DE TER CONVIVIDO JÁ COM MUITOS ANOS BISSEXTOS. QUANDO CRIANÇA, A CURIOSIDADE MAIOR ERA COM O SEU ABEL, LÁ DE MINHA ITABIRA, DONO DA ÚNICA VENDA DE JORNAL E REVISTAS DA CIDADE, QUE (DIZIAM) FAZIA ANIVERSÁRIO NESSE DIA. OS POUCOS CABELOS QUE LHE RESTAVAM, ERAM BRANCOS E, AO MESMO TEMPO, TINHA A IDADE DE UM JOVEM. PARA MIM ELE SÓ PODIA CONTAR ANOS NESSE DIA, PORTANTO, TINHA 4 A MENOS QUE OS SEUS COMTEMPORÂNEOS. LOGO, COMO PODERIA ENVELHECER IGUAL AOS OUTROS MORTAIS?

MAIS ADIANTE NOS ESTUDOS VINHA A TAL EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA ( MAL DADA), DE COMO FUNCIONAVA O ENCAIXE DO DIA, SEM CONVENCER, CLARO, JÁ QUE A UMA CRIANÇA E, ÀS VEZES ATÉ A UM ADULTO MESMO, SE NÃO DER PARA SE APALPAR A EXPLICAÇÃO ELA CAI NO DESCRÉDITO.

AO ASSUMIR CERTAS RESPONSABILIDADES QUE A VIDA IMPÕE, VEM A TRISTEZA DE UM DIA A MAIS NAS CONTAS. ÁGUA, LUZ, TELEFONE... E UM DIA A SE ESPERAR A MAIS PARA O PRÓXIMO SALÁRIO.

PORTANTO, nenhum PONTO A FAVOR ATÉ AGORA PARA ESSE INTRUSO. ÀS VEZES AS DEFINIÇÕES QUE DAMOS PARA O CORRER DA VIDA VARIAM DE ACORDO COM O LUGAR DE ONDE OLHAMOS AS COISAS ANTES DEFINÍ-LAS. POR EXEMPLO, EU PODERIA DIZER QUE, PELO MENOS A CADA QUATRO ANOS, TENHO UM DIA A MAIS PARA ENVELHECER MENOS. NO OLHAR DE ALGUÉM MAIS JOVEM, JÁ ME DISSERAM AQUI, QUE É UM DIA A MAIS QUE TEM DE SER VENCIDO PARA SE CHEGAR “LÁ”. (AONDE, NÃO ME PERGUNTEM). E PARA TERMINAR, UMA DEFINIÇÃO DO DICIONÁRIO DIZ QUE BISSEXTO É PARA DESIGNAR AQUELES QUE POUCO PRODUZEM. NO CASO DOS POETAS, TEM QUE SE FAZER UMA COLETÂNEA PARA SE CHEGAR A UMA OBRA COMPLETA. DE QUATRO EM QUATRO ANOS.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

MORRER EM UM BLOCO CIRÚRGICO.

SE FOR NUM BLOCO CIRÚRGICO...

Dei uma pausa de uns dias por causa de duas cirurgias simultâneas de hérnia que vinham me incomodando há tempos e aproveitei que meu pai ia ser operado também de uma tendinite no ombro e marquei no mesmo dia e mesmo hospital que ele para um fazer companhia ao outro. Pelo menos em intenção.

Uma cirurgia programada oferece a oportunidade de observar detalhes e experimentar sensações que as emergências só permitem aos aflitos acompanhantes do debilitado pela necessidade da incisão, ocasionada por um acidente ou uma súbita ou ainda agravada doença. Por exemplo: o bloco cirúrgico. A gente já chega à porta com a sensação de ser a última porta que vamos ver em vida. Passando-se lá para dentro, passará desta para melhor. Só pelas fisionomias na ante-sala das cirurgias, tem-se uma noção de que a coisa vai ser feia mesmo. Os olhares de pavor, os ouvidos atentos a cada comentário do paciente do lado para sentir se o problema do outro é pior que o seu, se suas chances são maiores, que você há de voltar lá de dentro e rever os outros já operados e sorrindo de alívio, etc.

Passada a porta dos desesperados, a sensação é outra. Ou outras. A primeira é a de ter descido um andar. Não sei se é pela proximidade com o teto, mas parece que literalmente fomos para o andar de baixo. Depois, para quem gosta da fama, os holofotes. As luzes todas do ambiente são direcionadas para o paciente, que, se consciente estiver, sente-se a verdadeira celebridade hospitalar. Depois, vem o alívio efêmero provocado pelas brincadeiras dos médicos, enfermeiros e auxiliares. Todos querendo criar “um clima” ou não querendo deixar “um clima”, fazem piadinhas, perguntas sobre a vida, comentários superficiais para dar a sensação de que nada diferente está acontecendo ou para acontecer. Esta última, pelo menos em mim, gerou o sentimento de que morrer no bloco cirúrgico – de cirurgia programada, que fique bem claro -, é algo sem dor e deixa o morrido com um largo sorriso, de tão agradável a tentativa de nos elevar o astral baixo pelo medo do corte do bisturi. Assim, dormi antes mesmo de terminar a anestesia e acordei ante um falatório geral no momento em que me costuravam as partes incisadas. Parecia que tinha chegado ao paraíso.

Já cortado, reparado e costurado, aqui estou de volta, esperando secar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

"O CACHORRRO É UM SER HUMANO COMO QUALQUER OUTRO"

Há alguns anos, no governo do Collor, havia um ministro do trabalho de nome Rogério Magri, figura patética (senão cômica) do movimento sindical, que virou ministro para ajudar ao “caçador de marajás”??? a collorir sua gestão com popularidade. Ele, por falta de recursos lingüísticos ou por querer deixar alguma marca na história, era dado a neologismos (criar palavras ou expressões que não constam no vocabulário oficial ou formal). É dele a terrível criação do eu sou “IMEXÍVEL” (disse em uma entrevista quando questionado sobre a sua possível demissão do ministério). Mas deixemos esse episódio para outra ocasião. Aqui vamos tratar de outra peripécia sua para falar sobre título acima. Certa vez, um carro do ministério foi flagrado na porta de uma clínica veterinária com motorista, funcionário do ministério e um cachorro pastor alemão que fora a uma consulta de rotina. Ao escândalo da divulgação, a excelência respondeu: “Qual o espanto? O cachorro é um ser humano como qualquer outro!” (sic).

Na sua sandice, acho hoje que acabou profetizando um fenômeno: dos tempos de isolamento de todas as relações coletivas do ser humano, das disputas por um lugar ao sol, por espaço na competição desenfreada e destrambelhada que o tal “mercado” impõe, onde o outro é um potencial oponente em tudo. Em casa, no trabalho, na escola, enfim, para ser uma pessoa de sucesso, devemos afastar todos os que se postarem em nosso caminho rumo à glória. (???). Esse comportamento anti-social, egocêntrico e individualista tem se materializado na preferência que as pessoas têm dado aos cachorros. Não quero aqui desfazer nem prescindir da companhia deles (eu mesmo tenho uma vira-lata muito "gente boa”). Mas está se tornando absurdamente insuportável a humanização dos cachorros e a cachorrização das gentes (eu também sei fazer neologismos). Só falta curso de línguas. Já temos hotéis, restaurantes, spas, academias e até psicólogos para cães. Bons tempos em que a convivência era inteira (incluindo as gentes e os cachorros). Não devemos nos espantar se, em breve, virmos anúncios de babás para ficarem com eles em nossas ausências do lar, se forem criados parques de diversões nos bares para eles enquanto seus donos tomam umas e outras (já tem até para crianças!), se no cinema e no teatro, criarem salas paralelas com espetáculos exclusivos para cachorros enquanto assistimos aos nossos e ainda, se forem de donos ricos e famosos, passarem a contar não com um guarda costas, mas um guarda cachorros em seus deslocamentos. Quem sobreviver a um pit bull cujo dono deixa à solta aterrorizando os humanos, verá.

P.S.: Já houve quem radicalizou e, do alto de sua 5ª dose proferiu a célebre frase: “O melhor amigo do homem é o uísque. O uísque é o cachorro engarrafado.” (Vinicius de Moraes).

sábado, 23 de fevereiro de 2008

ENTRE O VOCÊ E O SENHOR

Estou custando a me acostumar com a passagem do VOCÊ para o SENHOR. Em quase todos os lugares em que chego sou tratado agora pelo pronome Senhor. Tudo bem, sinal de que os mais jovens conservam a tradição do respeito aos mais velhos, mas... pera aí, não me acostumei com isso ainda. Sempre que me acontece, chego em casa e olho no espelho procurando essa feição que ainda não me dei. As rugas sequer aparecem, o andar ainda é firme e os cabelos agorinha é que estão ganhando umas mechas brancas. Nem adianta aquelas clássicas respostas “senhor é seu pai” ou “ Senhor está no céu”, já que as minhas próprias filhas (tenho duas) já me tratam assim. Deveria haver um período detransição para a gente ir se acostumando aos poucos. Do tipo rito de passagem, assim como acontece com as meninas aos 15 anos, debutantes para a vida. Poderia ser anunciado na legislação: ART. 40: A partir dos 40 anos, fica estabelecido que todos são senhores e senhoras perante a lei, sem nehuma distinção, de cor, credo e semblante. Revogam-se todos os vocês em contrário.

QUAL É A SUA?

QUAL É A SUA?

Há momentos em que dá uma vontade de expressar alguma opinião ou falar de coisas que nos angustiam e até mesmo que nos alegram ou aborrecem! Às vezes nos faltam palavras ou oportunidade ou ainda vontade. De repente, nos deparamos com algo que alguém fez por nós. Ocorre de fazê-lo com tanta maestria que dá até uma pontada de inveja, do tipo: “puxa vida, por que não escrevi isso antes? É exatamente o que eu sinto”. Foi o que me ocorreu dia desses, com um magnífico poema de Carlos Drumond de Andrade, que encontrei numa página de jornal, falando sobre nós como massa de consumo fácil, imediato e sem significância humana, no sentido mais doído por estar num poema e não numa matéria opinativa ou resenha ou dissertação de alguém desabafando nalguma publicação. Vejam só se não é essa a sensação que sentimos de falta de essência nossa e falta do outro, de relações mais sabidas e menos tidas:

EU ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome

Que não é meu de batismo ou de cartório

Um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

Que jamais pus na boca, nessa vida,

Em minha camiseta, a marca de cigarro

Que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtos

Que nunca experimentei

Mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

De alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

Minha gravata e cinto e escova e pente,

Meu copo, minha xícara,

Minha toalha de banho e sabonete,

Meu isso, meu aquilo.

Desde a cabeça ao bico dos sapatos,

São mensagens,

Letras falantes,

Gritos visuais,

Ordens de uso, abuso, reincidências.

Costume, hábito, permência,

Indispensabilidade,

E fazem de mim homem-anúncio itinerante,

Escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

Seja negar minha identidade,

Trocá-la por mil, açambarcando

Todas as marcas registradas,

Todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

Eu que antes era e me sabia

Tão diverso de outros, tão mim mesmo,

Ser pensante sentinte e solitário

Com outros seres diversos e conscientes

De sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio

Ora vulgar ora bizarro.

Em língua nacional ou em qualquer língua

(Qualquer principalmente.)

E nisto me comparo, tiro glória

De minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

Para anunciar, para vender

Em bares festas praias pérgulas piscinas,

E bem à vista exibo esta etiqueta

Global no corpo que desiste

De ser veste e sandália de uma essência

Tão viva, independente,

Que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

Meu gosto e capacidade de escolher,

Minhas idiossincrasias tão pessoais,

Tão minhas que no rosto se espelhavam

E cada gesto, cada olhar

Cada vinco da roupa

Sou gravado de forma universal,

Saio da estamparia, não de casa,

Da vitrine me tiram, recolocam,

Objeto pulsante mas objeto

Que se oferece como signo dos outros

Objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

De ser não eu, mas artigo industrial,

Peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é Coisa.

Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade.

Web Statistics