quinta-feira, 30 de setembro de 2010

VERSOS CARTESIANOS

Seus versos eram medidos. Sem métrica, medidos com trena  e lupa. Tinha uma prosa calculada, mas queria ser poeta. Mais: já nos primeiros acertos com as linhas, se intitulava bardo. Não, bardo não, que é muito “sensivel”.  A verdade vinha estampada nas junções das sílabas quadradas. Não era o dono da verdade, mas se considerava filho dos donos. Tudo podia ser comprovado em sua poesia. A dos outros, analisava com método de investigador. Tinha que ter segundas, terceiras e tantas intenções. Cada poema(?) seu parecia ajustado no exato espaço avaliado. Pareciam versos aquartelados.

Toda estrofe era um modo imperativo. Tocava a corneta e despertava a todos.
-  Poetas, hora de levantar e fazer poesia, senão vai ter ostracismo! Os versos machucados iam andando na folha, em fila, em ordem, até onde tinha estabelecido pela régua. Dali desciam para a linha seguinte, numa seqüência lógica. Se desse para rimar, lindo! Se não, uma imposição: - creiam todos quantos lerem que esses toscos ensinamentos são um poema do fundo de minha alma cartesiana.

Com tanta generosidade disponível...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PERSONA NON GRATA

NUM VELÓRIO

O velador se sente vingado. O velado, expiado. Um finge perdoar o que o outro nem pediu. Mais das vezes, o alívio de ver partir o vil é que dá uma lágrima que vem e seca logo, logo. Sociologia, antropologia, psicologia, filosofia: uni-vos! Em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém, que a religiosidade é hipocrisia usada para o perdão de toda a perversidade.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O TERNO

imagem -oficina do estilo


Tudo mudou tanto nesse mundo nos últimos séculos... e o ser humano vai se adaptando. Eu gosto de falar que as coisas mudaram, não o homem. Se pegarmos história e literatura dos últimos quinhentos anos, vamos constatar que o homem mudou muito pouco. Então vamos falar de progresso material, tecnologia e valores simbólicos.  As muralhas que protegiam as cidades medievais caíram ou viraram atração turísticas. Do aríete evoluímos para o canhão e dele para os bombardeiros aéreos foi um pulo, ou melhor, um vôo. Tantas profissões foram criadas... A última das últimas novidades é o tal de emprego verde. Não, minha gente, não se trata de plantadores nem de um retorno do homem para o campo. É o tal emprego em atividade sustentável - provavelmente para homens sem terno. Se esse negócio não é mais um lance de marketing, só vamos saber se continuarmos sustentados mais algum tempo aqui nesse mundo assolado.

E no meio disso tudo, o terno está aí, firme, já caminhando para o quarto século de seu reinado absoluto. Desde que o homem abandonou a roupa de guerreiro e criou as máquinas de combate para substituí-lo nas frentes de batalha, a roupa do poder simbólico ficou sendo o terno e dele não mais se abriu mão. Isso vem desde a revolução industrial. Portanto não se trata de moda, como alguns insistem em dizer, por exemplo que a moda feminina vive se modificando e a masculina, não. Na verdade o terno não é uma moda. Quem o veste está entrando dentro de um status não de um enfeite. Em alguns cai tão bem que o poder de sedução manifesta-se, mesmo que o cara não tenha poder nenhum. São os poderosos mais transitórios Alguns radicais já tentaram derrubá-lo. Deve ser algum esquerdista da moda, algum adepto do Joãosinho Trinta.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde o calorão é incompatível com a roupa já houve movimentos rebeldes que se reuniam em hotéis cinco estrelas e com ar condicionado para tramar a sua eliminação pelo menos no verão. O movimento só não ganhou as ruas por causa do insistente calor que faz lá fora.. Mas como abolir se quem manda nas coisas lá também anda de terno? Pergunte a eles se querem que o cara vá de bermuda e camiseta para o trabalho? Só se for vendedor de produtos de praia.

É o contrário: o movimento, em vez de ganhar adeptos da abolição, ganha  mais e mais uso. Crianças fashion usam ternos. Para o bem das aparências e respeito, porteiros e vigilantes, seguranças. Até ladrões de terno impõem menos medo (ou mais respeito, dependendo do ponto de vista de quem está sendo assaltado). Uma coisa pelo menos já virou consenso: quando os assaltantes estão de terno, as vítimas não costumam sofrer grandes traumas físicos. Eles não costumam atirar, no máximo uma coronhada em alguém que não acredita que o sujeito de terno esteja fazendo aquilo e vai tirar satisfações na hora que estão sendo feitos reféns.

Tem também os colarinhos brancos, mas isso é uma outra história. Mulher que tem poder exibe-o de tailleur. É um dos resultados da sua luta de anos e anos a fio, a linha, a chuleado e a caseado para se igualar ao poder masculino. Com isso, aumentou seu poder de barganha e também de sedução: uma belezura o traje!

Já tentei argumentar aqui em casa, sem sucesso, que quando eu morrer não precisam me enterrar de terno. Eu tenho apenas dois, comprados em muitas prestações, usados raramente, então no meu senso de sustentabilidade pensei que poderiam servir para vestir alguém depois de minha partida. Mas já fui vencido e, mesmo que não fosse a última palavra não vai ser minha mesmo! Nem o mau exemplo que eu contei para a minha família convenceu: é que outro dia eu ouvi num velório um cara se aproximar do morto, verificar bem a indumentária e comentar baixinho: “mas precisava enterrar com um Armani?”

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

(MAU) HUMOR ELEITORAL - BRIGA POR AUDIÊNCIA

Já que temos que agüentar o horário eleitoral gratuito, estou sugerindo a criação do HORÁRIO DO ELEITORADO GRATUITO. Vamos fazer nossa campanha por trabalho todo dia, honestidade, decoro, honradez e lisura uma hora por dia para ser transmitido somente na TV Câmara e TV senado. Nas TVs comerciais já basta o tanto de porcaria que temos que tolerar. A idéia é que depois do presidente da câmara e do senado verificarem a presença todos os dias dos parlamentares pelo painel eletrônico (um tipo de chamada), fosse mostrado para eles o programa quando as casas estivessem bem cheias. Aceitam-se mais sugestões para construir o programa do eleitorado. Será que vamos ter audiência?

VERSOS PERMANENTES DOS SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA

Está chegando o fim do mês,
meu senhor, minha senhora,
será a minha, a sua, a nossa vez,
de saber quem mais demora,
a gastar o benefício,
que mais parece uma esmola.

 Quem , a vida inteira no sacrifício,
ralou, suou e fez escola,
aprendendo e ensinando ofício,
ajudando a coletividade a andar,
chega a se aposentar,
mas não é recompensado
é antes, responsabilizado
pela falência de um sistema
que a gente mesmo é dono


porém falcatruas, descontrole e fraudes
Isso é um velho problema
E acontece sem o nosso abono,
na nossa cara e aos baldes.

domingo, 26 de setembro de 2010

ENTREVISTA COM ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

Foram mais de 80 horas de gravação. Demorou mais de dois meses a edição da entrevista. Ele falou coisas impublicáveis, cada expressão, cada palavra de baixo calão dirigida para o alto escalão... E ainda queria que tudo saísse do jeitinho que foi dito. O acordo não foi fácil. Em compensação nada foi fruto de ato secreto.
Ele não é famoso, mas vai que vira de uma hora para outra? Flash pra todo lado, microfones em profusão, aquela coletiva, ou aquela exclusiva. Nada disso comove nem demove o Arcanjo de seu anonimato feliz e provocador. Portanto resolveu dar essa entrevista apenas para seu pai. Para ficar em família, guardada junto com o álbum de fotografias para quando se for, servir de sobremesa filosófica para aqueles momentos de nostalgia da família reunida depois do almoço de um domingo qualquer.


- Arcanjo, meu filho, por que essa implicância com a modernidade?

- Tudo começou com os cachorros. A partir da observação da forma como as pessoas vêm tratando os cachorros ultimamente. Comecei a botar o pé atrás quando aquele ministro disse que o cachorro era um ser humano como qualquer outro. Esse pessoal que se declara defensor dos animais já pensou que, tirando os bichos de seu habitat, de seus costumes estão é lhes fazendo mal? Cachorro gosta de roupa desde quando? Gosta de dormir em cama, de escovar os dentes, de passar perfume? Ou isso é para agradar ao dono? Aquela pelagem que nasce com eles, é exatamente para se adaptarem às intempéries. Aí inventaram a tosa e as roupas para cães. Isso é defender animais? Ou satisfazer a vaidade insana dos sonhos? Quero dizer que adoro cachorros, viu?

- Como é essa sua mania de ver o outro lado das coisas?

- Qual deles? O obscuro ou o mal resolvido? O impublicável ou o indizível?
Há uma diferença entre o desconhecido e a desconfiança. O meu caso é o segundo. Filosofar a  partir da desconfiança o resultado é mais confiável. Se bem que resultados em filosofia são sempre uma resposta só: o eterno retorno.

Por que essa filosofia das ruas?

- Olha, já teve a Velhinha de Taubaté (já ouviu falar?) Aquela que acreditava em todos os políticos. Já teve o deputado Justo Veríssimo (aquele que inspirou a expressão “Tô me lixando pro povo”). Já teve até o General, que ficara em coma seis anos e não acreditava nas notícias que recebia do Brasil quando recuperou a consciência ( aquele do “me tira o tubo”, lembra?). Já teve o bordão do Brasilino Roxo (“só se for na França”, declarando-se incrédulo com acontecimentos sinistros no Brasil). Então, o Arcanjo é uma soma disso tudo. Claro que com o ingrediente essencial das ruas, das casas e do mundo do trabalho, que é onde  a virtualidade se manifesta de maneira palpável.

O que você acha da educação?

- Um grande negócio particular e um péssimo negócio para o público.

- E da violência?

- Um grande negócio para as empresas, um bom cabo eleitoral para o poder público, um horror para o público em poder da violência.

- E sobre o conhecimento, as informações que chegam aos borbotões para nós a todo instante?

- A tecnologia é uma coisa fantástica, olhando do alto da ambição humana de dominar a natureza e por conseqüência os semelhantes. Antes, para dominar um território novo era necessário deslocar milhares de homens num exército a pé, a cavalo, de navio e guerrear até escorrer a última gota de sangue do dominado. Aí, fomos evoluindo para as guerras aéreas, as bombas... Agora, basta um toque no teclado em qualquer computador potente de uma bolsa de valores poderosa e todo mundo sabe onde é o caminho do dinheiro. Todo mundo que eu digo é o mesmo todo mundo de sempre. Só vão deixando heranças para suas proles. O dinheiro é volátil mas o poder é concreto. Tem melhorado muito a humanidade em geral, desde que você esteja interessado em um negócio, em alguma “oportunidade imperdível” como dizem nos comerciais. Não há mais mistério em nada, nada mesmo.
Vou lhe dar o exemplo do desconhecido, do misterioso. Já transformaram até assombração e outras crenças no além em negócio rentável. Estão agora explorando o turismo em lugares que antes eram impenetráveis, cheios de mistérios que a nossa ignorância chamava de paranormais.. Aquele livro maravilhoso do Gilberto Freyre, “Assombrações do Recife Velho”, agora virou “case” para turismo na cidade. Ganham dinheiro com as histórias. Coitado do Freyre, deve estar revirando no túmulo! Pode ir lá para conferir, nem cemitério mete mais medo hoje em dia.

sábado, 25 de setembro de 2010

HIPOCRISIA TEM LIMITES?

Quando a gente resolve por um lance de maturidade levar a vida em busca de equilíbrio sofre uma tendência enorme de se irritar quando vê ou sente efeitos de ações extremadas. Mas, mas, mas, como resolveu que está em busca do equilíbrio permanente não pode ter reações explosivas diante de injustiças, principalmente. Quando se trata de hipocrisia, é ainda mais difícil não sair chutando tudo. Suspira fundo umas três vezes, joga um joguinho, acende um cigarro, brinca com o cachorro, dá mais umas três suspiradas enquanto pensa e depois age. É isso que eu fiz antes de escrever esta nota.

O mundo inteiro quase veio abaixo porque o governo do Irã condenou uma mulher que armou com o amante para matar o marido. Ela então foi condenada ao apedrejamento até a morte, segundo as leis de lá. É verdade que quase ninguém tolera o regime político deles, não tolera a religião deles e em cima disso, toda a indignação ganha mais força. É também verdade que é inaceitável uma condenação desse tipo em pleno século XXI em qualquer lugar que ela ocorra. Do Papa a Lula, todo mundo que tem alguma importância mundial foi instado a interferir em favor da mulher. Parece que infrutiferamente.

Agora, vasculhando o noticiário como faço todas as manhãs, encontro umas notinhas no jornal tal, no site tal, no portal de notícias tal, ouço um comentariozonho na rádio tal que nos EUA uma mulher vai ser executada por uma injeção letal por ter tramado a morte do marido para ficar com o seguro de vida. Já havia sido constatado pela própria justiça deles que ela é doente mental (possui um QI abaixo de 70) e é considerada inimputável por esse motivo,  segundo as leis do próprio país. Ocorre que não ouvi nenhuma grita , nenhum manifesto de internautas em defesa dessa mulher. Nenhuma manchete de capa, nenhum pedido para alguém interferir em favor dela. Por que são os EUA e não o Irã, nem Afeganistão, nem Iraque, nem Cuba, nem Venezuela, nem Bolívia, os inimigos que os brasileiros elegeram porque os EUA também elegeram. Vão à m... todos os que ficam aí cuspindo impropérios contra esses povos e escamoteando as barbaridades que os ricos e poderosos fazem. Equilíbrio, eu quero sim, mas hipocrisia me tira do sério.

P.S.: A notícia está nesse link para quem quiser ver

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DESPEDIDA


Vai em paz , ó pai dos inquietos*
Tu que me absorvestes tantos anos, me absolve agora
que te concedo ao seu José
Um catador que se alimenta de sobras fétidas,
cacos de consumo insensível
Ele que também tem na palavra um prato feito
enquanto espera quem lhe compre sucata
colhidas nas manhãs que independem de meteorologia
para levar arroz feijão e letras aos filhos
na idade das bolsas de comer e estudar.


(*Meu dicionário Aurélio que me acompanhava desde 1986 e agora (de tanto ser usado, ainda bem) se tornou irrecuperável).

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

OS DONOS DO MUNDO

Quem não sabe de uma história de injustiça onde o réu foi livrado da pena por influência de seu poder e dinheiro? Foi preso e depois foi solto rapidinho? Ou sequer foi preso mesmo com todas as provas evidenciadas?Ao final da leitura tenho uma proposta diferente de interatividade. Quem quiser comentar com exemplos, será muito bem vindo.

P.S: Maluf não vale. Ele já foi transubstanciado para a condição de felino. Tem sete vidas e não perdeu ainda nem a primeira no round com a lei.

OS DONOS DO MUNDO

Eu fiquei matutando até o pito acabar todinho no canto da boca. Esta expressão é de mineiro quando está pensativo demais. Custei a encontrar um título para este texto, como demoro a deixar de insistir que há possibilidade de equilíbrio da justiça, a despeito de uns terem muito dinheiro e outros terem pouco. Uns representarem muita coisa simbólica, gloriosa e heróica e tudo isso ultrapassar os limites que o poder deles emana, sabedores que todos somos que as ditas leis são para tornar todos iguais. Mas me acho um tolo idealista, renitente, um babaca, afinal, metido a querer uma boa medida para as coisas.

Um exemplo que vou dar vem do futebol. Podia ser do mercado financeiro, dos industriais, dos grandes latifundiários. Podia vir de um magistrado, de um parlamentar ou de um prefeito, governador ou  presidente, todos com foro privilegiado Mas estes não servem porque já criaram eles mesmos a sua superioridade com os tais foros. Poderia citar um astro da tv ou do cinema, um famoso âncora de jornal, uma top model. Tanta gente famosa, endinheirada e poderosa que poderia citar mas o caso é de um rapazinho do futebol. Não é o goleiro do Flamengo, apesar de haver ainda muita gente gritando por sua inocência no caso em que se meteu. A bajulação submissa sempre presume inocência, tanto de quem bajula (que pode ser ingenuidade) quanto de quem é acusado, por ferir os princípios da superioridade presumida.

Eu falo é do Neymar, do Santos, 18 anos.  Da noite para o dia, jogando um bolão, passou de um pobre garoto a estrela internacional. Num jogo, o técnico falou que o pênalti havido a favor de seu time deveria ser batido por outro jogador. Ele esperneou, esbravejou, insultou o técnico diante de todo mundo. Até ali, poderia entender-se como um episódio de “cabeça quente”. A rebeldia dele (naquele episódio) é mais do que justa. Própria da idade e do instante de emoção. Depois o técnico foi reclamar com a diretoria se não ia haver uma punição para o jogador pelo desrespeito. Descontaram 30% do seu salário e ficou um jogo sem jogar. O técnico queira dois jogos ou 15 dias. Final da história: o técnico foi demitido.

O incômodo é o que o dinheiro vem fazendo com as pessoas. Está se criando e reforçando o indesejável - que já estamos vivendo há tempos: para quem tem dinheiro e fama não há lei que seja eficiente, nem hierarquia que equilibre as quedas de braço quando há ilegalidade ou abuso. O poder econômico já foi mais disfarçado para mostrar quem é que manda. Agora não tem mais desfaçatez. E tem ainda um apoio popular e midiático que chega a dar medo. Esse sistema faz a gente se sentir cada vez mais insignificante humanamente. Tudo bem que haja consenso que devemos ser desiguais socialmente, já fui muito contra, hoje nem tanto por causa não do pensamento, mas da impotência. Então meu inconformismo fica restrito a escrever.

Não tenho medo da Dilma, nem do Serra nem do PSTU ou PSOL, tenho medo é do ilimitado poder que o dinheiro confere, acima e apesar de gente que rala, sua, acumula experiências e trabalho e é vilipendiado pelo poder da grana.

O dinheiro é ou não é o poder e a gente fica simulando, fingindo que acredita que existe justiça e se esforçando feito Sísifo para fazer com que ela equilibre aqueles dois pratos da balança? Hierarquia tem limites, ora, dirão os poderosos!

O Boris Casoy humilhou com seu pensamento de desprezo pelos pobres os garis em pleno ar para o país inteiro ouvir e o demitido foi o operador de áudio da TV. O Daniel Dantas, banqueiro, foi denunciado por muitas falcatruas e corrupção e o delegado foi desmoralizado, o juiz que ordenou a prisão foi desmoralizado, disseram que queriam aparecer. Tudo bem que quisessem, mas as denúncias não foram desmoralizadas até então. Ele falou que chegando ao Supremo Tribunal se livraria e foi assim mesmo que aconteceu. Ganhou habeas corpus rapidinho, rapidinho. Desviaram foi a atenção do caso para outro ponto O  Fred, jogador do Fluminense disse que o médico do time era um incompetente e o médico foi demitido. Fred sabe jogar muita bola, mas de medicina ele não sabe nada. O que todos eles têm em comum? Dinheiro, status, poder, nesta ordem.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

RUI

(A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DA PESSOAL PORTADORA DE ALZHEIMER)

Bem em frente ao segundo portão do parque ecológico da Pampulha há uma casa que foi transformada em centro de acolhimento de idosos e doentes cujas famílias internam seus parentes por razões que cada qual deve ter a sua. Lá está o meu grande amigo Rui Dias. Eu sempre paro com a bicicleta para um descanso à entrada do parque. De vez em quando vou lá fazer-lhe uma visita.

Conheci o Rui quando fui trabalhar na cidade de Mariana, há mais ou menos uns vinte e cinco anos. Daquelas pessoas por quem a gente se encanta logo numa primeira conversa. Alegre, zeloso, responsável e, sobretudo, muito solidário. Viramos sindicalistas juntos, convivemos por muitos anos na empresa até a sua aposentadoria. Mas continuamos a amizade, mesmo porque ele morava a três casas da sede do sindicato e estávamos lá todos os dias. Viajamos muito juntos, festejamos muita coisa juntos, estivemos em muitas lutas sindicais e da comunidade juntos. Um grande homem. Eu nutria por ele o respeito de um pai. Na época eu tinha 22 anos e ele já se aproximava dos 40. Depois virou uma espécie de irmão mais velho. Ele tinha um cuidado de pai com os rapazes mais jovens e tinha filhos pouco mais novos que eu.

Ele tem Alzheimer . Quando eu soube, já havia me aposentado também e me mudado para Belo Horizonte. Passava todos os dias na porta do seu novo “lar” e só vim a saber no ano passado que ele estava naquelas condições. No dia em que resolvi fazer-lhe a primeira visita foi um choque que até hoje não consigo encontrar palavras que expliquem. E preciso encontrar? Não sei. Entrei temeroso do que veria. A sua esposa havia me alertado de que ele  provavelmente não me reconheceria e o seu estado era desolador. Quando entrei numa grande sala, com vários idosos em cadeiras de rodas, em camas no quartos e ele sentado em um sofá, amarrado por lençóis já impliquei com a enfermeira do motivo daquele mau trato. Ela me disse que era a forma, às vezes necessária de alimentá-lo sem que quebrasse os utensílios ou quando ficava agressivo com as pessoas. Era melhor do que entupir-lhe de sedativos. Senão também à noite teria que dar mais sedativos para garantir o seu sono e o dos demais. Uma forma de não conduzir o tratamento apenas com remédios que apenas aliviam os trabalhos das pessoas e menos a situação do paciente.

Conversei com a enfermeira chefe do lar, recebi as explicações da evolução do problema, das poucas esperanças de progresso e sai o mais rápido que pude. Voltei à pracinha da entrada do parque e ali recebi a emergência do choro incontido. Tive que ser amparado pelo porteiro do parque que me imaginou estar sofrendo algum mal súbito. Era um desabafo de quem mesmo presenciando tal cena se recusava a crer que tão repentinamente as faculdades possam se esvair em uma insanidade incontrolada, incurável e progressiva. Nem tanto a caminho da morte, mas a caminho de um aumento do descontrole e da vida vegetativa.

No dia de seu aniversário em agosto, gravei uma música que ele sempre pedia para que eu tocasse ao violão quando estávamos em alguma festa ou rodas de bar, O CUITELINO, com Pena Branca e Xavantinho. Era a sua música predileta, sempre nessas ocasiões tinha que cantar no início e no encerramento da festa. Normalmente o dia 22 de agosto era comemorado em sua casa. Tínhamos 5 amigos que faziam aniversário nesse dia e ele fazia enorme questão que fosse comemorado em sua casa. Com muito churrasco, violão e amigos. Era o seu evento mais importante do ano.

Eu fiquei pensando em como classificar esse texto para publicação. É uma homenagem? Uma carta? Uma mensagem de alento ou de lamento? Ontem, dia 21 foi o dia mundial que a medicina – apenas - e os parentes de pessoas portadoras se voltam para uma reflexão mais profunda sobre o Mal de Alzheimer.  Classifico então este texto como um alerta (já que meu desabafo foi feito) para os cuidados e prevenções necessários para que tenhamos uma velhice somente com os problemas naturais e sociais dela decorrentes no nosso mundo. Sem mais esse sofrimento. Indico a leitura  do blog da Maria (Divagar Sobre Tudo Um Pouco) tratando do assunto. Clique AQUI


terça-feira, 21 de setembro de 2010

CRIME COMUM X CRIME ESPECIAL

Se é limpa a sua ficha
é bom ter certo cuidado
não cometa deslize
não ouse um pecado

A pena é áspera como lixa
seu foro não é privilegiado
A menos que seja você
juiz, vereador, presidente, governador
parlamentar do tipo senador
ou sido eleito deputado

Portanto , meu amigo
malandro que é malandro
sabe o gosto da pancada

Quando um infortúnio lhe põe a teste
a frase é a de César
“alea jacta est”
o que quer dizer
sua sorte está lançada.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ALFABETO ELEITORAL PARA ANALFABETO POLÍTICO

Alfabetizados até somos
Basta olhar no título
Cada eleitor tem o seu
Duro é fazer valer
Esse diploma tão caro
Fabricado a duras penas
Grande arma democrática
Hoje tão mal utilizada
Incluímos de vereador a presidente
Justos e trapaceiros
Kikos, kacos, koisas
Lamentavelmente
Mas um dia isso muda
Nunca mais elegeremos
Oportunistas disfarçados de honestos
Párias confundidos com puros
Quando assumem o poder
Rasgando promessas, palavras e decências.
Saturando nossa paciência
Transgredindo a outorga recebida
Usurpando o pão que alimentaria
Várias , milhares, milhões de bocas
Xô, camarilha
Yin e yang é preciso
Writ é nosso recado na urna e
Zangados não mais ficaremos.

Obs: criado para interação com o "Alfabeto Eleitoreiro" da Giustina, do Recanto das Letras.
Acesse o texto dela aqui

domingo, 19 de setembro de 2010

VERSINHOS PARA SETEMBRO

GOOGLE IMAGENS
Fico dado a poemas em  setembro
E por gostar de flores e de poesia
arrisco mais um pouco
Vou tateando, procurando um verso,
um alento que vez por outra me acode
quando estão fortes demais umas dores
nesse mês  em que nasci.
Por isso vou fazer poemas
mas não quero falar de amor e nem de dor
Seja o que for,
só quero mesmo  me lambuzar da melodia das palavras
floridas.

sábado, 18 de setembro de 2010

ARCANJO, SEU (MAL) CRIADO

Depois da última crônica, muita gente ficou me perguntando quem é esse tal de Arcanjo. Eu o havia apresentado no ano passado, mas diante dos insistentes pedidos dos meus milhares de seis leitores, trago-o aqui novamente.



ARCANJO  ISABELITO SALUSTIANO
 FILÓSOFO COM FORTE INCIDÊNCIA NO PSICOLÓGICO


            A escolha do nome se deu pela preferência por originalidade. Não gosta de repetição, coisa que não fica bem para um filósofo que se preza. Arcanjos no céu até que tem muitos. Agora, Isabelito Salustiano é mais raro. Ficou assim por adoção própria, mas não quis registrar em cartório.

De tanto subir e descer ladeira em Minas Gerais, olhando, ora de cima, ora de baixo as coisas e as pessoas, acabou formando-se em filosofia. Livros especializados leu uns três (caros demais); o resto completou na internet. Mas tem o lado negativo também: de tanto ficar sentado na frente do computador, adquiriu uma hérnia de disco. Hoje quando senta assim meio de lado, tem gente que acredita estar soltando gases. Na verdade, é para distribuir melhor a dor pelo corpo todo. Democracia filosófica aplicada ao corpo.

 Mais mineiro que feijão tropeiro e broa de fubá, mais desconfiado que buraco de fechadura. Tem umas incursões pela psicologia. Herança de Adão (do sobrenome). Observa calado e pá, solta um palavrório afiado, um substantivo que fere ou engorda de alegria. Adjetivos solta poucos para não envaidecer os já emplumados e nem deixar de ser econômico. Não dá consulta por falta de alvará, mas dá palpite em tudo, sem cobrar. Só não lhe peçam palpite para jogo de loteria.

É um otimista acima de tudo. Acredita que o Brasil é o país do futuro, só não conseguiu ainda definir para quando. 

Outra tese sua, indefensável dentro da odontologia: o maior sintoma da depressão humana é quando a pessoa deixa de cuidar dos dentes, mesmo tendo recursos financeiros. Não foi tirada de nenhum tratado de psicanálise - adaptou uma frase de seu irmão mais velho.

Para ele, o bem e o mal estão divididos em duas categorias: os muito maus e os domesticados por terem algo a perder. Esses últimos são chamados na sociologia de civilizados.

Não costuma fazer juízos de valor embora tenha sempre uma receita para tudo. Talvez um legado dos tempos em que foi cozinheiro. É tão verdade que sua máxima para crises existenciais, de relacionamentos amorosos, problemas políticos vem da cozinha e diz: “água e fubá bem dosados evitam angu de caroço.” Ou caroço no angu para os mais perfeccionistas.

Passa a freqüentar às vezes, com uma alegria desnecessária, outras, com uma ironia involuntária, páginas gloriosas de análises, blogs, recantos e outros lugares onde haja necessidade. Gente para oferecer soluções para o mundo já tem demais. Precisa de alguém para embolar um pouco o meio de campo. A intenção é tão somente ajudar aqueles que acham que trocar de carro, de casamento, uma roupa nova, arranjar um emprego de servidor público, levar o cachorro no banco traseiro para passear, é toda a felicidade possível existente no mundo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

BESTIALIZADOS E BILONTRAS

Oi, gente. Aqui é o Arcanjo. Era para eu ser assim apenas um abestado alegre pela pena daquele José Cláudio, meu pai de criação. Mas estou ficando é bestializado. Isso mesmo, transformado em imbecil diante das coisas que vou encarando pelas ruas. “Os Bestializados” é uma obra de história do Brasil que saía da monarquia para a república num cenário social em que a população era tão apática quanto é agora diante das eleições. Há um apelo propagandístico para o envolvimento popular nas eleições mas ela não se efetiva além do voto e de umas discussões apaixonadas . Fala-se mal e fala-se bem e vota-se muito mal, no frigir dos ovos.

Agora, vejam só o conceito do cara candidato a um cargo eletivo. Eu fui conversar com ele sobre o que o motivava a se candidatar, já que é a sua primeira vez - a gente sempre deposita esperanças nos neófitos. Ele me disse que a evidência é o maior desejo de todo mundo. Segundo sua teoria, o mundo aumentou demais nos últimos anos e para ficar em destaque a pessoa tem que criar fatos sempre. Chamar a atenção de uma forma que possa cair nas graças do público. Então, como não sabe jogar bola, não sabe cantar nada, nem rebolar, não sabe atuar nem que seja atrás de uma câmera escondida de um realitty show, apesar de ter mandado muitas cartas tentando se inscrever, resolver que fazer politicagem é o meio mais fácil e rápido de se tornar conhecido e ainda por cima ganhar muito dinheiro.

 Resolveu e assumiu que vai ser através da corrupção. Ganha duas vezes. Fica rico e ainda por cima famoso. Eu argumentei com ele que o povo já não está tão bobo assim, de cara ir votando no primeiro que aparece com um discurso fácil e perguntei se ele tinha algum mote de campanha. E sabem o que me respondeu? Que tinha sim e era exatamente o oposto do que ia fazer e o mote era combater a corrupção. Não lembra o caçador de marajás, como foi que ele se elegeu? Punhos cerrados, cara nervosa, discurso contundente e pronto. Estava montado o circo de horrores. E deu certo. Durou pouco mas deu certo. Tanto que o cara está aí na crista da onda e celebrado novamente.Quanto a escapar das penas, nada como um bom discurso, um bom dinheiro, um bom advogado. Fácil, fácil nesse país de oportunidades para oportunistas. Saiu pra lá com cara de bilontra empunhando sua bandeira, distribuindo seus santinhos no semáforo com uma turma de cabos eleitorais – que ele chama de militantes - contratados a um salário mínimo por mês cada um e eu saí pra cá com cara de bestializado.

ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO – O FILÓSOFO DAS RUAS.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

FALANDO SOZINHO II

“Não blasfemo, não pondero, não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém”
(Trecho da música Lero-Lero, de Edu Lobo)


A Silvia começou o papo depois do café da manhã naquela mesa com uma meia dúzia de quase idosos, mais duas adolescentes e, é bom que se diga, nenhuma criança:

- A gente vai envelhecendo e vai perdendo a paciência com tanta coisa... Eu, por exemplo, não tolero criança birrenta. Foi de pronto, emendada pela Marieta:
- Que nem eu. Detesto ir a casas onde têm crianças. É barulho demais!

Só uma pausa: a gente ouve tantos adultos dizerem que não agüentam a intolerância e a indiferença dos outros adultos, que as crianças são o símbolo da ternura, o resgate da pureza, da inocência, são a esperança de um mundo melhor e depois tem que ouvir quase das mesmas pessoas essas barbaridades. Estranho mundo!

Um dia eu comprei uma briga de um tamanho que nem conto. Foi pelo fato de ter afirmado ironicamente que sempre achei ser a babaquice algo que se curava com a idade. Dei razão para a pessoa que brigou comigo. Não cura mesmo. No final a gente acaba sendo o que foi a vida inteira. Se foi intolerante, não será a velhice que vai agraciar com paciência.

O envelhecimento por si só não ensina nada além de horários para tomar medicamentos. É preciso ir cultivando os aprendizados como um agricultor e não como um bóia fria diante da plantação. O agricultor ara, semeia, aduba, planta rega e colhe. O bóia fria só colhe a troco de migalhas para a sobrevivência. Não participou do processo, não se envolveu com os maravilhosos mistérios da terra, não viu as pragas, não ficou apreensivo com excesso de sol ou falta de chuvas. Não é demérito para o bóia fria, afinal ele é contratado com o fim específico da colheita. É apenas uma analogia sobre o processo de aquisição de conhecimento que leva ao discernimento, com o aprendizado da tolerância, com a convivência com as intempéries, com a necessidade de aprender a tomar decisões. Na safra seguinte, o agricultor sempre tem idéias mais interessantes para a terra.

Do mesmo modo é o agricultor predador, que só se preocupa com uma safra. Chega, derruba o mato, bota fogo, planta, não se cerca dos cuidados necessários a uma boa colheita, provavelmente não vai tê-la e para a safra seguinte, sua terra provavelmente vai estar enfraquecida de nutrientes e ele, ou vai embora o vai gastar muito para recompor o solo que ele mesmo estragou.

domingo, 12 de setembro de 2010

HUMOR HERÉTICO

NOVOS PRECEITOS BÍBLICOS

- Fazer o bem sem olhar a quem, mas consultando o cadastro antes.

- Amar o próximo como a si mesmo, desde que se ganhe algo com isso.

- Crescei e multiplicai-vos, observando sempre a sustentabilidade do planeta.

- Na hora da liturgia:
Celebrante: Palavra da salvação
Todos(?): Glória a vós, Senhor Dinheiro

- Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas o Senhor não sabe o luxo que está perdendo.

- Senhor, nunca na história desse país, ou melhor, nunca na história da humanidade seu santo nome foi invocado tão em vão como atualmente.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O PÃO-DURO

ENTRE PÃO DURO E PERDULÁRIO
Como você gasta? Alias, gasta?
Pois é essa a diferença
entre perdulário e pão duro
É um, otário, imaturo,
O outro, desconfia, só vê futuro.
O perdulário gasta desbragado, libertino
O pão duro é complicado, não gasta,
Para ele é desatino
Entre os dois tem o terceiro
Não abusa nem recusa
O que é preciso usa
Sem remorso, sem salseiro
Põe na balança o valor do dinheiro
Junta com a necessidade
Pensa sem gastar
Gasta sem vaidade
Esse aí não abusa
nem é receoso
Sabe de que jeito
Quando e como usa
É parcimonioso

Eu me lembrei desses versinhos que fiz num dia de cabeça agoniada por causa da perspectiva de um certo descontrole financeiro. Estava me achando consumista demais por querer um celular que fotografasse, tocasse música, filmasse e, claro, exercesse aquela função que mais falha: a de telefone, tudo num aparelho só. A pseudo-crise foi pelo fato de eu já possuir esses aparelhos separados. Pra quê, pensava eu? Comprá-lo ou não comprá-lo? Como ando muito de bicicleta, pensei em um objeto só, fácil de transportar e que chamasse menos a atenção na rua. Mas a crise se instalou, acabei não comprando e pus fim à guerra entre o anjinho e o capetinha da consciência fazendo os versos.

Agora é a  Mina, minha amiga que vem me contar um caso de seu parente,  tão pão-duro que quando a pasta de dentes está acabando, ele rasga o tubo com uma faca, como se estivesse abrindo um pão ao meio e raspa lá dentro com a escova para aproveitar o restinho que se agarra no tubo. Eu tentei justificar que pode ser que ele seja um ecologista que devolve os materiais descartáveis para o lixo limpinhos, no ponto de ir para a reciclagem, mas ela disse que é mesmo por sovinice. Consciência ecológica não é o forte dele. Segundo ela, o cara só compra produto pirata e ecologista que se preza não faz isso. Pirataria gera lixo inservível mais rapidamente por durar muito pouco. Ele é um pão duro de mão cheia, sem trocadilho. Palavras da Mina.

Não sou um gastador. Além de não contar com muitas sobras e por achar que o que preciso para viver é muito pouco, prefiro aproveitar meu dinheirinho com coisas que me satisfazem de maneira mais prolongada. Coisas que me dão uma alegria que não se acaba junto com o produto ou com o enjôo dele. Então, posso me considerar um parcimonioso? Sei lá, consumista é que não!

O que estou tentando mesmo é entrar na alma de um pão-duro, desses que ficam medindo cada centavo que vão gastar e demoram tanto a decidir que se fosse naquela época de inflação galopante, o seu sofrimento seria maior. O que era hoje de um preço, amanhã já estava mais caro. Como deve sofrer um pão duro!. Ou será que é a gente observando é que sofre por ele? Eu conheço alguns cuja maior alegria da vida é fazer o seu dinheirinho ser multiplicado numa pechincha. O cara fica dois dias falando da economia que fez comprando uma mercadoria mais barata. Só não pode é passar num outro estabelecimento e ver aquilo que comprou ontem na liquidação. É risco de adoecimento. Faz cara de mau humor, não conta para ninguém o motivo, fica remoendo, se torturando para penitenciar-se por não ter pesquisado mais ou esperado. Tem tanta coisa para se falar sobre essa turma controlada...



P.S: Fui procurar o significado etimológico da palavra e acabei encontrando esta pérola para ilustrar a minha pobre crônica. Está do site: www.perguntascretinas.com.br/2008/08/05/os-10-mandamentos-do-pao-duro/

OS DEZ MANDAMENTOS DO PÃO-DURO

1. Nunca dizer: “Pode ficar com o troco”.
Troco é troco. É nessa pequena economia que se junta alguma coisa no final do mês. Ou, se não der para juntar, prolonga o final do mês.

2. Não colocar a mão no bolso em vão.
Comprar deve ser um verbo menos utilizado do que hoje em dia é. Se briga com o namorado, sai para comprar. Se volta com o namorado, sai para comprar. Pense antes de gastar o suado dinheiro.

3. Amar seu bolso como a si mesmo.
Seu bolso faz parte do seu corpo. Maltratando seu bolso com compras no impulso você estará se maltratando. Como a musiquinha no colégio… “Cabeça, ombro, bolso, joelho e pé. Joelho e pé…”.

4. Lembrar que tudo tem sem preço. Então, vamos às promoções!
Com mais organização e familiaridade com os preços, conseguimos boas promoções. Experimentar um produto mais em conta é boa estratégia. Não significa consumir um produto ruim só porque é mais barato.

5. Pechinchar sob todas as formas.
Para alguns povos, como o árabe, por exemplo, comprar o produto pelo preço que lhe é oferecido chega ser uma ofensa. Eles esperam que se regateie , pechinche. Faz parte da venda negociar o preço. Se em dinheiro é mais barato do que com cartão de débito você só irá saber se negociar o preço da compra.

6. Não desperdiçar.
Lavar o carro com balde economiza água, certo? Há muito mais acertos no nosso dia-a-dia se formos controlados com os gastos. Economizaremos nosso dinheiro e mantemos o planeta para próximas gerações.

7. Ir a compras somente aos domingos, quando quase tudo está fechado.
O politicamente do mandamento anterior cai por terra com este agora. É radical, mas domingo tem poucas opções de compras. Quem sabe seja a sua saída para não gastar demais?

8. Valorizar cada centavo.
Sabe aquela caixa de mercado que “fica lhe devendo” um centavo? Ela está cometendo um crime! Apropriação indébita. Se você não aprender a valorizar seus centavos, não irá valorizar seus milhões.

9. Analisar o custo/benefício.
Esse serve para tudo. Desde uma relação até o dinheiro! Serve para responder quem acha que pão-duro compra o barato pelo barato. Não! Analise o custo/benefício antes. Aliás, analise até o custo/benefício de ser controlado com os gastos. Se lhe der dor de cabeça maior do que ficar no vermelho, gaste à vontade!

10. Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado. Cobrar juros, não!
Não me peça dinheiro emprestado! Tem bancos e financeiras mais bem preparados que eu. E com juros bem maiores…


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

(MAU) HUMOR ELEITORAL

imagem google


Se a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, por que existem governistas e oposicionistas? Não era para haver só povistas?

(MAU) HUMOR ELEITORAL



Chega a época de eleições e a gente é estimulado a eliminar através do voto a banda podre da política. Estou procurando onde foi parar a banda boa.

(MAU) HUMOR ELEITORAL

Na conjuntura social brasileira, as trocas democráticas de mandato sustentam a manutenção alternada da permanência. Uma tradução para: tudo muda para permanecer com está.




“ISSO TUDO ACONTECENDO E EU AQUI NA PRAÇA DANDO MILHO AOS POMBOS...” (Zé Geraldo)



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A ETERNIDADE DO MELÃO


O Marcelo é um cara agregador. A sua aura é daquelas que exalam uma energia  tão boa, que acho difícil até mesmo para um estranho  que lhe aborde para qualquer coisa não querer permanecer em sua companhia por mais algum tempo. Eu não sei se posso me considerar seu amigo. Pelo menos gostaria. Depois de muitos anos sem notícias mútuas, nos encontramos outro dia. A gente ali naquele papo de atualizar as trajetórias e ele me disse o quanto a sua vida havia mudado de uma hora para outra. É que tornou-se pai de quadrigêmeos. Virou notícia no jornal da televisão aqui em BH.  No entanto não tinha uma olheira sequer, mesmo me dizendo que seu ritmo é levantar no máximo às quatro da manhã para fazer a sua parte nas mamadeiras, ajudar a carregar uma ou duas das meninas enquanto as outras mamam, trocar fraldas, etc e depois sai para o trabalho, no escritório de advocacia, aquela loucura de reclamados e reclamantes , audiências, petições e recursos. Ah, e ainda me contou que continua com sua banda tocando nas noites. Ele gosta muito de rock e disse-me que agora faz um cover de Elvis Presley.  Toca pelo menos uma vez por semana em bares e festas. Eu disse, depois de verificar que nesses anos todos e num turbilhão assim, a receita da boa genética e da conservação pelo espírito tranquilo estava com ele.

A medicina já está anunciando que vamos poder chegar saudáveis até os 100 anos. Eu disse para ele que algumas pessoas vão precisar mesmo de uma ajuda da medicina se quiserem. Acho que ele não vai precisar. E olhe que ele possui um sócio que tem todos os ingredientes para melar a sua longevidade! O outro é uma bomba relógio armada. Destemperado verbalmente, intolerante e impaciente, quase sempre de mau humor. Creio que o Marcelo seja o seu ponto de equilíbrio. O sócio dele, se quiser viver 100 anos, vai precisar e muito da ajuda de tecnologias médicas.

Muita gente nesse mundo tem um desejo de se eternizar. Uns por algum feito memorável outros pela permanência em carne e osso aqui na terra. A consciência da nossa finitude é o que acho que mais assusta e faz as idiossincrasias de cada um. Alguns buscam exercer a hipocrisia da bondade que não possuem com medo quase religioso do que possa haver depois da morte. A maioria, no entanto se contenta em fazer o bem por pura consciência de que está cumprindo seu papel de vir, deixar uma boa contribuição e partir desta. Mas é muito difícil encontrar alguém que queira morrer de bom grado, mesmo com a consciência tranqüila, né não? Portanto, vamos vivendo por ai nos equilibrando nesta dicotomia impalpável.

Bom, e o que o melão tem a ver com isso? Eu só ia falar dele no dia 31 de dezembro, quando vai fazer um ano que eu o comprei.  Está já com nove meses, quase dez e permanece intacto na fruteira daqui em casa. Não desidratou  que nem um maracujá maduro, não amadureceu mais, nem apodreceu - como poderá alguém pensar. Está viçoso e com a mesma aparência que veio da feira até hoje. O que o homem fez com o melão é o que deve estar sendo preparado em termos de eternidade para a genética humana. Já, já, vamos poder escolher entre o que está no seu interior e o que ele aparenta por fora.

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