terça-feira, 31 de março de 2009

"MEMÓRIAS DE UM TEMPO ONDE LUTAR POR SEU DIREITO É UM DEFEITO QUE MATA"

Eu freqüentava o Grupo Escolar, quando o terceiro presidente da golpe de 1964 foi visitar a mineração Vale do Rio Doce na minha cidade. Todas as crianças da escola foram impecavelmente uniformizadas e portando bandeirinhas do Brasil feitas de papel e bambu, perfiladas no Ponto dos Aflitos, caminho da mina, onde funcionava um mercado clandestino de hortifrutigranjeiros e outras, carnes, ervas e outros utensílios em meio à imensa poeira e lama. Aquilo tinha que ser mascarado não podia o presidente ver nem saber da existência. Diziam para a gente que era a revolução. Nesses eventos era obrigatória a participação, com as mãos no peito para mostrar orgulho e sorrisos de crianças nos lábios representando a satisfação da população. A mesma coisa era no sete de setembro. O desfile era obrigatório. Valia até nota no boletim. Mas depois fui crescendo até o dia em que vi uma bomba sendo jogada em minha casa. Passou um fusca, jogaram e nem deu para saber quem foi. Ninguém nos dizia nada. Só sabia que meu pai era do sindicato dos trabalhadores da mineração. Mas ninguém falava nada.

Mais adiante, vim para capital estudar. Aí comecei a ver que tinha gente querendo fazer uma revolução. E pensava. Mas já não teve uma revolução? Começaram a me ensinar que a outra revolução era para restaurar a democracia. Comecei a ver com meus próprios olhos e sentir no nariz, quando na rua, a gente tinha que correr assim, do nada, de avanços das tropas em cima de alguma manifestação, tampando a cara dos gases das bombas. Passei a gostar de ler e os rapazes da república onde morava me alertavam que não era qualquer livro que se podia ler. Tinha uma censura, com livros, com discos. Mas na televisão e nos jornais nada se falava sobre o assunto. Lendo às escondidas, comecei a entender o sistema. Me envolvi também vendo colegas todos engajados, estudantes nas ruas todos os dias. Percebi que a outra revolução que se tentava era para derrubar o regime que humilhou, ofendeu, torturou, matou, destruiu vidas carreiras, reputações, famílias. Para andar nas ruas à noite o documento que tinha que se ter em mãos era a carteira de trabalho. Não adiantava RG, CPF. As bancas de jornais que vendiam material ‘proibido’, viviam sendo explodidas, tais como as redações de jornais que ousavam criticar alguma coisa. Não pode ficar esquecido. Passou mas não se esqueceu. Durou vinte e um anos.

Hoje faz 45 anos que tudo começou. Ainda bem que já passou, mas eu estou contando essa historinha é mais para quem nasceu depois disso tudo, maioria de jovens tão desligados da história, que nem sente os pés no chão a não ser para mostrar tênis de marca. Que não têm a democracia como valor social coletivo e universal. Para aqueles que acham que é na economia e no consumo que reside toda a felicidade possível de ser alcançada.

domingo, 29 de março de 2009

ESCOLA - UM GRITO DE PAVOR

Entre tantas ocorrências, há umas que incomodam mais que outras. Ultimamente estão frequentando as escolas. Sim, a polícia está sendo chamada repetidas vezes. Os motivos? Agressão a professores por alunos, a alunos por professores, brigas entre alunos, assassinatos de alunos. Friamente, poderíamos fazer uma análise sociológica da seguinte forma: a escola reproduz a sociedade, portanto, é natural que suas mazelas caminhem em sua direção (da escola). Com tão baixos salários e precárias condições de trabalho, os professores são mais vítimas do que algozes. Se a escola virou um negócio como qualquer outro, faz-se de tudo para obter resultados publicáveis ou atingir determinadas metas (mesmo que não seja louvável eticamente).

Tem como não ser dramáticos se olharmos a escola como segundo santuário depois do lar? E, em alguns casos, até mesmo o primeiro? A formação não está circunscrita às letras, ao aprendizado lógico-matemático ou à iniciação científica. Diz respeito, sobretudo à formação do caráter, da sociabilidade, do respeito às regras coletivas, de valores que vão se entrelaçando com os da casa e vão se manifestar na rua, no trabalho, enfim na vida futura. A casa e a escola historicamente cumpriram uma cumplicidade na educação dos homens de maneira que uma corrigia, dava rumos a desvios ou escorregões da outra. Nos exemplares casos, reforçavam uma o que a outra produzia de bom para educar a nós todos. Agora, a responsabilidade está sendo jogada de uma para outra como “batata quente”.

Nem sei como concluir. Também não acho que haja conclusão. Como é mesmo a educação humana. Não se conclui. Já temos problemas morais, imorais e amorais demais com toda essa gente que se diz formada e está ai corrompendo, violentando, violando, matando, deseducando pelo exemplo. Na época deles, a escola não era assim. A sociedade era menos assim. Imagine daqui para frente!

domingo, 22 de março de 2009

AEDO CIBERNÉTICO - HISTÓRIA COM MÚSICA

Dentre as muitas formas de resistência às condições de vida e de trabalho da maioria da população brasileira, seja sob a monarquia, seja sob a república, uma revolta marcante foi a da vacina, em 1904, quando Oswaldo Cruz tentou imunizar a população do Rio contra a varíola e febre amarela. Sem aviso prévio, invasivamente e sem nenhuma campanha esclarecedora. Uma tentativa de erradicação e uma revolta contra a profilaxia.

A outra (1910) foi a dos marinheiros que ficou conhecida como a Revolta da Chibata, contra maus tratos aos tripulantes dos navios da marinha brasileira. O líder era o marinheiro João Cândido, também conhecido como Almirante Negro. Ameaçavam bombardear a cidade, se não fossem atendidos. ( a maioria era de negros).

Houve uma relativa vitória dos insurgentes, pois os castigos físicos foram abolidos um dia após a Proclamação da República mas foram restabelecidos no ano seguinte (1890):

"Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo."

(J. M. Carvalho – Os Bestializados).

Foram violentamente reprimidos e o governo não cumpriu a promessa de acabar com a situação, prendendo os líderes e enviando outros para a floresta amazônica. O Almirante Negro foi expulso da Marinha e internado como louco.

Vejam essa pérola de música para ilustrar esse momento histórico que o compositor João Bosco produziu.

Reproduzo a letra no original, pois a que aparece no vídeo contém muitos erros.

O MESTRE SALA DOS MARES

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

sexta-feira, 20 de março de 2009

OUTONO

Outono me dá uma sensação de neutralidade, de prenúncio. As outras estações têm um apelo coletivo muito forte. Muita coisa a favor da primavera. Inverno e verão numa disputa acirrada de preferências, mas outono... Nada sobra, nada falta, mas também nada se equilibra. Parece uma neutralidade da natureza, desprovida de consciência. Se continua o que passou ou se prepara o que vem adiante, nem sei . Alguma coisa como deixar estar para ver como vai ficar. Não conheço os Deuses do outono, não sei dos reis e rainhas dessa estação. Qual o seu símbolo de encanto? É..., acho que folhas caindo são para a dúvida!

quinta-feira, 19 de março de 2009

ENTRE TANTOS MOTIVOS

Escrever às vezes é o que me incide. O que “dá na telha”, como se diz por ai. Ocorre que às vezes escrevo o que dá na telha e não é o que penso. Ai penso e reescrevo. E nem sempre foi o que deu na telha. Entre pensar e ocorrer fico com o que está escrito. Já escorreu. Meço as palavras? Quase! Se é texto, reconstruo, reescrevo, refaço, repenso. Se é poema, deixo ao vento, ao sol, ao relento. É puro sentimento. Quem gostar que sinta. Quem não gostar que apague da memória.

sábado, 14 de março de 2009

O DIA DA POESIA

Não, não foi o vendedor de cartões que inventou o dia

Tampouco o vendedor de flores, nem de chocolates

Não foram os negociantes

Como fizeram com os outros,

o das mães, dos namorados, dos pais

Foi o poeta que inventou a poesia

E com ela reinventou os dias

Para mais ou menos alegria

Para deleite, sussurros, nostalgia.

domingo, 8 de março de 2009

AEDO CIBERNÉTICO - O MUNDO É UM MOINHO

Há moinhos de vento, de bolas, de barras, de hélices, de atos, de palavras, de ausências, de presenças... Já inventaram até o multiprocessador!

segunda-feira, 2 de março de 2009

UM BLOCO BRASILEIRO

De manhã, as manchetes

No radio, jornal, televisão

“O Brasil agora começa

a funcionar”, eis a previsão


Vamos ver se não tropeça,

O carnaval passou

O ano novo lá atrás ficou.


Condenam o país

Que dizem, não quis

Abrir o ano em janeiro

Foi-se também fevereiro

Mas se engana quem assim pensa.

Quem crê na imprensa

Não vê o Brasil, funcionar inteiro.


Pára banco, shopping, pára loja,

Pára escritório, ar condicionado, oficina,

Pára, da pirâmide social,

Somente o andar de cima

Não atrapalha nem desanima.

No fim, fica tudo normal.


Quem acha que o leiteiro, o padeiro,

Motorista, metroviário, enfermeiro

Médico, mercadista, açougueiro,

Consegue parar prá pular carnaval

Ou é de Paris, onde se é mais feliz

Com muito glamour e dinheiro

Ou então não sabe o que diz

Não come, não bebe, não cura

Ressaca, joelho, ranhura.


Essa gente que não pára, entra noite sai dia

Repõe toda a nossa energia

Perdida em meio ao turbilhão

Depois de tanta folga, tanta folia!


UMA SINGELA HOMENAGEM AOS MILHÕES DE BRASILEIROS QUE SÓ TÊM NOTÍCIAS DO CARNAVAL PELAS CARAS QUE ATENDEM NOS DIAS SEGUINTES DA FOLIA.

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