sábado, 9 de outubro de 2010

SOBRE A CANÇÃO DA VIDA

Outro dia, viajando no ônibus lotado em direção ao centro da cidade, trânsito caótico e muita lentidão, aproveitei para tirar da capanga um Quintana de bolso, desses livrinhos que  não precisamos estar sentados ou deitados para ler. Em pé e com apenas uma mão disponível, o prazer que causam é o mesmo. Sem contar que a gente até se esquece da tormenta do trajeto. Quando assusta, chegou ao destino. Então fiquei muito (bem) impressionado com o poema A CANÇÃO DA VIDA e comecei a falar sozinho (baixinho para não acharem que eu estava doido). Acharam que estava maluco mesmo foi quando desci e me sentei na calçada em pleno centro da cidade para escrever o que se segue. Maluco eu ia ficar se tivesse esquecido de anotar a minha divagação.


SOBRE “A CANÇÃO DA VIDA”
(de Mário Quintana)

(Eu, falando sozinho no ônibus)

Quintana, Quintana
Que da lápide ou túmulo me escuta
Tu és mesmo filho do elfo luminoso da selva de pedra
O ser que rege o décimo terceiro signo do zodíaco
O astro dos gênios e dos poetas.
Só mesmo um elfiano, nascido das luzes
Para rimar Renoir com poluir
E eu, esse grosso, rude e bronco literário
Filho da picareta das minas
Para procurar razão no dicionário.

_______________________________________________

A CANÇÃO DA VIDA
(Mário Quintana)

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim,
como em uma tela de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

8 comentários:

chica disse...

Adorei e foi muito bom teres anotado.Não podemos perder nada! abração,lindo fds,chica

Zélia Guardiano disse...

Belíssimo, Cacá, belíssimo!
Adorei tudo!
Tanto o poema de Quintana quanto o que fizeste a partir dele!
E também o relato do que aconteceu antes...
Rsrsrs...
Nás, que gostamos de escrever, muitas vezes passamos por loucos! Sou useira e vezeira em parar na rua para anotar uma idéia.
Grande abraço,meu querido amigo!

Ester disse...

Ah, Cacá!!!

Vc me emocionou com esse texto, que sensibilidade a sua! Fiquei imaginando vc assentado na calçada escrevendo... vc é um verdadeiro poeta, porque acredito que o poeta de verdade não é aquele que escreve perfeitinho, que tem uma retórica irretocável, mas o que sente bem e não deixa passar as oportunidades,

estou mais encantada com vc que com Quintana (este já conhecemos e o encantamento é perene)
Ler vc é sempre uma aventura, ums surpresa agradável!

Bjs e lindo fim de semana e feriado!

Mulher na Polícia disse...

Oi Cacá!

É ótimo quando nos vem a inspiração de surpresa. Eu normalmente não consigo controlar o sorrindo enquanto elaboro as idéias.

Engraçado porque às vezes alguém vê e pergunta "Ué, que foi?"
rs rs rs

Beijos!

Maria Rodrigues disse...

Amigo duas lindas canções da vida, a de Quintana e a sua.
Tenha um sereno e feliz fim-de-semana.
bjs do tamanho do infinito,
Maria

Sueli Gallacci disse...

Ah! Cáca, que bom que vc sentou naquela calçada e nos presenteou com essa maravilha de poema!

Temos mesmo que parar tudo e dar atenção à inspiração quando ela vem repentina e fugaz.

Um bjo enorme e bom feriadão prô cê!

Toninho disse...

Ah, voce e seu papelim, sempre trazendo uma criação que se despretenciosa se torna uma arte. Ficou muito bom Zé com uma bela inspiração. Um abraço de paz.

Norma de Souza Lopes disse...

Essa experiência é muito comum para mim. Quando criei o "Desvendo-me" estava em um engarrafamento quilométrico sem papel nem caneta. Fiquei duas horas repetindo os seis versos até chegar em casa e poder escrevê-los.
Quanto ao Quintana,adoro ler n um livreto que tenho com 130 compilações feitas pelo Juarez Fonseca quando ando de ônibus. Sinto como se o próprio Quintana estivesse ao meu lado.
Compartilho com você uma das pequenas historias:
"o Melhor Poeta
Em certa época, mário Quintana e Athos Damasceno Ferreira moravam na Rua do Rosário - a atual Vigário José Inácio. E um provocava o outro, se dizendo o 'melhor poeta da rua'. Até o dia em que Quintana chegou para Athos e concedeu:
_ Olha, cheguei a conclusão de que tu és o melhor poeta da Rua do Rosário.
Athos ficou sério, e em seguida elogiou a honestidade e a humildade do poeta rival.
_ Não é nada disso - debochou Quintana - é que acabo de me mudar para o Riachuelo...."

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