sexta-feira, 31 de julho de 2009

UMA CRÔNICA TRISTE

Seu Messias, segundo as más línguas, era daqueles homens que levaram uma vida de ovelha desgarrada do rebanho do Senhor. Entregue aos vícios mundanos, à boemia, à perversão sexual. Um perdulário contumaz e um pecador para os padrões da cristandade ocidental, até ali por volta dos quarenta anos. Pois era, fique bem claro.

Convertido a uma dessas igrejas de salvação antecipada, recolhera-se ao calor que sobrara no lar cuja última brasa conseguira transformar em fogueira de virtudes. O mais do tempo era dedicado ao trabalho, aos cultos quase diários e ao óbolo de 10% obrigatório do salário para que não pudessem restar dívida nem dúvida quanto à sua vaga no céu. Segundo a sábia metáfora popular, depois de entregar a carne fresca ao diabo, resolvera entregar os ossos para Jesus. Assim tratavam sua conversão.

Ele não tinha o hábito de almoçar como quase todos no restaurante da empresa. Ele e o Márcio. Dizia que essa era uma hora sagrada e que a peãozada conversava muito durante o almoço, profanando a comida, dádiva divina. Mandava buscar uma marmita e comia ali mesmo, na oficina.

Eu gostava muito de sua companhia quase santa e mais ainda de seus conhecimentos de mecânica e hidráulica. Era estagiário e ele tinha enorme prazer em ensinar. Fomos adquirindo confiança mutuamente. Eu talvez pela minha condição de operário noviço não o importunava com heresias e ele pelo aluno aplicado.

Um dia me pediu para que almoçasse rapidamente e voltasse para a oficina. Queria me mostrar uma coisa que o preocupava e estava sem saber como abordar o problema. Dito e feito, ele me apontou o Márcio, um mecânico que se portava com uma seriedade tão grande quanto a produtividade pela manhã, e um completo desleixado e molengo, durante a segunda parte do expediente. Estava trazendo comida de casa. Dizia que a comida do restaurante não estava lhe fazendo muito bem. Só que essa comida era consumida às escondidas, atrás de algum trator ou equipamento de grande porte que estivesse nem manutenção e que lhe pudesse servir de redoma secreta. O que intrigava, no entanto, era mais o seu comportamento posterior do que o almoço solitário. O Sr Messias passou a vigiar esse hábito com mais apuro, até descobrir que ele, o Márcio, trazia era cachaça na marmita.

De um lado um estagiário, dezoito anos e impotente para falar com alguém mais velho sobre mudanças de hábitos e males do alcoolismo. De outro, o Sr, Messias tentando arrebanha-lo para a sua igreja como única porta possível para a redenção do rapaz. . E, para completar o quadro, a conivência do restante dos colegas, que (fui saber depois) faziam “vista grossa” por acharem que não havia nada demais, desde que o mesmo continuasse trabalhando honestamente. Ficou mesmo só a lembrança dolorida e triste.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

BONZO *

Apelidar é a marca carimbada do peão. Ainda não inventaram peão que não inventa ou não recebe apelido. Creio que seja do costume popular. Mas o peão adapta como sendo passaporte para entrada no meio. Cartão de visita dos incautos ou aos que oferecem pela própria cara ou modos de ser à homenagem. Para alguns vira ofensa, para outros, satisfação ou indiferença. Apelar ou fazer cara feia é pior. Tem um código velado. Quanto mais incômodo provoca, mais rápido o apelido pega e se espalha.

Pois vamos ao Pedro Bunda. Auto explicativo: era um calipígio nato. No entanto as circunstâncias fizeram mudar para Bonzo.

Entre amigos no trabalho é comum quando um tira férias, o mais chegado tomar conta da casa enquanto o outro sai em viagem de passeio com a família. Férias de peão é roça, interior ou praia. Infalível!

Pedro ficou responsável por tomar conta da casa de Jonson. Este dera-lhe as recomendações de regar as plantas do jardim e dar ração para o cachorro duas vezes ao dia. E a geladeira estava repleta de cervejas que podia tomar à vontade. Uma recompensa simples e perigosa. Pedro chegava animado todas as manhãs no trabalho e dizia que o Jonson havia deixado um tira gosto delicioso para acompanhar sua religiosa cerveja dos fins de tarde.

Depois foi o próprio Jonson quem contou a inusitada história no meio da peãozada. Ao chegar, apesar do recipiente da ração estar vazio, o Pedro havia reclamado que estava tendo que preparar às pressas um angu todos os dias para o cachorro, sempre faminto à sua chegada.

- Mas Pedro, e a ração que eu deixei sobre a geladeira?

- Minha nossa, era ração? Estava tão bom, achei que fossem bolinhas de carne para tira-gosto!

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*Bonzo era uma marca de ração para cachorros (com sabor de carne).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

VIDA DE PEÃO

Ralou que seja, é peão. Não tem esse negócio de diploma para escamotear a condição. Acha que por que é médico, tem dêerre na frente do nome não é peão? Acha que só porque tem duas horas de almoço (que para uns dá até para ir em casa ou pagar umas continhas no banco, não é peão?) Né só pedreiro, trecheiro e outras profissões com sufixo eiro , não. Basta ralar. De manhã, tarde ou madrugada. O peão que originou o termo não é o que rala a bunda no lombo do cavalo bravo ou do touro indomável? Então, tem uns até com banca de galã...


Peão pode ser o que come de marmita. Ou o de almoçar no restaurante ou em casa. Mas desde que seja regulado por um relógio de ponto ou um livro de assinaturas, tá carimbado. É peão. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo. É inegável como uma onda no mar.


O Dr que me operou da última vez, me disse, tirando os pontos:

- Nos meus plantões aqui no hospital eu gosto muito de ler crônicas. Esse pessoal fica a noite toda assistindo esse tal de BBB. Olha se isso é coisa de médico sério? Baixaria!

A minha comadre que é médica de UTI de crianças, levava marmita de casa. Saía numa segunda feira à noite e só retornava na quarta, carregando um embornal. Depois arranjou um nécessaire para ficar mais chique. Três empregos. Tomava banho, comia e dormia entre um hospital e outro. É peão ou não é?

A gíria predileta dessa turma é chamar a firma de “Gato”. Acho que é porque, arranha, mas não chega a engolir de todo a carne do vivente feito leão. O cara sobrevive por 30, 35 anos de trabalho no gato.


O Zé Arruda chegava meio ressaqueado no trabalho quando estava no horário de 16 até 01 da manhã. Na hora de trocar os turnos, o pessoal que saía entregava o relatório do que tinha que ser continuado e a produção seguia comendo solta, sem interrupção. Um dia ele viu o chefão ainda lá, depois do horário, no corredor superior da oficina. Não resistiu e gritou : - Aí dr., roubando hora do gato, hein? Tomou um gancho de três dias para aprender a respeitar a hierarquia.

Deixa eu bater o ponto que tem mais histórias por ai.

terça-feira, 28 de julho de 2009

AFRODISÍACOS

POR QUE ALGUMAS PLANTAS E PRATOS DA CULINÁRIA SÃO CONSIDERADOS AFRODISÍACOS?


Afrodite, a deusa do amor, que emergiu do oceano em uma concha e abandonou o mar nas praias de Chipre, fazia uma planta nascer apenas com o toque de seus pés - o primeiro vegetal a surgir em seu rastro foi a romã. Com o tempo, as plantas criadas pelo dom da deusa passaram a ser veneradas como dádivas de Afrodite aos homens e conhecidas como espécies afrodisíacas. Essa é a lenda que se criou em torno de frutos, caules, bulbos e raízes que, cientificamente ou nas crenças populares, são considerados afrodisíacos.


Histórias curiosas que cercam algumas das plantas analisadas na obra:

Flor-de-lis - Diz a história que o rei Clóvis I da França, quando ficou encurralado entre as tropas dos godos em uma curva do rio Reno, perto de Colônia, observou rio abaixo essas plantas em flor. Sabendo que eram de águas rasas, percebeu que naquele local o exército poderia atravessar. Foi o que aconteceu e, em gratidão, o rei fez da flor seu emblema e tornou-a símbolo da França. Outra lenda diz que seu nome é corruptela de "flor de Luís" (fleur de Louis) em homenagem a Luís VII da França, que a adotou como símbolo heráldico na sua cruzada contra os sarracenos. Seu rizoma é fonte de um pigmento preto, e as flores, de um pigmento amarelo. O rizoma reduzido a pó é afrodisíaco para ambos os sexos.

Tâmara - A tamareira é considerada árvore sagrada e mágica há milhares de anos. No Egito, a tamareira era uma árvore sagrada, e a folha era símbolo do deus Heh, que representava a eternidade. Mais tarde, passou a ser símbolo de fecundidade, fertilidade e vitória. As tâmaras são usadas como doces ou para cobrir quitutes afrodisíacos. Os egípcios comem as tâmaras antes de fazer amor.

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Fonte: "No Rastro de Afrodite - Plantas Afrodisíacas e Culinária”, Gil Felippe (Ed. Senac, São Paulo e Ateliê Editorial.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - BOLO DE CASAMENTO


O ato mais simbólico do matrimônio em Roma era o “confarreatio” (cerimônia de casamento antiga) em que a noiva se servia de um pedaço de “panis farreus” (uma espécie de bolo de trigo). Correspondia na Grécia ao “telos” (pão, bolo, frutos secos). Era a vida em comum, a divisão de rações aos familiares, a responsabilidade iniciada. Daí vem o bolo de casamento, partido pela noiva, primeiro ato de seu novo estado.

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Fonte: História da Alimentação no Brasil, Luis da Câmara Cascudo, Global Ed., 2004. Pág. 41.

sábado, 25 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - CAFEZINHO PORTUGUÊS


Cafezinho em Portugal é “Bica”. Os primeiros expressos em Portugal foram vendidos no café “A Brasileira”, em Lisboa. O gosto do produto pareceu um tanto amargo aos clientes. Então, a direção da cafeteria criou um slogan para atrair os clientes: “beba isso com açúcar”. A campanha deu certo e a frase ficou tão marcada que as iniciais de cada palavra (bica) passaram a ser sinônimo de cafezinho.

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Fonte: Culturas e Sabores. Patrícia S. M. Assumpção e Clésio Barbosa. Pág.94 – Ed. Prax, 2005.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - O SILÊNCIO E O BARULHO

O SILÊNCIO

De longa ancestralidade, o silêncio às refeições remonta dos deuses greco-romanos. Os deuses do silêncio Harpócrates, Tácita, Muta eram protetores dos cerimoniais. Nas famílias antigas era obrigatório. Nos conventos a palavra era permitida depois do “Deo Gratias.” Nos antigos banquetes ingleses, conversava-se depois do brinde ao rei. No sertão brasileiro rezava-se antes e depois da refeição

O BARULHO

Ninguém deve terminar uma refeição em casa alheia sem agradecer e demonstrar que está satisfeito Essa etiqueta de repleção é indispensável. Se por um lado (o ocidental) a eructação é desagradável após a comida, prova de deseducação, descuido de retenção, exigindo o imediato pedido de decuplas, do outro (o oriental, em alguns países árabes) expressa-se essa satisfação em sonoros arrotos à mesa, tão logo esteja-se repleto , como forma de agradecimento e manifestação pela plenitude digestiva.

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Fonte: Fonte: História da Alimentação no Brasil, Luis da Câmara Cascudo, Global Ed., 2004. Pág. 42,43.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CACHAÇA - A COMIDA E A VIDA - CACHAÇA

CACHAÇA, PINGA, AGUARDENTE


São muitas as histórias das origens da cachaça. A mais verossímil (pelo menos para os brasileiros) é a que segue:

Os escravos colocavam o caldo de cana de açúcar em um tacho e o levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que surgisse o melado (uma calda bem espessa). Isso era a produção do açúcar.

Um dia, cansados de tanto mexer, pararam e o melado “desandou”. A solução foi manter longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado fermentado. Na tentativa de se livrar daquele líquido azedo, misturavam-no a um outro novo, levando os dois ao fogo. O azedo do antigo melado era álcool que, aos poucos ia evaporando e formando goteiras no teto do engenho, que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Vem daí o nome “pinga”. As gotas que batiam nas costas dos escravos, marcados com as chibatadas dos feitores ardiam muito. Por isso, deram-lhe o nome de “água ardente”. Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que com a tal goteira ficavam alegres e com vontade de dançar. Então sempre que queriam ficar alegres, repetiam o delito (estava criado o porre - grifos meus).

Minas Gerais se orgulha de ser o maior produtor das melhores cachaças do Brasil, sendo a cidade de Salinas, a Capital Mundial da Cachaça, onde são produzidas as mais famosas.

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Fonte: Culturas e Sabores. Patrícia S. M. Assumpção e Clésio Barbosa. Pág.37 – Ed. Prax, 2005.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - RESTAURANTE


Você já parou para pensar que a palavra restaurante vem de restaurar? Pois foi exatamente assim que surgiu esse nome. Em 1765, um padeiro francês resolveu abrir um estabelecimento para vender sopas que ele garantia restaurar a saúde dos que tinham problemas de digestão. Ele batizou sua criação de caldos restaurantes e afixou na frente de sua loja uma placa dizendo: “vendem-se restaurantes divinos”. Mas só em 1782 começou a difundir o costume de permitir que os clientes comessem no próprio estabelecimento, ao invés de levarem a comida para casa. O primeiro restaurante tal como o conhecemos hoje foi o Grande Taberne de Londres, fundado por Antoine Beauvilliers, na rua de Richelieu, em Paris, que permaneceu por 20 anos sem rival.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

terça-feira, 21 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - HORA DO JANTAR


JANTAR JÁ?

O que você costuma fazer às 4 da tarde? Aposto que não é jantar! Mas acredite: até o século XVIII, os europeus jantavam nesse horário. Apenas quando a carga de trabalho aumentou com o surgimento das fábricas é que a hora do jantar passou para a noite. Foi aí que surgiu o lanche da tarde. A famosa tradição do chá das cinco dos ingleses se espalhou rapidamente pela Europa, não como símbolo de sofisticação, mas para matar a fome mesmo.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - SALSA

CAIU NAS GRAÇAS DO IMPERADOR


Um lindo enfeite para as mesas na Grécia antiga. Assim era a salsa até o dia em que, em uma de suas viagens, o imperador Carlos Magno provou-a e descobriu seu inconfundível sabor e poder de tempero. O imperador trouxe a planta para a Europa e mandou que plantassem a salsa por toda a França. Daí em diante ela se tornou um dos temperos mais apreciados e empregados na culinária ocidental.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

domingo, 19 de julho de 2009

DEPRESSÃO MÉDICA*


Quem já atingiu uma certa maturidade costuma dizer que não se assusta com mais nada. Crianças e adolescentes são levadas a se adaptar aos ventos das modernidades. Os jovens é que sofrem a maior conseqüência de mudanças sociais bruscas. Talvez por que estejam em uma fase crucial de definições. Estudos, carreira profissional, geração de descendência. Ou seja, o futuro está presente a todo instante em suas vidas de forma urgente. No estágio atual das coisas, a correria, a busca por resultados imediatos e rápidos em tudo, as pressões decorrentes disso, vêm de algum lugar e afetam sobremaneira a todos. Uns mais outros menos.


Estou querendo falar de jovens médicos acometidos de depressão.* Eles estão padecendo desse mal por causa destes e de outros fatores, o que é preocupante para o mundo leigo. Além das causas supostas já citadas creio que faltou uma que considero um achado. Nos últimos 20, 30 anos, os jovens saíam de casa em busca de sonhos, desvinculavam-se dos laços familiares mais cedo. Isso gerava um amadurecimento por volta da idade em que hoje eles mal terminaram a adolescência. De um lado, pais protetores, preocupados com um futuro digno para os filhos em meio à selvageria mercadológica, protetores quanto à violência cotidiana, colocam-nos sob suas asas até onde eles mesmos (os próprios filhos decidam qual é a hora de levantar vôo solo). A sociedade já foi menos rápida, menos competitiva, menos violenta. E não quero com isso estabelecer alguma verdade pronta, não sendo eu nenhum portador dela nem postulante. Apenas observador e paciente a qualquer momento.


Também não há aqui imputação de culpas, apenas circunstâncias e contingências. Enfrentar o caos da saúde pública, o abandono e as carências psicológicas da população, perder um paciente, como se diz no jargão próprio quando não se acostumaram com perdas durante a formação, podem ser mais um ingrediente nesse caldeirão de possibilidades. Mas que não deixam de causar um certo temor, isso é fato.

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* Pesquisas da Universidade Federal de Uberlândia (MG), Faculdade Médica do ABC (SP), do portal internacional Biomed Center, e reportagem da revista ISTOÉ, nº 2070/09.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - PÃO CORTADO


O pão é, sem dúvida, um dos principais elementos da alimentação humana. No início era fabricado só inteiro. É muito interessante a história da invenção do pão em fatias. Como muitas outras criações, demorou para que as pessoas acreditassem nessa idéia. Mas o idealizador do pão em fatias, Otto Rohwedder, não desistiu. Na época, o maior problema não era fazer uma máquina que cortasse o pão em fatias e sim conseguir manter as fatias juntas e frescas. Em 1912, Rohwedder inventou uma máquina fatiadora feita com ganchos de prender cabelo que cortava o pão e mantinha os pedaços juntos. Mas ainda faltava uma máquina embaladora que só ficou ponta em 1928. Apesar da demora, a máquina fez enorme sucesso. No final dos anos 30, mais de 80% do pão consumido nos EUA já era fatiado.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - AROMAS E RELIGIÕES

O AROMA DA FÉ


Na idade média era muito fácil saber a qual religião pertencia uma família: bastava sentir o aroma que exalava da cozinha. Se o perfume era de azeite, com certeza a casa era de judeus. Mas se o cheirinho era de banha de porco, sem dúvida, ali moravam católicos. Isso acontecia porque os judeus não consumiam a carne do animal e tinham que usar, para fritar ou regar suas preparações, uma alternativa vegetal, no caso, o azeite de oliva. Já os católicos usavam ,sem medo, a gordura de porco, que, na época, até se tornou marca irrefutável dos cristãos.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

quarta-feira, 15 de julho de 2009

DIA DO HOMEM


São Paulo - Para comemorar hoje o Dia do Homem a parceria entre a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Bayer Schering Pharma promoveu um Mutirão de Saúde do Homem, na Avenida Paulista, para oferecer orientação gratuita sobre prevenção de doenças masculinas. Os homens que passarem nesta manhã, até as 14 horas, pelo Vão Livre do Masp, poderão fazer medição de glicemia, pressão arterial e circunferência abdominal, além de receber um material informativo especial desenvolvido pela SBU sobre a saúde do homem em todas as fases da vida.

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Fonte:http://www.abril.com.br/noticias/ciencia-saude/dia-homem-comemorado-mutirao-saude-avenida-paulista-458979.shtml

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Depois de 46 anos de idade descubro que existe dia do homem. E olhem que comemoração!!! Vasculhei em todos os canais, todas as rádios e só a internet me salvou. A única manifestação calorosa (ou dolorosa?) que encontrei está ai em cima, com acompanhemento médico . Até pensei que fosse invenção do jeitinho brasileiro, mas dizem que o dia é internacional.


Eu achando que já tinha visto de tudo! Eu que já fiz até passeata para comemorar o dia da mulher, já mandei flores, já fiz discursos contra as discriminações todas, já lavei, passei, cozinhei (ainda faço tudo isso). Já chorei por mulheres. Criei filhos (só não dei de mamar). São circunstâncias históricas que levaram à homenagem justíssima.


Houve um tempo que o dia da mulher era um momento de protesto contra a opressão que elas vinham secularmente sofrendo da sociedade machista. Agora a coisa arrefeceu um pouquinho e virou um mimo (mais para o comércio, claro!).


Agora, dia do homem, só mesmo fazendo piada para uma sandice dessas. Nem a força do marketing e do comércio acreditam. E não tem graça nenhuma.



ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO – A VOZ DAS RUAS

(meu sobrenome não é Mendes)



A COMIDA E A VIDA - DOCE OU AMARGO?


Imagine só: você vai pedir a mão de sua noiva em casamento para o pai dela e a mãe lhe serve um café bem amargo. Essa é a maneira delicada com que os armênios recusam um pretendente para suas filhas. Ao contrário, se a família consente a união, o café é bem docinho. Se um dia interessar por uma armênia, já sabe o que esperar.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

terça-feira, 14 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - DIA DA PIZZA



Por que o dia 10 de julho foi escolhido como o dia da pizza? A verdade é que desde o século XIX, quando ela surgiu, a pizza ganhou seu lugar ao sol e despertou a curiosidade até dos nobres. Foi nessa data, no ano de 1889, que a rainha Margherita, da Itália,com muita vontade de provar a tal da pizza, chamou ao palácio um padeiro famoso. Ele foi e preparou uma variedade enorme de pizzas. Querendo chamar ainda mais a atenção, inovou, fazendo pizzas redondas, pois, até então elas eram retangulares. A que mais agradou a rainha foi a que tinha três cores da bandeira italiana: tomate vermelho, queijo branco e manjericão verde. O padeiro, esperto, mais do que rápido, batizou a pizza com o nome da rainha. Ao longo dos anos vários países adotaram a data, inclusive o Brasil, que, em 1985 tornou esse o dia oficial da pizza.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A COMIDA E A VIDA - TOMATE

ELE ERA VENENOSO


Engana-se quem pensa que o tomate já nasceu como ingrediente de divinos molhos. Originário da América, era consumido pelos Incas, Astecas e Maias. Quando chegou à Europa, foi considerado venenoso e usado somente como planta ornamental. Apenas no século XVIII, na Itália, resolveram vencer o medo e experimentar essa iguaria, que não tardou em ser empregada pelos chefs italianos para preparar deliciosos molhos e incrementar suas massas.

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Fonte: jornal hoje em dia, caderno Sabor, pg 10, 26/06/09

sexta-feira, 10 de julho de 2009

ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

FILÓSOFO COM FORTE INCIDÊNCIA NO PSICOLÓGICO


A escolha do nome se deu pela preferência por originalidade. Não gosta de repetição, coisa que não fica bem para um filósofo que se preza. Arcanjos no céu até que tem muitos. Agora, Isabelito Salustiano é mais raro. Ficou assim por adoção própria, mas não quis registrar em cartório.


De tanto subir e descer ladeira em Minas Gerais, olhando, ora de cima, ora de baixo as coisas e as pessoas, acabou formando-se em filosofia. Livros especializados leu uns três (caros demais); o resto completou na internet. Mas tem o lado negativo também: de tanto ficar sentado na frente do computador, adquiriu uma hérnia de disco. Hoje quando senta assim meio de lado, tem gente que acredita estar soltando gases. Na verdade, é para distribuir melhor a dor pelo corpo todo. Democracia filosófica aplicada ao corpo.


Mais mineiro que feijão tropeiro e broa de fubá, mais desconfiado que buraco de fechadura. Tem umas incursões pela psicologia. Herança de Adão (do sobrenome). Observa calado e pá, solta um palavrório afiado, um substantivo que fere ou engorda de alegria. Adjetivos solta poucos para não envaidecer os já emplumados e nem deixar de ser econômico. Não dá consulta por falta de alvará, mas dá palpite em tudo, sem cobrar. Só não lhe peçam palpite para jogo de loteria.


É um otimista acima de tudo. Acredita que o Brasil é o país do futuro, só não conseguiu ainda definir para quando.


Outra tese sua, indefensável dentro da odontologia: o maior sintoma da depressão humana é quando a pessoa deixa de cuidar dos dentes, mesmo tendo recursos financeiros. Não foi tirada de nenhum tratado de psicanálise - adaptou uma frase de seu irmão mais velho.


Para ele, o bem e o mal estão divididos em duas categorias: os muito maus e os domesticados por terem algo a perder. Esses últimos são chamados na sociologia de civilizados.


Não costuma fazer juízos de valor embora tenha sempre uma receita para tudo. Talvez um legado dos tempos em que foi cozinheiro. É tão verdade que sua máxima para crises existenciais, de relacionamentos amorosos, problemas políticos vem da cozinha e diz: “água e fubá bem dosados evitam angu de caroço.” Ou caroço no angu para os mais perfeccionistas.


Passa a freqüentar às vezes, com uma alegria desnecessária, outras, com uma ironia involuntária, páginas gloriosas de análises, blogs, recantos e outros lugares onde haja necessidade. Gente para oferecer soluções para o mundo já tem demais. Precisa de alguém para embolar um pouco o meio de campo. A intenção é tão somente ajudar aqueles que acham que trocar de carro, de casamento, uma roupa nova, arranjar um emprego de servidor público, levar o cachorro no banco traseiro para passear, é toda a felicidade possível existente no mundo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

MINHA MALA PESA MAIS QUE A SUA

O livro “Seis Propostas para o Próximo Milênio” – Ítalo Calvino – Cia.das Letras, (na verdade, possui cinco; ele faleceu antes de concluí-lo) trata de aspectos a serem considerados pelos escritores na construção de sua obra. Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade e Consistência (essa última, a ausente). Mas não tem problema no meu caso, já que a minha insatisfação e rebeldia (sem causa?) foi com relação à leveza, que manifesto a seguir.

A busca pela leveza na literatura é um peso a mais. Como leveza, se a própria palavra já é pesada demais aos nossos tão diminutos conhecimentos dela? Como leveza se eu, treinado no materialismo dialético não aprendi outra forma de analogia do real com flores, orvalhos e luas?

Ah, Calvino, a gravidade sem peso que você disse ser a relação intima do humor com melancolia, vira sofrimento com ironia irascível nas páginas de meu papel. A lida com o cotidiano pesa.

Como leveza, Calvino, se usa Teseu tirando a vida da Medusa, ainda que com o fito de salvação, porém sangrenta? Leveza, meu caro, é privilégio dos poetas. “ o poeta desafia o impossível e tenta no poema dizer o indizível: subverte a sintaxe, implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisa sem permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência.” (F. Gullar – não coisa).

E para você também deve ter sido mais fácil de seu leito de morte. Você estava prestes a encantar, como disse o Guimarães Rosa. Não morremos, não é mesmo?

As palavras, no entanto ficam aqui procurando quem se encante com elas.

sábado, 4 de julho de 2009

TRIÂNGULOS AMOROSOS

A perplexidade que nos acomete quando ficamos sabendo de alguém que matou por amor é tola? Entendemos de amor? Não se mata por amor. Morte matada é ódio, é descontrole, é ultrapassar o infinito feito de linhas tênues colocadas à nossa frente pelo sistema emocional de que dispomos. Mal gerido, diga-se. É o desafio maior de um ser humano. Cada um resolve sua dor com o conceito que possui de amor. Ele não é universal, sagrado, único. Nem etéreo, nem sublime. Ele é objeto disposto à troca, é material. É franciscano do lado avesso, se não correspondido à altura do julgamento de valor de quem supostamente o oferece ao outro.

Tem sido recorrente no noticiário casos e casos de pessoas que mataram o ser amado. E também casos em que se mata e depois se tira a própria vida. Uma demonstração do rompimento daquela linha fina por onde, equilibrar-se, passam todos os julgamentos sobre normalidade e loucura.

Goethe* criou seu jovem Werther, cheio de uma angustia incontida, uma melancolia incessante que foi ao cabo da própria vida pelo ser amado e não possuido, Carlota. Machado de Assis** não deixou que tal ocorresse com Bentinho, quando descobriu que sua imaculada Capitu triangulara com Escobar, seu melhor e talvez único amigo. Preferiu afastá-lo de sua amada e tida para aliviar a sua fúria mortal, seu ódio exasperado. Da noite para o dia, desamou Capitu e o filho. A literatura está cheia de vida imitando arte.

Mas o que quero falar é sobre triângulos amorosos. Ou outras figuras geométricas de quantos lados simbolizem os tantos de relacionamentos teúdos e manteúdos.

Pessoalmente já presenciei dois exemplos ridículos, insólitos, insanos, risíveis. Nada contra os eletricistas: J.M., casado, dois filhos, duas mulheres. Saía do trabalho, ia à casa-sede, tomava seu banho, trocava-se, ia à casa filial e por lá permanecia até fim de noite. Voltava para a sede, dormia, sei lá; encontrávamos no dia seguinte normalmente no trabalho. Era uma vida normalíssima para si e inquestionável por quem quer que fosse. Dizia ser “problema de amor demais”. Quando acuado pela mulher com quem se casara legalmente, matou-a a golpes de martelo. Perdeu emprego, amigos e os dois amores e filhos.

E.A., casado, quatro filhas, enamorou-se pela cunhada, irmã mais nova de sua mulher. Esse dividia diariamente sua angústia entre um circuito elétrico e outro, conversando no trabalho. Só não aceitava intervenções que ameaçassem apartá-lo de seus dois amores. O argumento: casara-se com uma, mas nutria amor verdadeiro pela outra. Não a abandonava, em primeiro lugar por causa das filhas e pela sua bondade, ingenuidade, piedade e culpa (sic). O sogro ao tomar conhecimento ameaçou-o de morte. Conseguiu por dois anos viver o triangulo, driblando a morte, até que a esposa tomasse a iniciativa de tirar o seu time de campo. Abandonou o emprego, as filhas e a cidade. Mudou-se com a cunhada para bem longe.

Que tipo de sentimento move quem procura ter e manter mais de uma relação estável? É compreensível o argumento da fraqueza da carne, do instinto natural pelo sexo oposto ou homônimo. O que me fascina é a capacidade de sustentação de ambos ao mesmo tempo e por duração a longos prazos. Não consigo enxergar outro sentimento senão a impregnação dos valores de posse e troca. Uma confusão do mundo material com o mundo da alma que já não distingue, na prática, o que é da esfera sensorial e o que é palpável, de posse permanente, absoluta.

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* Os Sofrimentos do jovem Werther

** Dom Casmurro

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