sábado, 30 de julho de 2011

FLOR, MINHA FLOR

arquivo pessoal
“Flor minha flor,
Flor, vem cá!
Flor minha flor
Laiá laiá laiá”
(do cancioneiro popular)

Eu estava pesquisando na internet aonde encontrar uma empresa ou mesmo um setor da prefeitura que cuidasse da remoção de cadáveres de animais para não fazer feio como tanto vejo pela cidade, pessoas jogando nos terrenos baldios, córregos, no lixo da rua (normalmente no do vizinho). Minha cachorra, a Flor, teve uma crise renal seguida de vários ataques convulsivos e não resistiu. Foi assim que me deparei com um site* que além de me fornecer algumas informações, me trouxe um alento para a minha dor e uma explicação racional para esse apego que critico tanto. Não o apego com o animal e sim a sua preferência em detrimento do convívio humano que tem sido tão comum no nosso meio.

Para a psicóloga, Alessandra Carvalho, “Fortes apegos de determinadas pessoas em relação a animais, talvez demonstrem que uma certa carência afetiva ou o distanciamento entre pessoas às vezes existente, possa fazer do animal de estimação um objeto de compensação afetiva”. Para ela, comprar ou adotar um animal é menos perigoso e menos sujeito a sofrimento do que relacionamentos com seres humanos, como por exemplo a adoção de crianças abandonadas. “Ao adotar uma criança, não sabemos ao certo que tipo de ser humano aquela pessoa vai se tornar, não é fácil, em caso de arrependimento, voltar atrás e dizer não quero mais ficar com você”.*

Posso não concordar com tudo o que ela afirma mas concordo que a integração do homem com os animais vem de épocas muito remotas, creio que quando o homem querendo se afirmar como animal superior entre todos ou mesmo por necessidade de um aliado para a sua  proteção ou ainda por amor, resolveu domesticar os bichos. Na pré-história eram todos feras. Assim nasceu o bicho de estimação e vem acompanhando o ser humano aonde quer que a gente vá pelo planeta afora.

A discordância está num motivo de foro muito íntimo: prezo por demais o humano acima de todas as coisas e apesar de todas as mazelas e complexidades que as relações sociais engendram. Talvez seja por isso mesmo. Dedico desde muito cedo a minha vida por harmonia, por menos desigualdades, por fraternidade, por afeto coletivo humano. Os animais não estão de fora disso, ao contrário. No entanto, diferencio o humano. Não posso concordar que tenhamos que extirpar o instinto dos bichos impondo-lhes costumes humanos. Acho mais crueldade do que amor.  A natureza vilipendiada em quase tudo já basta. É preciso preservar não só a vida, mas a vida com seus hábitos intrínsecos. Um animal domesticado apenas, mas sem hábitos humanos é mais dócil do que aquele tratado como objeto preparado para compensar as nossas faltas afetivas. Ele se apropria do espaço humano e ao mesmo tempo é expropriado de seus costumes, subtraído de suas ligações naturais, modificado em sua gênese. Acho que se tivesse a faculdade do livre arbítrio ia rebelar-se em muitos momentos. Mordida na certa.

A Flor simbolizava um pouco dessa minha tentativa e desse meu apego. Foi-se, deixando uma profunda saudade. Já não vou poder acordar nas minhas madrugadas e tê-la esperando por um afago e dando o seu em troca com brincadeiras e com o carinho habitual. Também não aceitei ofertas de quem para me consolar ofereceu outro cão em seu lugar. Não seria coerente para mim considerar os bichos, no fundo, no fundo, não mais do que objetos de consolo para as mazelas, para a miséria humana chamada falta de afeto.

*fonte: http://deiabastos.blogspot.com/

quinta-feira, 28 de julho de 2011

CONTEXTOS

“Eu sou eu e minha circunstância.” (Ortega Y Gasset)

Eu costumo fazer comentários em textos de outros autores sempre relacionando o texto com um trecho de um poema, de uma letra de música ou qualquer outro excerto que achar que tenha relação com o que li. Acho que isso faz parte do meu pensamento, que funciona por associação. É dialética do pensamento, que de puro não tem absolutamente nada. Relaciono tudo o que estiver ao alcance ou busco alcançar o que estiver longe.

Fora de contexto as coisas precisam ser interpretadas de acordo com o falante escritor ou o ouvinte leitor. Por exemplo, uma frase que caiu no descrédito com a modernidade individualista foi a de Exupery, (aquele do Pequeno Príncipe) “tu te torna responsável por tudo aquilo que cativas.” É um excerto que, bem contextualizado, pega muito bem numa relação de companheirismo e camaradagem, de reciprocidade e amor mútuo. O contexto  pleno, para não desagradar a esta modernidade egoísta seria “Eu não preciso de você nem você precisa de mim, mas se cativarmos um ao outro nos tornaremos responsáveis por manter essa chama sempre acesa entre nós.” Isso não há modernidade que destrua se as pessoas não quiserem prescindir das outras. Aqui não há relação de um se sobrepondo ao outro ou deixando-lhe a obrigação de sozinho garantir que o outro seja feliz.

Dito isso, parto para os assemelhados fora de contexto da vida. Outro dia falei do estro criativo do escritor. O texto que eu lia negava a necessidade da inspiração pra a criação  literária (não a produção de textos). Fui gentilmente  defenestrado da caixinha de diálogo de meu interlocutor. Usei um excerto de uma bela canção do João Nogueira - O Poder da Criação - com o seguinte trecho:

“força nenhuma no mundo interfere sobre o poder da criação,
 não precisa ficar nem feliz nem aflito,
 nem se refugiar no lugar mais bonito,
 em busca da inspiração.
 Ela é uma luz que chega de repente,
 com a rapidez de uma estrela cadente
 e acende a mente e o coração.”

A interpretação do texto literário se dá de forma diferente do texto científico. O primeiro tem uma liberdade que não carece de comprovação de verdades nem de afirmação de mentiras, pois trata-se de manifestação de desejos ou sentimentos e isso é íntimo, pessoal, subjetivo, para ser bastante redundante.

A afirmação de Gasset lá no início, tem um importante complemento, raramente citado. A citação completa é: “Eu sou eu e minha circunstância. Se não salvo a ela, não salvo a mim”. E como assegurar essa “salvação”? Mudando a realidade, em vez de se submeter, passivamente, a ela. Quem não tem capacidade, vontade e determinação para fazer essa mudança, paga, via de regra, um preço altíssimo, em termos de frustrações, decepções de toda a sorte, mágoas, tristezas e fracassos. Ou seja, se afundará na circunstância e não dará sentido algum à sua vida. Eis um contexto em que vivo atormentado.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A VERDADE É SEU DOM DE ILUDIR?

Quantas vezes já não ouvimos debates e programas sobre o hábito humano de mentir! Até que ponto a mentira é necessária, um mal, um bem, uma fuga, uma diplomacia, uma falácia, um engodo? Ela faz parte do nosso convívio diário, muitas vezes confundida com omissão, com defesa, até mesmo usada como ataque ou achaque, intimidação. Depois de ter ouvido por duas vezes programas de rádio sobre o tema aqui tratado, resolvi procurá-lo na net e  encontrei. Trago a matéria na íntegra, bem como a fonte. * Se quiser deixar a sua opinião a respeito, vai ser legal.

Jornalista passa 40 dias sem mentir - e complica a vida


A cena é comum entre os casais que vão a lojas de roupas: a mulher, apertando a cintura, sai do provador e pergunta se está gorda. É uma questão simples ao cérebro masculino: caso queira manter a relação, a única resposta possível é um elogio que pareça natural. Mas em um shopping de Munique, ano passado, o jornalista alemão Jürgen Schmieder, 31 anos, contrariou as convenções. “Sua bunda parece muito grande”, respondeu para a esposa. Grosseria? Pode ser, mas com fundo científico.

Schmieder participava do desafio de ficar 40 dias sem contar mentiras para escrever uma grande reportagem sobre sua experiência para o jornal Süddeutsche Zeitung. “Eu estava desligando os filtros do meu cérebro e dizendo tudo o que passava pela minha cabeça”, diz. O resultado foi catastrófico. Além de dormir 7 noites no sofá, apanhou porque denunciou a “escapada” de um amigo, perdeu colegas por revelar quem achava incompetente e, isolado, quase entrou em depressão.


O jornalista comprovou um estudo de 1997 da Universidade da Califórnia do Sul, que afirmava que o ser humano mente, em média, 200 vezes ao dia. “A questão não é deixar ou não de mentir, mas sim de quantas mentiras precisamos”, diz Schmieder, que reuniu as experiências no livro Sincero (Record), lançamento no Brasil. Para ele, precisamos de 50 mentiras diárias, aquelas diplomáticas, feitas para incentivar as pessoas ou não ferir alguém, como quando se diz a um péssimo aluno de matemática que ele irá bem no teste de cálculo. Já as mentiras que contamos a nós mesmos para nos livrar de responsabilidades ou nos sentirmos superiores a outros devem ser descartadas. A longo prazo, diz Schmieder, elas fazem você tão solitário quanto quem só fala a verdade. Leia entrevista com o autor:
 
Qual foi a parte mais difícil no projeto?

A parte mais difícil foi ser honesto com minha mulher em cada aspecto da nossa vida diária. Quando ela veio até em casa do cabeleireiro, por exemplo, eu disse: “Não gostei do seu corte de cabelo!” Coisas como essa machucaram-na e fizeram com que eu dormisse 7 noites no sofá durante o projeto. Mas minha esposa e eu aprendemos que, sendo muito sinceros, não queremos ferir um ao outro e sim ajudar um ao outro. Agora estamos sendo completamente honestos e dizemos tudo. Às vezes outras pessoas pensam que somos malucos porque somos muito honestos um com outro. Mas nós estamos mais felizes e eu posso aconselhar todos os casais: seja sincero. Isso pode ser difícil no começo, mas a longo prazo os ajudará muito. 
 
Você costumava refletir antes de mentir? Isto é, quando se sentia tomado por um sentimento negativo, como frustração ou inveja, falava a verdade mesmo assim?

No período que antecedeu o projeto, sempre refleti antes de mentir. Pensava: “Como eu diria isso para essa pessoa? Quais palavras escolherei para outra pessoa não achar que estou mentindo?” Acho que é esse o motivo que fez Abraham Lincoln ter dito: “Não minto porque meu cérebro é muito pequeno para memorizar todas essas mentiras”. Quando comecei o projeto, eu estava basicamente desligando meu cérebro e dizendo tudo que passava pela minha cabeça. Quando eu me sentia frustrado, dizia para todos que estava frustrado. Quando eu invejava alguém, eu apenas dizia a eles. E quando eu pensava que outra pessoa era um imbecil, eu apenas dizia: “Ei, você é um imbecil!”.


Você diz no seu livro que há uma grande diferença entre ser sincero e dizer a verdade. Qual é?

A diferença é que a verdade é mais objetiva. Quando eu digo: “Espanha é a campeã mundial de futebol”, então isso é verdade, já que pode ser mensurado porque eles venceram a Copa do Mundo, um torneio. Ser sincero pode ser muito subjetivo e envolve julgamentos. Se eu disser “Ronaldinho é o melhor jogador de futebol do mundo”, posso estar sendo sincero pelo fato de eu pensar desse jeito. Mas outra pessoa pode dizer: “Não, o melhor é Lionel Messi”. Ele pode também estar sendo sincero. Mas qual é a verdade? Então, acho que ser sincero é muito mais fácil porque você precisa dizer apenas o que está em sua cabeça e qual é sua opinião. Dizer a verdade é mais difícil porque, na maioria das situações, podemos perguntar qual é a verdade, entrando numa discussão profunda. Acho que, para a sociedade, toda pessoa deveria tentar ser o mais sincero possível e também sempre almejar a verdade – porque somente se fizermos isso, nós podemos confiar um nos outros. E acho que confiar um no outro é uma das coisas mais importantes na sociedade.

Quais mentiras você ainda conta a outros? Poderia dar exemplos de algumas?

Parei de contar mentiras que poderiam machucar outras pessoas. Ainda digo mentiras que acho que ajudam outras pessoas. Quando um colega me dá um texto ruim, não digo a ele: “Esse texto é horrível”, mesmo que eu ache. Minto para ele e tento trabalhar com ele para tornar o texto melhor.

Quando as mentiras são boas e quando são terríveis?

Creio que mentiras são boas quando ninguém se fere e quando traz algo bom para uma pessoa. Um exemplo: minha sobrinha é péssima em matemática. Mas no dia anterior ao exame, eu disse a ela: “Você estudou um monte, está bem preparada e irá passar no teste!” Disse isso mesmo achando que ela fosse falhar. Mas contando essa mentira a ela para que se sentisse bem, confiante, talvez tenha sido determinante para ela ter passado no teste. Isso penso ser uma boa mentira. A mentira ruim é quando alguém sai ferido. Quando você vende seus carros usados sabendo que os freios não funcionam só para conseguir dinheiro extra, isso é uma mentira horrorosa. Você pode dizer a si mesmo: “ótimo, eu tenho dinheiro extra e agora posso comprar algo bom para minha esposa!” Mas pense sobre a outra pessoa envolvida, o comprador. Ele pode dirigir com seus três filhos sem saber do freio dos carros e ter um acidente terrível só porque você mentiu para ele. É uma mentira terrível.

O que você descobriu sobre você mesmo nessa experiência?

Descobri que eu dizia uma série de mentiras para outras pessoas que não eram necessárias. Também descobri que, num período curto, você pode ter uma vida melhor porque você mente um monte. Mas a longo prazo, acho que ser sincero é o melhor a se fazer porque pessoas confiam em você quando são sinceras com elas. Também percebi que não sou aquela pessoa perfeita que achei que era. Aprendi que tenho uma série de defeitos que eu preciso trabalhar neles. Eu fui sincero comigo e percebi: tenho que mudar.

Há mentiras essenciais para a sociedade?

Acho que algumas mentiras são essenciais porque nós estamos acostumados com o conceito de mentira. Nós todos mentimos 200 vezes por dia e somos enganados 200 vezes por outras pessoas. Acho que diplomacia é essencial para a sociedade. Bons elogios, ainda que não totalmente verdadeiros, não são coisas ruins. Mas nós realmente temos que pensar sobre as conseqüências de nossas mentiras.

Consegue imaginar como seria o mundo se todos os humanos fizessem como você e nunca mais mentissem? Como seria isso?

Acho que pelo fato de estarmos tão acostumados a mentir seria um cenário horrível. Pessoas odiariam umas as outras e brigariam também. Talvez haveria mais guerras. Só imagine se políticos fossem forçados para sempre dizer a verdade. Acho que teríamos uma grande guerra em poucos dias. Acho que a grande questão não é se devemos parar de mentir. A questão é quantas mentiras realmente precisamos. Durante meu projeto, descobri que não precisamos de mais de 50 por dia. E eu acredito mesmo que cada pessoa deveria tentar ser mais sincera.
Qual foi o episódio mais embaraçoso da jornada?

A situação mais embaraçosa foi quando um colega de trabalho me deu uma lista de questões como: “Quanto você ganha? Você acha que poderia ser o chefe da companhia?” E a mais embaraçosa questão: “Quem você demitiria se fosse o chefe?” Respondi cada questão honestamente – e então o colega copiou minhas respostas para toda a companhia. Agora todo mundo sabe o meu salário, o que eu penso dos outros e quem eu demitiria. É muito constrangedor olhar nos olhos dessas pessoas.


Já mentiu para um entrevistador?

Sim, uma vez. Conheci um entrevistador que eu não gostava muito – mas ele trabalhava para um jornal famoso, então eu disse: “Muito bom conhecer você!” Mas nessa entrevista, eu não gostei de nada!
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Fonte:

segunda-feira, 25 de julho de 2011

LER NÃO CAUSA L. E. R. * - Cacá (José Cláudio)

imagem daqui:

PROPAGANDA DE LIVRO

Deixem-me fazer aqui uma propaganda: submetemo-nos diariamente a todo o tipo de publicidade possível, imaginável, apelativa, abominável, insuportável, condenável, massificante, coisificante e inútil.

Será que só conseguimos nos sentir bem e felizes através do consumo de bens materiais? Não conta a alma,  a satisfação que não precisa de enfeites, de ostentação?

Pois bem, o produto que eu quero disseminar aqui se chama leitura. Especialmente de livros. Toda leitura é bem vinda, ensina, inclusive, o discernimento daquilo que bom do que não é. Do agradável ou não. Da leitura que soa como música sem ruído. Afora o aprendizado, sem dizer o prazer que proporciona. Eu gostaria que esse comercial tivesse o efeito que provoca o de um sorvete, de um chocolate, de uma cerveja, de um belo vestido, de um carro novo. Mas esse efeito tem um probleminha: não é palpável, não é degustado. Ele é que toca a gente. Nos olhos, na mente e no coração.

Eu poderia fazer como se faz na publicidade que fazem dos bens que podemos ter, argumentando com os benefícios de uma televisão, da satisfação com uma comida pré-pronta, de uma escova que alisa os cabelos. Mas o argumento já está dentro das palavras, das letras, das histórias. Só lendo para perceber num curto espaço de tempo a diferença que se opera em nossa vida. Ao passo que os bens materiais, se vão, se desgastam, enjoam ou não preenchem de modo duradouro aquele desejo que tanto ansiávamos. Talvez até um pouco e por pouco tempo, fazendo-nos, inclusive, desejar mais, cada vez mais para no final, não trazerem o preenchimento de uma lacuna que não está na aparência física, não está num cômodo da casa. Está dentro da alma.

Se for dar um presente ao seu filho ou filha, não deixe de fazê-lo para que não se frustre. Criança precisa de brincar. Mas dê um mais baratinho e inclua um livro com o troco. Se ele torcer a cara,  pode ser que distorça mais tarde, com um sorriso iluminado. Se for para amigos ou parentes, não hesite um minuto.

E o mote final seria assim: Livros são como árvores. Plante a sua no jardim do coração de quem você gosta.

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* L E R  = Lesão Por Esforço Repetitivo
PS: Esta crônica já havia sido publicada aqui no blog com o título Mais do Novo

sábado, 23 de julho de 2011

O CASO DA INTERPRETAÇÃO


imagem:artes visuais.blogspot

 Na sua primeira ida ao parque foi com o sono atrapalhado num domingo de manhã, mas conformado, afinal, queria sempre aprender coisas que o ajudassem a melhorar de vida. Ouviu um anúncio meio atravessado do concerto de uma orquestra e lá se foi com caderninho e tudo para tomar nota de cada detalhe. O certo seria dar ouvidos a cada nota. Quando se apresentaram os músicos abrindo com Bolero, de Ravel, já começou o xingatório em alto som:
- Mas cadê a aula pra gente aprender?
O conserto que ele queria não seria ali e mesmo assim instrumentos musicais quando dão defeitos há que se ter alguém muito sensível e afinado com música para fazer a manutenção. De qualquer forma terminou de ouvir o concerto até o final pois acabou gostando da música. Já era algo mais no seu currículo de aprendiz: música clássica faz bem aos sentidos. Ia apurando-os, prometera a si mesmo.

Da segunda vez que o inusitado confirmou a sua sina foi quando precisou entregar uma encomenda lá na cidade de Igaratinga onde nasceu. Chegando à casa da destinatária, a placa bem grande no portão advertia: “tome cuidado com os cães” e ele já foi logo abrindo e ao se deparar com dois bem grandes, do tipo pastor alemão, tentou cuidar com carinho fazendo um afago na cabeça de um deles. Foram mais de 180 pontos ao todo pelos braços, rosto e pernas, segundo o pessoal do posto de saúde onde foi atendido E depois alguém explicou que o cuidado com os cães significava não descuidar. Foi nesta época que Manoel Umbelino ganhou o apelido de Mané dos Cachorros.

Um boletim de ocorrência curioso foi a última notícia que tive do Mané: preso por derrubar todas as árvores de uma rua, só não concluiu o arboricídio* porque alguém chamou a polícia diante do comportamento estranho daquele homem com sua moto-serra. A companhia de eletricidade da cidade estava fazendo uma campanha educativa para prevenir acidentes na rede elétrica e colocou anúncios por toda a cidade, especialmente nas áreas mais arborizadas. Uma frase dúbia, convenhamos:
NUNCA PODE ÁRVORES PERTO DA REDE ELÉTRICA.

O verbo transitivo direto “podar” no modo imperativo foi interpretado erroneamente como sendo o verbo transitivo direto “poder”. Deu cana.


* arboricídio: extermínio indiscriminado de árvores (um neologismo que criei)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

COMER DEMAIS

imagem daqui:

A atividade culinária é tão prazerosa para mim quanto a literária. Eu me vejo sem dinheiro, sem eira nem beira, numa canseira ordinária, mas não consigo me conciliar o tempo sem que estas duas coisas estejam presentes no meu dia a dia. Uma das minhas preocupações é que a literatura não me consuma do mundo e a gula não me mate. Por esses motivos é que procuro transformar as duas coisas em prazer. Mais apreço e menos apego.

Conheci Alcoólicos Anônimos, Jogadores Compulsivos, Neuróticos Anônimos e agora tive a grata satisfação de encontrar mais um grupo de ajuda mútua, os Comedores Compulsivos. É uma entidade nos mesmos moldes das outras - para quem precisa de ajuda e nem sabe é uma excelente terapia, às vezes muito melhor do que medicamentos que prometem mundos e fundos mas não resolvem o problema que origina a maioria esmagadora dos distúrbios: a ansiedade provocada por vários e obscuros motivos, muitas vezes de origem tão distante na nossa vida que nem a pessoa nem a medicina leva em consideração, já que estamos muito mais voltados para o imediatismo nas soluções de tantos problemas, atacando  tão somente os efeitos.

Há no site deles, um teste básico que não serve de diagnóstico mas prognostica possibilidades de a pessoa ser portadora da compulsão alimentar. Se achar que vai precisar de ajuda ou não é por conta de cada livre arbítrio. Quer testar?


Você é um comedor compulsivo?


01 - Você come quando não está com fome?


02 - Você faz "farras alimentares" continuamente, sem razão aparente?



03 - Você sente culpa e remorso depois de comer compulsivamente?


04 - Você gasta muito tempo comendo, ou pensando em comida?


05 - Você espera com prazer e antecipação pelo momento em que pode comer sozinho?


06 - Você assume mais responsabilidades do que pode? Tem uma atitude de tudo ou nada?


07 - Você planeja com antecedência essas comilanças secretas?


08 - Seu peso está afetando seu modo de viver?


09 - Você tentou fazer dieta por uma semana(ou mais), somente para abandona-la perto de sua meta?


10 - Você fica ressentido quando outras pessoas lhe dizem para "usar um pouco de força de vontade" para parar de comer demais?


11 - Apesar das evidências em contrário, você continuou a afirmar que poderia fazer dieta "por si mesmo", quando quisesse ?


12 - Você anseia desesperadamente comer em um determinado momento, dia ou noite, fora das horas das refeições?


13 - Você come para fugir de aborrecimentos ou dificuldades?


14 - Você já esteve em tratamento por obesidade ou problemas relacionados a alimentação?


15 - Seu comportamento alimentar faz você ou outras pessoas infelizes?


Se respondeu SIM a qualquer uma das perguntas acima, é possível que você seja um Comedor Compulsivo.


Se respondeu SIM a 2 perguntas, é bem provável que você seja um Comedor Compulsivo.


Se respondeu SIM a 3 ou mais perguntas, então é quase certo que você seja um Comedor Compulsivo.


Se você realmente reconhece que é um comedor compulsivo, apresentamos agora a grande pergunta: VOCÊ DESEJA AJUDA? 

http://www.comedorescompulsivos.com.br/cca.htm




terça-feira, 19 de julho de 2011

APRENDENDO COM A CACHORRA

Imagem DAQUI:
Alguém disse que quanto mais conhece o ser humano mais admira o seu cachorro. Eu não vou arriscar atribuir autoria, pois na internet há mil e um autores que foram agraciados com a paternidade dela. A internet não é muito confiável para pesquisar certas coisas, uma delas é autoria. Acho além de tudo, uma frase derradeira de quem desistiu de vez das possibilidades de convivência humana saudável e agradável, além de tudo. Um horror ter que admitir isso, pelo menos para mim que tenho um olho no humano e idealista como uma planta. Toda planta tem um ideal. Crescer, florir ou frutificar e fornecer ar puro para fora de seu mundo de planta.

Isso não impede, no entanto, que eu aprenda muita coisa com os animais. Tenho aprendido, por exemplo, com a minha cachorra uns hábitos alimentares que não consegui por conta própria ou de legado da educação que meus pais me forneceram. Cachorro não tem o olho maior do que a barriga depois de adulto. Você coloca lá a água e a comidinha dele e ele vai comendo à medida que tem fome. Na medida certinha. Saciou-se, deixa ali o que sobrar e volta novamente para terminar quando vier outra fome ou sede. Se engorda é por que o dono lhe transmite hábitos insalubres. Infelizmente, nesse aspecto ele também aprende com os humanos e quase nunca coisas boas. Outra curiosidade é com relação às queixas de insônia. Eu que tenho o hábito de acordar pela madrugada fico observando-a. Costuma ficar horas deitada olhando para o tempo (parece meditar) e depois que o dia amanhece, dorme um sono profundo. Dorme antes do almoço, dorme depois do almoço. E tudo isso sem culpa.

A culpa humana se chama tempo. Esse relógio que alterou a biologia, passando a tentar fazer o organismo funcionar cem por cento, se tomarmos café pela manhã, almoçarmos è tarde e jantarmos à noite. Os cachorros fazem o seu próprio tempo. Dormem quando sentem sono, comem quando sentem fome. Para quem não tem patrão ou assemelhado, isso é um aprendizado e tanto de vida. Ah, estou aprendendo inclusive a meditar com ela (ou sei lá o que fica pensando naqueles momentos assim, parada, olhando para o nada). E nunca deixa de dar a sua espreguiçada quando se levanta, o que equivale ao que os médicos mandam-nos fazer em alongamentos diários. Ativa a circulação, evita contusões gratuitas e dores pelo corpo.

Só não descuido da percepção social da história e chego a pensar que é a minha única vantagem com relação a ela.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * Daniel Penac

Como Um romance - Uma viagem ao universo da leitura

A obra de Daniel Penac está dividida em 4 partes: Nascimento do Alquimista, É precios ler, Dar a Ler e O que lemos, quando lemos. Cada capítulo trata de 3 patamares fundamentais: O que é o leitor, Como se forma um leitor ( auto-formação) e como se faz a manutenção desse leitor. De forma bastante pedagógica ele nos ensina a perceber traços e sinais  essenciais para a compreensão desses patamares.
Através de alguns trechos ficcionais, daí a escolha pelo título metalinguístico, Penac nos apresenta os processos de percepção e os erros comuns gerados nesse momento. Ações que ocorrem em diversos espaços de aprendizagem, como na escola ou em casa. Os pai que pedem ao filho que suba ao quarto e leia, em toda sua autoridade não percebem o período que se passou entre a ultima vez que incentivaram verdadeiamente a leitura até o momento em que ela passou a ser uma ordem. O professor que apresenta uma leitura, aparentemente exaustiva dado o volume do objeto livro em mãos, e que prova aos seus alunos, com leitura em voz alta, que todo o “muro” que os divide da obra começa a ruir a medida que a leitura avança. E o melhor, em minha opinião, é que o autor sugere uma liberdade nas relações  de livro-leitor que fogem das regras exteriores ao universo criado pelos dois que permeiam essa relação.
No primeiro capitulo, Nascimento do alquimista, Penac nos provoca ao descrever desculpas universais que tentam justificar o desinteresse pela leitura, por exemplo a televisão, como sendo uma das maneiras mais confortáveis, já que pressupõe um único ato - o de proibir, de justificativa. Essa provocação se dá pelo fato de que sempre a vemos, a tevê, como vilã da história. A proposta é mostrar quem são os verdadeiros responsáveis pela ausência no desejo de leitura em uma criança. Quem apaga a luz da ficção e fecha as portas do universo de encantamento para abrir o  abismo das obrigações de leitura com a ausência plena de responsabilidades dos, agora não mais pais, inquisidores?  A síntese desse capítulo pode-se ver no trecho abaixo:
Éramos o contador de histórias e nos tornamos contadores, simplesmente.
Eh! É isso...
É isso... a televisão elevada à dignidade de recompensa... e, em corolário, a leitura reduzida ao nível de obrigação... é bem nosso,esse achado...

As obrigações que afastam a criança do seu universo de relação independente com as histórias dos livros, lidos pelos pais, que trata-se , às vezes, da  única intereção entre Pai e filho durante o dia (Vide No caminho de Swann -  Marcel Proust ¹), interrompem a formação do Alquimista que traduz em riquezas o universo de códigos apresentados, referenciados por ambientes e tempos, diante dos olhos daquele que, no calor da fase mais criativa que temos, não consegue passar da página 48.

Daniel Penac
No segundo capítulo, É preciso Ler ( O dogma), o autor descreve os discursos que querem forçar uma leitura comprometida com os interesses da sociedade e , completamente, indiferente aos interesses do leitor. Na página 64, a sequência da oração  É preciso ler... é exposta com os diversos motivos pelo qual nossa leitura é induzida. Dentre eles destaco: Ler para...
..aprender
...dar certo nos estudos
...conhecer melhor os outros
etc...

Essa redução, ou melhor, tentativa de padronizar os reais motivos de uma leitura apresenta objetivos palpáveis, no entender do discurso, que possam justificar o interesse do leitor. Assim, de forma generalizada, entende-se ser capaz de, com esses argumentos, convencer um não leitor a se tornar um leitor. Enquanto isso o mais importante na relação leitor-livro é esquecido. E o que é o mais importante nessa relação, segundo Penac, é a Liberdade.
A mesma liberdade que sentimos quando adentramos uma história, ou seja quando temos contato com o universo dos signos presentes na obra, devemos ter na relação com o objeto-livro. E é por isso que o autor, no ultimo capítulo, vai tratar das regras que reestabelecem a relação que tinhamos nos primeiros contatos com o universo ficcional do qual nos lembramos.

Em  Dar a ler, terceiro capítulo do livro, Penac nos mostra o quanto usamos o tempo como desculpa para não ler. Em seguida, apresenta cálculos que consideram pequenas leituras diárias em busca de grandes leituras ( equivalente ao tamanho do livro) em curtos espaços. Esse capítulo nos mostra que o principal passo para iniciarmos a leitura de uma obra extensa é abrí-la. Surge o exemplo do professor em sala de aula com o livro O Perfume de Patrick Süskind e sua edição de páginas espaçadas,vastas margens, enorme aos olhos daqueles refratários à leitura, e que prometia um suplício interminável.
Na página 109 o autor retoma essa imagem para desfazê-la: Um livro grosso é um tijolo. Liberem-se essa ligações, o tijolo se transforma em nuvem.


No quarto e último capítulo, o que lemos, quando lemos ( ou os direitos imprescritíveis do leitor), Penac fecha com chave de ouro em suas 10 diretrizes que permeiam as relações entre leitor e livro.
  1.       O direito de não ler
  2.       O direito de pular páginas
  3.       O direito de não terminar um livro.
  4.       O direito de reler. 
  5.      O direito de ler qualquer coisa.
  6.       O direito ao bovarismo.
  7.       O direito de ler em qualquer lugar.
  8.      O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
  9.      O direito de ler em voz alta.
  10.     O direito de calar.

Na diretriz de número 10, que o autor assinala como predileta, posta-se a máxima de todas as relações. O que há de íntimo não se deve comentar. E quanto estamos em contato com algo que nos faz revelar,
 setores de nosso ser auto-anulados pelas exigências das relações cotidianas, estamos em contato com o que há de mais íntimo em nós mesmos. Falar sobre ou não é uma decisão que cabe somente ao leitor.

- Mas e aí, conte-me, como foi sua leitura de Viagem ao centro da Terra²?

Ouço o farfalhar de uma mariposa do lado de fora rodeando e “ dando vorta em vorta da lampida” de Adoniran³.

Boa Noite Mariposa!




¹ No caminho de Swann -   Primeiro volume de Em busca do Tempo Perdido
²Viagem ao centro da Terra (1864) livro do francês Júlio Verne ( 1828-1905)
³As Mariposas – Composição de João Rubinato ( Adoniran Barbosa) 1955
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Este artigo foi gentilmente cedido pelo  ARI - blog Fruto Vermelho (aqui).


L.E.R. = Lesão Por Esforço Repetitivo

sábado, 16 de julho de 2011

S A C O

Se você não quer que seu nome apareça, não deixe que o fato aconteça.” Esse slogan é de um programa de radio sobre criminalidade. Lembrei-me dele enquanto pensava no que leva a se insistir no erro ou na fraude. O assunto aqui é com relação às empresas que nos burlam um pouquinho a cada dia. Quando estamos cometendo algum erro proposital o que nos estimula na sua manutenção? Não é principalmente o fato de ninguém saber? Ou aquela sensação gostosa da impunidade que gera uma onipotência? Não estou falando da impunidade que já existe garantida de certa forma, tanto pela inépcia judicial como por sua corrupção ou lentidão.

Estive observando os jornais de grande circulação e em quase todos há um espaço para o leitor e consumidor fazer suas queixas. As poucas pessoas que o utilizam, normalmente parecem deixar esse canal por último, depois de já terem tentado reclamar nos próprios serviços de atendimento ao consumidor das empresas (o SAC) e de procurar os procons e outros meios de defesa. Ocorre que a reação das empresas é imediata quando a queixa se torna pública. É uma espécie de flagrante de algo que todo mundo sabe mas cada um tenta resolver a seu modo individualmente. Acho até que estamos usando os canais certos, porém, na hierarquia errada.

Estou pensando seriamente em criar o SACO -. Serviço de Apoio a Consumidores Olvidados. Quando o nome de uma empresa aparece num órgão de imprensa com uma reclamação, o tratamento é muito diferente daquele que é dado, por exemplo, na justiça ou nos procons, onde ninguém fica sabendo o que está acontecendo. A pessoa escreve, conta do eletrodoméstico que comprou defeituoso, da conta errada do celular, da banda larga que está mais estreita, da assistência técnica que está enrolando, do produto que foi pago e não foi entregue e tantas outras queixas empurradas com a barriga nos call centers. Experimente quando for o próximo, ligar ou mandar uma carta ou e-mail para um jornal e me diga depois se funcionou ou não. Nunca mais seremos “esquecidos” e o nosso SACO vai ficar cheio de problemas resolvidos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

IMORTALIDADE

imagem daqui:
Você já pensou na imortalidade?  A do corpo está por um fio de ser conseguida através de pesquisas com as células-tronco. Só que na sociedade de consumo em que vivemos eu vejo opostos se materializando, quero dizer, quanto mais caminhamos na direção da imortalidade carnal, mais nos distanciamos da outra imortalidade etérea, sublimada pela criação. É que a ordem geral é consumir sem guardar. Consumir sem apego histórico, sem apego de estima. A ordem é quanto mais você tiver possibilidade de substituir bens materiais, mais prestígio você tem. A história está perdendo fôlego diante da velocidade do mundo e desconexão das coisas. Uma sensação de morte da dialética, de tanto que só há negação, negação, negação das inter-relações das coisas entre si. Só o presente tem servido de referencial

Outro dia eu assisti a um documentário sobre investigações acerca de roubos de obras de arte famosas tanto em museus como em residências de colecionadores e em igrejas. A tônica do programa era exatamente a pouca importância que a polícia tem dedicado a procurar por raridades em função da excessiva ocupação na busca por outras coisas mais fáceis de ser substituídas (a meu ver) mas muito mais valorizadas. Quer um exemplo? Um carro roubado é muito mais procurado do que uma tela de Van Gogh. E olhe que carros, por mais caros e luxuosos, há um seguro que pode garantir outro igualzinho no lugar do que foi levado.

 O conhecimento e a contemplação tem servido a propósitos muito pragmáticos. Só adquirem significado intrínseco se se transformarem em algo que possa ser consumido de imediato, já ensejando um novo conhecimento e assim por diante, mas não mais para serem guardados como permanência.

Vou falar para quem escreve: se sua obra está registrada na Biblioteca Nacional, tudo bem, ali reside a garantida a sua imortalidade, caso algum dia alguém se interessar por ela.  A obra tornando-se famosa, a imortalidade ganha abrigo em corações e mentes e estantes de bibliotecas, além do google, claro! Mas tem uma coisa que me inquietou: quando assinei um contrato com a editora para publicar um livro, veio uma cláusula em destaque de negrito e sublinhada: a que garantia aos meus herdeiros o direito ad infinitum de receber os direitos autorias. Então imaginei duas coisas. A possibilidade de herdeiros quererem se livrar do gerador da herança rapidinho se ele se eternizar, caso sejam gananciosos por dinheiro. Nesse caso perde-se até mesmo a chance de imortalizar-se pelas graças dos recursos da medicina dos quais falei lá o início. E com  o desprezo absoluto dos modernos homens de negócio editorial com o destino da obra no sentido literário, cultural e da contribuição para o conhecimento humano, só mesmo com a graça dos leitores para não ser olvidado depois de seu último ponto final numa folha qualquer.

terça-feira, 12 de julho de 2011

OS DOMÉSTICOS

imagem google
Eu me esqueci de anotar a fonte mas não do fato. É que outro dia li num anúncio de classificados homens se oferecendo para serviços domésticos em casas dos outros. Não é o marido de aluguel, muito comum em alguns lugares e também chamado de “faz tudo”, desde que esse tudo seja serviço de homem na nossa cultura ainda machista. Bombeiro, eletricista, encanador, jardineiro, gambiarreiro - aquele que dá aquelas “ajeitadas” pras coisas funcionarem direitinho por algum tempo. São homens topando as vagas que antes eram exclusivas das empregadas do lar e das diaristas. Homens fazendo almoço e janta, lavando e passando roupas e fazendo faxina.

A mulher tem atingido o seu patamar máximo de distanciamento das coisas da casa, quando dá. Claro que a maioria ainda continua acumulando a função de mãe integral, trabalhadora formal, autônoma ou empresária e ainda cuidando da casa e dos filhos. Até que com relação ao cuidado com os filhos já há bastante homens envolvidos nesta divisão mais do que justa de responsabilidades. Mas tem uma coisa que chama a atenção: tanto mães quanto pais na maioria dos melhores lares daqui e acolá continuam educando os filhos de forma diferenciada. As meninas de um jeito, os meninos de outro. Mesmo que as meninas não brinquem tanto mais de boneca e de casinha (a Barbie trabalha?) e não haja uma divisão tão direcionadora como havia antes, é com os meninos que as coisas precisam mudar mais, eu creio. É raro vê-los sendo ensinados a arrumarem a própria cama, ajudarem a lavar ou a secar uma louça, a lavarem a própria cueca, a darem uma varridinha de vez em quando (pelo menos no próprio quarto, nem que seja só mesmo para ir pegando um traquejo e ir aprendendo a se virarem sozinhos, no sentido bom da independência). Os ensinamentos continuam sendo transmitidos tal como dizia o Belchior: “apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.” Nesses casos, as aparências não enganam não.

Aí fica uma perguntinha: será que esses homens vão topar acumular funções também ao voltarem para as suas casas no fim de um expediente?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

LER NÃO CAUSA L. E. R*. - Bartolomeu Campos de Queirós

imagem google
“Eu sou muito encantado com a leitura; então tenho que ficar me policiando, porque às vezes começo a escrever, tenho uma idéia, lembro do poeta tal ou do autor tal e aí paro de escrever e fico lendo aquele escritor. Tem um diálogo grande entre a escrita e a leitura. Eu leio muito, gosto de ler, acho até que é uma coisa superior à escrita, para mim. Eu me sinto muito bem lendo.”

Bartolomeu Campos de Queirós

Fonte: construirnoticias.com.br (org. Luciana Sandroni)



L E R = Lesão por Esforço Repetitivo

sábado, 9 de julho de 2011

SALVEM OS HOMENS

imagem :daqui
Em BH a proporção é de 88 homens para cada grupo de 100 mulheres(leia aqui). Não é nada, não é nada, pode ser um tremendo TPM. Ou a cidade está ficando mais charmosa, mais delicada? Como Belo Horizonte é uma cidade onde predomina uma economia de prestação de serviços, esse componente faz arredar ainda mais pra lá homens, que vão buscar vagas em escritórios e indústrias, estas últimas quase inexistentes na cidade. Um dado preocupante é que nas faixas de idade mais jovens e nas mais velhas o predomínio feminino ainda é maior. As mulheres, além de tradicionalmente viverem mais, assistem jovens entre 15 e 29 anos perderem a vida com muita frequência por violências diversas (trânsito e drogas, principalmente). No mapa do censo, a proporção de homens é maior até os 9 anos. Sim, eles nascem em número maior e por aí dá para se ter uma noção de como morrem em abundância. É o retrato de uma cidade violenta.

Como não poderia deixar passar em brancos véus, foram analisar até o “mercado” para as uniões. Entrevistas com mulheres revelam uma disputa acirradíssima por um parceiro. Desleal ou não, isso eu não sei dizer, já que estou alijado desse “mercado” faz tempo por prazo de validade vencido. Já está longe a época em que se saía à noite e os lugares estavam infestados de barbudos e vozeirões. Aparecia uma mulher sozinha e tornava-se por unanimidade a miss do pedaço.

Eu que vivo criando movimentos sem pé nem cabeça nem adeptos vou acabar lançando o movimento Salvem Os Homens Antes Que Comecem A Virar Espécie Em Extinção.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

ATRIBUIÇÃO ATRIBULADA

Já imaginou se o Ricardo Gondim, teólogo e escritor chegasse para os familiares de Mário de Andrade e cobrasse satisfações por plágio de um texto chamado “O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS”, espinafrando a ousadia de um autor que é consagrado e, em tese não precisaria desses expedientes espúrios? Provavelmente ia receber como resposta:
- Estranho, Sr Ricardo, o Mário, nosso parente morreu em 1945 e é bem possível, com essa cara de novo, que naquela época o Sr. sequer tenha nascido ou estava ainda nos cueiros.

E se depois disso, familiares de Mário Coelho Pinto de Andrade, um escritor angolano resolvessem bater à porta do Gondim acusando-o de plagio descarado?

 O texto em questão consta do livro Eu Creio,Mas Tenho Dúvidas, de Ricardo Gondim. Ocorre que há um mesmo texto num site angolano, do escritor Mário Coelho Pinto de Andrade (e não o nosso Mário de Andrade). O que se nota de diferente é que no livro do sr Gondim, ele aparece com o título de  O TEMPO QUE FOGE e no lugar da referência à bacia de jabuticabas, no original (do angolano Mário) seria   bacia de cerejas. 

A única certeza que temos então, é a de que o belo texto não é de quem é mais citado em quase todas as referências na internet: o escritor Mário de Andrade (brasileiro) que, para quem não se lembra ou não sabe, é o autor de Macunaíma.

Pois é, a internet que dizem ser terra de ninguém, na verdade é terra passível de encontrar em qualquer lugar do planeta o computador que lançou ofensas, ameaças e depravações. E também plágios, cópias e adaptações acochambradas.  Terra de todo mundo, no entanto, para determinadas coisas que pouca gente se depara com o intuito de fazer correções dando justos louros a quem realmente foi autor de alguma obra, texto, poesia, tela, blog, matéria, artigo, tese, dissertação, etc, etc, etc. A gente vive reclamando de plágio, que há a possibilidade de alguém copiar literalmente um texto e roubar a autoria. E o que dizer de autores que vivem ganhando a autoria de textos sem pedir? Todo mundo já sabe que o Luis Fernando Veríssimo, a Martha Medeiros, o Arnaldo Jabor e outros tantos aparecem amiúde sendo autores de pérolas e por vezes de textos até mesmo de qualidade duvidosa, coitados.

É uma boa fonte de pesquisa e um desafio muito estimulante para estudantes de letras, ou pesquisadores de literatura e artes em geral, fazerem um levantamento de textos que circulam livremente com a autoria que dá na telha de quem publicou e se espalha pelos telhados vizinhos através de e-mails, blogs e tantos outros sites.

Fica lançada a ideia para quem gostar dela, tiver tempo, disposição e senso de justiça. 


há um bate boca interessante nos comentários sobre a autoria do texto

terça-feira, 5 de julho de 2011

NÓS VAMOS INVADIR A SUA PRAIA

A CHEGADA TRIUNFAL - imagem google
Dos sete mil e tantos quilômetros que o Brasil possui de litoral eu conheço uns poucos. Segundo os mais aficionados por praias e geografia, se levarmos em consideração as reentrâncias (por exemplo, o litoral de São Luis, no Maranhão) e saliências vai para nove mil e tantos quilômetros.

Aonde eu mais conheci de forma exploratória (turística, viu minha gente?) foi o Rio Grande do Norte. Nem preciso falar do resto do país. É muita beleza pra um mineiro só. E mineiro tem inveja de litoral. A gente fica aqui exaltando as montanhas mas louquinho para subir o morro e descer lá do lado do mar.

Como gosto muito de andar na contramão de onde todo mundo vai, inverti a tendência separatista que, não é de hoje, ronda esse país. Na escola primária aprendi que o Brasil tinha pouco mais de três mil municípios. Hoje tem  cinco mil e tantos. Minas mesmo é um estado muito separatista por conta de políticos(as) oportunistas. No meu tempo das primeiras letras aprendi que tínhamos 722 cidades, Já estamos batendo em quase novecentas. Eu pergunto: anexamos algum território inimigo? Invadimos algum lugar? Não, foi a criação de novos municípios, separatismo purinho.

Pensando nisso e na paixão desvairada pelo mar e lembrando do que o Roberto falou que “além do horizonte deve ter algum lugar bonito e tranquilo pra se viver em paz”, lancei um movimento para anexarmos o Rio de Janeiro e o Espírito Santo ao território Mineiro. Quando eu voltei do RN eu lancei o movimento “anexista”. Já sabemos fazer moqueca capixaba e falar como os cariocas é uma delícia, com o “s” espichado que nem “x”. Difícil vai ser combiná-lo com o nosso “r” caipirado. Mas isso a gente resolve depois tomando umas numa praia. Copacabana ou Ipanema? Guarapari ou Vila Velha?

PS: isso é apenas uma brincadeira sem nenhum propósito sério.

Anexionismo = s. m. || teoria que preconiza a anexação dos pequenos estados aos grandes, seus vizinhos, sob fundamento de afinidades raciais, linguisticas, etc.
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