sábado, 28 de fevereiro de 2009

SR. FUTURO

Estou tendo que fazer um grande esforço de memória. É que depois da internet a piada está perdendo a graça para quem navega sempre. Em todas as rodas em que estou, vou contar uma e me tiram logo:

- Essa é velha, conta outra.

Ou então ouvem para não ser deselegantes e depois dão aquele sorriso amarelo. O que para mim é pior do que mandar contar outra. Ainda bem que a memória tem dado um auxilio luxuoso (de vez em quando). Por isso, recorro aos causos, que são mais raros na net.

Na minha cidade havia uma grande obra de expansão da empresa de mineração e foram contratados milhares de trabalhadores nas empresas que tocavam o serviço. Uma delas era a responsável pela construção de um imenso galpão que serviria de oficina de manutenção das máquinas e caminhões de minério. A equipe era comandada por um mestre vindo do nordeste, viajado, experiente, um líder carismático no meio da peãozada. Chamava-se Arcanjo Isabelito Salustiano, mas gostava de ser tratado como Seu Futuro. Gostava de ser tratado assim porque dizia resolver tudo aqui, agora e não deixava nada para trás, nem para frente.

Era muito requisitado pela empresa e vivia num corre-corre atendendo a solicitações várias em todos os lugares onde a empresa tinha serviços. Resolvia problemas estruturais, geológicos, hidráulicos, elétricos, mecânicos, gripe, sarampo, cachumba e unha encravada, se bestassem com ele.

Num retorno de uma dessas andanças, vinha num avião pequeno fretado pela firma para resolver outro problema urgente na obra e viu, lá de cima, que algo saía errado na construção. Mandou o piloto fazer um vôo rasante ali perto e disse:

- Nem precisa parar, é só diminuir a velocidade. Feito isso, pulou a já foi logo mandando desmanchar e refazer tudo. Afinal o patrão (a mineradora) havia contratado os serviços por um preço muito alto e não admitia falhas.

Seu feito maior foi com o seu time de futebol. Ele criava essas técnicas de RH para relaxar o pessoal e manter a equipe unida, mesmo se no campo os trabalhadores quase se matassem de pancadas para tirar o estresse dos serviços pesados e das cobranças, baixos salários e outras atrocidades por que passam os peões da construção civil.

Organizou um campeonato na cidade e levou lá o seu time, que, chegou à finalíssima, graças a sua bem elaborada técnica futebolística. Ocorre que no dia do jogo decisivo havia sido requisitado mais uma vez para resolver um daqueles problemas que só ele resolvia.

Conseguiu chegar ao jogo já no segundo tempo e seu time perdia, aos 30 minutos por 11 x 0. Começou a fazer as substituições e dava em nada. Faltando 8 minutos para terminar o jogo, já perdiam de 14 x 0. Pensou rapidamente, olhou para o banco de reservas, fez aquela cara de desprezo e resolveu entrar ele mesmo. Tirou o camisa 10, tomou ali na beira do campo o seu uniforme, vestiu e entrou. Técnico e dono do time e do campeonato tinha que ter o direito de jogar também, segundo suas próprias regras.

Fez doze gols e deu passe para mais três, na estrondosa vitória por 15 a 14.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

AEDO CIBERNÉTICO - VAI PASSAR

Agora, enquanto dorme a nossa pátria-mãe tão distraída, eu boto o meu bloco na rua.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

VÍCIO INVERTIDO

Essa é mais uma daquelas histórias de que você já deve tanto ter ouvido. Talvez até mesmo vivido. Que começa com uma felicidade danada e termina em tragédia. Não, não. É o contrário, desculpe-me.

Eu comecei com uma caminhada solitária e descompromissada de tudo. Tão descompromissada que caminhei por quatro horas e fiquei uns bons dias de repouso por causa de muitas dores pelo corpo, que não estava habituado a tanto esforço de uma só vez e com tamanha intensidade. O motivo principal era um excesso de peso, que estava me prejudicando a coluna. Tinha outros: a barriga não cabia em camisa alguma sem arrebentar os botões ou formar aqueles bojos quando eram de malha. Tinha óculos que faziam verdadeiros sulcos nas laterais do rosto redondo, redondo, e no nariz. Tinha um cansaço que se comparava ao de maratonistas após as provas, mesmo se fosse uma caminhada de cem metros apenas. E tinha ainda e por último, um problema de estética que incomodava. “ Um elefante incomoda muita gente...”

Eu notei depois, a despeito das dores, que havia me feito um bem danado, um relaxamento mental, uma arejada nos pensamentos, uma substância que parecia ter melhorado o humor, o apetite e o sono. Ai resolvi continuar. Com mais parcimônia, pensando naquela máxima “devagar é que se vai longe”.

Minha filha tinha uma bicicleta que estava meio abandonada e fui pedalando nela até cair e quebrar o ombro. Destreinado e entusiasmado ao mesmo tempo, só podia dar nisso. Gradativamente, fui consumindo mais água e comecei a sair acompanhado de uma insuficiente maçã para matar a fome que ia aparecendo à medida que me exercitava.

Fiquei conhecendo muitas pessoas que já estavam em estado mais adiantado que eu nesse negócio, uma pessoas já viciadas há mais tempo. Uns me recomendavam a fazer alongamentos para evitar aquelas dores que sentia no início. Outros me sugeriram comer banana. E lembrei que já vi muito atleta fazendo um lanchinho de caturra ou prata numa pausa entre uma bateria de exercícios. Pensei que se eles faziam assim não era à toa ou por falta de outra coisa. Devia ter alguma utilidade fisiológica.

Passadas algumas semanas, observei que já me fazia falta, se não podia ou não queria ir para a rua me exercitar, seja a pé ou de bicicleta. Preocupava-me o fato de estar se tornando um vício. Eu teria que largar a bebida e o cigarro. Meu consumo era altíssimo e os exercícios estavam prejudicando esses hábitos. Já não tinha tanta vontade assim. Queria mesmo era mais e mais caminhada e pedalada. Água e frutas. Nas minhas refeições, aquelas carnes gordas, as frituras, os tira-gostos pesados já estavam sendo acompanhados de muito verde de folhas e legumes, a ponto de equilibrarem-se em quantidades no prato. Eu tinha que tomar uma atitude. Dois vícios já era demais. Meu corpo pedindo para pedalar e andar. Minha cabeça pedindo álcool e nicotina. A luta começava a ficar interessante. A cabeça venceu a batalha com o corpo e mais adiante perdeu a guerra que travei depois de ser internado com problemas de excesso alcóolico.

Imagine você a minha surpresa ao me deparar a olhos nus com menos 11 quilos (acho que foram litros) em menos de um mês sem tomar bebida. E o agravante: minha vontade de exercitar e comer essas coisas saudáveis aumentava, aumentava, como outra dependência. E fui cedendo, cedendo, dessa vez sob o comando da cabeça vencida e convencida.

Agora, minha gente, encontro-me irremediavelmente viciado. Nos últimos meses tem chovido incessantemente e cheguei a cogitar uma academia coberta. Mas, na academia o vício costuma ser outro. O da exposição e da vaidade apenas. Para a maioria, a preocupação com a saúde está em segundo plano. Se o corpo aparentar sarado basta. Tem gente até que dá uma forcinha com remédios para adiantar o processo de transformação. Quanto mais rápido o corpo mostrar sinais visíveis de apuro estético, maior a satisfação. Tem casos até de problemas colaterais devido aos excessos. E o ar também não é o mesmo. Prefiro o ruído dos carros, a oportunidade de conhecer gente andando, sentir o ar da rua e a sensação de liberdade.

Vou caminhando por aqui e, mesmo se padecer de algum mal súbito, bala perdida, ou coisa mais nova que inventarem para tirar a vida ou a saúde, meu vício será mantido com regularidade. Tá fazendo bem. Eu tô maluco de endorfina, adrenalina e alegria.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

REFORMA ORTOGRÁFICA

Adeus indefectível trema, tchau suspeitos hífens, desabem acentos diferenciais.

Ensinem-nos a escrever e a entender primeiro a língua antes de mudá-la.

Unificar os povos também é essencial.

Falaremos a mesma língua, comeremos o mesmo pão, sem atender aos apelos do negócio editorial.



domingo, 15 de fevereiro de 2009

EUTANÁSIA

Para uns Deus é a medida de todas as coisas. Outros, porém, estão sempre em busca de algo além de verdades prontas, pré-estabelecidas, os dogmas. Há ainda aqueles que vagueiam inseguros, por aqui e por ali à procura de algum significado para a existência humana.

Diante de determinados fatos de repercussão global, quem acaba colocando o assunto na roda dos debates são os meios de comunicação. Aqui vou falar da eutanásia. E vou tentar fazê-lo sem nenhuma opinião pré-concebida, sem nenhum fervor religioso, sem nenhum paradigma que possa direcionar a minha opinião.

Alguém, qualquer pessoa que seja, independente de sua condição sócio-econômica, cultural e religiosa, sexual ou cor da pele, encontra-se pelos desígnios da vivência, absolutamente incapaz de se manifestar, de se locomover, falar, sorrir, chorar, se alimentar e fazer suas necessidades fisiológicas por conta própria. Passa a ser mantida viva como uma planta e com auxílio de aparelhos inventados pelo homem. E depois de muito tempo, feitos todos os esforços, todos os estudos, tentadas todas as terapêuticas, chega-se ao diagnóstico da impossibilidade de reabilitação ou cura. Não possui essa pessoa nem a capacidade de interferir naquilo que lhe é oferecido, ou seja, se aceita ou não essa condição. Até que ponto alguém pode decidir sobre seu destino? E decidir o que? Se a mantém assim ou se abrevia a sua condição, praticando, nesse caso a tão controvertida eutanásia?

As leis no mundo em torno do caso não permitem praticar, em alguns lugares, a eutanásia “não consentida”, ao estabelecer a pena de morte? Inclusive de gente que não está em estado vegetativo? Pessoas que, segundo essas mesmas leis têm direito à vida? Outro aspecto da lei com relação ao direito à vida: esse direito no caso em questão tem que virar obrigação? Se se trata de um direito, a pessoa não pode abrir mão dele? E ela não podendo por falta de condições psicoemocionais, o seu responsável ou pessoa mais próxima pode abnegar do direito por ela?

Quanto à ciência, ela estaria dando uma contribuição à fé religiosa, comprovando pelos seus métodos e recursos técnicos que não há vida ativa naquele corpo? Se as pessoas religiosas crêem em algo além da matéria, não estariam amparadas para permitirem a paz e o descanso dessa alma em sofrimento? Ou não, ela e quem mais a ama e lhe quer bem devem sofrer até que sua sina seja cumprida?

Não apoio, não recrimino, não julgo. Apenas me tirem os tubos, desliguem as tomadas se for meu o caso um dia.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

SEXTA FEIRA 13

Teodoro não acreditava em Deus nem no Diabo, mas era supersticioso e rezava para Nossa Senhora das Dores. Dizia ele que “quem tem um compadre na terra e uma comadre no céu, dorme sossegado.” (Está lá no Mandarim, de Eça de Queirós).

Dei folga ao meu anjo da guarda outro dia. Fiquei pensando depois de uma conversa que tivemos que ele merecia folga de vez em quando. Tendo que cuidar de ser tão afeito a desatenções dia e noite, noite e dia, sem feriado, sem trégua. Férias então, nem pensar. Disse-me ele que não era preciso, eram treinados assim mesmo.

Deus quando resolveu criá-los para ter o seu merecido descanso de rebanho tão insubordinado e pidão daqui de baixo, os fez super-anjos, desprovidos de cansaço e pacientes até o ultimo suspiro de seu protegido. Aí sim, descansariam para sempre. Foram feitos um para cada ser, sem regra três e ficaram com a eternidade para o descanso, junto, inclusive, do seu escolhido. Mas teimei assim mesmo, que já dei muito duro nessa vida, não com a proteção de outros, mas na lida e sei o que é um cansaço. Prometi que, mesmo sendo uma sexta feira, ficaria quieto em meu canto, com as mais corriqueiras tarefas e cuidando para redobrar a atenção a fim de que nada de relevante acontecesse, exceto os casos fortuitos e de força maior. Tentei convencê-lo de que, nesse caso, seria interferência divina do Chefe e nem ele seria capaz de impedir algum infortúnio. Se fosse esse o caso, iríamos acabar nos encontrando mesmo na tal eternidade para descansarmos juntos.

E tudo correu bem sem maiores sobressaltos, apesar de um dedo cortado, a panela que deixei queimar duas vezes por ter parado de vigiar para escrever essas linhas, um tombo da escada sob o pé de limão (os melhores ficam sempre nos galhos mais altos, parece provação). E por fim uma torção no pé, num buraco perto da padaria. Antes de dormir, já pedi: pode voltar e velar meu sono, senão caio da cama com algum pesadelo. Esqueci que a sexta feira era 13.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

EXILADO

Eu fui cedinho à padaria e já estava lotada. Na minha vez da fila eu era “o próximo”, gritou o caixa. Daí a pouco tive que pagar umas contas, ir aos correios e outras coisas. No banco eu era o numero 59 da senha, no correio a luzinha me chamou pelo 83. Quando eu chego em casa, minha mulher não se agüentando de dor de cabeça e vamos nós para o pronto socorro. Lá, era não só eu, mas nós dois, uma senha única: a 14 Normal. Disseram que uma dor de cabeça não era urgente.

- Nem se estiver latejando muito a ponto de não suportar luz e barulho?

- Só se estiver desfalecida ou chegar de Samu ou viatura da polícia...

Bom, nada grave e deu tempo de atender a um chamado da Receita Federal, onde sou o Contribuinte, identificado pelo meu CPF. No banco sou correntista, no consultório, o paciente, na fila, impaciente. No marketing sou consumidor, réu da vida que me põe tanto rótulo.

Tenho saudade de quando o mundo era grande. A gente era igual gente de verdade. Vinha uma informação lá do outro lado do mar e diziam que o nome da pessoa que era fulano de tal. Agora, é a vítima, o transeunte que foi atropelado, o usuário cadastrado, o morador do 101. Só tem nome com direito a figurar para todo lado as celebridades. Até aquelas de quinze minutos.

Lá onde Deus pode me ouvir é que sou gente mesmo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

RECANTO DAS LETRAS

Eu possuo um blog, escrevi centenas de crônicas, dois livros e tomei muita porta na cara na hora e publicar. Não despertou interesse comercial nas editoras. O blog ainda é visitado pelos amigos e por pessoas que fui conhecendo vida afora. Já os livros... Estava me faltando a chave que abre as torneiras das águas que lavam a alma de qualquer escritor diletante ou profissional: ser descoberto pelos leitores.

Até eu conhecer na internet, o RECANTO DAS LETRAS. Essa página é para mim como sentar num sarau ou numa multidão de escritores e leitores e passar os dias fazendo e degustando literatura. E mais, descobri que o Brasil, ao contrário do que eu pensava, escreve muito e lê muito, sim senhores e senhoras. Não somos é vistos nem reconhecidos. Qualquer um pode acessar e escrever ou ler durante as vinte e quatro horas do dia. Tem gente fazendo e acontecendo nesse período. E não só escrevem e lêem, como trocam comentários, impressões e sentimentos, além do mais importante, que é fazer amigos

Para mim nem é mais recanto. É o mais escancarado campo, mesa e espaço aberto para escrita e leitura. O cafezinho ou chá para acompanhar fica por conta de cada um.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

SEGREDOS

Todos os segredos do mundo estão guardados nos computadores. Já houve um tempo em que eram usados cofres. E para manter ainda mais os segredos, eles ficavam embutidos na parede e atrás daquele quadro com um rosto familiar ou uma obra famosa. Para completar, quem tivesse acesso ao cofre tinha que primeiro saber o segredo para abri-lo e só então, ter acesso ao que estava sigilosamente guardado lá dentro. Costumava ser uma grande herança, títulos de terra, promissórias (a receber), jóias de família ou barras de ouro. Ali também eram guardados documentos comprometedores. A prova da paternidade daquele filho, a revelação de algum testamento (sempre tinha mais alguém que os herdeiros não imaginavam e acabava dando confusão após a morte do doador).

Entre os poderosos tinha sempre algum segredo de estado, algo que poderia mudar o destino de muita gente e se algum bisbilhoteiro tivesse acesso, ficava com o poder do bem e do mal.

O velho colchão que outrora cumpriu esse papel foi rapidamente superado. Qualquer um que fosse arrumar a cama direitinho, numa sacudida esbarrava com a dinheirama ou a papelada secreta e tudo estava perdido. O cofre foi seu sucessor nessa função. Deixaram o colchão apenas para o repouso e outros prazeres, além das mijadas, claro!

Hoje o grande guardião se chama PC. Isso mesmo; esse computador ai onde você está lendo. Ah!, teve também o telefone para segredos mais pessoais ou que precisavam ser divididos para dar certo ou para comprometer mais alguém. Mas o grampo tem mostrado que não é confiável combinar trapaças, tramóias e maracutaias por via telefônica. Só mesmo os incautos continuam com a teimosia de tramar através de conversas pelo fixo ou celular.

O computador (pelo menos se não cair nas mãos da polícia) através de alguma denúncia é que tem guardados todos os segredos do mundo. Mas não pense que na hora do aperto é só dar um Del e seu arquivo vai para o espaço sem rasto. A mesma onda magnética que o levou para dentro da memória o mantém por ai, em algum lugar que só os especialistas e a Polícia descobrem. Esse invento de última geração é um sucesso, mas funciona como os sinais de fumaça ou as antigas batidas de tambor. Uma vez digitados, cheirados ou ouvidos, estão registrados para sempre. Cuidado!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

ESPECIALÍSSIMO

Eu batizei de Sobatpé, a Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia de Pé e Tornozelo. Vi um anúncio de um congresso desses especialistas outro dia no sul do Brasil e fiquei mais espantado ainda com o ponto em que chegamos. A especialização na medicina está atingindo tal nível de minúcia que, (suspeito) daqui a pouco vamos ter que marcar uma consulta com especialista em só ouvir ou só ver, que nos encaminhará para o outro que não viu ou não ouviu, daí para o que só faz exames. Esse, localizando o motivo da dor, aí sim, enviará para o especialista em dor (naquele local específico). Que por sua vez não saberá fazer nenhuma relação com qualquer outra parte de nosso corpo, se por acaso, a dor tiver se espalhado. Será um caso para uma junta médica.

A minha implicância é com o descolamento (não da retina) do conhecimento integral a que estamos sendo encaminhados. Um dos motivos da felicidade e da auto-estima elevada do homem sempre foi com o trabalho. Ter o conhecimento de todo o processo daquilo que ele produz, de onde sai a matéria prima para seu produto até ele chegar ao seu final, pode não parecer mas produz uma satisfação interior, um sensação de realização plena (assim como a recompensa também, claro).

Estamos vivendo num absoluto desligamento das partes que compõem o conhecimento que dá até medo (desculpem o exemplo, mas ele pode tirar a gente de circulação) de daqui a pouco algum médico mais afoito, diante de uma falta de noção de causa e conseqüência nos dizer: vamos ter que tirar isso aqui para ver no que dá, se não der, a gente coloca outro depois.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

AO VENCEDOR, AS BATATAS

Esse espaço aqui não é para falar de política nem de economia. São impressões, alegrias, angústias, vivências. Portanto, como diria Vinícius de Moraes: “filhos, filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-los?” Não tem como ficar livre, senão não somos agentes da história.

Nosso modelo econômico sempre foi europeu ou americano, nossos modelos de análise também. O único modelo genuinamente brasileiro é o da submissão. Os ”mercados” nem se deram conta ainda da pujança da economia doméstica que se desenvolveu nos últimos tempos no Brasil e já vêm os analistas desmontar tudo num sopro de cavaleiros do apocalipse. E a cada dia, é um diagnóstico que fatalmente vai levar ao fim ou ao fundo, depende do tamanho do buraco.

Analistas de economia não deveriam ser chamados assim. Prefiro narradores econômicos. É que seus tiros quase que invariavelmente saem pela culatra. Mesmo porque a economia real é regida pela economia virtual. Melhor que aguardem o desenrolar dos fatos e depois nos destrinchem, como fazemos com a história: construímos no cotidiano e deixamos para contar depois. Análise, no caso deles é pragmatismo. Quando falam de volatilidade, eu já fico aguardando o ponto de fulgor. Quando vou ver, era apenas uma bolha especulativa. Furou e se esvaiu. Depois vem a imprensa com sua imparcialidade de torcedor de futebol e joga lenha na fogueira. Assim não há crise que não se instale. Entendeu? Não? Então, até o próximo pregão.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

ORGULHO MADE IN

Teve uma época no Brasil que chique mesmo era ter um produto importado. Qualquer que fosse. Sinal de status e poder econômico. Depois ficou sendo sinônimo de ter coisa de qualidade. Afinal não produzíamos nada que prestasse, a não ser a preciosa matéria prima para fabricar os mesmos produtos que vinham acabados para nós através da importação. Isso foi ganhando uma dimensão cultural que perdura até hoje. Podem me chamar de nacionalista. Mas um país que não valoriza aquilo que tem, só pode mesmo servir a aproveitadores de toda espécie.

Estou falando isso porque vi agora a pouco a noticia da morte do Sr Amaral Gurgel. O brasileiro que ousou fazer um carro totalmente nacional e foi simplesmente destruído pelas multinacionais, com o apoio de nossos políticos (que devem ter ganhado muitos carros importados para dificultarem a vida dele). Eu era criança ainda mas me lembro que um Gurgel fazia quase 20 km com um litro de gasolina enquanto os carrões das montadores estrangeiras lutavam para chegar aos 12. E olhem que naquela época a gasolina não era só cara. Era ouro. Pois é. Fazemos assim com nossa indústria, com nossos músicos, com nossos atletas, com nossos cientistas, com nossos filhos, enfim. Culturalmente viramos pragmáticos até na submissão. Se podemos achar pronto e comprar, para que fazer?

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