terça-feira, 29 de abril de 2008

JOGADOR DE FUTEBOL


(clique na foto para ampliá-la)

TUPANZINHO FUTEBOL CLUBE (Itabira-MG – 1975)



(De pé; Tony, Diquinho, Fiapo, Adelson, Guimba, Cacá, Jeca (técnico)

Agachados: Claudimir, Bedéia, Walter, Adilson, Mate-Couro)

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Encerrei minha carreira muito jovem, no auge da glória, para não ficar na marcação da torcida como pipoqueiro nem perna de pau. Por isso me aposentei da bola aos quatorze anos para ter muito tempo para curtir a fama. Essa foto foi do jogo de despedida. Procurem nos registros do esporte que vai estar lá o Cacá com “C”.

Não há ainda uma profissão cujo primeiro atrativo seja a conseqüência de sua bem elaborada, planejada e executada missão. Essa é movida mesmo pela paixão, antes mesmo dos carrões, do sonho europeu e da mulherada bonita. Há coração no pé, peito, coxa, joelho e cabeça. Para quem ama, o esporte só perde a graça depois que o sujeito passa a se preocupar mais com a efemeridade da gloria de estrela e menos em jogar uma bola redondinha.

Tem toda a razão o Skank, “quem não sonhou em ser um jogador de futebol?” Trocando as bolas da música, quem não gosta de futebol é ruim do pé ou doente da cabeça. Os campinhos pipocam por todo o Brasil, onde se joga de tênis, descalço, com bola ou qualquer coisa que se possa chutar. É grama, terra batida quadra de cimento, soçaite, rua com gol feito de lata ou pedra e até curral, enquanto a boiada vai pastar, serve para se bater uma bolinha. O detalhe mais curioso é a capacidade que tem o futebol como espetáculo único e fenômeno inexplicável de enquadrar discrepâncias mais que qualquer religião ou sistema político ou econômico. Não há capitalismo, socialismo, comunismo, catolicismo, islamismo, zen budismo, que alcance tanta unidade como o futebol. Assisti dia desses a algumas cenas de um jogo entre as seleções de Coréia do Sul e do Norte, que os governos são inimigos ideológicos viscerais, mas os povos, não. E me chamou mais a atenção as tomadas das torcidas no estádio, que o jogo propriamente; umas caneladas de dar dó. As duas galeras aplaudiam efusivamente uma e outra seleção, como se quisessem avisar ao mundo que as duas equipes deveriam ser uma só. O outro detalhe é que o mesmo tanto de unidade empata com a falta de unanimidade. Nesse fenômeno físico os opostos se atraem mesmo. Mas só até as torcidas entrarem no estádio e rolar a bola no gramado.

Com toda reverência aos demais esportes, vôlei, basquete, natação, corrida, ginástica, ciclismo, e outras tantas maravilhas que o gênio humano inventou para o bem estar físico e mental e coletivo e de lazer e mais um monte de coisa boa, inclusive ganhar dinheiro; me perdoem, mas o futebol é de uma plástica coletiva... Vamos com calma. O futebol bem jogado e sem amarelação nem catimba. Não vou a estádios, nem sou fanático por nenhum time, mas gosto de apreciar as habilidades individuais e a solidariedade com a bola. Os fominhas dentro de campo não têm apoio de ninguém. Os gols que fizeram o continuam fazendo história são os construídos com uma costura em ziguezague ou com a tabelinha de deixar caído o queixo do torcedor e o adversário que não consegue parar a jogada com falta ou pênalti. .

Dinheiro dá muito, mas outra riqueza que a moçada da bola vem adquirindo é na linguagem. Já entraram para o anedotário as falas dos jogadores O conjunto do vocabulário não sei como anda, mas aquelas antigas expressões das entrevistas evoluíram. Em vez de ‘fui fondo’, passou a ‘acompanhei a trajetória da bola’. Hoje até já dá para eles agradecerem a Skol por ter dado umas Brahmas de presente, porque a fábrica agora é uma só, mas antes tinha concorrência. Mudou também aquela síntese do antes do jogo “eu e meus companheiros vamos dar tudo de si.” Já se fala em “vou dar o meu melhor, porque estamos focados nesse objetivo.”

“Com certeza.”

domingo, 27 de abril de 2008

O SONO ROM

Os especialistas – sempre os especialistas – depois de seu último congresso internacional vêm nos acordar para nos deixar ligados nas novas descobertas que têm feito acerca do sono. A quantidade, a qualidade, as causas e os efeitos das boas e péssimas noites de nossa pausa para o corpo descansar. Descansar na nossa idéia, pois, segundo eles, a gente está, na verdade é com uma parte relaxando e outra continuando o seu trabalho de revitalização, realimentando as células e renovando o corpo e a mente para o dia seguinte. Entendi popularmente que é como dormir com um olho fechado e outro aberto, próprio das pessoas desconfiadas ou de rabo preso com algum mal feito. Xi! O mundo só deve dormir pela metade e olhe lá! Descobri que existem basicamente na ciência sonológica, os sonos REM e não-REM. O primeiro, profundo, relaxante, com a guarda totalmente aberta e o outro, o tal de não-REM, é o vigilante.

Entre eles, incluo o ROM, que é o ruído meu e de muita gente boa que costuma não deixar ninguém ter o seu REM e às vezes acordar-se com o próprio barulho do ROM, de tão alto. Tenho guardada até hoje comigo (nem sei para quê), uma fita cassete com a gravação de um ronco de um colega de quarto nos meus tempos de estagiário. Ele não acreditava que fosse possível emitir um urro tão leonino e eu não acreditava que iria ter que passar os próximos seis meses sem conseguir dormir. A casa só tinha um quarto e o chão da cozinha era gelado demais para colocar o meu colchão. O banheiro só me cabia em pé. Posição que não é lá muito agradável de se dormir. A gravação foi uma prova contra a sua descrença e uma vingança ao mesmo tempo, já que o esperava adormecer e ligava o toca-fitas. Ele acordava para me xingar que o barulho o estava incomodando. Não ficamos inimigos por isso. Passei a beber algo forte antes de deitar e aí um ronco passou a combater o outro. Assim dormíamos. Se bem ou mal, não sei até hoje, mas continuo roncando. Tive uma tia a quem admirava muito e, quando criança mais ainda, na hora em que ela dormia. A diversão em casa era ir ao quarto quando ela pegava no sono para curtirmos a sinfonia. Ela dava um assobio antes do gutural groaarrrrrr (vou ver se descubro uma onomatopéia melhor), essas dos quadrinhos (ronc, ronc, ronc,), não estão com nada em termos de representação de ruído de sono.

Consegui com os especialistas (ah! os especialistas, sempre eles) um alento para minha autopunição por gostar de dormir durante o dia. Sempre achei uma justificativa de que o hábito veio de anos trabalhando em regime de revezamento de turnos, não querendo nunca admitir que fosse preguiça mesmo e eles, de novo, dizem que há certa hereditariedade nos sucessos e transtornos do sono. Há dorminhocos e insones por culpa exclusiva de seus ancestrais. Quer ver meu pai dormindo? Coloque-o sentado em frente a uma televisão. Antes achava que dormia por enfado da programação. Mas não, dorme até em jogo do Flamengo, seu único time do coração. Se estiver em uma mesa ou numa roda qualquer e a conversa parar, não resiste a cinco minutos do silêncio. Não chega a roncar sentado, mas dorme com a boca aberta até os cantos das orelhas. Eu também já dormi até em cadeira de dentista, em túnel de tomografia e em mesa de bar. Nesse último caso houve ajuda externa ao metabolismo basal.

E, por último – palavra dos especialistas – a morte é igualmente inevitável para quem dorme mais ou menos. Não vive mais quem dorme muito e vice-versa. O que importa é a qualidade que o sono tem. Só ofereço o meu lamento a quem vive com um(a) companheiro(a) com sono ROM. Esses não dormem nem bem nem mal.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A FÉ REMOVE GORDURAS

Rio: pastor garante que oração faz fiel perder 5 kg

A promessa de emagrecimento rápido, sem exercícios, dietas ou cirurgias, está atraindo fiéis à Igreja Evangélica Ministério Brilho do Sol, no bairro Santa Lúcia, em Duque de Caxias, no Rio. Em panfletos distribuídos nas ruas e nos cultos, o pastor Ubiraci Xavier promete a perda dos quilos indesejados através da fé... O pastor joga a responsabilidade do sucesso para o fiel. "Se esse for realmente o propósito de vida, ele será agraciado com o milagre de perder até cinco quilos em uma oração", diz...

“Muita Fé”

Ubiraci garante que o panfleto que promete emagrecimento imediato de até cinco quilos, através de 'lipoaspiração divina', não é estratégia para atrair novos fiéis e arrecadar dinheiro. "Nem pensei nisso. Até porque só emagrece quem tem muita fé", disse, garantindo que, durante uma campanha de fé no Espírito Santo, uma fiel emagreceu cerca de 10 kg...

(Fonte:www.noticias.terra.com.br/brasil/interna) Quarta, 26 de março de 2008, 02h44

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Jesus ao fazer o milagre da multiplicação dos peixes se esqueceu de deixar a receita para aqueles que se empanturrassem de comida e virassem obesos. Bastava dizer que muita fé e uma determinada oração levariam de volta todo o excesso ingerido pelos gulosos ou famintos que devoram todos os pães, peixes, carnes, doces e outras delícias pecaminosas que foram inventadas depois dele. Mas, na sua infinita sabedoria e na sua infalibilidade divina, mandou pelo menos um enviado para salvar as almas mais pesadas. Irmanados na fé em uma corrente de preces de aspiração de lipídios, podemos fazer cessar a chaga gordurosa que se acumula nos nossos tecidos em forma de pneus, culotes e proeminências abdominais. Isso é com fé, porque com muita fé, podemos também atingir o milagre da multiplicação do emagrecimento. Adeus dietas mirabolantes, adeus bisturis redutores, até mais ver, aparelhos de queimar gorduras a laser, vade retro piscinas, pistas, campos, quadras, xô academias, esteiras e bicicletas. A devoção a Santo Antônio também vai acabar perdendo fiéis, já que seu milagre só se concretiza com a reza de 500 padre-nossos acompanhada do mesmo número de abdominais diariamente. Dizem que não é tão milagrosa a ponto de emagrecer em uma só sessão, mas que depois de dois ou três meses, a pessoa fica fininha. É muita penitência.

Ainda bem que o pastor já avisou de antemão que seu objetivo não é o de arrecadar dinheiro com o milagre, uma vez que os fiéis, agora sem culpa vão gastar mais com comidas gostosas. Mas também terá o seu lado bom, o do aumento de número de ovelhas rezando diariamente para poderem comer mais no outro dia. Um jeito bom de arrecadar algum sem ser acusado de charlatanismo, blasfêmia ou outra heresia, é instalar uma lanchonete na igreja. Tento esquecer as bobagens que já vi ou ouvi na vida mas essas coisas insistem em reativar esse lado do meu cérebro. Lembrei daquela história do padre que encontra numa estrada deserta um sujeito com um carro sem gasolina que lhe pede alguma ajuda e ele pergunta ao rapaz se tinha fé. Ao responder positivamente, manda-o urinar no tanque de combustvível. Dando certo, o cara arranca o carro agradecido para surpresa do padre que exclama, incrédulo: “vai ter fé assim lá na p#”&q*+**&p!.”

domingo, 20 de abril de 2008

JARGÃO

Segundo a definição que adaptei dos dicionários, o jargão é uma forma própria de um determinado grupo se expressar, numa linguagem corrompida, uma espécie de gíria específica. Para mim, não passa de um corporativismo lingüístico. Um diálogo defensivo. As profissões trazem junto com seus afazeres, o próprio código de comunicação. E depois, para desespero geral, o trazem para nos causar afasia. Não tenho nenhuma implicância com nenhum desses grupos, a não ser quando me sinto enganado pela própria ignorância no assunto ou por achar que o uso do jargão é para esconder alguma ameaça que não pode ser feita de outra forma. Esse negócio só pode ter sido criado por algum serviço secreto. Tente decifrar a bula de um remédio qualquer ou ler uma argumentação inicial de um processo judicial e vai entender o que digo. Se conseguir. Alguns depoimentos sinceros:

Policial:

- Estávamos em patrulha de rotina quando identificamos um elemento suspeito que evadiu-se do local ao se deparar com a viatura, mas o mesmo não logrou êxito, pois conseguimos abordá-lo e após averiguações, descobrimos que o meliante estava de posse de uma bolsa que havia subtraído de uma transeunte. O elemento agora vai ser encaminhado à delegacia...

Mecânico:

- Olha, senhor, seu motor está batendo biela. Podemos fazer o serviço completo ou dar uma guaribada.

- Guaribada?

- É, uma meia sola.

_ ???

- Trocamos só os casquilhos. Damos uma usinada no eixo, uns ajustes no cabeçote...

- Mas isso é gambiarra!

- É doutor, só tem que esperar o motor amaciar e não rodar na banguela. Aí, agüenta um tranco bom ainda e tem garantia. Três meses na mão de obra.

Advogado:

- Doutor, acabei concordando com as explicações que me deram sobre o prejuízo...

- Data vênia, seu caso é merecedor de uma querela para reparar danos.

- Não entendi.

- Peticionarei ao douto juízo e questionaremos no mesmo diapasão ignominioso que lhe ofenderam a mais alta sapiência.

- Hein?

- A corte vai fazer valer o fumus boni júris.

- Tá bom, doutor, onde é que eu assino?

Atendentes em geral: (por falta de recursos de linguagem)

- Alô!

- Pois não, em que posso estar ajudando?

- É sobre a minha conta telefônica.

- Posso estar sabendo do que está se tratando?

- É sobre umas cobranças indevidas...

- Só um momento, senhor, e já estarei indo atendê-lo (meia hora de espera) e desisto. Agora não estou podendo.

Cuidado. Esses jargões parecem estar contendo vírus. Já contaminaram muita gente.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

NARIZ

Nariz ‘aprende a identificar o cheiro de perigo’, diz estudo

O medo pode aguçar o sentido do olfato em uma pessoa a ponto de que ela passe a associar rapidamente um odor que sentiu no passado a uma situação de perigo e a distingui-lo de outros semelhantes... Os pesquisadores submeteram 12 jovens saudáveis a testes envolvendo dois odores muito similares enquanto registravam imagens de ressonância magnética de seus cérebros. Primeiro, os participantes tiveram que cheirar o conteúdo de duas garrafas. O odor era quase idêntico, com uma variação química sutil. Eles não conseguiram discriminar os aromas. Depois tiveram que cheirar o conteúdo de uma das garrafas novamente enquanto eram submetidos a uma situação de desconforto - a aplicação de um choque elétrico de baixa intensidade em sua perna. Logo eles aprenderam a distinguir este cheiro específico do outro, que era bastante similar...

Sexta-feira 28 de março de 2008 09h59min (Fonte www.uai.com.br/UAI/html/sessao_8)

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Bem que eu já desconfiava que quando alguém diz: isso não me cheira bem, não se tratava do aspecto físico da matéria. Algumas vezes é direto, na lata, ali nas narinas. Quando se passa por lixo, rede de esgoto a céu aberto ou de alguém sem banho de muitos dias, por exemplo. No caso da descoberta acima, é um cheiro de entrelinhas. O perigo reside na ameaça do odor que fatos ou atitudes podem representar para o cotidiano ou ainda resultar em calamidade pública ou injustiça particular. Muitos advogados quando lhe perguntamos da possibilidade de se ganhar aquela causa na justiça, costumam responder que “de bumbum de bebê e cabeça de juiz pode se esperar de tudo.” Isso realmente cheira a perigo. Quem diria que o nariz fosse ganhar vida própria e se tornaria independente do cérebro! Passa agora a ter comando autônomo e é responsável desde então, a fabricar adrenalina e outros hormônios que avisam ao corpo da iminência de risco - com tanta competência a ponto de não deixar escorrer para não serem confundidas com outra secreção e permitir que a pessoa fique vulnerável. Vai que o sujeito pára a fungada para limpar o nariz e aí, ó, olha a ameaça se concretizando! Aos cachorros, é melhor ir botando as barbas de molho. As barbas não, os narizes.

Para quem acreditava até agora que o nariz servia para enfeitar ou enfeiar uma cara, distinguir odores de fedores e suportar óculos, veio esse magnífico e insofismável achado da ciência moderna, que tanto contribui para o progresso civilizatório ultra contemporâneo da humanidade. O olfato assim deixa de ser um mero sentido e ganha status de órgão. E órgão vital por nos precaver das ameaças reais e potenciais com que formos nos deparando. Agora podemos meter o nariz até onde não fomos chamados com autoridade quase policial. Daqui a pouco começam aparecer os especialistas. Nariz desarmador de bombas, nariz anti-acidentes (subdividido em várias categorias) domésticos, de automóveis, aviões, etc. Nariz que previne contra o nariz da mulher que sente a léguas de distância um perfume diferente no pescoço ou na camisa do amado e, finalmente o nariz especializado em política, que já fareja o perigo ali, no discurso, antes de concretizar a eleição do candidato. Se o cara for dono do próprio nariz e tiver senso de oportunidade, vai fazer fortuna entre os eleitores com narizes menos qualificados.

domingo, 13 de abril de 2008

INVENTAR BRINCADEIRA

Quando não podíamos sair para brincar na rua por algum castigo ou impedidos por chuva, últimos quatro da lavra dos nove filhos santos e adão, costumávamos ficar eu, o Walter a Néa e a Nina, no alpendre de casa fazendo disputa de adivinhar o carro que iria passar na rua. Papel e lápis nas mãos, cada um escolhia um modelo e ficava na sua ansiosa torcida para o pequeno trânsito lhe favorecer com a opção. Tinha fusca, kombi, corcel, variant, jeep, opala, rural willis... Não valiam mais gordini, aero-willis, vemaguete e simca que já estavam saindo de linha e havia poucos em circulação também. Caminhão podia qualquer um, uma vez que eram minoria na frota e custavam a passar. Havia Fenemês, Mercedes, uns poucos Chevrolet e raros Ford. O fusquinha era um caso à parte. Para tê-los nas apostas, era obrigatório escolher uma cor para dar mais oportunidade a outro jogador fazê-lo também. Eles eram em número muito superior a qualquer outro carro. Assim, se fizesse essa opção tinha de estabelecer: eu quero azul, o outro, verde, outro, vermelho, e assim por diante para ninguém ficar em desvantagem na brincadeira. Ganhava aquele que anotasse o maior número de carros passados em um determinado tempo. Esse tempo era ditado pelo momento que a mãe chamasse para almoço, jantar ou banho. Ou ainda quando um espertinho em vantagem inventasse uma dor de barriga ou trapaça semelhante e saísse jogo declarando vitória. Distração não era perdoada. Era antes, um recurso que usávamos para fazer o concorrente levar barrigada. Pançada era mais precisamente como dizíamos.

Duas coisas que estimulam muito a sociabilidade e a criatividade infantis são a fartura de irmãos ou amigos e a carência material. Inventávamos brincadeiras bacanas sem precisar do pai gastar um tostão. Quer dizer, gastávamos lápis e papel para as anotações. Reais e fraudadas. Há poucos dias, passava num bairro aqui perto, naqueles em que as crianças ainda podem brincar nas ruas aos domingos, e a sobrinha que me acompanhava, viu um menino desembestado rua abaixo num carrinho de rolimã, adaptado com um pedaço de cadeira de plástico como assento e ela achou radical, irado. Foi ai que eu falei a ela sobre a criatividade...

Ultimamente tem sido difícil brincar dessas coisas. Difícil até conhecer tantos carros. Os que existem no presente, amanhã já são outros. Cores de mil tons, marcas das mais variadas. Viraram brinquedos só de adultos. Eles ao volante, poderosos, rápidos nas ruas e em quantidade que os olhos nem conseguem acompanhar para a cabeça fazer a contagem. E as crianças em frente à tv e ao computador, brincando de procurar amigos que nunca vêm e nunca vêem, brincando de lutar e guerrear, derrotando os inimigos que lhes botaram na tela. Os da vida elas vão treinando para daqui a algum tempo...

domingo, 6 de abril de 2008

DEMO

“Abre as asas sobre mim, oh senhora liberdade

Pois fui condenado sem merecimento...”

Senhora Liberdade (Wilson Moreira e Nei Lopes)

Hoje estou para provocação. Ou melhor ainda, para o troco. O que vou dizer deve ter sido inventado por americanos. Não é o sofrido torcedor do América Mineiro, não. São os americanos da américa do norte mesmo, esses que se acham os donos do mundo. Que gostam de exorbitâncias, grandezas e as esparramam mundo afora para nos aporrinhar a paciência, mais do que já fazem com nosso dinheiro, nossa cultura e outras atrocidades globalizadas. Vamos nesse ritmo.

. Os barulhos nas ruas dos bairros que têm mais casas que prédios de apartamentos são mais bem definidos. Do alto de um apartamento, ruídos externos são menos decifráveis ou são mais desconsiderados. Eles são múltiplos, continuados e sem apelo que mereça atenção, salvo tiro ou batida de carro. Em casa, até mesmo por estarem nossos ouvidos mais próximos da rua e com auditiva prevenção de segurança, ficamos mais sensíveis ao que se passa lá fora. O caso aqui tem sido a última moda desses imensuráveis e insuportáveis sons dos carros que circulam dia e noite, tarde e madrugada. Não satisfaz o sujeito ter um potente aparelho de som em casa ou assistir a esses shows tri-elétricos de milhões de maga watts de decibéis. Eles agora acompanham o seu dono nos porta malas dos carros. Acreditam os DJ’s automotivos que estão agradando com sua boate-pagode-vazia-ambulante. Digo isso porque passam bem devagar para democratizar a música(?) caótica e sem graça. Dá a impressão que querem ser aplaudidos ou verem alguém chegar ao portão ou à janela para lhes fazer um aceno de carinho ou aprovação. Até no céu se escuta. Já vi até urubu subindo em direção à camada de ozônio para abafar o ruído. Sorte deles é que o som se propaga no ar e não dá pra Deus ouvir. Eu os tenho chamado de som de irritar cachorro. A cachorrada late num efeito dominó. Deu pra saber, inclusive que a população canina é enorme aqui no bairro. A raiva deles é tanta, que mesmo depois de passado o barulho eles continuam a latição como se quisessem mandar um recado ao portador da zoeira: estamos latindo até agora para ver se você não volta mais aqui, seu chato!

Nas minhas caminhas adotei o habito de escutar um radinho com fones de ouvido (PARA NÃO INCOMODAR OS OUTROS). Poucos dias atrás ouvi uma música que me inspirou a fazer uma faixa e colocar aqui na porta para dar um recado a essa turma. Já procurei por tudo enquanto é internet e não achei toda a letra, mas o refrão eu guardei bem e é uma luva-carapuça para vestir nesses caras. Diz assim:

“Feche esse carro, bundão,

que meu ouvido não é penico não.

O que lhe sobra de potência, falta de educação.”

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