domingo, 28 de junho de 2009

POEMA DOS TRÊS PODERES

Advertências:

(Musicado: Cantar no ritmo de “Lá No Pé da Serra”)

Feito em parte em Juiz de Fora e na praça dos três poderes

Rimas pobres como uma casa mal construída, risco de cair.

Esse ato foi público, tenho todos os rascunhos.

Eu estou me lixando para a sua opinião

Decreto legislativo:

Mude-se o povo, revogam-se as manifestações em contrário.



Fiz uma casinha branca

Lá no pé da serra pra meu bem morar

Mas ficou um palacete

Olha que cacete

Me acusam de roubar

Foi num ato bem secreto

Eu não tava por perto

foi o diretor mais os caras do senado

Mas deu tudo errado

Desviaram umas verbas dividi com todos

Os meus correligionários

Bando de salafrários

Não me defenderam

Quando a imprensa doida

Pos esse bocão no trombone

Avisou os home

Da população

Todo mundo revoltado

Dizendo pra todo lado

Que só dá ladrão

Dentro dos três poderes

Se então souberem que ela é minha amante

Eu nego e peço desculpas à minha mulher

Ela sim é que me entende

Não vai nessa conversa da oposição

Que esse povo faz comigo

Sem ter prova não.

Hei de ir no supremo

Lá tem o Gilmar

Que pra banqueiro e rico ele dá liminar

E é tudo uma merda

Minha cara sei como eu vou livrar

Aí então é só dizer no relatório

Dane-se o povo e a opinião.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

CARPE DIEM *

CARPE DIEM – * APROVEITE O DIA

“Românticos são poucos

Românticos são loucos, desvairados...”

Vander Lee

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“Ou eu encanto a vida ou desencano a morte.”

Paulo Diniz

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“O mundo não se fez para pensarmos nele

(pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...”

Alberto Caieiro

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“ Eu não tenho nada a ver com isso

Nem sequer nasci pra ser cowboy

Não me chamo João

E não tenho, não

Qualquer vocação pra ser herói”

Vinicius de Morais

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Álvares de Azevedo morreu com 20 anos, Cassimiro de Abreu morreu com 21 anos, Junqueira Freire morreu com 23 anos, Castro Alves morreu com 24 anos, Fagundes Varela morreu com 36 anos. O ancião dessa geração foi Gonçalves Dias, que morreu com 41 anos. Essa turma é a responsável pela introdução e consolidação do romantismo no Brasil. Curioso, não? Intrigante também, não? Ler a Lira dos Vinte Anos, Suspiros Poéticos e Saudades, Canção do Exílio, o Navio Negreiro e outras tantas obras que até hoje nos encantam, não comunga com a rápida passagem desses talentos pela vida. E eram românticos. Românticos, a ponto de não suportar o peso da vida mundana.


Encontraram nas letras, nas aventuras literárias, na bebida e na boemia, refúgio para seu inconformismo com o individualismo, consumismo e egoísmo que estavam se firmando no mundo quase todo. O século XIX foi o mais revolucionário de todos os tempos, do ponto de vista de criação de técnicas, de rupturas com sistemas políticos, com regimes econômicos. Invenções a todos os instantes, descobertas na medicina, na agricultura, na indústria, no comércio, na movimentação de populações de forma avassaladora rumo às cidades. Hoje só atualizamos tudo a todo instante. Mas a criação, o boom das ciências, foi naquele período.


O lema entre eles era o “Carpe Diem” (colha o dia ou aproveite o dia). Viver cada momento o mais intensamente possível como se não houvesse amanhã.

Ah, as silenciosas crises existenciais por que passa a humanidade! Não me refiro a umas pessoas. Falo de uma época que deixou vestígios imperceptíveis para a maioria da população, mesmo silenciosos e cegos, deixaram a sua marca.


Os românticos todos, de todas as épocas retrataram essa angústia de forma individualizada. Era um pessimismo, um apego às coisas da morte como tentativa de salvar a vida, de resgatar a humanidade de um buraco sem fim em que ela se metia, na visão da maioria deles.


O “Carpe Diem” foi expressão cunhada na antiguidade por Horácio e foi retomado no período árcade-romântico da literatura, como símbolo da certeza da inexorabilidade da vida.

E o que tem isso a ver com os jovens que estão se rendendo à morte tão cedo em nosso tempo? Há paralelo? Há ecos, busca de reconhecimento? Não é uma fase de formação de idéias, consolidação de caráter, de fervor e inquietação permanente?


Ajuda aí, caro leitor!

domingo, 21 de junho de 2009

INVERNO - A CIÊNCIA E DEUS

Hoje, às 02:45h, começou oficialmente o inverno no hemisfério sul da terra Ela gira em torno de si mesma em 24 horas e gasta 365 dias para girar em torno do sol. Que descobertas, que clima! A precisão com que a ciência esclarece os fenômenos naturais é impressionante e só não acredita quem não quiser ver. Mesmo assim, pode ser impiedosamente enrugado e, em alguns lugares, até mesmo congelado pelo frio que vai sentir ou já deve estar sentindo a essa altura do dia. A ciência também descobriu que isso acontece pela proximidade maior desse lado do planeta em relação ao sol. E nos seus giros alucinantes, vai trazendo depois numa seqüência até agora imutável, primavera, verão e outono, antes de tudo começar de novo, até a terra se perder de sua órbita ou então o homem desregular ainda mais seus mecanismos que permitem nossa vida aqui nesse mundão de água e terra. E só é assim por causa da órbita elíptica (que nome!) do globo. Nesse dia hoje, o eixo do planeta forma um ângulo de 23,5 graus com o sol e muda de temperatura até daqui a três meses. Se ela fosse redondinha como se acreditou muito tempo, não iríamos ter as estações. Em cada região ia ser tudo uma coisa só. Melhor dizendo, metade ia ser gelo, metade ia ser torrada. Tudo isso a ciência nos faz chegar ao conhecimento, sem embargo.


Tem umas explicações bastante complicadas como equinócio, solstício, mas para nós pobres e leigos mortais, vale mesmo é o bom friozinho, o calor e as chuvas acontecendo entra ano sai ano. Mesmo por que, equinócio parece nome de bicho. Desses bichos assemelhados a burro:

-Olha aqui, se você não entendeu o fenômeno do inverno é porque é um equinócio selvagem.


Solstício me soa como elemento de previsão astrológica:

“O sol transita pelo solstício de aquário, trazendo bons fluidos para o seu dia hoje. E frio também. No amor, tudo vai transcorrer redondinho, sem elipse”.


Mas fico com uma pulga atrás da orelha. Tudo bem com o big bang, a terra já estava ai há bilhões de anos e outros argumentos irrefutáveis. Mas, cá pra nós, será que não tinha algo ou alguém observando ela rodar alucinadamente, sem rumo nem direção e sem gente e resolveu dar uma MÃOZINHA? Um acabamento, como fazem os artistas com os vasos de cerâmica para dar essa forma achatada e nos dar essa vida?

Agasalhem-se.

(Republicação)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

FAVELA

No Arraial de Canudos tinha um lugar de morro alto, coberto por uma planta chamada a favela. Aquele lugar daquela da guerra santa(?) dos humilhados e ofendidos, precursores do MST, com um viés religioso. A luta deles era pela sacralização da terra, muito mais do que pela sua apropriação privada, como a conhecemos de acumulação de latifúndios. Tinha mais a ver com a confusão da recém criada república e a forma bestializada em que o povo ficou depois da proclamação sem aviso prévio. A corte sabia mais que iria perder o trono do que o povo sabia que iria tomar as rédeas do poder e assumir a responsabilidade. Que não assumiu nunca.


Mas o tema aqui não é esse. Volto à favela, cuja responsabilidade tem que ser repartida entre a monarquia e a república.


Os soldados da república que foram combater os amotinados de Antônio Conselheiro, lá na Bahia do século XIX ficavam alojados no morro, em condições de acomodação e higiene precárias. Quando voltaram para o Rio de Janeiro, voltaram também para suas casas nos morros onde residiam, com seus baixos (e sempre atrasados) soldos e nas mesmas condições de acomodação e higiene precárias. Só que ali não estavam de passagem nem em missão de combate.


Associaram o nome ao lugar e o lugar ao nome. Estava fundada a favela que foi se desenfeitando de plantas e se enfeiando de muitos barracos daí para frente num crescimento que não parou mais.


Hoje a serventia é variada. Tem muito combate, inclusive. Mas não caiamos no lugar comum das generalizações. A grande e esmagadora maioria de seus habitantes é composta de gente de bem, trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, artistas (muitos), esportistas, gente que tem em todos os pontos cardeais de uma cidade. Ocorre que por uma geografia do descaso, ou do “empurra para lá” do poder público, virou sinônimo de “barra pesada”. Aqui no asfalto, as mesmas faltas, desvios e deslizes são tratados de forma diferenciada, escamoteada até, dependendo de quem são os agentes ou personagens. O morro já carrega o estigma da violência por qualquer coisa; então qualquer coisa pode ser justificada e contemporizada pela platéia cá de baixo. Fizemos coro com a corte e com o brasão das armas empurrando também para lá as mazelas, erguendo muros. Os muros eram apenas alicerçados nos preconceitos. Agora já começam a ganhar alvenaria de verdade. Dizem que é para proteger o verde. Desconfio que esteja mais para encobrir o vermelho. De sangue e vergonha.

sábado, 13 de junho de 2009

O BALANÇO DA TERRA

Não foi nenhum armagedom. Foi apenas um alarme sono avisando do dia que ira parar a terra para uma avaliação. Uma contabilidade, mas com balanço, uma sacudida mesmo, daquelas que tem a função de consertar as coisas. Ou concertar as coisas, a fim de restabelecer a harmonia. Não dava para continuar daquele jeito. Depois de tantos ditos e desmentidos, restou apenas essa opção. Pararia para continuar seu baile descrito por Galileu, avessa aos humanos que não deram importância aos avisos de sua sanha destruidora, de gananciosa fúria por dinheiro e poder.


Era ela, agora a tão cantada e festejada terrinha que não aguentava mais. Haja sufoco, fumaça e lixo. Podia logo promover um cataclismo, derramar os mares sobre os continentes, deixando acabar de derreter o restinho do gelo que sobrou para os poucos pingüins terem agasalho. Ou então erodir os vulcões adormecidos ou ainda deixar cair uma chuva tão ácida quanto soda e pronto; estava liquidado com o ser humano e toda a sua tola displicência com a própria casa. E ela, indiferente, em estado de natureza novamente, obviamente depois de retirar toda a sujeira deixada espalhada em todos os seus cantos, ângulos e orifícios.


A democracia finalmente estava chegando por meios naturais. Não deu certo o modelo humano baseado na predação pura. Iam se igualar todos, agora na desgraça.


Gritaria geral. Os primeiros a aderir foram os pães-duros. Agora, finalmente tinham uma desculpa insofismável, uma saída inquestionável para seu modo de vida regrado. O motivo, segundo eles, não era a sovinice. Era a preservação natural. A autopreservação, enfim. Desde quando eram acusados de viver na pobreza para fugir dela, economizando cada centavo de seu dinheirinho que sofriam a acusação da avareza.


Os ambientalistas de primeira e última hora bem que tentaram fazer pose de advogados do diabo: - Nós avisamos o tempo todo que podia ser trágico o fim, ninguém deu ouvidos. Eles tinham uma certa razão e uma certa culpa também. Quanto papel foi gasto com folhetos de campanhas... Quantas árvores derrubadas... Aquelas publicações bonitas, papel couchê, papel vergê, papel. Só depois de muita briga entre eles mesmos é que passaram a utilizar os dois lados de cada folha. Acabaram se redimindo um pouco depois que apareceu a internet, com tanta gente acessando. Mesmo assim ainda ficavam de fora mais de dois terços da população do planeta, que sequer tem acesso à água potável e rede de esgoto, que dirá computadores.


O povão, a massa antiga de todas as manobras, continuava onde sempre esteve esperando para ver como ia ficar (e se ia ficar). Não tinha feito quase nada, agora estava ainda mais acuado e arrependido de não ter varrido (com vassoura de pet) essa cambada de devastadores. Apenas pensava agora o tanto de lixo consumido em busca de uma felicidade feita de silício, plástico, aço, alumínio, papel e plástico, as antigas maravilhas do mundo do consumo desenfreado. Até os cartões que tanta dívida fizeram iriam para o espaço. Se bem que ninguém precisaria pagar mais nada. Mas de que adiantaria?


Os industriais é que não arredavam pé até a última hora. Tentavam a todo custo encomendar filtros, estações elevatórias, substituírem o CFC, arranjar uma alternativa ao petróleo, parar com a produção de agrotóxicos... Aquela velha conversa do desenvolvimento sustentável. Ficou sendo uma bela e convincente propaganda, só que se transformara em apropriação das reservas e do espaço natural por alguns poucos endinheirados do mundo. Quer dizer: ‘podemos destruir e consertar o que der, sob o consenso geral’. Mas era tarde. O aviso era tão certeiro e inevitável como o nascer e o por do sol.


Eu bem que gostaria de terminar. Esse talvez seja o último texto para meus antigos leitores, mas a luz começou a dar umas piscadas. Acho que vai acabar... É agora! Pronto, publiquei. Se ninguém conseguir ler, fica para aos futuros arqueólogos salvos por uma arca futurista ou alguém que estava numa nave espacial nessa hora. Quem sabe eles achem isso soterrado ou caiam apelos do céu no futuro em lugar dos meteoros naturais?

sexta-feira, 12 de junho de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - O CADERNO

PARA CLARA, COM AMOR.

UMA ÓTIMA SEMANA.

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

CORTINA DE FUMAÇA

Sabe a felicidade transmitida pelo olhar? Sabe aquela pessoa que dá gosto de ver, antes mesmo dela se manifestar com palavras? Sabe a alegria irradiada em um ambiente qualquer que haja pessoas em volta de quem quer dividi-la? Pois é, ela existiu para mim um dia. O nome nem sei, nem importava. E seu apelido era Neném do Muro. Ele montava muros pré fabricados de concreto. Chegava no quintal ou jardim, cavava, fincava as vigas e encaixava as placas umas sobre as outras. Depois fazia uma massinha, rebocava os vãos e pronto. Pintura e decorações ficavam a gosto do dono da obra. No mais, gastava o tempo que sobrava com uma conversa calma e bastante sorrisos que contagiavam.


Neném tinha um caminhão enorme. Não precisava tanto. Uma camionete pequena seria suficiente para caber todos os instrumentos de trabalho e matéria prima. Acho que o caminhão enorme era para caber também o mesmo tanto de felicidade que cabia nele. Parecia que seu coração ficava disparando raios de felicidade que iam dar direto nos olhos. Era muito só, não consta que tivesse família. Afeiçoou-se à minha de tal forma que a imagem que guardo é de um irmão mais velho que aparecia sempre. E ainda por cima levava muita gente para passear em seu caminhão. Piqueniques nas beiras de rios, nas cachoeiras, nas fazendas da região. Enchia o caminhão de gente, que ficava alegre feito ele.


Neném namorava Gracinha, fazia treze anos. Um amor sem medida, mas eu acho que era a razão maior da alegria dele coma vida. Gracinha era o próprio nome incorporado numa silhueta miúda, um rosto angelical, uma voz de quase sussuro. Se há imagem para representar o casal perfeito, feitos um para o outro, era aquele.


Gracinha fumava, fumava muito. Uns três maços por dia. Neném travava uma fraterna luta com ela contra o vício. Te uma época que até tentou fumar, já quase desistindo da empreitada, mas era alérigo e não gostava do cheiro. Na roupa, no cabelo, na boca. Pedia conselhos à minha mãe, àquela altura já sua confidente do amor que estava se tornando nublado pela cortina de fumaça. Ela sentia-se meio impotente. O meu pai também fumava. Não tanto, mas o suficiente para cochilar e acordar toda a casa com cheiro de queimado. Foram uns três ou quatro colchões. “fala para ela se lavar antes do namoro, trocar de roupa, escovar bem os dentes, isso ajuda.


Nenem foi levando, seguindo as dicas, conversando. Gracinha prometia diminuir o ritmo das baforadas. Nada. O amor não estava suportando. No décimo quarto ano, aquele amor tremeu, amarelou o sorriso do Neném. A ponto de ele adoecer. Agora, eu já não sabia se de alergia, de dor que não tem nome ou das duas coisas. Sei é que um dia disse que precisava tomar uma atitude dura e tomou. E deu-lhe um ultimato. Ou era ele ou o cigarro dela. Nunca iria pensar que ela amasse mais o cigarro. E ela escolheu o vício com a solidão junto.


Neném desapareceu de circulação. Gracinha também. Tenho vontade de saber até hoje o final dessa história. Nunca tive mais notícias dos dois. Se Gracinha arranjou um edema, se Neném morreu de amor ou se arranjou outro alguém. Quem sabe se não mudou ela de idéia e se casaram? Iam ser felizes, sim. Tinham à exceção do mau odor da fumaça, tudo para ser felizes. Ou quem sabe Neném não arranjou outra moça para repartir um pouco de que sobrou da sua alegria! Agora já não devia possuir tanta. Quem sabe?

terça-feira, 9 de junho de 2009

NO BOTECO, COM MUITO ORGULHO, SIM!

A história começa assim:


Era uma vez um Balaio. Que se transformou em berço de ouro. Não tinha riqueza material nenhuma, pois isso não fazia a menor diferença para as suas crias, os seres que ele pariu. Era o Balaio do Kotscho, um blog de um notável jornalista chamado Ricardo. As pessoas começaram a acompanhar os assuntos ali publicados e a dar suas opiniões numa interação e debate de bom gosto.


Tanto bom gosto que teve uma bela moça que foi garimpando ali no meio dos comentaristas gente que ela foi gostando e saiu convidando a todos para baterem um papo mais descontraído num boteco virtual. Com cachaça virtual e tudo. Ai, todos, gente virtual, assim mesmo de carne e osso como você que está lendo agora, foi chegando, se sentando e a conversa começou. E junto com ela, veio a amizade. Tão forte e sincera que quase abolimos aquele ditado antigo que dizia que as boas amizades não são feitas no boteco. Deixamos o ditado para quem quiser considerar a vida assim, porque para nós, foi o melhor acontecimento já acontecido aqui e alhures, por muitos e muitos anos, de todos os tempos. A madrinha até emprestou seu nome ao substantivo e virou jornalizta (Explico a grafia errada. Errada não. É a boniteza da mistura que se deu de jornalismo com seu nome Aliz).


De lá para cá, vou lhes contar um negócio: o trem ficou bão demais. Tem mineiro (nem precisava dizer, né?), tem paulista, paulistano, acreano, goiano, carioca, brasileiro americano, brasileiro japonês, brasileiros, assim de carne e osso como todo boteco que se preza. Lá, cada um tem a sua maneira própria de ser, suas crenças, seus trabalhos, seus problemas, mas muita, muita alegria e doação e entrega e companheirismo e sinceridade e respeito e ética. E coração saltitando quando junta a turma toda e coração agoniado quando falta um ou outro. Fala-se de tudo, vive-se de tudo, numa intensidade que nem dá tempo de ninguém se embriagar. Rimos muito juntos, aprendemos juntos, preocupamos juntos, choramos juntos. Tanto que só falta o abraço fora da tela. De carne e osso mesmo. Mas isso ainda vai acontecer. Dá uma passadinha lá!

Olha o endereço ai:

http://groups.google.com.br/group/boteco-do-balaio

domingo, 7 de junho de 2009

VERSOS CARTESIANOS

Seus versos eram medidos. Sem métrica, medidos com trena e lupa. Tinha uma prosa calculada, mas queria ser poeta. Mais: já nos primeiros acertos com as linhas, se intitulava bardo. Não, bardo não, que é muito “sensivel”. A verdade vinha estampada nas junções das sílabas quadradas. Não era o dono da verdade, mas se considerava filho dos donos. Tudo podia ser comprovado em sua poesia. A dos outros, analisava com método de investigador. Tinha que ter segundas, terceiras e tantas intenções. Cada poema(?) seu parecia ajustado no exato espaço avaliado. Pareciam versos aquartelados.


Toda estrofe era um modo imperativo. Tocava a corneta e despertava a todos.

- Poetas, hora de levantar e fazer poesia, senão vai ter ostracismo! Os versos machucados iam andando na folha, em fila, em ordem, até onde tinha estabelecido pela régua. Dali desciam para a linha seguinte, numa seqüência lógica. Se desse para rimar, lindo! Se não, uma imposição: - creiam todos quantos lerem que esses toscos ensinamentos são um poema do fundo de minha alma cartesiana.


Com tanta generosidade disponível...

sábado, 6 de junho de 2009

NA CIDADE

Quem vale mais o carro ou eu?

Eu não! Sou de pouca serventia

Mas você ai, você vale

Mais que popular, de luxo, estelar.

Eu digo é do lado de fora

Lá dentro é um rei (nem que seja) de barriga

Ou um súdito do automóvel,

mas com poder delegado

O homem faz cidade para o carro

Ruas, estradas, até passeios

São tapetes para a majestade.

Eu não xingo buzina não, viu lacaio?

Passo é lá para dentro

E fico humano

Nem que seja de carona.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

CRÔNICA DE UMA MORTE (MAL) ANUNCIADA

Alguns irmãos queriam achar um culpado. Não falavam abertamente, mas deixavam sempre uma suspeita em seus comentários acerca daquela noite fatal em que a Eleonora havia dormido no hospital com o pai recém operado da próstata. A cirurgia havia sido um sucesso. Ele havia recebido uma sonda para os primeiros dias do pós-operatório e levantou-se bruscamente da cama após o efeito da anestesia, que lhe deixara meio desfalecido, meio acordado, e, rasgou o local da sonda, abrindo-lhe uma pequena ferida que veio a ser contaminada pelas bactérias residentes nos hospitais todos. Ela cochilara honestamente. Impunemente, na visão de alguns irmãos que queriam um culpado.


Seu Amador nunca mais sairia da posição horizontal. A infecção lhe atingira, primeiro o local do incidente, espalhando-se rapidamente pelos órgãos internos a ponto de sacrificar-lhes os rins e precisar hemodiálise. Sua última manifestação de lucidez foi revelar o desejo de morrer depois dos oitenta anos. Tinha ainda 78. Os médicos fariam todos os esforços possíveis, mas nada podiam garantir. Cada dia era uma alegria alternada com um susto, um silêncio compreensivo diante do boletim médico dizendo “estável” sobre seu quadro clínico. Eu sempre achei esse negócio de estável um assombroso meio termo entre a incerteza de melhora e o inevitável velório amanhã, contradizendo com a possibilidade de recuperação e a inexorável possibilidade de agravamento do quadro de saúde.


Dias, semanas e meses nesse vai e vem , e dois ou três desenganos fatais previstos pelos médicos, nunca abalaram a fé da família. Até aquela quarta feira que foi chamado pelo Dr. Dajon, o filho mais velho para comunicar do inevitável óbito, nos seguintes termos: - Seus órgãos vitais não respondem mais às terapêuticas. Inútil insistir. Parte considerada mais íntegra emocionalmente da família naquele momento, fui chamado para providenciar os funerais. Genros nesses momentos são de grande valia. O sogro escolheu minha casa para ficar quando resolveu operar, bem distante de sua cidade. Acredito que não quisesse demonstrar nenhuma fraqueza a seus amigos lá da distante zona rural onde residia. Combinei tudo com o agente funerário, que não escondia sua satisfação diante de um novo fornecedor de renda para seu negócio, apesar de manter o semblante condescendente com a dor de algum parente consanguíneo que se aproximasse para ver nosso acerto. Paguei uma parcela do serviço de embalsamamento, traslado, e acessórios mortuários e combinamos de acertar o restante no dia seguinte ao enterro.


O dia amanheceu com Seu Amador naquele estado vegetativo e com todas funções funcionando a contento. Dia esse que durou exatos quatro anos. Pois seu Amador só veio a falecer aos oitenta e dois e creio mesmo que por desistência própria da vida. Estava acometido de parkinson e alzheimer, mas com batidas do coração em ritmo satisfeito, com digestão e defecção funcionando direitinho.


O espanto do agente da funerária é que foi imenso quando resolvemos desfazer do trato e ele me devolver o cheque.

- Não acha melhor esperar mais um pouco?

- Ora, diante desse constrangimento, devolva-me. Se acontecer, pode deixar que não vou procurar seu concorrente.


Encontrei algum tempo depois, num supermercado, o médico que havia fornecido a sentença inverossímil.

- Eu queria compartilhar meus sentimentos pela perda do seu sogro. Há tempos não nos vemos!

- Doutor, se ele estivesse falando, iria querer lhe agradecer. Foi só o que consegui responder.

terça-feira, 2 de junho de 2009

SILOGISMOS

SILOGISMOS ARISTOTÉLICO-ROUSSEAUNIANOS


Todo homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe

Ora, se todo homem vive em sociedade

Toda sociedade é corrupta?

Se toda a sociedade é corrupta

Onde estão os homens bons?

E ora, ora, se todos são maus, então,

Estamos reclamando de que?

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