terça-feira, 31 de maio de 2011

ZONA

imagem google

Foram dividir o globo em áreas climáticas e deram o nome para cada uma  de zona. Então não reclamem de aquecimento global. Na zona é assim mesmo, não tem nada certinho.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * - Miriam de Sales Oliveira **

Publiquei aqui uma série de excertos de pensamentos de escritores sobre escrever. Agora, o mais importante, creio, e um combustível para a escrita, publico outra série sobre o ato/hábito da leitura.


imagem google

Quando eu era criança minha mãe me presenteou com as obras completas de Monteiro Lobato.
Eu era uma criança solitária, filha única e vivia numa pequena cidade do interior, sem diversões nem vida cultural interessante.
Pela mão de Monteiro Lobato descobri o mundo e as pessoas; D. Benta,a vovó carinhosa que contava belas estórias,Tia Nastácia,e a sabedoria popular transmitida às crianças Pedrinho e Narizinho e a destrambelhada boneca Emília,que depois virou gente,atrevida,irreverente,inconveniente como eu mesma.
Sempre digo que Lobato foi o meu pai espiritual, mas depois vieram muitos outros livros.Livros à man’cheia como queria o poeta,fazendo a criança pensar.

Nunca mais me senti solitária. Estou sempre rodeada de livros e tanto aos cinco anos quanto agora aos 68 os livros são a minha companhia.
Não temo a morte, mas,receio morrer sem ler todos os livros que desejo.
Mas, o propósito dessas reminiscências é lembrar aos pais e professores o quanto a leitura é importante para o bom desenvolvimento da criança.
Nesta nossa era cibernética, do computador,da Internet,dos games e até mesmo dos livros digitais que estão surgindo – e-books,e-readers – cabe a nós fazermos com que nossos garotos não percam o interesse pelo bom livro impresso,seu conteúdo e sua magia.
O livro é o tapete mágico que nos transporta a mundos diferentes, que nos abre portas para outras culturas e pessoas diversas e nos faz compreendê-las.

A Literatura deve ser levada às crianças e adolescentes de uma forma fácil, interessante, para que possa ser entendida por eles.
Um adolescente me confessa detestar Machado de Assis; acho apenas que Machado lhe foi apresentado de modo errado.
Talvez esse interesse que não veio, tenha sido prejudicado pela leitura em português castiço, antiquado para a nossa época ou essa leitura tenha sido obrigatória e o garoto não pode captar a beleza desses livros.
Pois os temas são os mesmos desde o começo dos tempos: amor, solidão, ciúme, traição, família, interesses escusos ou não; os personagens vivem até hoje em outros corpos; quem não conhece alguma Capitu ou Bentinho, ou José Dias ou Escobar ou o Ayres?
São eternos, puxa!
Poderiam ser nossos vizinhos, amigos próximos, parentes até.

Uma coisa parece certa; se os pais têm o hábito de ler os filhos terão também.
Se a criança receber livros de presente e esses livros forem interessantes, adequados às suas idades e explicados de forma informal pelos pais e professores, com certeza estaremos formando futuros leitores.

No Brasil temos um probleminha; os livros não chegam à senzala, ou seja, crianças pobres de escolas públicas quase nunca têm acesso aos livros, principalmente porque o livro é caro para o bolso da maioria.
Porque não colocar um livro na cesta básica visando alimentar o espírito?
No meio de bolsa-escola, bolsa –família  etc porque não criar o vale-livro,formar bibliotecas nas escolas e centros comunitários,estimular o contador de estórias ,discutir a leitura, “fazer o povo pensar”?
Porque não  interessa aos donos do poder. Povo que pensa escolhe melhor seus governantes. 



** Miriam de Sales Oliveira é escritora Baiana, autora de CONTOS E CAUSOS,  BAHIA DE OUTRORA e CONTOS APIMENTADOS. Dona dos blogs: http://wwwfiatluxblogspotcom.blogspot.com/ - http://contosecausos24x7.blogspot.com/ - http://miriamcafecompimenta.blogspot.com/ - http://abahiadeoutrora.blogspot.com


 
* L.E.R. = Lesão por Esforço Repetitivo





sábado, 28 de maio de 2011

RELÓGIO DE REPETIÇÃO

imagem google
O “quase todo mundo” é usado de uma forma arguta para não generalizar e cometer inevitáveis injustiças e até ofensas. Não estamos todos, ainda, transformados em fantoches, em reprodutores do pronto, sem colocar o pensamento para funcionar de forma autônoma. Sobre essa mania quase geral de generalizações, leia uma crônica genial da Martha Medeiros, ATRAÇÃO PELO APOCALIPSE.

Minha mãe dizia sempre que  parecíamos relógio de repetição quando a gente ia se justificar perante ela diante de uma reprimenda ou de um questionamento e usava um argumento emprestado ou de esperteza e não um próprio. Dava para ter a noção de que era alguém que não tinha idéias ou opiniões próprias, ficava repetindo tudo o que via e ouvia, sem a saudável crítica interna, analisando origem, destino, intenção da mensagem para só depois formular a sua. O relógio de ponteiro não faz outra coisa senão deixar seus marcadores subir e descer, eles não mudam. A gente é que tem de diferenciar o tempo. Já viu algo parecido por aí?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

POESIA E REALIDADE

A maioria dos poetas cujas biografias tive oportunidade de ler ou através de depoimentos não gosta muito que seus poemas sejam interpretados. E eu acho que estão cobertos de razão. Poesia pode ser como disse o Mário Quintana: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente.” Pensando nisso e naquilo que a minha companheira me falou outro dia vindo do salão de beleza injuriada com o que ouviu lá acerca de “estar por dentro das coisas”, resolvi pedir licença aos poetas e vou interpretar um poema que me leu. Primeiro vou explicar: perguntada sobre personagens de tais ou quais programas de TV ela disse desconhecer, pois não costuma muito assistir à programação, ouviu o seguinte desaforo:
 
- Em que mundo você vive, minha querida? Está por fora de tudo! (sic)
 
Pois bem: é a isso que somos encaminhados aqui, ali e acolá. Temos que comprar tais objetos porque são modernos, temos que usar tais roupas, perfumes, calçados porque todo mundo usa. Temos que assistir ao que todo mundo assiste, temos que rezar no credo de nossa turma a fim de não sermos rejeitados no círculo de ralações. Temos que assistir a tal filme porque ganhou ou concorre ao Oscar. Temos que ler o último best seller para parecer culto e de bem com a onda que leva todo mundo para o mesmo lugar: o lugar comum. Ah, e o seu celular não tem blutufe? Que pessoa atrasada!
Daí que, lendo o CANTICO NEGRO, do José Régio, solicito que do céu ou onde quer que esteja me conceda esse beneplácito da interpretação pois acho que esse poema me leu. Mas aí, na hora em que resolvi interpretar, vi que ele parece ter me colocado palavras na boca, agilidade nos dedos, ou o que seja, e fala diretamente por mim, sem precisar por nem tirar absolutamente nada.
Só me resta acrescentar nesse rasgo de amargura, que a intolerância que tenho visto por aí contra gente que tem ideias próprias é filha (malcriada) da interpretação do mundo. Eu também amo é o longe e a miragem.
 
Cântico Negro (José Régio)
 
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

 
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

 
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o longe e a miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

terça-feira, 24 de maio de 2011

SOBRE O ÓCIO CRIATIVO

imagem google
Meu cunhado me levou certa vez a uma agência de publicidade que pertence a um amigo dele. O prédio tem dez andares e fica quase no topo de um morro dos muitos que há aqui na nossa BH. Parece, portanto, ter uns trinta. De lá do último andar onde trabalha o pessoal da criação avista-se toda a Serra do Curral, uma paisagem das mais bucólicas e atribuo a ela um plus na inspiração. Uma beleza de visão! Cheguei e já fui sentindo uma ratificação do que falam sobre os funcionários da Microsoft. Ouvi dizer que ficam muito à vontade, tanto nas vestimentas, quanto nos horários de trabalho. Tinha alguém lanchando, tinha gente brincando com games, havia outro na janela olhando o horizonte e tinha até alguns que suspeita de estarem trabalhando. Uma liberdade que muita gente gostaria de ter em seu ganha-pão. Ficar à toa lá naquele lugar é algo levado muito a sério. Cada peça publicitária mais bonita que a gente vê na TV, na internet, em revistas e ouve no rádio e que é do portfólio dessa agência dá gosto. Então, se quiser ser mais inventivo, brinque mas leve a sério a brincadeira como se fosse um trabalho que não requisita resultados pressionados por relógios nem chefes. Isso potencializa o poder da criação. Na hora em que estiver à toa leve isso a sério enquanto brinca de fazer nada. Os melhores pensamentos ocorrem com o cérebro desligado de obrigações. Não é uma regra, mas também não é uma exceção.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - ENCERRAMENTO

imagem google  

Prezados leitores, encerro essa série com uma homenagem a todos que por aqui transitam e que amam a palavra escrita. Especialmente aos que permanecem.
PS: Na próxima segunda, inicio outra série sobre leitura. Obrigado e até lá. Paz e bem.

PROCURA DA POESIA

...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espere que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
E seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas
sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiam na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.






sábado, 21 de maio de 2011

NOSSO LOUCO AMOR

“Palavras são palavras e a gente nem percebe
o que disse sem querer e o que deixou pra depois
Mas o importante é perceber que a nossa vida em comum
 depende só e unicamente de nós dois.”
(da música Um Jeito Estúpido de Amar, cantada por Roberto Carlos).



Gleicineide me diz ouvindo o radio que todas as vezes que vem fazer faxina aqui em casa, sua cabeça fica fervendo com pensamentos. Eu pergunto se é por causa do noticiário cheio de sangue, sensacionalismo e as enfadonhas notícias do mundo da economia e ela me responde que  é por causa das músicas românticas da emissora que eu gosto de ouvir.

- É cada lembrança, seu moço que eu nem te conto!

- Antigos romances, paixão recolhida, Gleicineide?

-Seu moço, se não lhe incomoda eu vou contar. Antes de me mudar para cá, tinha um rapaz na minha cidade chamado Celinho, feio, seu moço, de dar dó. Mas eu era apaixonada por ele de um tal jeito que o senhor nem vai acreditar. Na época eu tinha 17 anos e ele 28. Era o motoqueiro da cidade. Um homem especial de bom. Namorava escondida de meu pai; como já lhe disse, eu tinha muito medo dele, de suas violências com a gente lá em casa. A minha paixão pelo Celinho era além desse negócio de beleza física, seu moço. Ele me tratava como uma princesa, como uma rainha, melhor dizendo. Um dia, seu moço, meu pai flagrou a gente juntos e eu tremi. Mas ele não falou nada até eu voltar pra casa. Ele ficou sabendo que o Celinho era filho de um homem de muitas posses, muita terra, muito gado e começou a fazer um gosto danado pelo namoro. Aí me falou que eu teria que casar de qualquer maneira. Mandou chama-lo lá em casa e falou sem rodeios que fazia muito gosto de um casamento; que éramos pobres mas que ele faria questão de fazer todas as despesas. Ainda usou uma expressão que me envergonhou demais: “nem que seja um arroz com feijão simples, eu quero dar uma festa.”. Foi um apego só, dele com o Celinho. Eu continuei o namoro com um entusiasmo maior ainda, seu moço. Meu sonho era casar com o Celinho. Todas as vezes que eu ouço Se A Casa Cair, do Teodoro e Sampaio até arrepio, seu moço.

- Péra lá, Gleicineide, eu não ouço esses caras, não! São as músicas que eu gosto de ouvir  que lhe trazem lembranças ou não?

- É, seu moço, mas quando o senhor não tá aqui eu mudo pras emissoras que tocam. Gosto de outras também, mas essa me faz lembrar ele dançando em volta de mim toda vez que a gente ouvia e me dá uma saudade danada daquele homem. Vou falar um negócio pro senhor: se o Celinho aparecesse aqui agora, eu acho que largava o Juninho na mesma hora. Apesar de já fazer 11 anos que isso aconteceu, eu não esqueci dele até hoje.



- Mas então foi uma paixão mal resolvida?

- Pois é. Minha mãe tinha adoecido de depressão profunda e eu acho que foi por culpa do meu pai que maltratava ela demais. Veio para a capital se tratar e meu pai veio atrás. Só que a minha mãe não contou onde estava ficando nem onde se tratava e nunca mais quis saber de meu pai. Passado um tempo ela voltou à cidade, mandou a gente (eu e meus irmãos) arrumarmos tudo correndo e nos trouxe. Não deu tempo nem de despedir do Celinho. Liguei para ele depois e ele me disse que ia dar um jeito de vir pra cá também. Não sei o que aconteceu mas não veio e eu não o vi nunca mais. Comecei um tempo depois a namorar o Juninho e seus ciúmes não me deixam muito solta por aí. Uma única vez que voltei na minha terra ele foi lá atrás de mim. Acho que é intuição de homem, né seu moço? Porque intuição de mulher não falha de jeito nenhum. O senhor tem intuição?

- Hum, hum! (interessado mais em ouvir do que estender essa parte)



- Eu tenho uma vontade, sabe do quê? Um dia voltar lá, ir a um salão, me produzir toda e chegar perto dele e dizer assim: “mas como você tá feio, hein, Celinho”?

Hoje ele já deve estar chegando nos seus quarenta anos, imagine que bagaço não virou! (interrompendo a divagação):

- Olha aqui nos meus braços, seu moço, eu fico arrepiada só de pensar nesse homem.

- É, Gleicineide, acho que ainda tem um sentimento meio enraizado aí dentro, não é?

- Acho que tem sim, seu moço. Apesar de ele nunca ter me feito nada (nada daquelas coisas, o Sr. sabe, né?) eu arrepio desse jeito, imagina se tivesse feito? Já falei pra minha mãe que eu não vou me casar nunca mais.

- Então é sério mesmo?

Uai, seu moço já se passaram mais de 10 anos e eu não consigo esquecer dele, como é que eu vou fazer? Me diga o senhor aí que deve de ter mais experiência: como é que eu faço, seu moço?

Desconversar nessas horas é o melhor conselho, mesmo sem sair do assunto. – Olha, Gleicineide, eu também tenho muitas lembranças de música que me remetem para momentos inesquecíveis que já tive na vida. Ah, que saudade quando ouço certas músicas! Elas estão presentes na memória afetiva da gente para sempre.



Gleicineide saiu para a área de serviço cantarolando

“...Foge de mim quando eu quero um abraço
Fazer amor, ela não quer nem saber,
Já não agüento essa falta de carinho
Hoje eu quero uma mulher pra me amar
Custe o preço que custar...”


quinta-feira, 19 de maio de 2011

NÃO MEXAM NO MEU CAFEZINHO

imagem google

Eu andei muito tempo falando mal de tanto especialista que tem surgido ultimamente. Faço um reparo e me penitencio. Eles têm sido importantes, sim, em muitíssimas coisas no nosso dia-a dia. Podem não ser tão felizes como quem se dedica a abranger mais seus conhecimentos gerais, pode acontecer de a pessoa radicalizar tanto no seu foco que acaba ganhando a alcunha de sua própria especialidade, como o Dr Bactéria, por exemplo, que não deve ser requisitado para mais nada na vida além do combate a esses monstruosos seres invisíveis. Alguns especialistas têm prestado um serviço muito bom. É que, pensando bem,até há algum tempo,as coisas que a gente consumia, ingeria, manipulava ou fazia não eram objetos de estudos tão profundos com relação aos efeitos como são hoje. As coisas eram produzidas para resolver os problemas imediatos de um grupo pequeno e também para ganhar dinheiro. Além disso, não havia muita vigilância sobre elas. Claro que ainda há malandragens. Estão aí as falsificações e fraudes de toda espécie, marca e modelo. Até remédio já tem gente ousada para falsificar. Só através dos especialistas, por exemplo, eu soube há poucos dias que o doce (deliciosíssimo) feito em tachos de cobre fazem mal para a saúde. Aqui em Minas que é o berço e mesa deles, está proibida a fabricação com fins comerciais. De pensar que eu fui criado comendo doces feitos no fogão a lenha nos tachões de cobre, hein? Já parei de comer a casca da maçã: segundo dizem é a parte mais nutritiva da fruta. É também a que concentra a maior parte dos agrotóxicos. Os batons estão sofrendo um duro ataque da vigilância sanitária pelo excesso de chumbo em sua composição. Nesse caso a contaminação somente no momento de beijar uma boca, tornaria o convidado ao beijo um consumidor passivo, igual a quem não fuma e convive com fumantes. Fica com uns 10 até 50% da contaminação, dependendo da constância dos beijos. A caixa d’água que a vida inteira me serviu de fornecedora da mais pura água para a sede a banho, preparo de alimentos, agora não pode mais ser de amianto. O ovo que eu cresci vendo o meu avô tomar cru todos os dias pelas manhãs é hospedeiro da salmonela que pode matar em menos de 24 horas. Por outro lado perdeu a condição de vilão absoluto do colesterol. E mais uma restrição às mulheres, os absorventes íntimos poderiam conter substância cancerígena. Esses eu não sei se é sabotagem ou é o poder dos fabricantes, mas continuam nas prateleiras à venda livremente. Será que o meu cafezinho de todos os dias vai sofrer algum abalo? Por enquanto quem se abalou fui eu (positivamente), pois descobri que de agora em diante nós, os brasileiros todos vamos ter direito a tomar café puro, coisa que os produtores não eram obrigados a nos vender. Precisou de uma lei para isso.

terça-feira, 17 de maio de 2011

ÍDOLOS

Tudo o que eu precisava era de uma informação. O sujeito estava de costas para mim e toquei o seu ombro para perguntá-lo algo a respeito daquela fila. Primeiro começou limpando o ombro como se eu estivesse sujo, mostrando todo o seu desagrado. Já estava começando a desistir do pedido de ajuda, quando finalmente se virou para mim, me olhou com aquela cara de “Ai, meu Deus, mais um!” como se eu estivesse querendo autógrafo. Nem reconheci o cara. Mudei de pessoa e uma senhora muito polida me satisfez a dúvida. Depois que saí um rapaz (que teria acompanhado a cena) me seguiu e disse que eu estava falando com nada mais nada menos do que com um famoso. Mas ele queria mesmo era ser solidário a mim, também achou o cara meio pedante, petulante, arrogante.  Eu fiquei pensando: Famoso? Numa fila? Uai, tem algo errado ou não é Brasil!

Ídolos é melhor não conhecê-los pessoalmente, alguém já disse isto. A começar que não são unanimidade. É ídolo para uns e para outros, não. Depois, não quer dizer que vamos nos comportar como tietes na sua presença. A menos que exibam uma aura ou pó cintilante que avisem logo possuir brilho a qualquer distância ou um magnetismo que nos mova involuntariamente do lugar onde estamos em sua direção para beijar-lhes as mãos ou fazer uma reverência de súditos. Perdem a oportunidade de conviver no anonimato. Se o sujeito sai na rua e não é reconhecido, se deprime. Se for, empina o nariz e dá rabada na sua legião de fãs. E ainda vai para a imprensa reclamar do assédio. Imagino que para esses deve ser muito difícil viver como uma pessoa normal. As pessoas normais já estão se achando...

Os ídolos são para a convivência distante. Conhecer um ídolo pessoalmente pode quebrar todo o encanto, uma vez que as pessoas são comuns quando não estão de máscaras, rótulos, flashes ou holofotes, palcos ou câmeras. E o comum não encanta ninguém que não esteja procurando algo mais do que uma relação cordial e amistosa. Imagine um herói fazendo as suas necessidades mais fisiológicas? Eu em criança pensava que miss não soltava gases. Meu pai afirmava que sim, só que tinham cheio de Cashmere Bouquet. Eu acreditava piamente. Pensava que um galã não podia jamais ter mau hálito. Fiquei tão decepcionado quando li o Richard Gere dizer horrores de atrizes hollywoodianas sobre mau hálito e que era custoso fazer cenas de beijo. Não citou nomes, mas quem assistiu a uma boa parte de seus filmes românticos sabe que ele só fez par com lindas beldades do cinema.

 O que mais me encanta nesses tipos de celebridades é que a gente não pode nem chegar perto deles, a segurança não deixa, graças a Deus.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - RECADOS

imagem google

“Se ficar indeciso entre dois adjetivos, jogue fora ambos e use o substantivo.”
“Leia muito e esqueça o mais que puder.”
(de Drummond a um jovem)
imagem google
 “Evite o supérfluo. Fique no contexto.”
(de Paulo Francis, no Pasquim)
imagem google

“Não devemos transmitir informações já conhecidas. Quem é que deseja ouvir o que já sabe?
(de Samuel Ichyie Hayakawa, em A linguagem no pensamento e ação)
imagem google
 “Não seja opinioso – deixe isso para autores de lindos ensaiozinhos filosóficos. Não seja descritivo: lembre-se de que o pintor pode descrever uma paisagem muito melhor do que você, e de que ele é obrigado a conhecer muito mais coisas a esse respeito.”
(Ezra Pound, A arte da Poesia)
imagem google
  “Quando escrevo para mim mesmo, costumo ficar corrigindo dias e dias – uma curtição. Corrigir é estar vivo.”
(Paulo Mendes Campos, escritor mineiro)
_______________________________________________________________________
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

domingo, 15 de maio de 2011

DICIONÁRIO MODERNO ...Continuação

Há o ócio criativo. Criei o ócio copiativo. Isso é que é ser desocupado. É apenas brincadeira, não me levem a sério.

FÁCIL: Diz-se da mulher que tem a moral sexual de um homem.

FÍSICO QUÂNTICO: É um homem cego em um quarto escuro, procurando por um gato preto que não está lá.

FUTEBOL: É com quem toda mulher se casa sem saber.

GINECOLOGISTA:
Especialista que trabalha no lugar onde os outros homens se divertem.

HERÓI:
Indivíduo que, diferente do resto, não pôde sair a correr.

HOMEM:
Ser masculino que durante os seus primeiros nove meses de vida quer sair de um lugar em que passa o resto da vida tentando entrar.

INDIFERENÇA: Atitude que adota uma mulher diante de um homem que não lhe interessa, que é interpretada por ele como "está se fazendo de difícil".

INFLAÇÃO: É ter que viver pagando os preços do ano que vem com o salário do ano passado.

INTELECTUAL:
Indivíduo capaz de pensar por mais de duas horas em algo que não seja sexo.

LÍNGUA: Órgão sexual que alguns degenerados usam para falar.

MODÉSTIA: Reconhecer que alguém não é perfeito, mas não dizer a ninguém.

NINFOMANÍACA: Termo com o qual um homem define uma mulher que deseja fazer sexo mais freqüentemente que ele.

PROGRAMADOR: É o que te resolve um problema que você não sabia que tinha de uma maneira que você não compreende.

PSICÓLOGO: É aquele que olha todos os demais quando uma mulher atraente entra na sala.

REALISTA: É alguém que leva uma bomba de mentira quando voa, porque isso diminui as possibilidades de que haja outra bomba no mesmo avião.

SUPERMODELOS: Evidência que todos nós fomos mal feitos.

TRABALHO EM EQUIPE: Possibilidade de jogar a culpa nos outros.


AUTORIA: Um outro desocupado que não descobri o nome, mas que usou o ócio com criatividade.

sábado, 14 de maio de 2011

DICIONÁRIO MODERNO

Há o ócio criativo. Criei o ócio copiativo. Isso é que é ser desocupado. É apenas brincadeira, não me levem a sério.

ADVOGADO: É uma pessoa que escreve um documento de 10.000 palavras e o chama de "sumário".

AMIGO: Diz-se da pessoa do sexo oposto que tem esse "não sei o quê" que elimina toda intenção de querer deitar-se com ela.


AMOR: Palavra de quatro letras, duas vogais, duas consoantes e dois idiotas.


ARQUITETO: Diz-se de um cara que não foi suficientemente "macho" para ser engenheiro, nem
  suficientemente "bicha" para ser decorador.

AUDITOR: É o que chega depois da batalha e pisa nos feridos.


BANQUEIRO: É um cara que te empresta um guarda-chuva quando faz um sol radiante e o pega de volta no instante que começa a chover (Mark Twain)


CANDIDATO: Pessoa que obtém dinheiro dos ricos e votos dos pobres para proteger um do outro depois de eleito.


CHATO: Pessoa que fala quando seria desejado que escutasse.


CONFIANÇA: Via livre que se dá a uma pessoa para que cometa uma série de besteiras.


CONSULTOR: É alguém que tira o relógio do teu pulso, te diz a hora e te cobra por isso.


CONTADOR: É o que sabe o custo de tudo e o valor de nada.


DANÇAR: É a frustração vertical de um desejo horizontal.


DESILUSÃO: Quando o belo traseiro não coincide com a cara espantosa que se virou.


DIPLOMATA: É quem lhe diz "vá à merda" de um modo tal que você fica ansioso para começar a viagem.


ECONOMISTA: É um expert que saberá amanhã por que o que predisse ontem não aconteceu hoje.


ESCOTEIRO: Uma criança vestida de idiota comandada por um idiota vestido de criança.


EXAME ORAL: Prova para conseguir um estágio na Casa Branca.




AUTORIA: Um outro desocupado que não descobri o nome, mas que usou o ócio com criatividade.
PS: E amanhã tem mais .



sexta-feira, 13 de maio de 2011

RECADINHO

Se eu pudesse enviar um recado mediador para o pessoal da ANP (Autoridade Nacional Palestina) em constantes conflitos na Faixa de Gaza, eu o faria nos seguintes termos.


Hay que endurecerse pero sin perder la ternura, viu Hammas?


(Paródia da famosa frase dita por Che Guevara no livro Meu amigo Che

“Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás”)

terça-feira, 10 de maio de 2011

ALTA GASTRONOMIA E TREM GOSTOSO




“Há mil regras pra comê mas nenhuma pra cagá”
(do Analista de Bagé - In: A Velhinha de Taubaté – Luis Fernando Veríssimo. Ed. L&PM - pg 90)

 
Na história humana o que começou a civilizar o homem foi a necessidade de se juntar para se defender das intempéries e das feras. Normalmente, depois de uma turma reunida, dava fome e começaram a dividir o alimento que antes cada um comia sentado numa pedra, isolado e olhando em volta para ver se não vinha alguém ou algum bicho lhe tomar. O elemento mais socializante que temos na natureza, portanto é o alimento. Cada vez que sofistica-se o alimento, estamos distanciando os seres em vez de aproximar. A sofisticação do alimento dá brilho a quem come e não ao alimento em si, que é universal (pelo menos em tese e por direito natural deveria ser)

E os freqüentadores assíduos de restaurantes chiques? Se pudessem ser filmados diante daqueles pratos cheios de um patê de foie grãs, por exemplo...
Devem gostar mais do nome. Pronuncia-se foa grá (chiquérrimo). (Para produzir o fígado de ganso o bicho é submetido a uma tortura inominável). Com qual talher se come? Sofisticação virou sinônimo de boa educação. Simplicidade, por seu lado, é risco de ser comparado com a pobreza.

O chato da chamada cozinha sofisticada é o sabor. Explico: a tal da alta gastronomia (falo daquela destinada a diferenciar umas pessoas das outras e não da comida propriamente) não prima pela simplicidade. E quando se trata de fome, vou lhe dizer uma coisa: toda a pompa vai pro beleléu. Ainda mais se os sabores não combinarem com os costumes de quem come. Experimente ir a um bufet morto de fome e encontrar lá pétalas de rosas, comidas adoçadas com mel, shitake e perfumes variados. Me desculpem os pudicos, mas é como uma brochada depois de uma conquista que seria a perspectiva de ver estrelas cintilantes e os olhos revirando de tanto prazer,. Comida boa é a temperada com coisa gostosa, feita com esmero e que combina com o tipo de paladar de cada povo, de cada região. É claro que as experiências, inovações, introdução de sabores exóticos de vez em quando são sempre bem vindas. Culinária é de uma dinâmica de possibilidades quase infinita, mas nada que se imponha tem vida longa por conta da aceitação passiva. A grande sofisticação é a elegância educada em escolher o simples. 

A comida brasileira está entre as melhores do mundo na opinião de não brasileiros, pois na nossa opinião seria jogar brasa na própria sardinha e ai não vale, não é? Mesmo dentro do país desse tamanho todo, há variações de região para região e tem muita gente que torce a cara para comidas típicas, imagine  comidas do mundo todo?

Não vão me chamar de conservador ou xenófobo, pois estou falando apenas do simbolismo que a alta gastronomia representa muito mais do que atender ao gosto de quem a pratica com freqüência de coluna social. Já tentei ser chique comendo com frequência umas comidas consideradas finas, mas me perdoem os poucos que apreciam, o negócio é ruim demais. Não combina com o meu biotipo, com a minha genética não se encontra no meu organismo a tal da memória gustativa para essa finalidade.  Nada como buscar na gente mesmo, nas percepções produzidas pelo espírito, na cultura ou sei lá por onde, as próprias sensações, os gostos familiares. E não apenas demonstrar que se tem bom gosto para o público. O que vem da memória não precisa de discursos. Vai direto para os sentidos. Discurso é uma pratica social que legitima uma falta identidade do individuo. Como se diz aqui em Minas: é por isso que a gente gosta de trem gostoso.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - DRUMMOND

imagem google
“Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos  outros verbos. O dedo sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir à marginalia, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.”
(Carlos Drummond de Andrade, Para Gostar de Ler)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

sábado, 7 de maio de 2011

CHAME O LADRAO!

Eu fui a uma cidade da região metropolitana fazer um trabalho no bairro da Lua. Tenho que fazer uma pausa aqui porque a história do nome do bairro também não é coisa de se deixar passar batido. Numa eleição de prefeito certa vez, havia um candidato prometendo lotear um enorme morro e distribuir para a população carente. O adversário na contra campanha andou dizendo que os habitantes da cidade iam ganhar lotes só se fosse na lua. Está lá o bairro com mais de 8000 moradores. No cartório o nome é outro, mas na cidade todo mundo o chama de bairro da Lua.

Pois bem, chegando à rodoviária aonde iam me buscar, fiquei esperando numa lanchonete tomando um cafezinho. O radio transmitia a programação local. Receitas culinárias, recados, parabéns, pêsames, uma verdadeira utilidade pública em meio a músicas e noticiário. Uma senhora ligou para a rádio que a colocou ao vivo e ela estava se queixando da polícia local. Isso mesmo! Durante a madrugada sua casa havia sido assaltada. Ela ligou para chamá-los ali pelas duas da manhã e o soldado que a atendeu disse: a senhora poderia ir até lá onde está o barulho e ver para nós quantos assaltantes são? Coitada, ficou com a casa vazia. E a polícia alegou depois em nota para a reportagem da rádio que só havia um soldado de plantão e por ordens superiores o mesmo não poderia atender ocorrências sozinho.










DEIXO UM ABRAÇO ESPECIAL A TODAS AS MÃES QUE POR AQUI PASSAREM.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O PERDÃO

“A imputação de culpa flagela o perdão.”
(Arcanjo Isabelito Salustiano)


Gleicineide Aparecida, 28, trabalha aqui uma vez por semana e me chama de Seu Moço. É a mais velha de três irmãos, Dorineide, Erival e Emerval. Vieram para a capital depois que a mãe abandonou o pai. Ele bebia muito e sempre e espancava toda a família de vez em quando.

De vez em quando também ela gosta de ficar me contando suas histórias. Disse que está procurando alguma coisa que a faça perdoar o pai, mas está difícil. Toda vez que se lembra, sempre a muitas risadas - que não sei se são de sarcasmo ou de nervoso, fala compulsivamente. Porque aflita ela fica é na hora que está lembrando. Não passa uma semana sem que deixe cair um copo, um prato ou quebra uma vassoura de tanta força que imprime na varredura. Acho que é de nervoso mesmo. O pai morreu aos 42 anos de cirrose. Parece que ficou um ranço das maldades, do desamor. A gente se vira na vida mas a nódoa fica para sempre. Admitindo-se ou não, manifesta-se em ação ou pensamento falado. Mais dia menos dia. Quisera fosse sublimado em outra transcendência que cura.

 - Graças a Deus, seu moço, eu não tenho remorso de falar assim não. Tá vendo essas cicatrizes aqui no meu braço? Pois é, tem mais um monte em outros lugares mas eu não posso mostrar todas, não. É tudo queimadura de cigarro que ele me fez.
Já escutei caso de cabo de enxada quebrado em suas costas, já ouvi do frango que ele comprava e comia as partes boas e deixava apenas as asas e os pés e pescoço para os filhos, já ouvi muita ruindade que o homem fazia.
– Da última, vez, seu moço, eu saí escondida para ir dançar num forró que havia lá na minha cidade e foi quando ele foi atrás de mim e me trouxe pra casa a chicotadas com todo mundo me vendo apanhar no meio da rua. Meu irmão, o Emerval, saiu de casa quando fez 16 anos. Ficou muito forte e disse que ia embora para não bater nele. Se o visse ao menos ameaçar a nossa mãe ou um de nós, ia partir pra pancadaria até acabar com ele. Achou melhor não sujar seu nome na polícia e deu no pé. Foi lá pras bandas de São Paulo. Já lhe contei que de vez em quando ele ficava bonzinho, me dava uma nota de 1 real e meia hora depois vinha pedir de volta para tomar uma cachaça? Eu acho que era! Já nem gastava mais quando isso acontecia, pois sabia que se pedisse de volta e eu não tivesse, ia apanhar. Sabe, seu moço, se esse negócio de má criação gerasse mau caráter, eu acho que ia ser uma bandida.

- Se minha mãe carinhava a gente? Ela nem tinha tempo, seu moço! Trabalhava na roça também. Só quando a gente parava para comer alguma coisa ela dava umas olhadinhas pra gente com cara de carinho. Cuidava direitinho, do jeito dela. No entanto estou ai, trabalhando desde os meus 9 anos e feliz. Feliz, não, alegre e de bem com a vida. Feliz mesmo vai ser no dia que eu casar com o Juninho. Eita homem bão, seu moço!

- Mas voltando ao trabalho, a gente capinava roça o dia inteiro para ganhar trinta e cinco reais por semana. As mulheres mais velhas ganhavam 50. Pouca diferença, né? Mas era uma exploração danada dos donos das fazendas lá pelas minhas bandas. Era não, é até hoje. Essa lei aí que inventaram de assinar a carteira do povo da roça, pelo menos por lá não funciona de jeito nenhum. Voltando no pai, eu me vinguei de uma certa forma, seu moço. Pouco antes de minha mãe decidir mudar pra cá, eu aproveitei um dia em que ele estava desmaiado de tanta cachaça e dei-lhe uma sova de vassoura, que nem ele fazia comigo. Se estivesse vivo ia estar sentido dor até hoje. Desde a época que ele morreu, estou tentando achar um motivo para o perdão, seu moço. Acho que eu ficar falando assim com o senhor, eu vou sentindo um alívio danado aqui dentro e vou perdoando ele aos poucos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - LIVROS

Gabriel Garcia Márquez
imagem google
 “Hamingway dizia que todo livro terminado é como um leão morto. E eu penso exatamente da mesma maneira: a angústia e a tensão estão na máquina de escrever, uma vez que o livro terminou preocupo-me muito pouco. A pior coisa da literatura é começar a escrever.”
José Saramago
imagem google

“Tenho uma disciplina que consiste em escrever duas páginas diárias. Formalmente não escrevo mais do que isso. Pode parecer pouco, mas duas páginas diárias, ao, fim de um ano, serão um livro com 800 páginas. Mesmo que pudesse continuar depois da segunda página, não continuo. Apenas acabo a oração, o período ou a frase, o resto fica pra amanhã.”

Philip Roth
imagem google
“Começar um livro é desagradável. Fico completamente indeciso quanto ao personagem e sua situação, e é com um personagem em determinada situação que tenho de começar. Pior do que não conhecer o assunto é não saber como tratá-lo porque, definitivamente, isso é tudo. (…) Com freqüência tenho de escrever cem páginas ou mais, antes de conseguir um parágrafo cheio de vida.”

Vladimir Nabokov
imagem google
“O esquema vem antes da coisa. Preencho os claros da palavra cruzada, em qualquer parte, com toda liberdade. Anoto os trechos em fichas, até terminar o romance. Meu esquema é flexível, mas sou bastante exigente quanto aos meus instrumentos de trabalho: fichas de cartolina com pauta e lápis bem apontados, macios, com borracha.”

Rachel de Queiroz
imagem google
“Detesto escrever. Não me lembro de escrever voluntariamente nada. O romance não é voluntário. É uma jornada que você inicia e que não se pode deixar no meio do caminho. Morro de preguiça”.

In: Como Escrevo, mistérios da criação literária, de José Domingos de Brito.



Web Statistics