quarta-feira, 28 de maio de 2008

QUE A MÚSICA NÃO OS SEPARE

...eu vou cantando com a aliança no dedo...

(Caicó (Cantiga) M. Mascimento


Os ensinamentos que tornam sólidos o nosso caráter são aqueles que vamos praticando ao longo da vida, às vezes, de forma enviesada e nem tanto ou quase nunca ao gosto de quem os ensinou, no caso, e na maioria das vezes, os pais e professores das primeiras letras e humanidades. Coisas do tipo, ganhar a vida honestamente. Temos que nos virar para demonstrar para nós mesmos que estamos no caminho certo. Pelo que julgamos ser certo ou estabeleceram para nós que assim seja. Às vezes, na falta dessa certeza, fazemos para demonstrar para o outro, mas vá lá, já é alguma coisa. Ainda mais se de nosso jeito de ser brotar sempre um desejo de independência emocional e, principalmente, material. Essas pelejas, o brasileiro sabe fazer e bem. Na rua, em casa e no trabalho, as três coisas que mais freqüentamos na existência.

Na época de estudante secundarista e namorador, passava os finais de semana quase sempre em Itabira, quando não tinha nenhuma paquera em Belo Horizonte ou dava aquela saudade da comidinha da mãe, se conseguisse carona na beira de estrada.

Enquanto não se garantia um emprego, ia inventando-se malabarismos e fabricando uns talentos em forja de necessidade. Treinei mal e parcamente acordes ao violão e animava rodas de amigos, de festas caseiras e outros espaços onde sempre havia platéia alterada pelo álcool ou péssimos cantores, ambos com baixa exigência de qualidade sonora. A ordem dos fatores não alterava o entusiasmo. Licença para meu amigo Primo, que tem um timbre mavioso e uma afinação perfeita.

Conseguimos convite para um casamento cujo noivo gostaria muito de ter o Primo ilustrando o cenário com sua voz e ele sem certeza para confirmar. Tinha a voz, mas não tinha tocador. Contou para nós e, quando disse que seria pago, pensamos logo: tá garantida a noitada, as cervejas, o namoro na noite e quem sabe, não sobrava algum para um jantar, já que o convite ao casório não incluía a comida e a bebida da festa. Ensaiamos numa tarde só, Cantiga de Caicó, Fascinação e Eu Sei Que Vou Te amar, depois da permissão do padre censor. Também não era bom que ele liberasse muita coisa. Eu não saberia tocar, ia ser feio. Mas foi bonito e rendeu bela noite. O problema foi ter que pedir insistentemente o Primo, a Marisa e a Rosa para cantarem numa altura que abafasse o som do violão. Caso eu errasse algum acorde, não destoava da cerimônia nem chamava a atenção dos convidados para nós. A igreja tava lotada e o bar nos esperando lá fora.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CONFIDÊNCIAS GENÉTICAS DE UM ITABIRANO

A MEU PAI


Filho de Zé Felipe e Maria Delfina,

Nasci e alguns anos vivi em Itabira

Por isso sou um Adão.

Não sou alegre nem sou triste

Oitenta por cento de ferro na botina e no uniforme

62,85% de fibra de ferro na alma

O resto é maleável

A vontade de amar que não paralisa a de trabalhar

Vem de Zé Felipe, com seus cabelos brancos, muitos desejos e muitos horizontes

E o hábito de sofrer que não me diverte, mas fere

Não é herança de Zé Felipe

É adquirido.

De Zé Felipe trouxe prendas diversas

Essa canela fina, esse macacão de mecânico

Esse diploma sindical

Esse orgulho e essa cabeça pensante

Não tive ouro, nem gado , nem fazenda

Hoje, como Zé Felipe, sou do INSS mas ativo

Itabira pode ser uma fotografia na parede

Mas Zé Felipe é uma metade de mim

Ai, Ai, Ai,

Ou sou eu dele?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

POEMINHA TOSTADO

Cozinhando e pensando

Vou lembrando de escrever

Deixo a panela. Lavo as mãos

Sento. Esqueço

A comida vai queimando

E vou perdendo a batalha

Do fogão e da palavra.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A BANDA E EU

Quando a banda de ofício era o compasso das cidades, as festas e acontecimentos importantes eram regidos e saudados por elas. De longe se sentia o som do bumbo, do prato e dos inconfundíveis sopros dos pistons e clarinetas, que levavam às portas e janelas os olhares com encanto mágico, dos pequenos, médios, grandes e velhos, senhores e senhoras, meninos e meninas, casais e namorados. E eu desejando estar no lado oposto. Queria as baquetas do tarol ou a vareta do bumbo enrolada nas mãos e batendo num som bonito, perfilado, com uniforme passado a vinco, mas tinha vergonha do destaque ou medo do fracasso.

Depois de passados anos até que se possa pensar no que foi feito da vida e dos desejos não realizados dá para perceber com muita certeza o quanto é bom se viver e aprender as coisas sem repressão e opressão. A autoconfiança, estima elevada e destemor do novo são alavancas da criação. Não movem o mundo mas deixam-no menos doído e mais belo. Dá até vontade de viver longamente na esperança que esse mundo aconteça de verdade.

Tinha em criança um ouvido que batia, batia, batia já com ritmo que parece ter nascido comigo dos tambores dos ancestrais ou das músicas das ruas, das rádios e das festas. Só sei que batia sempre em meu ouvido. E deu um gosto pela percussão que eu usava lata, tampo de mesa, caixa de fósforos e tudo que chacoalhasse em som de bateria. Menos os instrumentos de verdade que eu amava, surdo, tarol, xiquexique, reco-reco, zabumba, cuíca e pandeiro mas que me metiam medo.

Entre tantas frustrações, que eu julgava serem frutos da timidez, descobri que se tratava simplesmente de medo de fazer bonito a acharem feio. Medo de destacar e ser taxado de aparecido, esnobe. Medo de o auge ser vizinho do abismo. Acreditava que já tinha um destino traçado por uma força superior ou por uma ordem superior, seja dos pais, da escola, ou uma ordem natural dos caminhos retos que levariam todos a algum lugar. Por isso eu só vi a banda passar.

domingo, 18 de maio de 2008

OBELA

Era uma vez uma vaca que se chamava Obela. Chamava não, ainda chama. Está vivinha e acaba de ser vendida por R$1.729.000,00. E só a metade. Qual será essa metade? A quem pertence a cabeça, seu guia visual a ensinar por onde andar, o que comer, onde pisar? E o rabo, quem governa, quem fica com o estrume de ouro? É, por um preço desses, seu esterco deve adubar milhões de hectares numa só cagada! E a picanha, meu Deus?

Eu a vi na televisão, tem uma corcova cujo cupim deve dar, magros, uns cinco quilos. Mas como fazer um churrasco? A vaca vale, pelo critério da venda, mais de 3 milhões. Não dá para engolir uma carne dessas. Dá dor na barriga e mais ainda na consciência. E o leite então? Já deve sair em milk shake com o sabor que você der a ela para comer. Só não pode dar gelo para sair já em forma de sorvete. Imagine gripar uma vaca dessas! É caso de polícia, justiça e denúncia nos órgãos mundiais de proteção aos animais dotados de poderes extraordinários.

Precisará de um seguro de vida e guarda costas, chifres e dorso, vinte e quatro horas. E juiz de plantão para um habeas corpus em caso de alguma ameaça iminente. Nem que seja ameaça de um boi sem pedigree querendo cruzar. Já pensou uma jóia dessa solta no pasto dando mole para qualquer boizinho? É bom que o dono da outra metade esteja sempre na boa com seu sócio e nenhum dos dois pense em loucuras como querer doar óvulos, dar seu leite aos pobres, se desfazer de sua parte ou levá-la para comer braquiária ou capim meloso.

E a picanha, hein? E a picanha?

sábado, 17 de maio de 2008

ROUBADA

“...Agora já não é normal, o que dá de malandro regular, profissional,

Malandro com aparato de malandro oficial,

Malandro candidato a malandro federal,

Malandro com retrato na coluna social,

Malandro com contrato com gravata e capital,

Que nunca se dá mal...”

(Homenagem ao Malandro, Chico buarque)

O ladrão comum era um animal de hábitos noturnos, mãos portando canivete ou lâmina de barbear, chave de fenda, pé de cabra e acessórios indispensáveis ao batimento de bolsa, carteira e arrombamentos de pequenos cofres e portas ou janelas. Esses apetrechos foram, com o tempo perdendo terreno para o revólver, a pistola, a chave mixa e acesso direto às contas bancárias pela internet. Seu habitat tradicional – a rua – está empurrando-o mais para as manhãs, tardes e menos para as noites e madrugadas, que estão com pouca gente circulando, ficando mais difícil ser identificado nas imagens das câmeras instaladas nos pontos de grandes circulações de gente e dinheiro. Essas bisbilhoteiras usadas para vigiar o nosso sossego de outrora em nome da segurança geral. Esse meio ambiente social poluído tem muito mais apelo que o dos lixos inorgânicos, os desmatamentos, as contaminações das águas e o aquecimento global. Como se cada um fosse um ambiente desvinculado do outro e não uma coisa só, plastificada. O ar não é palpável pelo menos até nos faltar ou tornar-se irrespirável Vivemos o efeito semelhante ao de uma estufa humana ou, na “chapa quente”; tornamos-nos reféns da paranóia coletiva, do ir e vir sempre correndo o risco de esbarrar com um outro vindo e levando a bolsa ou a vida. A sofisticação high tech , não deixa para trás o atraso. Moderniza também o golpe, já que se pretende democrática nos moldes da democracia de desiguais em que vivemos.

Agora, o ladrão especial, de raça, é um animal que criou seus hábitos sem limites de espaço e tempo. Ele faz parte de uma nata da sociedade e não precisa desses mecanismos de invasão e fuga, claro ou escuro, tranca ou cadeado. Vale a sua notoriedade, seu discurso e especialmente, seu(?) dinheiro e bons advogados. Pena, então... habeas corpus nela!

Dois casos típicos de que a malandragem oficial faz escola. O pessoal está, a seu modo, reivindicado uma ascensão social, uma mudança de status. Afinal dura lex, sed lex ou não?

A quadrilha seqüestrou a família de um gerente de banco no interior de Minas e entrou na agência. Quando a polícia cercou tudo e deu voz de prisão, o sujeito que estava com reféns lá dentro ligou para uma emissora de rádio, que colocou ao vivo, o diálogo com a repórter e pedia garantia de vida para ele e para os clientes que estavam na agência, afinal, a polícia poderia usar de violência e ferir alguém, seu argumento salvador. Estava certo, mas foi preso assim mesmo, coitado. É bom aprendiz, mas pobre, sem notório saber e prática criminal.

O outro infeliz adentrou pelo estabelecimento de hortifrutigranjeiros, que o povão gosta de chamar sacolão, foi direto ao caixa e limpou toda a féria das primeiras horas do dia, mas, contido pelos funcionários e fregueses, esbravejava que iria devolver o dinheiro. Exigiu isso das autoridades, uma vez que nem chegou a fazer uso do saldo do assalto. Tinha direitos de imunidade por esse ato abnegado. Dançou também. Ainda não perceberam que não são ladrões especiais. Já aprenderam as teorias, mas não escalaram a pirâmide do foro privilegiado.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

DENÚNCIA

Procura-se um cão da raça ruim que violentou a Flor hoje (15/05), aqui dentro de sua própria casa. A cachorra só tem dois anos e meio e não queria se sujeitar ao ato violento praticado pelo cão invasor. É invasor sim; ele conseguiu arrebentar a tela de proteção colocada no portão exatamente para evitar aproveitadores de cio alheio. Acho que a cadela tinha pelo menos a chance de escolher com quem ter a sua primeira relação e todas as demais. Sequer teve o direito de exigir do dito cujo, o uso de preservativo, já que, pelas características, ele deve ser não um cão, mas um galinha travestido com rabo, focinho e orelhas grandes. Solicito às autoridades competentes enquadrar o mesmo na categoria de delito doloso, praticado com o fim do prazer unilateral, sem recurso de defesa para a vítima.

Meu depoimento:

- Chego todos os dias por volta de 7 h da manhã da caminhada e a Flor sempre está me esperando no portão. Como a mesma não deu sinal, resolvi investigar por minha própria conta e deparei-me com ela enroscada (literalmente) com o cão tarado naquela posição em que parece nenhum dos dois ter gostado da experiência sexual, uma vez que ficam de costas um para o outro, apesar de agarrados pelos membros. Estavam sob o pé de manga. Diria até que seria um cenário romântico, caso houvesse o consentimento da vítima. E isso não me pareceu, pois ao ouvir meus passos a mesma desandou num choro sentido como que estivesse pedindo socorro (ou foi de falsidade só para me despistar? ou ainda para não ser repreendida?). Não sei. Consegui libertá-la desse cão violador de cadelas indefesas e o meliante ainda teve o desplante de querer me agredir, mostrando-me os dentes e rosnando quando eu tentava soltá-los daquele novelo que mais parecia um bicho de duas cabeças.

Minha queixa agora é a necessidade urgente de encontrar o vadio para fazê-lo assumir a paternidade canina dos inúmeros filhotes que deve ter deixado a Flor esperando. Nem precisará exame de DNA, pois sou capaz de reconhecê-lo a qualquer distância.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

PRA MORRER PRECISA ESTAR MORTO

Jovem tem alta após ouvir médicos declararem morte

Um americano de 21 anos que sobreviveu a um acidente de carro em novembro do ano passado contou à rede de TV NBC ter ouvido os médicos o declararem como morto.Zack Dunlap foi levado para o hospital inconsciente e 36 horas após o acidente uma tomografia cerebral mostrou que seu cérebro já não recebia qualquer fluxo sangüíneo.O rapaz ouviu quando os médicos disseram à família que ele estava com morte cerebral.Os pais de Zack viram o exame e constataram o diagnóstico médico."Não havia qualquer atividade cerebral", disse Doug, pai de Zack, a um programa da NBC.Os pais decidiram, então, manter os aparelhos ligados o tempo suficiente para que a equipe encarregada de retirar seus órgãos chegasse de uma outra cidade."Nós não queríamos vê-lo como um vegetal", disse o pai. "Sabíamos que ele gostaria que seus órgãos continuassem vivos dentro de uma outra pessoa."Algumas horas depois de ser declarado como morto, uma enfermeira começou a remover alguns de seus tubos enquanto aguardava a equipe de retirada de órgãos.

REAÇÃO MILAGROSA

Os primos de Zack Dunlap, Dan e Christy Coffin, ambos enfermeiros, estavam no quarto nesse momento e por sua aparência, desconfiaram que ele não estava morto.Foi quando Dan sacou uma pequena faca de bolso e passou na sola do pé de Zack, que reagiu imediatamente... Os médicos advertiram à família que ele poderia ficar com sérios danos cerebrais, mas cinco dias depois Zack abriu os olhos e 48 dias após o acidente voltou para casa. O rapaz, que ainda faz tratamento para recuperar por completo a memória, diz estar contando os dias para ter a carteira de motorista de volta. "Estou me sentindo bem, mas às vezes é muito difícil", disse ele. "Só preciso ter mais paciência. Estou querendo dirigir de novo desde que saí da reabilitação".

Terça, 25 de março de 2008, 06h59 (FONTE: www.notícias.terra/mundo/interna)

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“A dor da gente não sai no jornal” (Chico Buarque)

Quando tinha um programa de humor na televisão, o Jô Soares fazia um personagem que ficara em coma durante muitos anos, desligado completamente de tudo o que se passava no Brasil e no mundo. Só ligado nos tubos. Quando retornou à consciência, ouvia as pessoas contando-lhe das novidades da economia, da política, da modernidade e de tão assustado, desiludido e incrédulo dizia o bordão: Ah, não, me tira o tubo!, me tira o tubo!, referindo-se à preferência pelo coma à realidade. O caso do rapaz acima deve ter sido o contrário, mas hilariante tanto quanto o personagem, afinal as tragédias humanas que terminam em salvação sempre ficam engraçadas depois.

Passa um médico doido para retirar logo algum órgão, tem prazo de validade; passa junto um residente cheio de vontade de ajudar para aprender o ofício in loco; passa outro e comenta, religioso: é mais um que vai para salvar outros tantos... Ele lá, ouvindo os médicos decretarem a sua morte e desesperado de vontade de pedir socorro.

- Por favor, me deixa o tubo, me deixa o tubo!

Imagina o dilema do cara. Queria ser doador e agora ter que fazer isso vivinho da silva!

- Olha aí, estão levando o meu coração e ele nem se apaixonou ainda! Só tenho 21.

- Devolvam meu fígado, prometo que não bebo mais antes de dirigir!

- Ai, meu Deus, vou olhar pra quem na hora que for anunciar que não morri? Levaram minhas córneas!

Já que está ansioso para voltar a dirigir, aconselho a ele tornar-se motorista de carro funerário. Como defunto não tem pressa, a chance de ter um novo acidente é quase nula.

domingo, 11 de maio de 2008

PRESSÁGIO

Coceira nas mãos: dinheiro; coceira no dedão do pé: chuva; coração apertado: mau presságio; uma orelha quente: alguém falando mal; duas orelhas quentes: alguém falando mal e outro alguém defendendo (ou então pode ser febre mesmo). Esses conhecimentos antigos vão sobrevivendo no tempo das adivinhações modernas e continuam a ter seus adeptos. A tecnologia não acabou ainda com o folclore, graças a Deus.

O que não perde espaço por nada desse mundo é o presságio. Tem pessoas que se sentem avisadas por algum mensageiro do além ou por uma força extra-sensorial de que realizar determinada tarefa ou praticar um ato qualquer deve ser evitado quando sentem um aperto no peito, indicando que algo pode dar errado. O contrário também faz parte desse contrato informal com o subconsciente. Em ambos os casos, não é raro haver algum interesse escondido por trás do pressentimento. Uma desculpa para se ver livre de alguém ou de alguma situação desagradável cai bem com uma saída diplomática dessas. Afinal quem será capaz de ir contra um mau presságio? E se der errado mesmo? O remorso, o sentimento de culpa... É o tipo do argumento no qual ao mesmo tempo se descarta logo de cara qualquer possibilidade de se fazer aquilo que não se tem vontade, sem desagradar a quem quer que seja. E de quebra, ainda sair agraciado com a fama de predestinado, caso ocorra alguma coincidência com o que foi pressentido. Do contrário, se nada de ruim ocorrer ganha-se pelo menos o respeito e a garantia da continuidade das relações, a velha política da boa vizinhança. Desde tragédia com avião até ganhar prêmio de loteria, todo mundo já ouviu algum caso de que alguém foi avisado antes. Se não conseguiu evitar ou tirar a sorte grande foi por não terem lhe dado ouvidos ou deixado de apostar. De vez em quando ocorrem problemas de interpretação que, como se fazem com os sonhos, a coisa se dá ao contrario do pressentimento ou não tão bem à maneira decifrada pelo pressagiante.

Já estava com tudo preparado para aquela viagem de férias que me consumiu ansiedade de um ano e me fez reduzir gastos até onde não mais poder para que não tivesse que fazer essa redução durante o descanso na praia. Uma vez por ano, pelo menos dava para dar uma esbanjadazinha. Passei o dia inteiro entre uma tarefa e outra no trabalho trocando idéias com os colegas sobre a viagem, minha expectativa, o aluguel da casa para quinze dias, e nas rodas, o Waldemilson, só observava a tudo calado e com reticências no olhar a cada frase que ouvia. Disse no final de expediente que precisava falar em particular comigo e propus após o trabalho. Não deu as caras até a manhã seguinte, quando bem cedo arrumava as coisas no carro, que bagagem de pobre tem que começar a ser arrumada é com muita antecedência para caber tudo direitinho. Aí ele aparece antes do sol. Até assustei e achei que pudesse ser algo grave mesmo a ponto de ter que interromper ou adiar o passeio.

-Rapaz, você tem mesmo a certeza de que precisa fazer esta viagem?

- Ô Waldemilson, precisar, assim de necessidade urgente, não, mas, cê sabe, férias são só trinta dias... Por que a pergunta?

-Desde o primeiro dia que te ouvi falando dessa praia que tem uma coisa me incomodando...

- O quê, quer ir também? Já fui logo de gozação.

- Falo sério, é um sentimento esquisito, umas coisas querendo e não querendo me dizer ao mesmo tempo, um aperto danado, um sufoco.

Pensei logo, agora vai minha viagem pro ano que vem. Deve estar precisando de algum emprestado, recebi as férias...

-Tá precisando de algum para emergência?

- Que isso, cara, graças a Deus, tá tudo em ordem. É sobre a sua viagem mesmo. Melhor você não ir...

-Tá doido, sô, se eu falar isso aqui em casa vão me internar e arranjar outro motorista. Tá todo mundo esperando isso faz tempo!

- É que eu gosto muito de você e de sua família e fico com medo de acontecer alguma coisa ruim...

- Só se for chuva os dias todos, vira essa boca pra lá.

Nisso já estava todo mundo acomodado e minha filha começa a se impacientar

-Ô pai, anda logo, que eu quero pegar uma onda hoje ainda!

Despedimos ali não sem seus conselhos premonitórios de: vá devagar, cuidado com as crianças no mar, não exagere na bebida e pá, pá, pá. Fui tentando não pensar naquilo, mas com uma pulga atrás da orelha e com a vigilância redobrada, porque independente do receio, o cuidado é que nem canja de galinha... Foi um dos melhores passeios que já tinha feito e por cima, sucedido de um achado. Lá pelo terceiro dia, voltando da praia para a casa num fim de tarde, vi uma sacola esquecida na areia com uma linda máquina fotográfica dessas profissionais, com uma objetiva do tamanho de luneta. Como não havia mais ninguém por ali, levei-a comigo e tornei a trazê-la durante o resto da permanência para ver se aparecia o dono reclamando sua falta. Não acorreu e acabei tendo que ficar com ela sob o risco de dar a algum esperto que se proclamasse proprietário, como quase sempre ocorre com os objetos encontrados à mercê da sorte. Tirava fotos com uma nitidez de dispensar fotógrafo profissional, a não ser para um melhor ângulo.

De retorno à cidade, nem esperei pela volta ao trabalho para lhe contar as novidades. Como fez comigo, fui até sua casa – não tão cedo como ele – relatei a calma viagem e mostrei o achado. Espantado com minha integridade morena, sem um arranhão sequer, foi logo dizendo ao olhar a bela máquina:

- Eu sabia! (Com cara pensativa e procurando uma saída honrosa).

- Sabia o que Waldemilson?

- Uai, vai ver, então, que o que eu senti foi o dono dela se afogando.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

NÓ!!!

Teste mostra que fumaça de incenso é prejudicial à saúde
CLÁUDIA COLLUCCI - da Folha de S.Paulo, em Brasília
Usado
desde a Antigüidade com sentido de purificação e proteção, o incenso acaba de receber sinal vermelho da Pro Teste, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. Cinco marcas avaliadas mostram que daquela fumacinha, aparentemente inocente, exalam substâncias altamente tóxicas

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Adoçante pode engordar

Parece contra-senso, mas o alto consumo de adoçantes artificiais pode causar aumento de peso...

..."Se o açúcar for utilizado de forma correta levará a uma série de vantagens ao paciente, inclusive saciando a compulsão por doces... ( saúde.terra.com.br)

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ABSORVENTE INTERNO PODE PROVOCAR CÂNCER

...Você já ouviu falar que os fabricantes de absorventes internos usam asbestos na fabricação de absorventes? Porque asbestos fazem você sangrar mais, se você
sangra mais, você vai precisar de mais absorventes... Absorventes internos contêm duas substancias que são potencialmente perigosas: Rayon (para absorver), e dióxido (um produto químico usado para provocar sangramentos)... Dioxina é potencialmente cancerígena (câncer associado)...

(www.grupo-ramazzini.med.br)

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Benefícios de um consumo moderado de cerveja ( www.cervejasdomundo.com)

A cerveja é uma bebida saudável e que faz parte da dieta do Homem desde tempos ancestrais... elas não são apenas boas para beber, como também fazem bem à nossa saúde, desde que consumidas moderada e regularmente, isto é, não mais de 2 garrafas por dia... pode proteger as pessoas de doenças cardiovasculares, como por exemplo, ataques de coração e algumas formas de trombose...

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Porquinhos light(veja.abril.com.br)

Modificação do DNA faz com que a carne desses suínos produzam ômega 3, o ácido graxo que faz bem ao coração e previne o câncer...

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“Táubua de tiro ao álvaro

Não tem mais onde furá”

(Adoniran Barbosa)

Meu Deus, o adoçante faz mal! E pior, engorda!

Light nem é tão leve

E diet tem açúcar

Álcool é bom para longevidade coronária e dá carona para o corpo

Carne de porco agora é ômega, alfa beta e gama, faz bem para a saúde

Chocolate rejuvenesce, tira rugas e não dá espinhas

Absorvente interno dá câncer

A gota, quem diria, cura-se com gotas – de limão todo dia

A fumaça do incenso é mais perigosa que a do cigarro (pelo menos é cheirosa),

E nós, que escolher? Entre a morte iminente de ontem e o futuro saudável?

Entre o saudável de ontem que virou vilão de repente

Mata a gente pelo gosto, ingestão ou indigestão?

O que fazer sem senão?

O que comer sem medo, sem culpa,

Que remédio, qual expectativa?

Tenho aprendido demais!

Nem certo de tudo, nem de todo errado,

Muito antes pelo contrário

E a recíproca é verdadeira

Eis a questão?

domingo, 4 de maio de 2008

ZÉ JOÃO

Ôoola, ôola, ôla, alô macanudo, câmbio. Agora aqui não tá mais ao cento por cento, câmbio. Não tem mais acampamento com aquela barraca que levava a residência da gente pro mato. Nem luz faltava. Só o banheiro mesmo que transferíamos para a moita. E o churrasco perdeu um pouco da elegância ritual no trato da carne. Estamos tentando é diminuir no sal. Aquele seu garfo nem sei mais por onde anda. A brasília amarela já roda por outras bandas. Tem mais uma porção de sobrinhos, alguns que só te conhecem de ouvido e foto e lamentam não ter podido estar antes para o convívio. Tem uns que até dizem que era para você ter esperado mais. Será que nos sessenta e poucos e mais pra frente você ia ficar rabugento? Câmbio...QSL, copiou? Não desligue, macanudo. Continuamos aqui em ondas médias, respirando mais dióxido de carbono que fumaça de carvão temperado. Mas vamos todos bem e com saudades. Tem sempre comentários a seu respeito nas rodas de reunião familiar. E com que respeito! Não há sequer uma prosa em que não haja uma menção, uma lembrança, uma reverência de sua marca que não se apaga em nós. Porque não queremos também não, copiou? Câmbio... Bem sei que uma homenagem você merecia em vida e em poucas linhas não cabe tanta história boa e, justiça seja feita, era justiça mesmo o seu maior guia na vida vivida. Mas você cometeu-nos uma indelicadeza que não era do seu feitio. Foi sem aviso nem sintoma. Esteja em paz aí que estamos em busca aqui.

Põe a Delfina aí na escuta e transmita a nossa saudade grande. Cambio...

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