sábado, 29 de outubro de 2011

NOTA TRISTE

"Essa dor que eu sinto agora é uma dor que não tem nome
que o meu peito devora e come
e fere e maltrata
Sem matar."
(Ednardo)

Esse da cabeça branquinha é o patriarca desta família (faleceu agora há pouco).
PAI, SAUDADE ETERNA.



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * - CONVITE

imagem site FCCDA



Dia 26/10 – Quarta-feira

  • Evento: Lançamento de Livros

Livro: “Arcanjo Isabelito Salustiano e Outras Crônicas” - Autor: José Cláudio Adão (Cacá) – Itabira 

  • Livro: “O homem e a montanha” - Autora: Coordenadora da Coleção Historiografia de Minas Gerais: Mariza Guerra de Andrade

  • Livro: “Minha vida fora de série” - Autora: Paula Pimenta – Belo Horizonte

  • Livro: “Menino da Mina” - Autor: Marconi Ferreira – Itabira
    Horário: 18h

*L.E.R. Lesão Por Esforço Repetitivo

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O POETA

UMA SINGELA HOMENAGEM AOS POETAS PELO SEU DIA

O poeta: vejamos o caso dos poetas: eles são uns nefelibatas, uns sibaritas, uns doidivanas da melhor qualidade. Escritores e construtores de sonhos, demolidores de ilusões, fazedores de magia, apanágios, mezinhas e muitos outros adjetivos da mais alta recomendação. E mais, tem o seu próprio dia, além do dia da poesia.

Já ouviu dizer que tem dia da prosa, da redação, da dissertação, do romance ou da ficção? Pois é. Um brinde e desculpem a brincadeira. Foi o que me ocorreu para homenagear a quem encanta o mundo com a palavra. Parabéns amplos, gerais e irrestritos a todos os que alinhavam a palavra, transformando-a em alimento para a alma, diversão e versos de encanto.



Não, não foi o vendedor de cartões que inventou o dia
Tampouco o vendedor de flores, nem de chocolates
 Não foram os negociantes
Como fizeram com os outros,
o das mães, dos namorados, dos pais
Foi o poeta que inventou a poesia
E com ela reinventou os dias
Para mais ou menos alegria
Para deleite, sussurros, nostalgia.





PS: DESCULPEM A AUSÊNCIA PROLONGADA. SÃO OSSOS DE OUTROS OFÍCIOS. VOLTO JÁ, JÁ.  ABRAÇOS. PAZ E BEM.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R.* - Eu e o Livro

Thuca Kércia
Eu e o Livro
Por Thuca Kércia1


Meu pensamento oscila entre o real e a ficção e nessa dinâmica acabo por buscar fazer parte da história, a me localizar nas linhas que meus olhos percorrem, ou até mesmo nas entrelinhas, que na verdade só existem para que você tenha essa liberdade de pensar a história como você bem quiser. O autor pode até ser responsável pelo texto concreto, mas a entrelinhas só são possíveis graças ao esforço intelectual de quem está lendo.

Bem, mas eu estava tentando falar de como me sinto no ato da leitura. Eu até sei, mas não consigo explicar. Só sei que é bom. É como se uma força me prendessem não só aquelas diversas folhas impressas, é muito mais complexo, é como se eu fizesse parte agora do conjunto de ideias existentes nelas. E me deixar levar confiantemente, vivendo com a narrativa, sem interessar se isso vai acabar bem ou não, apenas compulsivamente interessada em saber o que acontecerá nas próximas páginas.

E a leitura me proporciona mais que isso. Onde mais eu posso ser o que eu quiser? Só nos livros me sinto livre e ao mesmo tempo obrigada a me inventar ao meu modo, às vezes esse também é o melhor método para se compreender de fato a trama. E o bom leitor é aquele que faz do “ e viveram felizes para sempre” o  ponto de partida para se imaginar esse “para sempre” e por que não dizer começar seu “era uma vez” a partir daí?



1 – Thuca Kércia (19), estudante e cronista e escreve regularmente no Recanto das Letras

L.E.R. – Lesão Por Esforço Repetitivo.

sábado, 15 de outubro de 2011

MÚSICA DA DOR DE COTOVELO

Esse negócio de buylling é bem antigo na humanidade, minha gente. Não que eu seja tão antigo assim, mas a minha infância já ficou para trás faz tempo. Ah, tinha uma diferença com agora: os pais não permitiam de jeito nenhum que saíssemos humilhando as pessoas por causa de um defeito físico, uma feiúra, uma gordurinha a mais.  Se vissem ou soubessem que fazíamos troça disso, a coisa ficava feia. Um castigo, no mínimo, era garantido, além de levar a gente à presença da pessoa e nos fazer pedir desculpas. Mesmo assim, colocávamos apelidos, mas era só na miúda. A pessoa nem ficava sabendo na maioria dos casos.

A dona  G, muito robusta e grandona era proprietária do bar e mercearia Gorda (aí o buylling). O seu marido ganhou o apelido de sr Gemeu (aí, de novo). Ele era bem franzino, um tico de gente perto dela. Que eu tenho notícia, nunca souberam da chacota. O seu bar era o paraíso de todas as crianças do bairro. Não somente por ser o único, como pelas balas, chicletes, paçoca, maria-mole, pipoca doce e pirulito, guloseimas que criança não passava sem. Não tinha uma moedinha que a gente ganhava que deixava de ser trocada lá, quando não eram bolinhas de gude ou figurinhas para álbuns.

Ela ia prosperando ali e resolveu ampliar o negócio. Como tinham um carro apenas e naquele tempo não tinha perigo algum deixar carros na rua, ela colocou umas mesas na garagem e à noite, os rapazes iam tomar suas cervejas e ouvir o som das músicas que vinham da vitrola lá de dentro de sua casa.

 Evaldo Braga foi um cantor romântico que fez uma carreira meteórica, quase com a mesma velocidade que deu fim à sua vida. Ele morreu em um acidente no auge do sucesso, com vinte e cinco anos. Hoje, lembrando de umas canções suas, dá até uma dor no peito de tão sofridas eram as letras, tanta desdita, tanto desengano amoroso. Isso ainda é comum, mas a interpretação que ele fazia com a voz grave fazia muita diferença para os românticos desamados.  Só para se ter uma ideia do dramalhão, ele dizia “na terra, aqui se faz, aqui se paga, hoje eu sei que estou pagando, hoje vivo a lhe amar. Meu Deus, eu pergunto a todo mundo por onde anda o meu amor, eu não sei...” (Sorria, Sorria). Ou então esta outra: “Sinto a cruz que carrego bastante pesada... quem de amor me chamava na hora da ceia, quem de mim tanto gostava, agora me odeia.”  Isso era uma espécie de arrependimento tardio por ter desprezado uma mulher que o amava e ele viu a situação virar de cabeça para baixo quando ela resolveu dar um basta.

Foi assim que tive o meu primeiro contato, digamos, impactante com as chamadas músicas de dor de cotovelo. E foi também a primeira vez que vi uma pessoa tomar sozinho umas 10 cervejas e se inundar de lágrimas por causa de um amor perdido ou desfeito, sei lá. O rapaz chegou à garagem-bar e foi tomando avidamente e pedindo a toda hora para repetir o disco. Isso chamava a atenção da meninada que brincava ali por perto ouvindo aquele chororô todo. A turminha achando que ele estava sofrendo algum ataque, que tinha morrido alguém da família, todo mundo condoído mas sem jeito de chegar perto para perguntar o porquê de um choro tão sofrido num marmanjo daqueles. Só fui saber quando a dona apareceu e falou para ele ir para casa, que “a vida é mesmo assim, alguém tem que perder pra outro entrar no jogo” (isso eram versos de uma outra canção de dor de cotovelo, A Vida é Mesmo Assim). Mas aí ela já estava falando do ponto de vista feminino, pois a música é de Cláudia Barroso.

IORRAN SEBASTIÃO BASTOS

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

TERAPIA II

MAIS RECORDAÇÕES

"É a perda da memória, e não o culto à memória, que nos fará prisioneiros do passado". 
Isabel Allende




Às vezes penso que quando determinadas pessoas tratam a gente por saudosista, dizendo que “quem gosta de passado é museu”, que “lembrar do passado é sofrer dobrado”, além de outras ofensas à memória, estão exercendo um esquecimento preventivo mas com medo de não irem adiante. Uma ingênua estratégia de sobrevivência. Se não há lembrança do que passou é porque o presente não apontou ainda o vir a ser. E não vai ser a negação do passado que irá garantir um futuro melhor. “Esquecer de nós mesmos é assinar um contrato com a resignação”, disse muito bem a Martha Medeiros*. E eu acrescento que projetar o incerto sem uma referência é sofrer por antecipação.

 Pois bem, creio que encontrei um motivo de tanto saudosismo de minha parte. Há a vida vivida com intensidade. Há situações vividas que se transformam em história. Só é agraciado com o saudosismo quem criou história cuja intensidade deixou marcas. Por isso as situações são lembradas. Como exemplares. Tanto para serem revividas com saudade ou para não serem esquecidas por aprendizado. Erros se vierem a acontecer novamente, que sejam novos, eis a confirmação do nosso lado demasiado humano. Se não ficamos sem cometê-los, que não venhamos a repeti-los. Por isso é bom lembrar. Revisitar o passado de vez em quando (e não ele nos visitar) nos fortalece. Há lembranças que foram tão marcantes na nossa vida que não há com fugir delas, desprezar, esquecer. Às vezes ficam num canto escuro da mente e a qualquer estímulo, elas pulam sozinhas para fora, sem que tenhamos dado autorização. Viram falas, causos, poesias, crônicas, romances, seja falando bem ou mal. Então me lembro de tanta coisa e vou classificando aquelas que marcaram para sempre, feito nódoa que não sai com tira manchas, feito cicatriz de queimadura, feito tatuagem. O “deixar pra lá” é que nos faz vítimas. De enganos, de dominação, de uma síndrome de mal amados, vítimas de nossa própria prisão a um presente que põe a gente para andar em círculos.



* citado na crônica Tempos de Amnésia Obrigatória.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

AS CRIANÇAS DE NOVO

imagem google

Criança era um problemão na idade média. Filhos de servos tinham que crescer logo para ajudar os pais na lida e formarem-se bons servos. Desde muito cedo já trabalhavam nas lavouras e serviços domésticos nos feudos. Assumiam os lugares dos pais que morriam muito cedo por falta de condições sanitárias e de exaustão no trabalho. Não brincavam, não havia infância.

Os filhos dos nobres eram um estorvo quando pequenos. Não serviam para nada além de dar despesas. Mas brincavam pois sempre tinham um servo, uma mucama, um escravo que lhe serviam para todos os fins, inclusive o de ocupar o tempo não perturbando a ordem nos castelos medievais tão acupados com a administração do feudo e com as festas proibitivas para pequenos. Isso até os seis, sete anos, no máximo. Daí para frente o seu mundo era o mesmo dos adultos. E as relações pais e filhos não eram cercadas de afetividades de pais e filhos.

Na classe intermediária, onde situavam os artesãos e mestres de ofícios, elas eram aprendizes de alguma profissão desde a mais pouquinha idade.

Veio a revolução industrial e demandou muita mão de obra. As crianças foram necessariamente incluídas, cumprindo jornadas de trabalho de adultos. Menos infância.

Passadas duas guerras mundiais, chegou-se a um consenso (na marra) de que precisavam deixar as crianças de fora disso tudo. Novas tecnologias também contribuíram para seu alívio, uma vez que máquinas começaram a substituir o trabalho humano. Então não foi nenhuma benesse a declaração de direitos da criança criada pela ONU em meados do século vinte. Foi um tremenda média que fizeram para os pequenos e também com os pais para que pudessem trabalhar muito, muito e muito pois já não aceitavam mais passivamente tanta exploração no trabalho. Tinham que receber contrapartidas dos estados nacionais e das grandes indústrias que se expandiam na Europa e EUA..

Mas foi benéfica de qualquer jeito. A minha geração, por exemplo, pode ter uma infância bastante livre, leve e solta (apesar de ainda ter que começar a trabalhar muito cedo, quando não se era de família abastada. Fora isso, a infância durava até por volta dos 14 anos.). Hoje, criou-se um amontoado de direitos e leis protetoras da infância mas vejo as crianças perdendo-a muito rapidamente para o medo, para a pressa, para o despreparo, para a violência para a corrida atrás de dinheiro por parte dos pais. Elas tem acesso a tudo e menos tempo para brincar de ser crianças. Estranho, não?



Para quem quiser saber mais sobre a história da infância indico:
 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * Elaine Gaspareto

imagem:blog da Elaine Gaspareto

EU LEIO SIM. E É ASSIM.


O que você mais gosta de fazer em seus momentos de relax? Passear? Cozinhar? Internetar? Tuitar? Blogar? Eu gosto de ler.
Já contei algumas vezes que gosto tanto de ler que quando era menina lia até bula de remédio (tá, ainda leio); lia jornal que vinha embrulhando a carne do açougue, lia revistas velhas, lia tudo o que me caía nas mãos. Quando inauguraram a primeira biblioteca na escola em que eu estudava (E.E.P.G.Professora Elza Miguel Francisco) em menos de 6 meses eu li o acervo todo. A bibliotecária me expulsou.
Um dia descobri um sebo na cidade. Na verdade nem era um sebo; era o que restara da única livraria da cidade, o dono endoidou e a loja virou um lugar sombrio. Conheci Júlia, Sabrina e Bianca nessa loja. Um dia ele, o dono, morreu. E não havia livraria na cidade. Aí conheci a Biblioteca Municipal.
Os anos passaram, e alguém inventou a internet; todas as livrarias do mundo ao alcance de um clique, com promoções que fazem a gente enlouquecer. Pra te dar uma ideia: contei há alguns dias 124 livros na fila para serem lidos. Sim, 124. Alguém me detenha… parem as promoções!!!
E pra ler acho que todo mundo tem um ritual, não é? Eu não dou conta de ler sentada, calminha e comportada. Leio deitada, cabeça alta em um monte de travesseiros, bem confortável. Curiosamente, mesmo quando saía de casa pra trabalhar fora, não levava livro pra ler em ônibus. Cidade pequena, 15 minutos e estamos no destino.
Mas ler deitadinha, mergulhar em um livro bom… ah… não há nada melhor. Ter blog, por um tempo, me fez diminuir a leitura de livros. Mas daí eu percebi que, embora haja muita coisa interessante na internet, eu gosto e preciso mesmo é de sentir o livro nas mãos, sentir o cheirinho dele, tocar suas páginas… coisa de quem ama, né?
E é assim que eu leio: com amor, com profundo respeito pela palavra. Agora vou ali tentar diminuir minha fila de leitura…eita delícia!!!



* L.E.R. – Lesão Por Esforço Repetitivo
Texto gentilmente cedido pela Elaine Gaspareto, a quem agradeço

sábado, 8 de outubro de 2011

PARABÉNS PRA VOCÊS


Começa a nascer a partir de agora a geração de vida ainda mais longa. Segundo um cientista britânico, os novos bebês tem possibilidade já garantida de comemorarem daqui a 150 anos o seu aniversário em pleno gozo de saúde física e mental. E daqui a uns poucos anos, começarão a nascer os humanos quase milenares. É isso mesmo, novos Noés e Matusaléns.

A ajuda das células tronco, a neurociência com a ajuda da mecânica e a eletrônica vão permitir que os novos humanos sejam verdadeiros robôs em termos de duração física. Imagino que não iremos mais ao médico, por exemplo, para consultas e sim para manutenção. Os hospitais-oficinas farão as revisões não mais por sintomas ou por envelhecimento natural, mas por horas de vida. Provavelmente teremos um manual de revisões. Só não queiram que nasçam pessoas com garantia genética. E ainda não temos quem nos defenda de uns males cuja medicina e a ciência não conseguem a achar cura. A bala perdida, por exemplo, ainda não está no manual. Só se pegar de raspão, caso em que poderá ser feita uma lanternagem no local. A falta de tolerância também não foi curada. A psicologia está perdendo terreno para a pragmática. Tem funcionado mais para a cura de traumas do que na prevenção e no tratamento de depressões e melancolias.

Tem um lado positivo nisso: a gente não envelhecendo, fica livre do risco de se tornar um estorvo, um cancro social. E quanto mais dinheiro tivermos, mais pessoas vão querer ficar conosco vivos para a sua sustentação ou deleite. Isso se não nos eliminarem para se apossarem do patrimônio. Quem vai nos defender disso aos cem, duzentos, quatrocentos anos? E será que está entre os motivos do cientista chamar seu feito de cura da velhice?

Portanto, tratemos muito bem das mãos e das vozes para não ficarmos com calos de tanto cantar parabéns pra você.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A COMIDA


Comer certas coisas que nos são oferecidas no cardápio do mundo é fazer uma concessão ao profano. E eu considero o alimento algo sagrado. Uma comunhão do corpo com e o espírito na mais elevada atitude humana de apreço com a própria vida. Mas não sou santo nem candidato. Também não sou um glutão herege desprovido de qualquer senso de equilíbrio alimentar. Por isso, Hipócrates , que nada tinha de hipócrita, disse que “teu alimento seja o teu remédio e teu remédio seja o teu alimento” e eu achei certo.  Não há regras severas para os que equilibram a ingestão de comida. (não de calorias, mas de qualidade).

A ciência descobriu as papilas gustativas e a publicidade com o auxílio da psicologia, descobriu os nossos pontos mais fracos, os locais onde se dá a sensação do doce, de azedo, de salgado e amargo quando colocamos primeiramente um alimento que ainda não conhecemos na boca. Daí para venderem-nos produtos deliciosos e maléficos foi um pulo, ou melhor, um comercialzinho só. E quanto mais atraente um alimento industrializado, mais mal ele nos faz a longo prazo.

Como eu não estou apto para dar lição nenhuma a ninguém (o que também não adiantaria muito, pois só quando estamos à beira da morte ou com um diagnóstico aterrador é que tomamos emenda na maioria das vezes), deixem-me aqui com meu sorvete e meu chocolate, para mim as duas maiores descobertas da humanidade depois da roda e do fogo. A primeira nos leva onde estiver fora do alcance das pernas para buscar alimentos e o segundo processou (assados e cozidos) os alimentos mais duros, senão a gente ainda estaria chupando cana e o pão nosso de cada dia seria cru.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O GORILA

imagem jornal estado de minas
Idi Amin, o gorila do zôo de BH recebeu duas candidatas a companheiras para os restos de seus dias. A princípio pensei que estaria fazendo charme. Ou cansado já, aos trinta e oito anos de solidão. Ou seria resquício ancestral de colonialismo a sua resistência para com elas? É, porque as duas fêmeas são inglesas, ele africano e pode ser que estivesse com alguma mágoa ainda daqueles tempos em que a Inglaterra mandou e desmandou numa parte daquele continente. Mas dizem que ele cruzou com uma delas. E duas vezes.

Esses dias tem ficado lotado de gente lá espiando como será o andamento do seu pequeno harém É da natureza desses primatas a poligamia. Pode ser que dê briga entre as duas, afinal na selva, há muitos machos disponíveis e aqui só tem ele. E também lá, se der alguma crise de ciúmes os machos tem área de fuga o bastante, o que não é o caso de uma jaula. De qualquer forma, se ele ainda tiver forças (da última vez que o vi, achei-o meio caidaço) vai, finalmente, depois de 27 anos de jejum, poder separar-se de seu velho pneu.  Acho que virou um fetiche a sua única companhia. O pneu pode acompanhá-lo pela jaula rodando e é possível que ele usasse isso como forma de disfarçá-lo em um outro ser. Só não creio que ele tivesse tentado alguma vez um contato sexual mais ousado com o pneu. Mas que já o vi beijando, isso já! Se tivermos um Freud dos bichos, acho que pode explicar melhor esta sublimação.

Quer conhecer a história dele? aqui:

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R.* - Bonequinha de Luxo

imagem google

UMA VÍRGULA JÁ PODE COMPLICAR IMAGINE A FALTA DE DUAS...

Li num jornal de papel que o filme Bonequinha de Luxo, baseado em livro de mesmo nome do autor Truman Capote está completando 50 anos.  O filme foi estrelado pela bela Aldrey Hepburn. O autor do livro inicialmente queria Marilyn Monroe mas o diretor do filme acabou optando por Aldrey. Uns dizem que esse filme inaugurou a figura da garota de programa, outros que ele é o precursor da mulher moderna, tal como a conhecemos hoje, livre, leve e solta. Muitas delas, efetivamente, outras tantas em sonho e luta.

O termo garota de programa não passa de um eufemismo para prostituta de luxo e particularmente acho um desmerecimento muito grande associar isso à mulher moderna, à luta tão grande empreendida por mulheres daquela época contra todas as opressões que culminaram com um mundo que ainda caminha para ser menos cruel com elas.

O livro do qual quero falar não é o que dá nome ao filme mas o que foi lançado agora em comemoração ao cinquentanário do primeiro. É o Quinta Avenida, 5 da Manhã, de Sam Wasson, sobre os bastidores do filme, de uma moda nova e de uma mulher libertária nos Estados Unidos na década de 1960. Vale a pena pelo panorama histórico ou para quem gosta de acompanhar a evolução dos modismos, que nos permite um bom apanhado das transformações sociais ao longo do tempo, tendo como parâmetro a atualidade.

Agora, cruel mesmo foi o produtor da matéria do jornal em questão que fez uma chamada destacada na página ao lado da foto da atriz caracterizando-a, sem as vírgulas nos lugares que deveria: “era única excepcional extremamente charmosa, elegante, talentosa.” Sei que foi um erro de ortografia, mas se a gente não ler a reportagem inteira pode parecer que é uma discriminação e um preconceito terríveis.

Fonte, jornal hoje em dia 11/09/11
* L.E.R. - Lesão Por Esforço Repetitivo

sábado, 1 de outubro de 2011

DUPLA NOVA NO PEDAÇO

É sabido no meio dos bebedores compulsivos que as mais inesquecíveis amizades são feitas num boteco. Inesquecíveis, pois costumam ser as melhores e também as piores. Principalmente porque elas não costumam extrapolar os limites geográficos do estabelecimento, a não ser que seja para um encontro em outro bar com cerveja mais gelada, tira-gosto mais gostoso, música mais agradável, etc, etc, etc. Quanto ao “melhor e pior”, fique bem claro que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Foi num desses ambientes, outrora muito mais freqüentados pelo Arcanjo para seus inolvidáveis porres que conheceu e ficou amigo do Iorran Sebastião Bastos*, um músico da noite. Não, ele não é cego, nem compôs nenhuma música clássica. Qualquer semelhança do nome com o genial  Joahann Sebastiian Bach deve ser atribuída ao apego desmesurado de sua mãe com os clássicos da música. O pai queria Lamartine, em homenagem a um  grande compositor brasileiro, mas se deu por satisfeito. Ambos eram devotos da boa música. Começou sua trajetória musical mais ou menos como os Engenheiros do Hawaii. Tinha uma banda com a turma da escola de engenharia, só que ao final do curso, todos os demais foram atacar de engenheiros como mandava o diploma e ele destoou da régua e do compasso. A harmonia dos números era muito fria para seu sensível apego a um acorde dissonante. Iorran toca muito bem vários instrumentos e, além disso, passeia por muitos estilos, exceto os da moda atual. Segundo sua teoria musical, a música sertaneja eletrônica e as baladas de axé, funk e demais batidões são uníssonas. Tocou uma vez tem-se a sensação de ter tocado todas. Mudam-se vez em quando as dancinhas que inventam para acompanhar.

A amizade com o Arcanjo nasceu a partir de uns aplausos quase solitários deste para ele, depois de tirar no sax a canção As Rosas Não Falam, desprezada pela platéia alvoroçada dos fins de noite. Quase ninguém no bar prestava atenção. Os poucos que o faziam era com pedidos para ele mudar para música sertaneja que chamavam de universitária, seja lá o que possam achar o que isso signifique. A própria atmosfera cultural da universidade já não é mais a mesma de uns anos atrás, então o que diremos de música universitária?

Um papo filosófico musical recheado de nostalgia e uma cantoria alegre varou a noite e só foi terminar a pedido do dono do bar para eles gentilmente  pagarem a conta e irem embora (“pelamordedeus”, foi a expressão exata). Precisava fechar as portas.

*Iorran Sebastião Bastos é o meu mais novo personagem. 
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