sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ENTREVISTA COM PAPAI NOEL


Encerro aqui a minha participação para um descanso. Este ano para mim não foi brincadeira, não, minha gente! Mas eu volto: descansado, revigorado (se puder, bronzeado) e preparado para encarar aquele que será (?) o último ano dos restos de nossas vias, pois ele só acontece uma vez (pensaram que era algo da catastrófica previsão maia?)
Agradeço a todo mundo o convívio delicioso, solidário, caloroso e fraterno que estabelecemos durante todo o ano aqui e quero dizer que aprendi muito, ri muito, me emocionei muito e cresci um pouquinho mais através da literatura e das relações interativas estabelecidas através da internet. Com alguns tive a alegria de transformar em relação real e isso eu gostaria que fosse aumentando mais e mais nos próximos anos. Obrigado a todos, especialmente nos momentos mais difíceis pelos quais passei nas minhas perdas tão significativas. OBRIGADO.
Eu, o Arcanjo Isabelito Salustiano, a Gleicineide Aparecida e o Iorran Sebastião Bastos desejamos a todos um FELIZ NATAL e que em 2012, a vida esteja sempre com uma porta aberta, um sorriso nos dias, uma brisa suave nas noites e que a saúde esteja em pleno vigor.

DEIXO AQUI, A PEDIDO DO PRÓPRIO ARCANJO  A REPUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA QUE ELE CONSEGUIU COM O PAPAI NOEL TEMPOS ATRÁS.
UM ABRAÇO, PAZ E BEM.

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ARCANJO ENTREVISTA PAPAI NOEL 

Arcanjo Isabelito Salustiano, o filósofo das ruas, estava passeando pelos shoppings e feiras da cidade em busca de assunto, já que desde o início do ano ele já sabe para quem pode e quanto pode gastar com presentes. Encontrou vários papais Noéis, tirou fotos, conversou muito e observou tudo, até o momento em que passou um cara e roubou um saco que estava ao seu lado. Provavelmente pensou que estivesse cheio de presentes ou dinheiro. Tudo caixa vazia. Enquanto as crianças e populares corriam atrás do sujeito, ele conseguiu essa rápida entrevista com o Papai Noel.

ARCANJO: Papai Noel, explique para nós a sua origem geográfica. Não precisa falar de sua onipresença, isso todo mundo sabe. Onde fica essa tal de Lapônia?



PAPAI NOEL: A Lapônia não é um paraíso fiscal como muitos podem pensar. O saco cheio que carrego é proveniente de muitas doações de gente honesta do mundo inteiro. E a Lapônia fica num lugar onde as renas nascem. Nem avião chega lá. Só as renas. E só as minhas. Rena é um bicho criado exclusivamente para Papais Noéis.



ARCANJO: A tradição cristã fala também que você é a representação do São Nicolau?



PAPAI NOEL: Era, meu filho, era! Pelo menos aqui no Brasil! Apareceu aí um certo Nicolau, de quem falam ser ele um juíz e derrubou  a minha reputação de bondade , caridade e solidariedade. Já pensou eu ser tratado pelas criancinhas de Lalau? Vamos ficar só com o epíteto do “bom velhinho”, que já tá bom.



ARCANJO: E sendo assim, meio gordo, por que entrar pela chaminé?



PAPAI NOEL: Isso vai se modificando com o tempo, meu filho. Em primeiro lugar, são raríssimas as casas hoje em dia em que há chaminés. Aliás, o número de casas vem só diminuindo. Nos prédios onde não tem elevador, eu ainda tenho é que subir escadas em vez de descer pela chaminé. Eu tenho que tocar nos interfones e há lugares onde é difícil liberarem minha entrada. Tem tanto clone de papai Noel mal intencionado por aí... Quanto à chaminé, era uma forma de me aquecer, já que de onde venho é muito frio. Agora, além do sumiço das casas, e com esse aquecimento global, já estou querendo é mudar o uniforme, algo mais leve.



ARCANJO: Por que você não se adapta em cada região aos seus costumes? Por exemplo: esse negócio de neve no Brasil nesta época do ano, não cola com a sua imagem nem com o clima. Não acha muito americanizada a sua atitude? Você não estaria puxando a brasa para a sardinha dos americanos? Quer dizer, trazendo essa idéia de neve para cá em pleno verão? Eles já dominam tantas coisas no mundo... Será que o Natal não pode ser cada um com seu costumes e deixar o ecumenismo somente para celebrar o nascimento de Cristo? Não bastou esse tal de panetone que você espalhou por aqui? Deu até confusão numa certa cidade lá no planalto central do Brasil. Tinha um cara disfarçado de papai Noel sem o devido traje roubando dinheiro e dizendo que era para distribuir panetones aos pobres...



PAPAI NOEL: Bom, em assuntos internos de cada país eu não me meto, sabe como é, a minha imagem universal... Imagine se eu chego no Brasil, por exemplo e me visto de bermuda, chinelão, boné e camiseta regata? Aonde iria parar a minha credibilidade com as crianças? Fora o fato de que eu iria ter que ficar me explicando para a polícia. No mínimo iam me confundir com vagabundo. Ou então, num traje desses com um saco nas costas, eu ia era ganhar esmolas.



ARCANJO: Obrigado seu Noel. Quer deixar uma mensagem final para seus fãs no mundo inteiro?



PAPAI NOEL: Se quero! Tenho notado que em todo lugar as pessoas por mais que dêem e ganhem presentes, estão sentindo falta de mais presença do outro em suas vidas. Disfarçam as suas faltas e carências com artigos de consumo imediato mas não conseguem preencher seus espíritos com uma substância que não está à venda em nenhum lugar. Eu gostaria mais de ser outros símbolos. Queria simbolizar mais a tolerância em vez da indiferença. Mais a humanização em vez da coisificação. Mais a essência em vez da aparência. Queria que fôssemos mais sujeitos das coisas e valores e não meros objetos de dominação por falta de envolvimento real nos destinos de cada lugar, de cada país.    

Eu desejo natais onde, em vez de meu sem graça HÔ,HÔ,HÔ, eu poderei escancarar um satisfeito HAHAHA!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * - Gleicineide e os Livros

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Ela limpava minhas estantes e encontrou um marcador de livros que eu mandei fazer com a capa de meu livro ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO E OUTRAS CRÔNICAS e nele consta a frase que dá título a esta série sobre leitura.

- Seu moço, L.E.R. eu já sei do que se trata, aquele negócio que dá dor em algum lugar no corpo da gente quando fica repetindo uma tarefa todo dia, toda hora. E sabe que me dá mesmo é uma vontade de ler um livro de vez em quando? Aí, chega o final de semana, minha folga, eu fico querendo tomar umazinha pra relaxar e acabo deixando pra depois.
- Faça como você faz com a cerveja. Nunca adie a sua vontade de ler. O prazer pode ser uma embriaguez que não lhe dará ressaca nunca. Já pensou nisso?
- Nó, seu moço, precisava tanto não!
- Você nunca leu um livro?
Já sim, eu me lembro de dois que a professora mandou ler lá na época do fundamental.
- Quais?
- Um foi Esaú e Jacó, o senhor conhece? Achei uma história muito boa. O outro eu gostei também, Mar Morto, de um escritor que se chama Jorge, eu acho.
- Jorge Amado!
- Esse mesmo!
- Nossa, você gostou de dois dos maiores autores da literatura, e logo nos primeiros livros de sua vida! Isso é sinal de que você só não lê é de preguiça.
- Não tô entendendo nada.
- Machado de Assis é considerado um clássico, dificilmente quando a gente o lê na adolescência tem bagagem para acompanhar suas divagações literárias tão subjetivas, profundas, psicológicas, sociológicas e sua narrativa é uma verdadeira conversa íntima com a gente quando está lendo. Jorge Amado é mais um dos grandes mestres também.
- Eu vou ler mais, sim. A gente precisa melhorar o palavreado, né, seu moço?
- É a melhor maneira de aumentarmos o nosso vocabulário, nossos argumentos, nosso pensamento passa a se organizar melhor. Sem contar o prazer que os livros nos trazem lá dentro, no íntimo de cada um.

Acabei convencendo-a, pois ela me pediu para levar A Moreninha pra casa e na semana seguinte chegou me dizendo que leu apenas dez paginas do livro mas que está adorando muito a história.
- Tem muitas palavras difíceis, né?
- O bom de ler é isso, Gleicineide, vamos aprendendo mais e mais palavras. Também o romance foi escrito no século XIX e há palavras lá que já nem se usam mais.
- Seu moço, agora eu vou lhe dizer o que eu descobri: eu parei o livro por causa da prova de legislação de trânsito que estou pra fazer. Estudei, estudei e não consegui decorar nada direito daquele monte de placas e regras de circulação. Já o livro, até as páginas que li, sei a história toda. A minha conclusão é que as coisas que a gente faz por obrigação não tem o mesmo efeito do que quando a gente faz por gosto.
- Chegou aonde eu queria, chegar, Gleicineide: é o poder de sedução que a literatura exerce. É o poder de sedução!

PS: duas semanas depois ela me disse que já passou na prova de legislação, já retomou a leitura do livro e conta com cara de insuspeita alegria cada passagem do livro que disse estar adorando, começa a ler e, se não fossem tantos afazeres não pararia enquanto não terminasse. Tomara que ao devolver peça para levar outros. Que eu vou oferecer, isso eu vou!






Gleicineide é uma personagem que criei.
*L.E.R – Lesão Por Esforço Repetitivo



sábado, 10 de dezembro de 2011

DESAVENÇAS

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Os barulhos tecnológicos parecem gozar de mais prestígio aos ouvidos urbanos do que os antigos sons da natureza. Há quem prefira acordar com um celular apitando freneticamente do que com um galo cantando.

Seu Alberto e Antônio são vizinhos num bairro antigo daqui da cidade. Antônio veio do interior mas o interior não saiu dele. Ponto positivo no meu entendimento, pois o cultivo de alguns hábitos interioranos tempera a louca correria da cidade sem tempo para as pessoas prestarem atenção nas outras. Amistosidades estão se tornando uma coisa cada vez mais rara. Animosidades, por outro lado, são tão comuns que tem gente que até desconfia quando uma aproximação se mostra muito amável, a ponto de virar futura amizade. Pois era assim com os dois. Seu Alberto, nascido e criado em cidade grande, já morou no Rio, São Paulo, Porto Alegre e Salvador. Depois de rodar muitos anos, voltou e disse que logo que se aposentar (em breve) fica quieto por aqui mesmo, já que é de BH e a família nunca o acompanhou pelos trechos por onde circulou a trabalho.

Antônio cultiva uma bela horta em seu pequeno quintal e não foi uma ou duas vezes que distribuiu verduras para a vizinhança. A família de Seu Alberto sempre recebeu muitas couves, alfaces e cheiros verdes fresquinhos do vizinho do lado. Bom sujeito, dizem outros vizinhos. Ele mais o seu Alberto tomavam uma cervejinha toda sexta feira num boteco perto de casa e contavam longas histórias de vida e família. Agora estão numa querela na justiça. E sabe o porquê? Por causa de um galo.

Antônio resolveu incrementar seu acanhado sítio urbano de pouco mais de um are, fez um pequeno galinheiro e cria umas galinhas caipiras para consumo próprio e ovos. Galinha poedeira que se preze não vive sem um galo na sua freguesia e o Antônio caprichou na escolha. Um cantador de primeira, pois segundo os galistas mais entendidos, quanto mais potente o canto, mais eficiente o galo na cobertura do galinheiro inteiro, seja quantas galinhas possuir. Seu Alberto queria que ele matasse o bicho. Matar o galo é extermínio criminoso de animais, defende-se o Antônio.

Nerso da Carpitinga, personagem caipira do humor televisivo tinha o seu Frederico, criado dentro de casa tamanha a estima do dono. E quem não se lembra da Giserda do Chico Bento, companheira de cocoricós e andanças com ele pelo sítio criado pelo Maurício de Souza? Chico fazia até declaração amor pela Giserda.

Seu Alberto e o Antônio viraram inimigos. Seu Alberto, apesar de acordar cedo para o trabalho não aguenta a cantoria do galo, normalmente anunciada uma hora mais cedo do que a sua necessidade. O juiz propôs um acordo amigável solicitando ao Antônio fazer uma cobertura com isolamento térmico, pelo menos para colocar o galo até o dia amanhecer por completo. Ele negou-se alegando cárcere privado e maus tratos aos animais. Seu Alberto mantém-se irredutível: o galo tem que ser silenciado de um jeito ou de outro...

Depois desses argumentos o juiz nem cogitou a segunda hipótese – o plano B - que era a de cozinhar o galo e fazerem um almoço de confraternização das duas famílias. Encerrou a tentativa de conciliação e marcou a sentença para daí a alguns dias (se o galo não sofrer um atentado até lá).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

EM DEFESA DOS BLOGS

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Essa aqui fica sendo para a Clara, minha filha. O período hiper, ultra, mega high tech em que nasceu e a idade em que está influenciam nela muito mais modos do que a educação meio termo que eu e a mãe tentamos lhe dar. Nem conservadora nem ao Deus dará conforme seria do gosto dos adolescentes. Desde os seus 6, 7 anos que ela me ensina um pouco a lidar com esta parafernália eletrônica que parece não ter fim em nosso dia a dia, como se fosse necessidade vital.

Uma pausa: sabia que as tecnologias lançadas todos os dias já estavam previamente desenvolvidas e vão sendo atiradas aos nossos olhos via publicidade a conta gotas? Por exemplo, ipad. Ipod, bluetooth, tablet, andróide, samartphone, lcd, led, etc, são recursos de uma mesma linha de pesquisas tecnológicas. Se lançarem tudo de uma só vez, aonde ficaria a graça da novidade e a divina graça do faturamento dos homens de negócios bilionários? E onde ficaríamos nós, seguidores dos modismos?

Voltemos à Clara, minha amada filha. Agora aos 14 anos, há tempos ela me introduziu nas redes sociais, dizendo que eu era jurássico mexendo com e-mail e blog. Fez para mim um orkut de amigos, outro de time de futebol, outro de escritor. Ficou tudo lá, do jeitinho que ela fez depois da primeira semana que freqüentei. Uma canseira ficar sabendo de umas coisas que nem coisas são, de tão sem significado. Passados mais alguns anos (ou dias?) ela me cobrou participação no twitter e disse que já havia abandonado há muito o seu blog, pois era coisa ultrapassada. Depois de mais alguns anos (ou dias?) eu lhe questiono sobre seu grau de satisfação com os milhões de amigos da rede social e dos seus progressos humanos. Ela me disse entre desanimada e constrangida que esta cansada de mesmice e tinha feito um novo blog. Ela gosta muito de escrever e ler e quanto mais você gosta de escrever mais chato tende a se tornar nas redes sociais, lugares para poucas palavras literárias e muita exibição pessoal (sem tirar o mérito da mobilização rápida para determinadas causas humanitárias, políticas, e outras de divulgação que elas possuem).

Agora, falando para mim e para ela: para quem aprecia escrever e ler, os blogs continuam sendo em minha opinião os mais longevos meios e creio que serão os que vão prevalecer depois que passarem todas as de novidades efêmeras. Há neles mais atrativos visuais além dos textos maravilhosos que podemos ler e escrever. Fui olhando o contador de visitas, os seguidores (os que lêem de verdade os blogs), as ilustrações para os textos, os visitantes divididos por países (isso me deu uma pontada de curiosidade acima da média. A Elaine Gaspareto instalou para mim um mapa visualizador de visitas por cidade, estado e país. Eu fico roendo para saber, por exemplo, se as visitas que vem de um determinado país são de brasileiros que lêem o blog, se são de estrangeiros que gostam de literatura. Acho muito bacana). E a Clara, tenho notado que está mais ligada com seu blog , construindo mais referências e mais identidade pessoal desta forma do que mandando recadinhos o dia inteiro sem ecos plausíveis no face e twitter . E tenho notado também que ela tem disponibilizado mais tempo com leitura. Viva o Blog!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

LABIRINTO DO AMOR


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Gilse amava Zezinho, que amava Elaine. Doidinhas as duas. A primeira de amor; já a segunda de tanto levar socos do pai que odiava Zezinho, que namorava as duas. Escondia a Gilse da Elaine e escondia a Elaine do pai. A primeira via todo dia; já a segunda só na furtiva ou pelas cartas escorrendo amor pela tinta. E quem escrevia era o Paulo*, o poeta que inventava o amor de papel para o amigo. Gilse deixou o amor de lado e casou com outro rapaz. Elaine perdeu a guerra com o pai e largou o amor de Zezinho, que perdeu o jeito de amar, casou-se com outra moça e foi para Carajás. 


* O poeta (Paulo Adão) citado é meu irmão que perdi faz hoje 6 meses e a quem homenageio com carinho e saudade.
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