sábado, 30 de abril de 2011

POEMA CANINO

 A NOTÍCIA


Plano de saúde "bom pra cachorro"

 


Coração de mãe sempre cabe mais um, nem que seja um animalzinho.

Miriam sabe bem o que é isso. Ela que já cuidou dos três filhos agora também divide o seu carinho com a cocker Mel, além de Rick, da raça golden.



Quando o caçula chegou em casa, a "filha" mais velha já havia sofrido um acidente grave que resultou em um edema e teve que ir às pressas ao hospital veterinário. Chegando lá, ela teve problemas com os pontos arrebentados e recebeu todos os cuidados necessários, para o alívio de Miriam. Se a dona de casa arcasse com todas as despesas médicas teria que desembolsar cerca de quatro mil reais. "Mas não tive custo algum, pois tinha um plano de saúde que cobriu tudo. Foi a minha salvação", conta.

O pequeno Rick também tinha o seu próprio plano. Logo de cara, o filhote precisou receber três doses de vacina anti-rábica, equivalente a 210 reais... LEIA O RESTO AQUI: 


O POEMA

Disse a senhora:

- Credo em cruz

arranjei um plano de saúde

livrei meu cão do SUS



- Se adota é como filho

não importa se é gente

Cachorro é da família

e negar dá quizilia.



Se quiser ser diferente

como era antigamente

lhe acusam de maus tratos



Pague tudo, médico, dentista

banho, tosa, até oculista

Tem  ainda adestramento

 só falta ensinar a falar



Ainda vão inventar

um fonoaudiólogo para latidos

E se não derem ouvidos

terá também um PROCÃO

pois procon é para cidadão,

é para gente enganada

Mas, cachorro, qual nada!

o dono arruma confusão



Imagina a classe de um cão

com plano de saúde

coleirinha de brilhante e roupa de festa

sendo ludibriado, o dono detesta

o cão late, morte, protesta.



E o povo segue amiúde

fazendo valer a raça 

E a canina fidelidade

não é mais coisa do animal

É do povo insano

transformando em humano.

Cão e gato,  que barbaridade!



E se tem alguém que titubeia

pergunte àquele ex-ministro

- Cachorro é como gente

Dizia ele sinistro

- Tem sangue humano na veia



Agora só falta mais uma

a última ação em prol

dessa reviravolta, esse arrebol:

É deixar uma herança

em testamento, uma poupança

pra quando partir o dono

o bicho não viver em abandono

que nem vive nas ruas

tanto  idoso, tanta criança.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

SOGRAS E NORAS

HOJE É COMEMORADO(?) O DIA DA SOGRA
imagem casarzen.com.br

A NOTÍCIA

"Feliz foi Adão, que não teve sogra." "Sogra não é parente, é castigo." "Só não mato minha sogra por pena do diabo." "Sogra é igual a cerveja: só gelada e em cima da mesa." Se depender dos ditados populares, a imagem das sogras é péssima - especialmente do ponto de vista dos genros. Mas a vítima preferencial das piadas familiares pode ter outro algoz, de acordo com a psicóloga Terri Apter, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. No recém-lançado livro "What do You Want From Me? Learning to Get Along with the In-laws" (O que você quer de mim? Aprendendo a se dar bem com a família estendida, em tradução livre), a pesquisadora se propõe a estudar as relações na família estendida, que inclui sogros e cunhados. E revela que a pedra no sapato da relação dos casais é a difícil convivência entre “noras e sogras”.



A tradutora Leilah Matos, 31 anos, viveu o problema na pele. "Eu tenho praticamente quatro sogras: a mãe do meu marido, duas tias e a avó materna dele", enumera. "E elas são pessoas de gênio forte." Leilah conta que, quando se casou, há oito anos, os atritos eram praticamente diários. "Elas interferiam e davam palpite em como arrumar minha casa." Depois de uma discussão, ela e a sogra ficaram quase um ano sem conversar.



A harmonia dessa relação depende de um jogo equilibrado entre ser flexível e impor limites. Esse foi o erro da estudante Élide Nunes de Souza Molotievschi, 23 anos. Há um ano, ela virou vizinha da sogra. "E tive a triste idéia de deixar a chave de casa com ela", conta Élide. Começou um inferno na vida da recém-casada, com a sogra xeretando na geladeira, nos armários e ligando para a família para fofocar. "Ela falava para meio mundo que minha casa era um chiqueiro, que o filho dela passava fome, que eu não lavava a roupa", lembra.



Para evitar que os atritos virem brigas mais sérias, os especialistas acreditam que o melhor a se fazer é convocar o marido para que ele imponha limites. "O papel do homem é crucial", diz a inglesa Terri. "Ele pode eliminar muitas dificuldades se assegurar para sua mãe que ela continua sendo parte importante da vida dele, que a ama e respeita, apesar de estar casado."



Há um ditado que diz que a casa da sogra não deve ser muito perto, para que ela não possa vir a pé nem muito longe, para que ela não precise fazer as malas. Pesquisas atestam esse dito. Uma dica para as futuras noras.
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Fonte: terra.com.br, 05/08/09

Outra Fonte:  yahoo.minhavida.com.br/, 13/08/09

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www.somaticaeducar.com.br


A CRÔNICA

Taí um assunto que extrapola toda e qualquer análise séria, qualquer desejo de apaziguamento. Entrou para o anedotário diante das impossibilidades conciliatórias historicamente registradas e clinicamente comprovadas.

Se for considerar o meu caso é ainda pior. Sou genro (1ª vantagem de gênero), estou na 3ª sogra (2ª vantagem de experiência acumulada) e a minha mãe (que seria uma ótima sogra, garanto, não está mais aqui), mas não considero vantagem. E só conheceu a primeira nora, mesmo assim antes de eu me casar. Portanto, estou mais que habilitado a fazer piada em vez de crônica.

O filhinho da mamãe (família muito religiosa) reclama à mãe a respeito da noiva, muito cética:
- Mamãe, ela disse que não acredita em inferno.
- Então, case-se com ela, meu filho que eu a farei acreditar.

Conversa entre duas amigas que há muito tempo não se viam:
- Como vão seus filhos, a Rosa e o Francisco?
-Ah, a Rosa casou-se muito bem. Você não imagina que o meu genro lhe leva café na cama todos os dias, é ele quem levanta as madrugadas para olhar o meu neto quando chora, divide todas as tarefas domésticas e só depois vai para o trabalho.
- E o Francisco?
- Casou-se também, mas muito mal. Imagine que ele tem que levar café na cama para a esposa, tem que levantar à noite para olhar o meu outro neto se ele chora, e ainda tem que ajudar a fazer a faxina e só depois disso sai para trabalhar e sustentar aquela preguiçosa da minha nora!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - V. S. Naipaul

imagem google
“Na verdade, eu não sei como me tornei escritor. Posso citar algumas datas e alguns fatos de minha carreira. Mas o processo em si continua misterioso. É misterioso, por exemplo, o fato de a ambição ter vindo primeiro – o desejo de ser um escritor, ter essa distinção, essa fama – e que essa ambição tinha vindo muito antes de eu pensar em alguma coisa sobre a qual escrever.
Todo escritor sério tem que ser original; não pode se contentar em fazer ou oferecer uma versão do que já foi feito antes. E todo escritor sério, em conseqüência disso, torna-se consciente dessa questão da forma; porque sabe que, por mais que tenha sido educado e estimulado pelos escritores que leu ou lê, as formas combinavam com a experiência desses escritores, e não servem estritamente à sua...
O conhecimento ou experiência que um escritor busca transmitir é social ou sentimental; leva tempo, pode levar grande parte de uma vida humana processar essa experiência para compreender o que viveu; e requer muito cuidado e tato, assim, pois a natureza da experiência não se deve perder, não se deve diluir pelas formas erradas. As formas dos outros serviram aos pensamentos dos outros. Eu sempre me preocupei com esse problema da forma, do vocabulário, porque muito cedo compreendi que entre a literatura que eu conhecia e lia, a literatura que fertilizou a minha ambição, entre essa e minhas origens havia uma divisão, uma dissonância. E tornou-se logo claro para mim que não se trata simplesmente de imitar as formas.”
(V.S. Naipaul, Escritor britânico, Nobel de Literatura em 2001, no Jornal do Brasil, 1987)
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In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

domingo, 24 de abril de 2011

MATURIDADE

Com o passar dos anos vou vivendo em busca de um meio termo entre assumir um conservadorismo que não me atrofie e procurando negar uma adesão sem críticas às modernidades sem substância que querem me arrebatar de arrastão.

sábado, 23 de abril de 2011

É ASSIM MESMO?

DINHEIRO:
Ou você vive a serviço do que tem ou vive a serviço de quem tem.


"Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem."
(Desejo, de Victor Hugo)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

CELULÓDROMOS JÁ!

Já estabeleceram a proibição de fumar em lugares fechados, criando áreas reservadas. Daqui a pouco vai precisar ser criado um lugar reservado para falantes ao celular. Minha sugestão é começar pelos hospitais. O barulho nesses ambientes equivale à fumaça de cigarro em termos de efeitos nocivos para alguns pacientes.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A CRIAÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS NO BRASIL - RESENHA



O Cláudio que trago no meu nome depois do José tem o significado de manco, aquele que coxeia. Vem de claudicante. Meus pais nunca souberam disso. Ainda bem que, pelo menos até hoje só manco um pouco das idéias. Já o Adão é um sobrenome feito de nome próprio.  O nome que carregamos é essa coisa pesada, maravilhosa, inusitada ou engraçada. Quando ridículo é motivo de escárnio e de trauma ou tragédia para muitas e muitos. Não fosse assim não existiria tanta piada infame correndo por ai fazendo troça com nomes próprios. A identidade é coisa séria e começa pelo que somos chamados.

Na capa do livro um mapa e em seu pano de fundo a formação básica da nação brasileira: índio, europeu, negro e asiático, esta fantástica miscigenação que se operou no Brasil e vem formando o nosso povo desde remotos tempos. Imaginemos isso em termos da estruturação da nossa língua. Quanta coisa incorporada ao português que dominou as línguas indígenas porem não deixou de sofrer as influências delas, nem do idioma africano, bem como de árabe e variações de tantos dialetos. Agora imaginemos quando se trata de dar nome aos bois, ops, dar nomes às pessoas. Quanta variedade disponível e quanto neologismo feito pela criação humana.

O trabalho respeitável da autora, Rosane Tesch, transcende a perspectiva acadêmica antroponímica ao deixar cair em nossas mãos e olhos que operam mentes leigas, porém, cheias de confusão, vontades e encantamento. Se tudo aquilo que se produz de conhecimento na academia fosse como o objetivo da autora, esse seria um país melhor. Os nomes iam fazer todos diferença não por suas esquisitices ou inovações, mas pelas pessoas que poderiam usufruir mais do que lá se produz em profusão. Nas palavras da própria autora, o objetivo maior foi escrever algo que fosse usado mais fora do que dentro da academia.

LIVRO: A CRIAÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS NO BRASIL
(O Neologismo na Antroponímia)
ROSANE TESCH
Livre Impressão Editora
RJ, 2010

terça-feira, 19 de abril de 2011

DIA DO ÍNDIO

 “E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio.”
(UM ÍNDIO – Caetano Veloso)
Jornal Hoje em Dia

Vejam como a história é uma criação dos “vencedores” em muitos casos. O índio é hoje quando não um coitadinho, um vilão. Quase todo mundo abomina ver um indígena de calça jeans, dirigindo uma caminhonete. Eles não teriam esse direito. Por outro lado também não aceitam que sua terra seja demarcada em tamanho GG, como aceitam o latifúndio improdutivo que, em muitos casos está nas terras que lhes pertenceram e foram griladas.

Voltando lá na época da colonização: os indígenas brasileiros não resistiram tão bravamente ao processo de aculturação e não se adaptaram completamente à escravização. Além disso, na visão do europeu, não eram considerados como gente. O negro serviu aos anseios de produção escravista, não sem resistência, mas a trancos e barrancos.   Puderam conviver com o mundo branco e europeizado, acessaram a leitura e ao “mundo civilizado”. Mesmo com todo o preconceito que ainda impera, pouco a pouco seu lugar vai sendo conquistado. Já o índio ainda hoje é uma espécie de anomalia, um ente a ser tutelado permanentemente pelo estado em suas reservas e é alijado completamente do mundo branco.

Um exemplo da visão que permanece: há poucos dias um pedreiro oriundo de Maxacalis (a cidade) trabalhou em minha casa e falava sobre os remanescentes que vivem em sua cidade. Diz que eles são “mansos”, não gostam de trabalhar, gostam “até de ter carro”, não se sujeitam às regras da sociedade. Olhando-o bem, vi que seus traços físicos inegavelmente são indígenas. É de descendência direta, mas ele nega até a morte a genealogia. É um caso típico da ignorância que incorporou esta visão anômala.
Jornal Hoje em Dia

Mais um: alguns índios Pataxós foram barrados na feirinha de artesanato no centro de BH por causa de seus produtos. Eles queriam uma reserva de uma faixa de um  passeio público. A mesma que queriam dividir com gente vendendo produtos importados e industrializados. A mesma feira que está repleta de produtos paraguaios e chineses sem nenhum estardalhaço da fiscalização da prefeitura. Será que os índios ainda não aprenderam o que é propina no seu processo de aculturação?

Os dias  comemorativos quando não são uma sutileza do mercado para alavancar vendas de produtos específicos são uma hipocrisia da história do desmerecimento. Mas o que é o dia do índio senão uma alegoria mental hoje na sociedade pós-moderníssima? Uma aula de artes para as crianças nos primeiros anos escolares serem lembradas que esses seres estão ainda resistindo insistentemente em continuar a viver no meio da gloriosa civilização, desde que seja nas suas reservas e muito a contragosto do sistema capitalista apropriador? Aquele mesmo defensor do sagrado direito da propriedade privada? Mas por quais meios se adquire a propriedade? Uma ironia e uma hipocrisia histórica para justificar a aventura humana da conquista? Ou uma rapina mal contada pela história?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Monteiro Lobato

planetaeducacao.com.br

I

“Escrever pode ser um ato puramente imitativo ou uma exigência orgânica. Sempre escrevi por uma exigência orgânica, isto é, quando qualquer coisa em meu organismo exigia e impunha a fixação do pensamento em palavras – para alívio interno. Nunca escrevi por sugestão externa. O livro mais interessante que poderia fazer seria sobre a história de meus contos...”

(Monteiro Lobato, escritor paulista)
In: Por que Escrevo? – Mistérios da Criação Literária, José domingos de Brito. Ed. Escrituras, 1999.

II

“Ando com idéias de entrar por esse caminho: livros para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas, para as crianças, um livro é todo um mundo. Lembro-me de como vivi dentro do Robinson Crusoe, do Laemmerte. Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora; sim morar, como morei no Robinson e  Os filhos do capitão Grant...

A coisa tem de ser narrativa a galope, sem nenhum enfeite literário. O enfeite literário agrada aos oficiais do mesmo ofício, aos que compreendem a beleza literária. Mas o que é beleza literária para nós é maçada e incompreensibilidade para o cérebro ainda não envenenado das crianças... Não imaginas a minha luta para extirpar a literatura dos meus livros infantis. A cada revisão nas novas edições, mato como quem mata pulgas, todas as literaturas que ainda a estragam.”
Monteiro Lobato
In: Construirnotícias.com.br (org. Luciana Sandroni)


PS: Abril é o mês da Literatura Infantil. Dia 02 é a sua comemoração internacional, em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen; e 18 é a data nacional, que marca o nascimento de Monteiro Lobato.


 

sábado, 16 de abril de 2011

AEDO CIBERNÉTICO * - AS ROSAS NÃO FALAM

“As Rosas Não Falam” tem uma bela história. Um dia Dona Zica (esposa de Cartola) ganhou umas mudas de roseiras. Resolveu plantá-las no jardim. Alguns dias depois Dona Zica abriu a porta pela manhã e ficou extasiada com a quantidade de rosas desabrochadas. Chamou então Cartola e perguntou: “Cartola, vem ver! Por que é que nasceu tanta rosa assim?” O mestre Cartola então respondeu: “Não sei, Zica. As rosas não falam...” A frase ficou remoendo na cabeça do poeta. Tomou então do violão e a música brotou quase que imediatamente. Faltavam três dias para ele completar 67 anos. Cartola disse então que “As Rosas Não Falam” foi o seu presente de aniversário.

Ainda sobre a canção, Paulinho da Viola conta que quando trabalhava na TV Cultura de São Paulo (1973) apresentando um programa que buscava mostrar pessoas ligadas à música, principalmente sambistas ligados às escolas de samba, foi visitado por Cartola. No meio do programa Cartola interrompe Paulinho e pede para apresentar uma de suas composições. Paulinho fica sem ação porém o diretor do programa autoriza a apresentação. Cartola então pega seu violão e toca pela primeira vez em público “As Rosas Não Falam”. Paulinho conta ainda que durante anos não conseguia cantar a música.

Fonte: museu da canção



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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A D N *

Eu não sei dizer quanto tempo leva para que se instale uma mutação genética num ser humano. Num animal e numa planta onde há a mão do homem fazendo alterações no código genético através de introdução de uma ou mais seqüências de DNA provoca alterações que muito provavelmente não aconteceriam na natureza sozinhas. Estão aí o frango, a soja, o milho, as vacas e porcos e cabras e ovelhas para não me deixar mentir. No caso dos reinos vegetal e animal, a intenção é aumentar as suas produtividades e resistências a certos fenômenos tais como pragas de lavoura ou doenças. Também servem para que produzam mais alimentos e se reproduzam mais rapidamente.

Com o ser humano já há disponível a tecnologia das células tronco e numa perspectiva extrema, a clonagem. Aspectos religiosos tão somente tem segurado o seu avanço. Acredito que num futuro um pouco mais longínquo, se a população mantiver tendências de reduzir a sua reprodução, esse método irá substituir os partos para repor gente onde faltar. Se o sistema ainda for esse onde o dinheiro é que governa, podem esperar que serão pessoas também de alta produtividade, imunes a quase todas as doenças e, se conseguir, o homem vai clonar pessoas pacatas, sem intolerâncias, sem preconceitos. Gente que não reclame muito. As possibilidades serão tantas que dá até um nó aqui na cabeça. Enquanto não caem as barreiras morais (alguns chamam de éticas), vamos convivendo com alimentação feita com produtos industrializados em escala máxima e com plantas e animais geneticamente modificados. O resultado disso é que é o assunto aqui.

Desde o século passado, quando a população mundial deu saltos exponenciais, produzir alimentos em abundância e a custo baixo, criar animais em espaços menores mas em grandes quantidades e fazer com que tudo gere mais e mais lucros, ficou uma conta para alguém pagar pelas conseqüências. A genética humana vem se alterando ao longo de sua história no planeta. Os primeiros homens tinham apenas um tipo sanguíneo. Com a introdução de novas dietas, tornando-os menos carnívoros, apareceram outros tipos de sangue. A dentição que era composta de muitos mais dentes caninos já mudou um pouco. Isso tudo levou muitos séculos para se efetivar. Foi um processo mais ou menos natural. Aí não deu pra gente acompanhar como estamos sendo testemunhas históricas atualmente. Minha hipótese é a de que a geração que começou a nascer no ínício do século passado e as que se seguem, até mais ou menos daqui a uns vinte, trinta anos vai ser meio cobaia dessa revolução rápida no modo de manipular a natureza. Estamos convivendo e sendo vítimas de doenças novas que são atribuídas meio sem explicações consistentes, à “vida moderna”. Mas para mim podem ser conseqüências dessas mutações. As gerações futuras provavelmente irão nascer mais desvinculadas do estado de natureza. Serão uma espécie muito mais resultante de combinações de química e engenharia biológica. Mais duradouras e mais resistentes, pode ser.

 Estou esses dias com meu pai e um irmão doentes com uma certa gravidade e tenho feito um périplo por hospitais quase o dia inteiro. O que tenho observado e conversado com pessoas acerca de doenças que nunca antes eu havia ouvido falar não é pouca coisa. Enquanto observo as novas especialidades médicas que vão surgindo em função dessas demandas novas, vou tentando reduzir meu espanto. Meu pai, a não ser a idade, possui apenas um dos 8 ou 9 fatores de risco que os médicos explicaram a respeito de sua aterosclerose, aneurisma de veias e outras complicações. Tudo bem, podem dizer que é da idade ou algum “defeito de fábrica”. Meu irmão (coincidência ou não) foi o que mais se alimentou de comida industrializada desde sua adolescência entre todos os demais. Padece de um hipernefroma, doença da qual sequer havia ouvido falar em toda a minha vida leiga. Não estou nem falando só deles para justificar tudo o que escrevi até aqui. É do que tenho observado também  durante o tempo que passo nos hospitais e clínicas diariamente. Estou aprendendo que o glossário de termos médicos e o CID (Código Internacional de Doenças) também estão crescendo seu volume com novas informações.


PS: O título ADN refere-se num trocadilho proposital, tanto ao Acido desoxirribonucleico (DNA), como ao assunto a que me propus, significando Antes e Depois do Natural.



terça-feira, 12 de abril de 2011

DOUTORES

Esta não é uma história de sucesso daquelas muito usadas no marketing da vida de campeonato a que estamos todos mais ou menos sujeitos. Mas o fato é que a minha amiga de longas datas, a Eliete, criou o seu filho mais velho com uma renda razoável, auferida das vendas de calcinhas, soutiens e cosméticos de porta em porta.

Ela deixou um emprego como técnica de nível médio em uma grande empresa e aventurou-se na cidade grande, pois queria prosseguir seus estudos em busca de uma história de sucesso por meio de títulos de graduações acadêmicas. Virou engenheira, depois mestra e atualmente é uma respeitável doutora cuja tese foi defendida em uma universidade portuguesa que a convidou e lhe forneceu uma bolsa de estudos para o doutoramento.

Antes disso, aumentava a renda de suas vendas com aulas em colégios particulares. Uma aventura estafante mas com um final que se esperava compensador. Afinal, todo quase mundo pensa em fazer uma graduação e se dar bem no mercado de trabalho. Ela, com a experiência das salas de aula e duas pós-graduações não tinha a menor dúvida.

Pois não é que ela me disse que está pensando seriamente em voltar a vender calcinhas, soutiens e cosméticos de porta em porta? O pessoal da academia está horrorizado com a ideia dela. O pessoal que eu estou dizendo é uma meia dúzia de gente que conseguiu se firmar com um salário “alto”, daqueles que um jogador famoso disse outro dia que gasta só em produtos para seu cachorro todo mês. A sua indignação cresceu ainda mais porque foi convidada para apresentar um trabalho científico num congresso no México e ela simplesmente não tem recursos para bancar a viagem. Também tem propostas para voltar para a Europa (Portugal e Espanha) mas não quer sair do Brasil. Agora com mais uma filha ainda pequena, queria que sua história de sucesso se desse por aqui mesmo.

Eu fico pensando em quantos doutores (de verdade) não temos em condições semelhantes por ai. Há dias, voltando do centro da cidade numa chuva torrencial eu peguei um táxi cujo dono é um doutor em física e me disse que os cerca de seis mil que ganha com táxi são mais do que todas as propostas de trabalho que teve como professor. Meu colega de exercícios na fisioterapia me contou que definitivamente cansou de ser doutor, que passou praticamente toda a sua juventude dedicada aos estudos, cansou de ter que ficar esperando o dia em que Brasil vai valorizar seus pesquisadores e  abriu uma loja de artigos femininos. Ele brincava, dizendo que, afora o futebol e a música, há três coisas que são garantia de ganhar dinheiro nessa pátria amada, sem precisar estudar muito nem se preocupar com possíveis crises: investir em artigos para as crianças, para as mulheres e alimentação. Naquele momento passava um carro na rua com uma música estridente sem sequer uma letra compreensível, pelo menos. Imaginei que o dono devia ser um feliz protagonista de uma história de sucesso sem precisar ser educado. Nisso eu me lembrei de uma antiga música do saudoso Zé Rodrix  que começava assim: “quando será o dia da minha sorte? Sei que antes da minha morte, eu sei que esse dia chegará.” (Sai de lá cantando).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Marguerite Duras

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"Comecei a escrever num ambiente que me obrigava ao pudor. Escrever, para eles, era ainda, imoral. Hoje muitas vezes escrever pode parecer não significar nada. Por vezes sei disto: a partir do momento em que não for, confundidas todas as coisas, ir ao sabor da vaidade e do vento, escrever é nada. A partir do momento em que não for, sempre, a confusão de todas as coisas numa única essência inqualificável, escrever é nada mais que publicidade. Mas na maioria das vezes não tenho opinião sobre isso, vejo que todos os campos estão abertos, que não haverá mais nada onde se esconder, se fazer, ser lida, que na sua inconveniência fundamental não será mais respeitada, mas nem penso mais nisso."
(Marguerite Duras, O Amante)

In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.



sexta-feira, 8 de abril de 2011

SER POETA

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digitalizado de meu arquivo pessoal

Para Beth Adão, minha irmã, Com carinho
 
Um dia, ainda rapaz de adolescência no semblante
eu cismei que podia ser poeta
Precisão de arrumar namorada, eu acho
 
Danei de compor versos tortos em linha reta
Achava que métrica era isso
E era toda vez que me assanhava pro lado de uma menina
Podia gostar dela ou não, o negócio era mesmo impressionar
Importância de lhe entregar umas rimas num pedaço de papel
enfeitado com cores e desenhos de flores ou de bichinhos 
 
Eu vivia falando de dores e de amores
Das vontades que eu sabia e das que eu não sabia também.
Fraude pura?
Sei lá, tinha hora que era, tinha hora que não.
 
Tinha umas moças que ficavam comovidas
Não sei se de vontade de dar risada
Ou se encantavam com alguma coisa.
Pura ingenuidade. Minha e delas.
 
Minha madrinha, letrada que só ela
Viu meus rabiscos de aprendiz e me escreveu:
“Vejo que você é dado a poesias. É um maravilhoso dom.
Conheça Fernando Pessoa”
Citou ele e terminou assim: “ o mais é nada, Deus te abençoe.”
 
Foi ai que eu vi que ser poeta não era nada daquilo
Ou então não era só aquilo:
precisava de mais sustância.
Aquele negócio de às vezes arrancar as palavras bonitas lá do peito
De outra feita carregar o mundo nas costas que nem o Drummond falou.
 
Faz muitos anos isso
Mas eu estou pelejando até hoje

quinta-feira, 7 de abril de 2011

PIPOCA E FAVORITA

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O século. XXI foi inaugurado sob os auspícios da mais extremada modernidade tecnológica da história humana. Há umas coisas que, se não fossem os olhos muita gente não acreditaria nem em relatos de tão ultrapassadas que soam aos ouvidos de uma geração high tech. Mas aqui, como em muitos lugares o novo vai convivendo com o antigo até estes últimos ficarem restritos às casas de colecionadores, esses renitentes demodês do mais alto valor histórico. Sem eles e os museus muita coisa já teria ido pro beleléu sem deixar rastros. O progresso é inclemente com a história ou o homem é indiferente a ela?
 
Pois não é que ainda há carroceiros em BH? Eles são regulamentados pela prefeitura como prestadores de serviços urbanos de várias naturezas, sendo a principal o recolhimento de pequenos entulhos. Para quem não pode pagar um caminhão, já vi muitas delas fazendo, inclusive, mudanças de casas. Até placa no detran elas possuem. Só não sei se pagam IPVA, o que não seria de assustar frente aos poderes públicos vampiros sedentos de impostos. Aqui mesmo na minha casa toda vez que há restos de poda ou qualquer cacareco que vou dispensando, tenho um cartão do meu já velho conhecido Zé Carroceiro. Uma chamadinha pelo celular e ele está buzinando minutos depois à porta. Ou melhor, zurrando com sua égua ou mula de porte altivo e bem cuidada. A um preço módico e uma urinada fedorenta na área externa (que ele faz questão de lavar depois, sejamos justos), leva tudo e quando é muita coisa divide em duas viagens a fim de não sobrecarregar sua companheira de trabalho e mantenedora do sustento de sua família. 
 
Agora, a malandragem que não é chegada a um trampo mas gosta de sondar facilidades para sobreviver à custa do alheio deu para furtar éguas, mulas e burros. Já é a segunda vez nesse ano que abro os jornais e dou com a notícia de um carroceiro desolado fazendo BO na polícia* a fim de resgatar seus animais/instrumentos de trabalho. Elas foram roubadas enquanto ele as deixou amarradas para ir a um velório. No caso de hoje, Pipoca e Favorita extrapolam essa relação, segundo seu próprio dono. Seriam membros da família, de tanto apego que todos na casa possuem com os animais. O dono desesperado sem o seu ganha pão e as crianças desoladas sem seus “brinquedos” vivos. Êta, Brasil!
 
*Fonte: jornal hoje em dia 06/04/11

quarta-feira, 6 de abril de 2011

AEDO CIBERNÉTICO * - SINAL DE AMOR E DE PERIGO

imagem: cantorasdobrasil.com.br


Nascida em Salvador, trabalhou com teatro e música no interior da Bahia, e radicou-se em São Paulo em 1978. Quando ainda era estudante de Engenharia Elétrica, começou a aparecer em shows universitários, passando a dedicar-se à música.

Entre outras composições, gravou a clássica balada "Blowin'in the wind", do cantor e compositor norte americano Bob Dylan, com versão de sua autoria e acompanhamento ao violão de Dercio Marques, e que tornou-se seu maior sucesso.

Em 1981 lançou o LP "Sinal de amor", interpretando entre outras, as composições "Sinal de amor e de perigo" (Patinhas – Kapenga)

FONTE: http://www.cantorasdobrasil.com.br/cantoras/diana_pequeno.htm

SINAL DE AMOR E DE PERIGO
Diana Pequeno
Composição: Patinhas / Capenga

À noite  a cidade parece que some
Perdida no sono dos sonhos dos homens
Que vão construindo com fibras de vidro
Com canções de infância, com tempo perdido
Um grande cartaz um painel de aviso
Um sinal de amor e de perigo
Um sinal de amor e de perigo
Há tempo em que a terra parece que some
Em meio a alegria e tristeza dos homens
Que olham pros campos pros mares, cidades
Pras noites vazias, pra felicidade
Com o mesmo olhar de quem grita no escuro
O melhor foi feito no futuro
O melhor foi feito no futuro
Enquanto o amor for pecado e o trabalho um fardo
Pesado passado presente mal dado
As flores feridas se curam no orvalho
Mas os homens sedentos não encontram regato
Que banhe seu corpo e lave sua alma
O desejo é forte mas não salva
O desejo é forte mas não salva
Enquanto a tristeza esmagar o peito da terra
E a saudade afastar as pessoas partindo pra guerra
Nós vamos perdendo um tempo profundo
A força da vida o destino do mundo
O segredo que o rio entrega pra serra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra

Dedico a Toninhobira (blog mineirinho), amigo, conterrâneo, essa grande alma sensível e coração pulsante de sangue bom e para quem amor e sociedade são grandezas unas, não deixando o indivíduo dissociado de seu eu enquanto ser coletivo que ama e busca transformar seu meio. Com carinho e apreço elevado.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ANTA CIBERNÉTICA – PARTE II – A IGNORÂNCIA CONTINUA

Um vídeo game tem sempre um joguinho cuja emoção é passar de uma fase para outra. Me lembro do atari, que tinha alex kid e não me esqueço do sonic que eu ficava jogando com a minha filha no super nintendo (que veio antes do pleisteichon). Aquele joguinho do sonic, de pedra, papel, tesoura, era minha perdição em termos de gloria esportiva, já que no dia em que consegui chegar até lá naquela disputa do bonequinho com os porteiros algozes da próxima fase, disputando numa espécie de porrinha eletrônica a passagem para frente, a minha filha já estava quase adquirindo o poder de rainha no castelo encantado. Eu precisava ainda atravessar umas oito fases para alcançá-la. 
 
Tenho esta sensação hoje com o computador. De celular eu nem vou falar. Decidi que o meu vai continuar sendo para sempre apenas um telefone móvel e mais nada. A gente não se dá conta da embromação a que é submetido; se você comprar um carro novo, ele virá com recursos de computador, se você for para qualquer lugar onde tenha luz, provavelmente terá uma lan house que pode ser usada em caso de urgência ou falta de telefone. Na última das hipóteses, um velho orelhão, que ainda é obrigatório por lei. Você terá recursos tecnológicos que lhe acompanharão onde quer que vá. Portanto, o celular pode ser somente um telefone que funcione bem. Ótimo! Mas é para mim, não condeno quem queira ter um de ultima geração. Lembrando sempre que última geração é um negócio que dura umas semanas, no máximo alguns meses. Comprar a vista é sempre recomendável. Pois costuma acontecer de a gente nem ter terminado as prestações de um celular e ele já ser considerado ultrapassado. 
 
Já com o computador eu me sinto mais ou menos como um jogador de atari. Estou familiarizado com downloads, edições, inserção de imagens e links (deve ser a primeira ou segunda fase), há apenas alguns anos luz de distância dos feras das máquinas. E os feras quase todos são para mim como filhos, ou melhor, tem idades para serem meus filhos. Com toda a certeza eu serei sucateado muito antes de aprender tudo o que esta máquina maravilhosa nos disponibiliza.
Resolvi desabafar depois de tentar, tentar, tentar fazer uma capa para um livro em corel, PPS ou word art e diagramar o texto, colocando as páginas na seqüência que o mesmo é impresso. Eu pensando que era a pagina 1 com a 2, a 3 com a 4 e assim por diante. Me rendi à ignorância absoluta.
 
* publiquei há um tempo outra crônica com o título: ANTA CIBERNÉTICA


 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Henry Miller

imagem google

“Uma coisa que descobri é que a melhor técnica é não se ter técnica alguma. Jamais achei que deveria aderir a qualquer maneira de tratar um tema. Permaneço aberto e flexível, pronto para seguir a direção dos ventos ou das correntes de pensamento. Eis a minha atitude e minha técnica, se se quiser flexíveis e alertas para empregar o que quer que me pareça bom no momento.”

 (Henry Miller, escritor americano)

In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

sábado, 2 de abril de 2011

VISCERAL

Para o poema UM OLHAR, de Manoel de Barros
 
Se a gente começar a despraticar as querências só de matéria, matéria, matéria;
essas coisas de pegar e gostar só até daqui a pouco
e der princípio a umas querências de análise contemplativa,

Se der um descaso para o desamor,
Largar mão dos desajustes sem provisão,
deixando eles no oposto,
o avesso da gente  fica até parecendo aquelas emendas
que nem parece que foram feitas
de tão enfeitado que o olhar fica.

José Cláudio – Cacá
imagem google
 
UM OLHAR
Manoel de Barros
“Eu tive uma namorada que via errado. O que ela
via não era uma garça na beira do rio. O que ela
via era uma rio na beira de uma garça. Ela despraticava
as normas. Dizia que seu avesso era mais visível
do que um poste. Com ela as coisas tinham que mudar
de comportamento. Aliás, a moça me contou uma vez
que tinha encontros diários com as suas contradições.
Acho que essa frequência nos desencontros ajudava
seu ver oblíquo. Falou por acréscimo que ela
não comtemplava as paisagens. Que eram as paisagens
que a contemplavam. Chegou de ir no oculista. Não
era um defeito físico falou o diagnóstico. Induziu
que poderia ser uma disfunção da alma. Mas ela
falou que a ciência não tem lógica. Porque viver
não tem lógica – como diria a nossa Lispector.
Veja isto: Rimbaud botou a beleza nos joelhos e
viu que a beleza é amarga. Tem lógica? Também ela
quis trocar por duas andorinhas os urubus que
avoavam no ocaso de seu avô. O ocaso de seu avô
tinha virado uma praga de urubu. Ela queria trocar
porque as andorinhas eram amoráveis e os urubus
eram carniceiros. Ela não tinha certeza se essa
troca podia ser feita. O pai falou que verbalmente
podia. Que era só despraticar as normas. Achei certo.”

sexta-feira, 1 de abril de 2011

AEDO CIBERNÉTICO * - MEU CARO AMIGO

Augusto Boal (teatrólogo, falecido em 2009) estava exilado em Portugal em 1976 em plena ditadura no Brasil. Dizem que ele reclamava que Chico Buarque não respondia as suas cartas. Eram grandes amigos e Chico alegava que respondia a todas. Estranhamente elas não chegavam ao destino. Ai, a genialidade entrou em cena. O Francis Hime havia composto um chorinho e o Chico resolveu colocar a letra em homenagearem ao amigo com essa belezura toda. Ao mesmo tempo, numa linguagem sutil fala do dia-a-dia simples do Brasil não deixando de dar o recado sobre o clima pesado da censura e da repressão.

MEU CARO AMIGO
CHICO BUARQUE E FRANCIS HIME


Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus


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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.


PS: ESTA SEMANA VOU PUBLICAR TEXTOS E MÚSICAS DE MEMÓRIAS HISTÓRICAS. (ÚLTIMA POSTAGEM)
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