Vinha lá dos tempos de escola primária o ensinamento meio sociológico, meio religioso: “O núcleo básico da sociedade é a família.” O conceito de família vem mudando muito. A família de hoje é um laço de fitas multicoloridas. Não é tão mais pai e mãe juntos ou só um dos dois. Ou ainda um terceiro grupo. Afinidade tem contado tanto quanto o RH sanguíneo igual, seja positivo ou negativo. Antigamente era o pai o mantenedor, a mãe, os filhos e um ou outro agregado, este podendo ser um parente, órfão, um empregado de longos anos, um filho adotivo.
Desde que o divórcio ganhou o lado de fora das casas através de uma legislação penosa depois de correr junto com a dificuldade religiosa para a aceitação da pílula anticoncepcional, a famíla vem ganhando contornos diferentes e adesões fora do grupo consangüíneo. Pais e mães que constituem um novo lar e uma nova família vem se tornando tão comuns como o fato de casarem-se pela primeira vez. A primeira vez a gente nunca esquece, mas não é mais o para sempre ou até que a morte separe, desejado pelos religiosos, com toda a impostura de que foi Deus quem determinou. O que não se alterou ainda para a maioria das pessoas são os preconceitos. Eles vão acompanhando as mudanças sociais e se adaptando com novas denominações.
“Meio irmão”, por exemplo, é uma coisa que eu não entendia muito bem até me tornar pai de duas filhas em dois casamentos e ouvir dizer que minhas filhas são meio irmãs. Suas mães se casaram novamente e também tiveram novos filhos. E eles são considerados meio irmãos de minhas filhas também por parte dos outros pais. No entanto pela parte das mães são considerados irmãos inteiros. O que o senso comum chama de evolução ainda não entrou naquela fenda do meu cérebro que é o lugar da ficha cair. Quer dizer que sendo irmãos da mesma mãe lhe conferem um status melhor?
Ó, meu gameta sortudo e esperto que encontrou o caminho vitorioso da fecundação, o que vale você senão um lugar menor ao mundo? Terá o óvulo sozinho esse poder de atribuir uma igualdade acima da natureza perfeita que transforma em irmãos todos os que foram gerados pelo amor entre os vários casais que se formaram ao longo de dois ou mais laços de família? Eu protesto!
Enquanto a minha indignação não encontra resignação em explicação de algum especialista que vai querer me convencer a aderir ao termo, eu faço piada. Ouvi no programa de rádio da Rosely Sayão, psicóloga infantil:
Uma mãe conversa com seu filhinho de quatro anos:
- Mãe, o Julinho é seu filho?
- Não, ele é filho do primeiro casamento do seu pai.
- E o Marcelo é seu filho?
- Ele é filho do segundo casamento do papai.
- A Belinha é filha do papai também?
- Não, ela é filha da mamãe, do primeiro casamento.
- (???) Mãe, eu sou seu filho?
8 comentários:
Adorei!! Vou enviar por e-mail a todos que vive nesse universo tão comum hoje em dia, mas que na verdade, não é mesmo nada simples.Eu mesmo tenho uma familia asssim:Sou viúva, desse primeiro casamento tive dois filhos.Me casei a 16 anos com meu marido atual que tinha trêz filhos TODOS DE MÃES DIFERENTE.Então,tivemos o Pedro.O único que é meio irmão de todo mundo!!Ter cinco irmãos não é mesmo nada comum hoje em dia.
Bom dia
Tema de grande complexidade, principalmente no emocional. A construção dos laços de afetividade, não é mesmo, onde ficam?
Eu escrevi um texto, Novas Famílias -Momento de Transição, que aborda sobre a construção dos vínculos. Se desejar dar uma olhada, está no blog.
Obs: Senti falta do seu link de hoje.
bjs,
Nossa Cacá!
É mesmo complicado para as crianças digerirem esses laços de tantas vertentes de um só casal.
Até minha cabeça agora deu um nó nessa familia citada.
Como sempre eu me delicio e me questiono enquanto leio-te por aqui amigo.
Protesto concedido querido...rs
Beijos de luz. Tenha um final de semana abençoado junto aos seus queridos.
Beijos de luz.
Goretti
OI AMIGO, DESEJO TUDO DE BOM PARA VC,AGRADEÇO PELA VISITA E O COMENTÁRIO,O QUAL ME FAZ MUITO BEM ACHO SINCERO TUDO QUE VEM DE VC. UM ABRAÇO SINCERO DE CELINA.
OI AMIGO, DESEJO TUDO DE BOM PARA VC,AGRADEÇO PELA VISITA E O COMENTÁRIO,O QUAL ME FAZ MUITO BEM ACHO SINCERO TUDO QUE VEM DE VC. UM ABRAÇO SINCERO DE CELINA.
Mestre Cacá; como sempre, sublime o texto, o tema e a confusão que a família da nova era vem a ser. Quem sabe não dá outro livro? Aliás, não sei se o amigo teve oportunidade de ver, motivou a "exumação" de um texto (Parodiando Balzac) postado em 9 de julho no "arquitetura & poesia...". Ao final, menciono o seu livro, a propaganda é a alma do negócio! Grande abraço,
Adh
Proteste mesmo amigo. Nós mulheres temos esse péssimo hábito (AHahah...)com tudo que se relaciona aos nossos ( viu, aí? "nossos") filhotes. Falando sério, está muito difícil para nós educadores orientarmos esta família atual, às vezes é tanta gente envolvida com uma criança só, que você tem que fazer um "mapinha" para situar a criança nesse "mundo familiar" peculiar. Seu texto é muito oportuno e deveriam existir mais reflexões sobre o assunto, até entre nós trabalhadores da Educação. O problema é que o Progresso, manipulado por alguns, trouxe uma gama de coisas novas que foram introjetadas, mas não são discutidas a fundo e se não resolvidas, pelo menos deveriam ser abertas e clarificadas para todos. Aí fica-se assim, não se resolvem as pendências e, como a cada dia aparece uma coisa nova, vira-se para ela todo artefato de cabeças pensantes... Vou parando pois vou acabar fazendo uma crônica...AHahah...
Não sei qual o melhor, vc ou a Rosely.
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