“O pior tipo de solidão é a companhia de um paulista.”
“O carioca é um ser encantado. No Rio, dois sujeitos que nunca se viram tornam-se como que súbitos amigos de infância e caem nos braços um do outro, aos soluços.”
(Frases de Nélson Rodrigues, considerado o mais carioca dos pernambucanos).
Há uma rivalidade tola e falsa entre estados e regiões brasileiras. Em alguns casos esse caldeirão de pensamentos e atitudes chega ao absurdo preconceito, como no caso com nordestinos retirantes. Infelizmente é um espelho do que é o Brasil como um todo. Uma grande bobagem que acaba sendo prejudicial à formação de um sentimento de nação homogênea em afetos no meio da população.
Entre cariocas e paulistas, as rusgas são freqüentes, por serem os estados de maior destaque no cenário nacional, sendo o primeiro por causa da herança como capital, pela beleza geográfica e pelo cabedal cultural que amealhou e por outro lado, São Paulo, pelo poderio econômico. Tudo começou no século dezoito, quando um governador, recém nomeado pela coroa portuguesa disse que os paulistas eram uns preguiçosos. Ele havia desembarcado primeiro no Rio, viu e entusiasmou-se com a riqueza da cidade e quando rumou para seu destino, “soltou os cachorros” nos paulistas, segundo ele, terra depravada nos costumes, gente sem lei, sem fé e inconciliável com o trabalho.
Muito depois, com o desenvolvimento espetacular de São Paulo, a rivalidade foi crescendo e as provocações também. Os paulistas passaram a ser trabalhadores e os cariocas preguiçosos. Eu acho que isso serve somente a interesses muito econômicos, ajuda a muito poucos, exatamente os que ganham com isso e eles mesmos não estão nem aí. Fomentam a disputa mas vivem na ponte aérea, faturando muito nos dois estados.
Como brincadeira somente, é aceitável. Eu vejo, por exemplo o que se faz no Brasil com relação aos argentinos por causa do futebol e com Portugal com relação às piadas, mas na hora da integração, seria inaceitável se déssemos as costas aos povos irmãos ou eles nos fizessem isso. Bom humor é saudável, desde que não atinja o sarcasmo com fins de superioridade.
Um levantamento feito pela Revista de História da Biblioteca Nacional* diz que os cariocas trabalham mais que os paulistas, em termos de horas semanais. A diferença, no entanto é irrelevante. Eu fui um pouquinho além e resolvi enfiar Minas nessa fogueira de vaidades dos explorados, só que quebrei a cara: quem é o campeão, pasmem, é a Bahia**, com quem todo mundo faz piada de que são preguiçosos.
Afinal, o que nos é apresentado como vitrine do trabalho é aquele do ar condicionado das salas confortáveis dos escritórios. O mundo da indústria, dos fundos do comércio ou dos plantadores e criadores da nossa agricultura mais os carregadores de piano da prestação de serviço não é levado em conta na hora que dizem que o brasileiro não gosta de trabalhar.
* Ano 4, nº 49 – Jul/2009, pg 43
** Dados do Dieese
4 comentários:
Bom dia
É aquela história de quem sobe ao palco e dos que ficam nos bastidores.
Mas seu texto me fez recordar um passado, do qual minha filha, na época pré adolescente, sofreu, em São Paulo ao ir passar um feriadão com a família de uma amiga, com as "brincadeiras paulistanas", ao ponto de querer voltar antacipadamente.
È cultural???
bjs
Eu adoro a companhia dos paulistas, dos cariocas, mineiros...não tenho nenhuma rivalidade...acredito que tudo não passe de uma grande brincadeira rs
Um beijo e obrigada pro seu carinho ´lá no Cantinho!
Eu adoro mts paulistas, e sei q tem a rivalidade entre paulistas e gaúchos.
Cacá, a coisa mais idiota que existe é este bairrismo, essa rivalidade boba que tentam incutir nas pessoas de diversas maneiras - sobretudo preconceituosas.
Sou paulistano e moro em Salvador. Também já ouvi um monte de bobagens por aqui e, confesso, por conta da animosidades também falei outras. Mas eram outros tempos, hoje já sei como tirar "de letra" certas situações.
O caso da Bahia é singular. A Bahia é um estado muito grande, mas muitos reduzem-no apenas à Salvador. E em Salvador há todo aquele marketing de "vida sossegada" propagada por agências de turismo e grandes cantores e artistas da MPB. A suposta e falsa "preguiça do baiano" muitas vezes é alimentada por essa própria indústria. Quando o visitante chega a Salvador e vislumbra o ritmo frenético desta cidade.
Um abraço!
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