segunda-feira, 24 de março de 2008

TRANSIÇÕES

Estou numa idade de transição para montes de situações. Se a vida começa aos quarenta, sou uma criança, mas de boa memória. São tantas e tão rápidas as transformações no mundo, tão descartáveis as coisas, os valores e lembranças, principalmente as lembranças, que é impossível não ficar nostálgico, já que nos tornamos inertes perante o turbilhão de fatos que nos cercam; de pensar em resistir, pensar em separar o joio do trigo. A idéia de duração, permanência, é uma vaga cada dia mais tsunâmica. O tempo parece que virou escravo de sua própria andança com o mundo e está descrevendo trajetórias imprevisíveis. Vou registrar para ver se encontro eco com meus contemporâneos e se fisgo alguém das novas gerações, porque, não faz tanto tempo assim existia uma forma muito peculiar e descomprometida de se comunicar com simplicidade. E a simplicidade eu prezo muito.

Falei das profissões que se extinguiram ou quase, agora chegou a vez das expressões que não se vê mais usar. Quem é do interior de Minas ou convive com alguém que seja e que tenha nascido antes das últimas três décadas do século passado, há de se lembrar dessas.

- menino pintão ( que pinta e borda) numa alusão às bordadeiras que pintavam o pano antes de bordar. Significa fazer o serviço completo; no caso do menino, bagunça total; é mais ou menos equivalente ao moderno menino hiperativo.

- Catiar marra - desafiar situações ou ordens quando não se tem bala na agulha;

- Culundria - aglomerado de pessoas, geralmente tramando alguma coisa ou bando de pessoas reunidas para um fim;

- Incengado – teimoso ou cismado com alguma coisa, obsessivo;

- Intertido ou intirtido (?) - o mesmo que entretido, mas ainda é bastante falado e quer dizer absorto, envolvido;

Já ouvi bate boca de pessoa querendo corrigir outra quanto à palavra que era correta.

- Gafurina esgadanhada – cabelos desgrenhados ou arrepiados, difíceis de pentear;

- Esbaforido – apressado, aflito,

- Sirigaita – era quando se queria ofender uma mulher nos termos que se faz hoje, chamando-a galinha, piranha, etc;

- Enrabichado(a) – de namoro pretendido ou garantido;

- Regateira – não, não é praticante do esporte náutico nem fabricante de camiseta, é assanhada, oferecida;

- Botar reparo - notar, observar algo ou alguém;

- Embrafustado – bacana, chique, ajeitado;

- Cafifa – maldição; desejo de má sorte;

- Dar lance – deixar por algum movimento a calcinha à mostra ( sem querer ou de propósito) dependia se havia segundas intenções.

Já vi muita briga de namorado por esse motivo. “Fica aí dando lance pros outros!”

- Isturdia – outro dia ou dias atrás;

- Latomia – chiadeira, reclamação à toa;

- Xexelento – cheio de frescuras,

- Alcoviteira- que fica ouvindo atrás das paredes ou portas, as conversas alheias para divulgar depois, fofoqueira. Vem da alcova que era assim chamado o quarto dos casais (hoje em dia, só os poetas usam alcova). Não é machismo não, mas esse adjetivo só me lembra de tê-lo ouvido no feminino.

- Embusteiro – enganador, que fala mentira par tirar algum proveito

- Vire o disco – mude de assunto. Quando a conversa é muito irritante, repetitiva ou cansativa.

Como muita gente nem conheceu o disco de vinil ( LP )..., fui!

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