quarta-feira, 19 de março de 2008

TEM UM TEMPINHO AI?

Estamos vivendo a era da luta contra o tempo. Resistimos a tudo que nos “toma” esse precioso elemento. Estamos apressados para tudo. Como a nossa vida tem virado um perde-ganha descontrolado, o tempo é matéria.

Os muito atarefados se horrorizam com a possibilidade de deixar de aproveitar algum tempo que todos chamamos de útil. Mesmo que a utilidade em questão seja nada, lugar algum. Se no trânsito, o sujeito lhe ultrapassa, buzina, e vocifera, na maioria das vezes, aonde ele chega primeiro é no sinal fechado. É tão urgente a vida que estamos esquecendo até de “perder” algum tempo com nós mesmos ou com os que nos são queridos ou próximos, para podermos viver bem mais tempo. Estamos só passando. Passando correndo, aliás. Precisamos começar a perder algum tempo com umas coisas que farão a nossa passagem ser ganhadora. Não de tempo, mas de substância.

Em casa, não perdemos tempo com os filhos, com a família, para não perdermos o que passa na televisão. Com os amigos, somos breves, lacônicos, porque o tempo não pára e temos sempre algo mais a fazer. No trabalho, tempo é dinheiro, mesmo que ele não venha a ser nosso depois da correria. Se errarmos, então, foram tempo e dinheiro perdidos: rua. Tá cheio de gente com tempo esperando a nossa vaga.

Pela falta de tempo, optamos pelos relacionamentos virtuais e despendemos grande tempo na rede mundial, isso mesmo, mundial, para depois de muito tempo e dores nas costas, descobrirmos que estamos solitários entre a cadeira e o monitor.

Difícil se estabelecer ou se ouvir uma conversa sobre qualquer assunto que não seja entrecortada pelas palavras: “agora não posso, estou sem tempo”, “dê um tempo”, “se sobrar um tempo eu vou”, ou “eu faço”, ou “eu vejo”, ou “eu leio”, “isso leva muito tempo?”

O lado bom é a sabedoria que ele trás consigo, como senhor da razão, cura dos males da alma e matéria dos sensatos e pacientes. Reserva créditos futuros em longevidade para aqueles cujo tempo é exatamente a medida calculada para a satisfação das necessidades básicas e abundante para ser gasto em outros bons tempos e em alheamento e observação.

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