Quando crianças, os nossos olhos vão se abrindo (metaforicamente), na medida em que nos vem a fala e depois os demais mecanismos de comunicação que vamos captando durante o crescimento. Como pais, acompanhar essa trajetória é melhor que ganhar em todas as loterias. Permito-me aqui fazer analogias desse imenso prazer ( da participação) com o enriquecimento. Mas tá bom, tomem o dinheiro como metáfora. As palavras vão surgindo desconexas nas primeiras falas e se encaixando tanto quanto a percepção e o aprendizado vão cedendo lugar. Um aparte, antes de ir aos fatos para justificar o texto: hoje em dia há tanta palavra, imagem e informação disponível que desconfio proporcionarem, em breve, às crianças dos nascimentos próximos, já virem à luz, em vez de chorando, balbuciando. E assim se vai aprendendo e vivendo (as crianças) e vivendo e aprendendo ( os mais velhos). Pelo menos até a idade escolar acontece mais ou menos assim, de acordo com as articulações que a criança tem à sua disposição ou é capaz, por si só de estabelecer com o mundo da palavra. Então no contato com as primeiras letras, aí o mundo vira outro. Parece um míope quando descobre a deficiência e usa óculos pela primeira vez. O mundo ganha um novo brilho e colorido. O sentimento que se tem é de que, ao aprendermos a ler, dá vontade de engolirmos todo o mundo. Ou ir engolindo-o aos pedaços ou às sílabas, para que fique mais bem ilustrado.
Minhas duas filhas guardam a distância entre si de 11 anos, mas em comum, guardo eu das duas, a similaridade de atitudes no aprendizado da leitura e é desse prazer de genitor e observador que quero falar. Uma de cada vez e com hierarquia, que foi assim que me ensinaram. Vamos então à Maíra, que é a mais velha.
Morávamos em Mariana e vínhamos de ônibus para Belo Horizonte a convite de um irmão para passar um fim de semana em sua casa e ela veio em meu colo (ainda muito pequena, era beneficiária do passe livre). Grudada com o rostinho na janela do veículo, não perdia um detalhe sequer do movimento lá fora ou do movimento cá dentro, isso é muito relativo (já dizia Einstein). Na entrada da cidade, longe a vista já alcança o mundo da ilusão, pelos letreiros de propaganda, placas de out door e muros rabiscados, onde se vende de tudo e atiça a mágica curiosidade dos olhares de aprendiz de bê-á-bá. Foi devorando tudo que lhe foi permitido pela velocidade do ônibus, deixando cair letras pelo caminho aos solavancos do veículo ou aceleradas do motorista. Até que, parado o ônibus em um semáforo, aquele breve momento permitiu que ela se fixasse em uma placa duma loja de som automotivo e que leu célere, para minha surpresa a palavra “casa verde”, me olhando como quem pede aplauso ou elogio, mas engasgando ao mesmo tempo para soletrar a placa do alto falante. Lia “bravo” e dizia, não; “bravoche”, também não. O ônibus arrancando e ela apressada e não querendo dar o braço a torcer disse: ah, pai é bravoc, né? Era Bravox. Tinha então cinco anos.
A Clara iniciou também cedo a vida acadêmica. Partiu da palavra para as letras já aos dois anos de idade. De todas as jóias proferidas por ela durante o seu aprendizado, essa, infelizmente, não presenciei ao vivo por não estar ela mais morando comigo. Mas foi mais ou menos como a irmã: perto dos cinco anos. Havia se mudado para o interior de São Paulo, onde a mãe prosseguia estudos. Mas ouvi dessa última o relato e considero que foi bem marcante pela criatividade e o desaperto quando se tem interesse no aprendizado, ainda mais se ele vier acompanhado de um bônus, como se deu o ocorrido. Soletrava já algumas sílabas e até mesmo palavras soltas.
Dia de muito calor, cidadezinha do interior, o passeio predileto de pais com filhos, geralmente é nas praças. Ou da Matriz ou do Coreto, enfim, a praça de encontro nas cidades pequenas onde o calor humano é mais perceptível que nas metrópoles. Empolgada com a desenvoltura da pequena na escola, as duas vão andando pela rua e a mãe, sempre diante de algo escrito pedia a mesma para ler. Foi tentando sem muito interesse, mas tentando e puxando a mãe pelo braço até porta de um estabelecimento em cuja parede derretia o desenho de um sorvete e também continha o nome do lugar. A danadinha, já suada e querendo mostrar serviço não só para ser elogiada, mas também para concretizar sua segunda intenção parou bem em frente e leu o desenho: “olha lá, mamãe, ali está escrito sorveteria.” A mãe ganhou o dia e ela, um sorvete.
1 comentários:
pai,foi um A-B-S-U-R-D-O o texto......nem foi isso o que aconteceu foi com farmacia mas estava escrito era drogaria e alendo mais parece até q vc tá me zuando........eu te disse q mandaria um recado(comentário.......
na próxima vez eu vo vazer um blog te zuando tbém!!!!!!!
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