quinta-feira, 27 de março de 2008

T.O.C., T.O.C., T.O.C.

Ultimamente tenho lavado muito as mãos. Se for habito higiênico por causa da cozinha que freqüento muito, ótimo; mas desconfio que seja mania mesmo. E tomara que sim, para não ter que admitir algum transtorno obsessivo compulsivo. Ansiedade, nem pensar, que eu não sou ansioso, eu não sou ansioso, eu não sou ansioso, óóó! É só passar próximo de alguma torneira, que tô eu ali, esfregando, enxaguando e enxugando. Na maioria das vezes elas mesmas me comandam. Nem adianta resistir; vão logo abrindo a torneira, ensaboando, e quando tento retomar o controle, fingem obedecer, pegam a toalha ou pano de prato, se enxugam e vão para os bolsos ou pegam algum objeto para ver se esqueço ou deixo pra lá. T.O.C.. Tem casos mais graves que o meu. Mania de limpeza, muita gente boa tem, como o seu contrário também, mas a pecha de mania só fica com a pessoa da limpeza. A sujeira é inclassificável nos tratados da psicologia. É simplesmente considerada caso de porcaria. Morei um período na cidade de Araxá, onde conheci a mãe de um colega de trabalho, uma dona de casa, que fazia três faxinas por dia e não era diarista, não. Era em sua própria casa. Às vezes julgava que havia terminado, mas não largava o pano. Ficava andando pelos cômodos verificando se alguma poeira havia chegado repentinamente para xingar e limpar, xingar e limpar, xingar e limpar. Tinha uma outra mãe, a de uma colega de escola de segundo grau, por quem eu era caído e que me levava sempre para almoçar em sua casa, condoída pela minha alimentação republicana – éramos vizinhos de prédio no centro de Belo Horizonte. Aquela se superava. Um dia a vi lavando as couves para serem preparadas, e o fazia três vezes com detergente e esponja, folha por folha. E ao meu espanto respondeu que a primeira era para retirar a sujeira de muitas mãos que as apalpavam na feira (as couves, viu?), a segunda era para eliminar agrotóxicos e a terceira era a normal, todo mundo tinha que lavar os alimentos antes de comer. TOC, TOC.

Para o meu caso das mãos achei um culpado, ou melhor, uma culpada: Tia Rosário. Presente em muitos momentos da vida familiar em nossa casa ou nós na dela, para saborear suas deliciosas comidas ou ela ajudar minha mãe nas grandes reuniões gastronômicas, tem duas peculiaridades e uma não é mania: os seus olhos de Midas para a feiúra humana. Todos os que ela vê, conhece ou revê após anos, especialmente se tiver algum parentesco, ficam lindos ou uma belezura como costuma expressar com a respiração aspirada. A outra sim, a que ela faz às louças, deve ser a que me ficou como herança nas mãos. Na hora do almoço, comia bem rápido, levantava-se da mesa e ficava andando em volta, vigiando se alguém havia terminado ou, impaciente, perguntava: “já acabou?”; para recolher o prato e os talheres e lavar imediatamente. T.O.C., T.O.C., T.O.C.

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