sábado, 15 de março de 2008

É SO UMA PICADINHA DE FORMIGA

Um bombeiro que desmaiava ao ver uma agulha sendo usada ou ter que aplicar uma injeção foi demitido. Deu no noticiário da internet. A notícia na internet ou na tv na maioria das vezes, serve muito mais à inspiração e à lembrança do que à relevância. Mas deu. E me recordou dois episódios curiosamente inusitados. O primeiro só fui compreender muito tempo depois. Ainda não estava habilitado a decifrar as vicissitudes humanas ante a fatos que para mim eram tão corriqueiros. Mesmo sendo, ou apesar de ser criança como na época em que seu deu o acontecido. Já presenciei muito pavor de agulha nas campanhas de vacinação ou aversão a sangue em episódios em que fazia doação, mas esses me acudiram a memória pela comicidade. Meus dois irmãos e mais um primo haviam sofrido grave acidente de carro e estavam sob cuidados médicos em um hospital na capital, Belo Horizonte. Morávamos então em Itabira. Minha mãe havia conseguido que os visitássemos, eu e as duas irmãs mais novas, às escondidas, já que não era permitida para menores de doze anos a entrada, a não ser como pacientes. Estavam bem machucados e o meu irmão mais velho, o Paulo despelou da cintura para baixo, ou, no jargão apropriado, estava em carne viva. Chegou lá um casal de namorados, estranho para nós, mas conhecidos da mãe. Eles manifestaram pelas faces ruborizadas, o quanto ficaram impressionados pelo estrago provocado e o rapaz, não se conteve de curiosidade, insistindo que minha mãe descobrisse o lençol das pernas dele a fim de ver melhor como ficara. Ela dizia ser melhor que não, podia se assustar, etc, mas o sujeito teimava. Vencida pela insistência, foi tirando a coberta e o moço foi desfalecendo, no mesmo ritmo do movimento de retirada do lençol e antes mesmo que ela terminasse, ele já estava nos braços da namorada precisando de sais aromáticos.

O outro caso foi quando morava na cidade de Mariana e trabalhava em uma grande empresa. Fomos todos consultados sobre a possibilidade de doar sangue à esposa de um colega de trabalho que seria submetida a uma grande cirurgia, também na capital, ao que me prontifiquei, estava já acostumado a fazê-lo sempre que não havia nenhum inconveniente com a saúde ou quando não havia ingerido algumas cerveja a mais na noite anterior. Éramos em torno de oito ou dez doadores. No hospital, preenchemos o formulário de praxe e nos enfileiramos nas cadeiras aguardando as duas enfermeiras que se revezavam na retirada do sangue. O Jair, um moreno alto e forte com seus quase 1,90m ( hoje em descanso eterno) descoloriu, ou amarelou modernamente falando, ao ver a agulha e teve de imediato, a pressão aumentada até os 18 x 12 quando a moça viu-lhe a falta de rubor e resolveu medi-la antes por via das dúvidas. Para evitar algum constrangimento nem mexer-lhe com os brios de homem macho, disse a ele para aguardar para ver se a pressão baixava um pouco, que deveria ser excesso de calor, cansaço da viagem ou coisa que o valha. Fez uma cara corada, parecia que era de satisfação ou alívio e nem quis perguntar se haveria nova tentativa depois que elas terminaram a retirada dos demais. Ao oferecer-nos um lanche repositor, uma das enfermeiras nos segredou que isso acontecia. As pessoas temerosas por agulhadas, geralmente desmaiavam ou tinham a pressão elevada ou corriam do hospital sem sequer olhar para trás. Por esse motivo ela havia inventado para ele, numa conversa reservada, uma história amena de que seu sangue houvera engrossado demais e não lhe saía das veias.

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