sábado, 20 de agosto de 2011

NA ALEGRIA E NA TRISTEZA

Que Sócrates era um sábio isso quase todo mundo sabe. A sua frase mais conhecida é “sei que nada sei”. Sabido que nem ele só, escamoteava seus conhecimentos através da negação. Sua mãe, parteira, ajudava dar à luz os nascidos de seu tempo. Inspirado nela, Sócrates desenvolveu um método que a filosofia chamou pelo difícil nome de maiêutica. Consiste basicamente em arranjar um interlocutor, enchê-lo de perguntas e ir elaborando novas perguntas a partir das respostas. Entre uma resposta e outra ele ia parindo novos conhecimentos. E deixava o cidadão cheio de nuvens na cabeça. Acredito que não havia ninguém que depois de uma boa prosa com Sócrates saísse a mesma pessoa. No mínimo ia querer mudar, senão o mundo, pelo menos a si mesmo. Afinal, “conhece-te a ti mesmo” é outra frase bastante conhecida do grande filósofo.

Descobri que pelo menos perguntar é o que mais gosto sem fingir que nada sei, pois não sei mesmo e fiquei reparando como é que a gente trata de forma diferente as alegrias e as tristezas. Na alegria eu já notei que encontra-se pouca gente para compartilhar e na tristeza ou alguma dor tem-se uma boa dose de solidariedade. Não que a alegria necessite de amparo. Mas será que o mundo é tão sofrido assim que só precisamos estar solidários do lado de alguém apenas quando essa pessoa está mal? Ou será que uma alegria incomoda muita gente?

A dor costuma ser medida em termos de comparação. Quem nunca ouviu aquela expressão: “tem gente muito pior do que você”(?) A alegria pode ser compartilhada apenas no flagrante e mesmo assim para o alegrado dura apenas aquele instante mágico, especial? Se a tristeza é senhora como já disse um poeta, necessitaria de cuidados maiores? Também houve quem dissesse que a alegria é como criança. Então, não precisaria de muita atenção e ajuntamento em torno de si? A alegria é egoísta? Por que na dor a gente deixa entrar o mundo em nossa casa, chama o universo em socorro e abraça tudo com emoção comovida? Na alegria só costuma chamar os mais chegados, amigos e familiares, quando muito. Na alegria a gente costuma até pagar a conta da comemoração. E na dor? Não costuma socializar a emoção e a conta também? A comoção que nos atinge quando estamos ao lado de alguém triste não é um sentimento oposto a quando estamos ao lado de alguém alegre? Quer dizer, não nos envolvemos a mesma forma em ambas as situações. Por que?

Eu tinha escrito esta crônica num dia de tristeza. Acontece que minha alegria costuma ser maior ou eu dou menos importância à tristeza. Então guardei e nem sei o motivo de não publicá-la. Agora, lendo notícias encontro algo curioso. Elegeram a cena mais triste de todos os tempos nos filmes e, na pesquisa, descobriam algumas coisas inusitadas, como o fato de as pessoas gastarem mais dinheiro quando estão tristes do que alegres. Assim, termino com bom humor: será que é por isso que as festas 0800 estão cada vez mais escassas?



 Quer ver  a cena? Aqui






22 comentários:

lis disse...

É mesmo assim Cacá estamos sempre prontos quando é pra socorrer os tristes com palavras de afeto e aos alegres a gente geralmente só fica mais pertinho se for chamado ! rs
talvez pra nao incomodar, no meu caso acho que é isso, sui super hiper idiota .nao gosto de incomodar e acabo incomodando com minha postura solitária.
Voce sempre surpreende com temas e textos prá lá de bons rsrs
obrigada Cacá tenha um lindo sábado

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Excelente crônica Cacá, eu acredito que dor nenhuma deve ser comparada, a dor de ninguém é maior ou menor que a dor de outrem, por que o que é muito importante pra mim pode não ser pra você, também a forma de demonstrar dor é diferente,às vezes o que sente mais dor é o que se cala, o que se faz de forte e saí consolando os outros e não aquele que tem reações desculpe espalhafatosas, também dizem que estes colocam logo pra fora e a dor dura menos tempo, não sei.
Agora a alegria realmente passa rápido, aí vem o ditado " quando acerto ninguém se lembra, quando erro ninguém esquece" acho que com a alegria e a dor é assim, o ser humano não consegue lidar com derrotas, e quando a alegria o ser humano nunca está satisfeito, logo as esquece por que quer logo mais, desculpe eu falo muito, beijos Luconi

Inaie disse...

meu querido, ha muito venho pensando nisso...comos e a nossa alegria fosse motivo de vergonha, como se dividir alegrias trouxesse ma sorte. Muitas vezes ja vi gente culpando a lingua solta pelo fim da alegria. Ta vendo? foi contar pra todo mundo, deu errado, estragou tudo.
Que ha muito mal olhado, nao tenho duvidas. Que as pessoas acabam invejando o alegre, tambem nao tenho.

Acho que no fundo o sacrificio de se dar para alguem que "precise" por que passou um perereco, ou pq esta triste e mais facil do que o se doar para quem nao se cabe em si de felicidade...

Eu, fico por aqui, feli da vida com as minhas andancas e dividindo as minhas dores e prazeres com quem tiver saco e tempo de dividir comigo.

beijos

chica disse...

Quando encontramos as pessoas alegres à nossa volta se não formos convidados pra partilhar, ficamos felizes de longe... ( e eu, avessa às festas, ainda me escapo delas,srs) ...E na tristeza, sentimos necessidade de levar nosso abraço amigo...

Um abração na alegria e na tristeza,SEMPRE ! chica

Beth/Lilás disse...

Bom dia, Cacá!
Vou lhe contar uma coisa, eu adoro estar perto de gente que realizou algo e ficou feliz, gosto de ver a felicidade daqueles que eu amo, compartilhar e celebrar. Isso é como se a atmosfera ficasse tão leve, tão cheia de coisas boas que eu preciso aspirá-la junto, entende?
Quanto à tristeza, considero-me uma grande amiga também, pois costumo dar forças e não esquecer da pessoa, sempre ligo ou visito.
O filme em questão, quando eu o vi, certamente me emocionei também, mas revisitando agora, fiquei foi impressionada com a atuação deste garotinho que eu nem sei o nome e que deveria ter ganho um Oscar pela sua atuação. Que sensacional, parece mesmo que estamos vendo uma perda verdadeira!
um grande abraço carioca

Norma de Souza Lopes disse...

Me fez pensar, caro amigo. Em tempos que a melancolia romântica virou depressão medicada, fico pensando se não devemos cultivar a nossa triteza de cada dia.
Eu, que agora me tornei presidente do partido da solidão, estou cada vez mais feliz com minha tristeza. Dela me nascem pérolas.
Abraços
Norma

Denise disse...

Emoções opostas, que parecem não conviver bem, entretanto, parece que trocam de turno, uma entra em lugar da outra.
Talvez Cacá [adorei essa tua reflexão!], eu sempre tenha observado diferente de vc, pq penso que, para conhecer-se precise do silencioso contato consigo mesmo, tempo de colheita das vivências da vida, quando os aprendizados são reconhecidos. E é no vivenciar a tristeza que nos questionamos, que damos o mergulho mais profundo - e esse estado nos distancia do mundo, não das pessoas, como nos parece. Se nos isolamos, temporariamente, talvez as pessoas apenas respeitem esse momento, tanto que voltam, quando as convocamos...claro que isso é generalista, mas em tese, penso que acontece nossa busca por essa quietude, e quando decidimos recorrer àquelas poucas pessoas para quem abrimos a alma, elas se achegam...compartilham, pq essa decisão é nossa...quantas vezes nos sentimos invadidos quando queremos ficar a sós conosco mesmos, e o telefone não para, os e-mails chegam, os recadinhos de "saudade" surgem em todos os lugares...
A alegria pede quórum, né...rs...precisa de gente pra ser compartilhada, esfuziante que é, sem falar que são momentos sem pressão, em que podemos apenas curtir sem um compromisso de expormos pensamentos ou energia canalizada com a responsabilidade de "tirar" alguém da letargia...é um descompromisso gostoso de uma troca diferente...

Entretanto, as dores comovem e, se tocam em pontos nevrálgicos nossos, nos mobilizamos na tentativa de ser solidários, diminuir os sentimentos que conhecemos bem, sem falar no conceito forte de que amigo é aquele que estende a mão, está presente nos piores momentos, pq pra comemorar, sempre terá gente disposta a reunir-se a nós. Crenças...elas movem a gente.

Desculpe, me estendi um monte...mas a culpa foi tua ao propor esta reflexão...rsrsrs

Adorei!
Beijo grande

Celina disse...

oi Cacá, muito interessante a sua cronica, vou tentar dizer o que acho, tem pessoas que sente a dor do outros mais não sabe como comportasse, a minha mãe era assim se ela visse uma pessoa em sofrimentos entrava muda e saía calada, eu tenho uma filha se alguem a chama para lhe algo ela avisa logo: se for problema prefiro não saber. Eu sempre a chamava atenção sobre isso.
Como eu encaro o sofrimento dos amigos, ha sempre uma boa palavra, ter cuidado para não cair no lugar comum, e na hora da alegria, estamos aí. Cacá o senso de humor é uma das coisas maravilhosa do ser humano, mais aquele que sabe usar exemplo vc. Um dos meus netos, aquele que está assinando o livro no casamento,ele faz graça serio, alias tem o trio o noivo, aquele de barba grande, quando se juntam é alegria só.
A alegria atrai,Um abraço grande amigo Cacá.
Celina

Valéria disse...

OI Cacá
A história deste garotinho foi mesmo muito triste e nos leva a refletir sobre as revezes da vida.
Graças a Deus como meu círculo de amizades não é muito grande encontramos ombros amigos e braços abertos na tristeza e na alegria na mesma quantiade e qualidade, mas vejo essa disparidade ocorrer muito.
Bela crônica!
Abraço e ótimo fds!

Lúcia Soares disse...

Cacá, texto lindo, como sempre. Verdade mesmo que somos mais presentes na dor do que na alegria. As pessoas, de modo geral, compartilham suas alegrias com os mais próximos, pois felicidade demais (bem sei que alegria e felicidade não são sinônimas) parece que incomoda. E quando há uma grande tristeza, nem se sabe como as notícias chegam às pessoas, só sei que é como água morro abaixo ou fogo morro acima...
As pessoas são mais preparadas para parecer que curtem a sua dor do que querer rir com você.
Nem me pergunte o porquê!
Quanto ao filme, nunca o assisti, portanto não sei dizer se foi a mais triste cena do cinema. Tem tantas, né?
Choro tão facilmente em filmes tristes, que nem sei lhe dizer, de pronto, qual a cena que mais me comoveu num filme.
Bom domingo!

Eva disse...

Maravilha Cacá, amei muito, beijos, um ótimo final de semana. beijos.

Analista de sua própria vida disse...

Gente é um bicho estranho, não é, Cacá? Não sei por que a tua crônica me lembrou o conto A Igreja do Diabo, do grande Machado de Assis. Os seres humanos são contraditórios mesmo, se tivessem a liberdade para apenas fazer maldades, sempre arranjariam uma brecha para praticar uma bondade, apenas para contrariar a ordem vigente.
Abraços.

Meire Oliveira disse...

Amigo Cacá, acho que temos que começar a falar as pessoas "quando estive triste conte comigo e quando estiver alegre tbm". Do mesmo jeito que quando estamos tristes gostamos de ouvir um "estou aqui" e sentir um tapinha nas costas, na alegria tbm queremos ouvir um "IUPIIIIII, estou aqui" e ser abraçado pulando literalmente de alegria :)

bjokitas com master carinho!

Andre Martin disse...

Sócrates era um esperto.
Como o jogador de futebol contemporâneo, passava a bola (do assunto, em forma de pergunta), para o outro, E assim ia marcando gols! rsrs

Quanto à alegria e tristeza, tenho umas considerações diversas a fazer.

Não acho que a alegria seja egoísta e bairrista. Ao contrário, ela é contagiante! Quem não ri com a risada gostosa e sincera de outro que se diverte (exceto quando aquele ri da gente, daí, a menos que você também esteja de bom humor na hora, ninguém gosta).

Não é a tristeza que é solidária. São os Seres Humanos quem são solidários da desgraça, no infortúnio, no desamparo e na tristeza decorrente. Essa característica humana pode ser motivada inconscientemente por outras razões:
esquecer-se da sua própria olhar para o lado e ver o semelhante em pior condições contribui enormemente para isto!),
atender a lei da preservação da espécie (se não sobrevivemos ou ajudar os sobreviventes, sucumbirei também),
atender a lei da sobrevivência (futura, ao fazer isto e agir assim, na esperança de que quando precisar, façam o mesmo em recíproca),
etc...

Sobre a dor, também fiz algumas considerações., veja em http://mesdre.blogspot.com/2011/06/conjugar-com-ardor-o-verbo-amar.html.

E se quiser ouvir a palavra (muito bem) cantada dizendo que "a tristeza é senhora", vai encontrar links no http://tremusdamivi.blogspot.com/2009/06/quem-samba-seus-males-espanta.html

Isadora disse...

Cacá estava pensando sobre isso nessa semana. Temos tantas batalhas pequenas ou grandes que precisamos travar todos os dias, que até para comemorar as coisas boas temos pouco tempo.
Não sou muito amiga da tristeza, mas claro que ela vem fazer visitas. O bom é que são bem rápidas e logo, a alegria toma seu lugar por direito.
Um beijo

Anônimo disse...

Excente crônica e excelente blog, suas palvras nos fazem refletir muito! Realmente sempre consolamos a tristeza de alguém e se notamos sem nosso egoísmo, percebemos que sempre há pessoas piores que nós, fato que muitos que estão tristes não querem ouvir, mas é real. A alegria sempre está em nós, pois a partir do momento em que consolamos alguém, já queremos transmitir algo de bom e o que é bom, nos traz alegrias, a ajuda é a alegria, o bem é a alegria, isso não tem preço. Tudo na vida são fases que temos que passar, isso é fato, ora precisamos de alegria, ora precisamos de consolo, é uma troca e essa troca nos faz muito bem a alma e se nos faz bem a alma, estamos de bem conosco e com nosso semelhante! Adorei suas palavras e seu espaço. Parabéns!

Casal 20 disse...

Esse filme é lindo! Lindo! Lindo demais! Chorei horrores quando o vi e choro sempre ao rever.

Mas sobre esse assunto da solidariedade da tristeza e não da alegria, posso soar pessimista, mas eu acho que a alegria alheia pode despertar em muitos a inveja. Daí, não sabermos lidar muito bem com a vitória do outro, com a felicidade alheia. Talvez passe por aí...

Abraços sempre muito afetuosos.

Miriam de Sales disse...

Socráticamente,percebi coisa ainda mais inquietante;as pessoas são solidárias c/ as nossas tristezas,talvez por estarmos fragilizadas e essa tristeza n; ser delas.Antes ele qo q/ eu...é a máxima!
Já a nossa alegria nos torna poderosos.E,ninguém aplaude a concorrência.Parece cruel?Experimente observar. bjs

J Araújo disse...

Cacá, adorei o texto. Saiba você que aprendi mais uma lendo sua crônica.

Apesar de me considerar até certo ponto conhecedor de vários assuntos não tinha visto por essa optica a questão da tristeza e da alegria.

Com certeza você matou a charada a tristeza realmente é compartilhada com um maior numero de pessoas mesmo. Tenho certeza que várias pessoas assim como eu não tinha, ainda, pensado nisso.

Abraço

Lívia Azzi disse...

Seria muito bom que as alegrias gerassem tanto amparo quanto as tristezas. Mãos juntas para chorar quando estamos tristes e também para vibrar quando estamos felizes. Penso que assim haveria mais festas!!

Um abraço e uma ótima semana, Cacá!

Anônimo disse...

Eu sofro deste questionamento, Cacá. Me pergunto se na dualidade humana de amor e ódio, por vezes, este se faz mais presente do que aquele. Creio, lamentavelmente, que algumas criaturas têm sim dificuldade de alegrarem-se com a alegria alheia. Muito pertinente este tema. Abraços!

Suely disse...

Como dizia o poeta: "É melhor ser alegre que ser triste"...
Mas minha mãe também repetia com frequência o ditado: "O que dá pra rir dá pra chorar", que eu aprendi e uso bastante. Beijos!

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