terça-feira, 14 de junho de 2011

VIDA DE PEÃO - JANTAR À LUZ DE VELAS

Esse romantismo é quase universal.  Peão embarca nas ondas mas quase nunca segue os rituais de etiqueta. Eu morava numa cidade e a minha namorada em outra. Fui passar com ela o dia dos namorados e voltei bem à noitinha e esfomeado. Segunda feira cedinho, batente de novo. No entanto, precisava comer. No apartamento onde morávamos eu e o Ferreira, só tinha pães velhos, e um suco de caixinha. Queria mesmo era uma janta. Tinha namorado com tanta fome que me esqueci de comer comida.   O Ferreira estava me esperando para levar a namorada para jantar. Ele não tinha carro e me queria como motorista, fazer bonito para a sua donzela. Fui levá-los (no banco traseiro, como manda o rito). Era o restaurante mais chique da cidade entre os dois que havia. A noite era temática, ambiente cheio de flores, penumbra e música pianíssima em tom bem baixinho. Próprio para uns aperitivos e uma boa conversa a dois como entrada. Ocorre que minha fome era inadiável. Propus então me sentar em outra mesa mas fui instado a fazer-lhes companhia. Amigos não são “vela” nem no dia de namorados, me disseram. Ferreira se ajeitou com a delicadeza que lhe era peculiar, sentando-se primeiro e deixando a moça sozinha ajeitar-se em seu lugar. À chegada do garçom, já foi pedindo uma porção de torresmo e duas cachaças (da boa, viu moço! disse delicadamente, quase gritando). O garçom meio constrangido com a cena pouco usual para a ocasião, ofereceu um jarrinho com um botão de rosa à menina, que virou imediatamente cinzeiro para ele. Ela querendo um vinho tinto,  teve que se contentar com uma água gasosa, já que não havia no cardápio um legítimo “sangue de boi”, o vinho que ele mais apreciava. Outros não tolerava, “muito rascantes” (palavra que tinha aprendido sei lá onde, sem saber o significado). Sei que o jantar saiu até bem, regado a outras seis ou sete doses a mais “da boa.” Até pensei que ali estava selado o fim do namoro. Mas deu em casamento que dura já faz quase vinte anos. Hoje eu liguei para ele a fim de lembrar do fato e ele me disse preocupado: - Zé, meu filho mais velho está namorando e você precisa ver que rapaz mais esculhambado! Acredita que sequer comprou umas flores para a minha nora? Eu disse: - Você em algum momento lhe contou sobre o início de seu namoro ou será que é alguma herança genética?

12/06/2010

13 comentários:

Beth/Lilás disse...

Eita, segura peão!
Eu já vi umas figuras assim, muito grotescas de comportamento, sem classe nenhuma e o pior é que as mocinhas casam com um cara assim. Sinceramente, eu morreria solteira se me restasse um peão como este.
E logo ele vem falar que o filho é esculhambado? rsss
um grande abraço carioca

boutique de ideias disse...

hahaha Que gostosa lembranca, Cacá, veio mesmo a calhar para o dia dos namorados! Sua anédota me fez lembrar de uma noite, quando depois de uma balada, recebi um convite para jantar, e a tal janta resumiu-se em duas coxinhas e um frango no palito (nem restaurante chique tive direito...) Isso dá um conto, quem sabe nao escrevo por esses dias??? Tenho certeza que vc vai rir e eu tb, já tinha esquecido dessa noite horrorosa e comica, mas agora, depois de anos, gostei de relembrar, hehe.... Beijo grande amigao, boa semana!!!

chica disse...

rssssssss... Pior é que depois esquecem,srsr Ou é melhor esquecer!sr abração,chica

Rô... disse...

oi Cacá,

lendo o que escreveu,
me lembrei das palavras da minha avó,
"não adianta filha,
por mais que a gente tente disfarçar,
o fruto nunca cai longe do pé"
tai,
tal pai,
tal filho,
tenho certeza que ou pela genética,
ou pelo exemplo,
são tão iguais...

beijinhos

Celina disse...

Oi Cacá bom dia, as vezes aacho que a mãe ou responsavel deve dar umas aulas de como uma mulher gosta de ser tratada, quando os meu filhos ia se encontrar com a namorada, eu dava algumas instruções hoje são os netos, de mandar nem que seja um botão de rosa, ser gentil, são pequenos detalhess, um presente não precisa ser caro, mais escolhido com amor, não pegar qualquer coisa, como se tivesse cumprindo una obrigação,na falta de criatividade der flores, qualquer mulher ficam encantada, mostra a sensibilidade de quem presenteia. Acho que jamais teria casado com um cara grosso. Um abração meu amigo. Celina.,

Neno disse...

Oi Cacá, vim deixar um abraço e fiquei triste com oque aconteceu.
Bjs do Neno

Celêdian Assis disse...

Olá, Zé!

Imagino a cara da moça em meio a dois marmanjões, em pleno dia dos namorados, bebendo todas com tira gosto de torresmo, sem contar as baforadas do cigarro... srss. Coitada, vai ver gastou o dia todo se embelezando para o tal encontro...srrs..mas fica o lado bom da coisa, pelo menos o Ferreira a levou para jantar né? Seja como for, dentro das limitações de cada um, o que importa é o gesto. Ótima crônica meu amigo e fico feliz de vê-lo resgatando o humor.
Um abração.
Celêdian

Hope* disse...

Pois é.. Eu proponho uma reflexão:
Peão "da boa", conseguiu manter o casório muitos anos, por que os homens "tulipas", não fazem o mesmo!?!
Enfim, só um devaneio, detesto grosserias, mas não confio em flores também....
Bjk Querido!

Nice Bacchini disse...

KKKKK! Deve ser mesmo genético, mas quando tem que dá certo, vai dá de qualquer maneira. Ficou ótimo o texto...Abraços

Cronicando disse...

Cacá. Seus textos são ótimos sempre. Dei boas gargalhadas aqui.

Anônimo disse...

Oi Cacá, esse assunto sobre genética é mesmo complicado.
Nada que uma terapia o ajude a mudar. Abraço Cy.

everaldo disse...

gostei daquela do "...tinha que comer comida",...gostei.
Hoje em dia, mais do que antes,...no dia dos namorados, só se come comida mesmo !!! Né não ???

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