quinta-feira, 7 de abril de 2011

PIPOCA E FAVORITA

imagem google

O século. XXI foi inaugurado sob os auspícios da mais extremada modernidade tecnológica da história humana. Há umas coisas que, se não fossem os olhos muita gente não acreditaria nem em relatos de tão ultrapassadas que soam aos ouvidos de uma geração high tech. Mas aqui, como em muitos lugares o novo vai convivendo com o antigo até estes últimos ficarem restritos às casas de colecionadores, esses renitentes demodês do mais alto valor histórico. Sem eles e os museus muita coisa já teria ido pro beleléu sem deixar rastros. O progresso é inclemente com a história ou o homem é indiferente a ela?
 
Pois não é que ainda há carroceiros em BH? Eles são regulamentados pela prefeitura como prestadores de serviços urbanos de várias naturezas, sendo a principal o recolhimento de pequenos entulhos. Para quem não pode pagar um caminhão, já vi muitas delas fazendo, inclusive, mudanças de casas. Até placa no detran elas possuem. Só não sei se pagam IPVA, o que não seria de assustar frente aos poderes públicos vampiros sedentos de impostos. Aqui mesmo na minha casa toda vez que há restos de poda ou qualquer cacareco que vou dispensando, tenho um cartão do meu já velho conhecido Zé Carroceiro. Uma chamadinha pelo celular e ele está buzinando minutos depois à porta. Ou melhor, zurrando com sua égua ou mula de porte altivo e bem cuidada. A um preço módico e uma urinada fedorenta na área externa (que ele faz questão de lavar depois, sejamos justos), leva tudo e quando é muita coisa divide em duas viagens a fim de não sobrecarregar sua companheira de trabalho e mantenedora do sustento de sua família. 
 
Agora, a malandragem que não é chegada a um trampo mas gosta de sondar facilidades para sobreviver à custa do alheio deu para furtar éguas, mulas e burros. Já é a segunda vez nesse ano que abro os jornais e dou com a notícia de um carroceiro desolado fazendo BO na polícia* a fim de resgatar seus animais/instrumentos de trabalho. Elas foram roubadas enquanto ele as deixou amarradas para ir a um velório. No caso de hoje, Pipoca e Favorita extrapolam essa relação, segundo seu próprio dono. Seriam membros da família, de tanto apego que todos na casa possuem com os animais. O dono desesperado sem o seu ganha pão e as crianças desoladas sem seus “brinquedos” vivos. Êta, Brasil!
 
*Fonte: jornal hoje em dia 06/04/11

24 comentários:

Camila Lima disse...

Oi Cacá, aqui em SP também tem carroceiros, mas não tão organizados como por aí... E também tem as companhias, mas nunca ouvi falar em BO's ao perdê-las... Adorei o texto!

Beth/Lilás disse...

Este Brasil é mesmo contrastante, enquanto carros lindos importados desfilam por nossas ruas, ao lado podemos ver um 'burro sem rabo' como chamam os carroceiros daqui. Eles não têm animais puxando as carroças e sim eles mesmos, talvez cansados de serem roubados neste Hell de Janeiro. rsss
Curioso isso que nos conta, há tempos não vejo carroceiros com animais aqui em Niterói, acho que acabaram ou foram mesmo muito roubados, mas o que vejo são homens puxando grandes carroças com material reciclado e tem um que passa tarde da noite em minha rua e seu carrinho faz um barulhão danado.
Eita Brasil!
Passa lá no meu pedaço e recorda comigo uns bons tempos.
bjs cariocas

lis disse...

Oi Cacá
chegando na madrugada hoje mais rapidinho ok?
só mesmo pra deixar meu abraço

gostei do texto Cacá
por aqui nao vejo, mas conheço-os de quando morava no interior, vejo por aqui carrocinhas com catadores de papéis ,com animais felismente nao, já nao temos espaços nem prá pedestres , já imaginou?
e não ia comentar ... rs so deixar o abraço.
te dou o abraço e volto amanhã, ok?

Casal 20 disse...

Cacá! Que história triste!

Fiquei aqui imaginando essa desolação!

Não sei se vou falar alguma besteira, mas acho "engraçado" ladrão que rouba pobre. O cara sabe que está tirando o quase de quem não tem quase nada.

Triste mundo...

Abraços sempre afetuosos.

Marcio JR disse...

Disse bem, Cacá: ÊTA, BRASIL!!!

Respondendo a sua pergunta, lá do começo da crônica, pode ter certeza de que o homem é indiferente, e muito, com a história. Em alguns momentos, ela praticamente deixa de existir para ele.

Aqui em Curitiba, temos vários carroceiros, mas não sei a quantas anda a regulamentação. E os roubos de animais também não são incomuns. Seria a impunidade agindo nessa área também?

Então, de novo: ÊTA, BRASIL!!

Abraços, Cacá. Excelente crônica.

Marcio

Misturação - Ana Karla disse...

Muito interessante, carroceiro que trabalha pela prefeitura.
E ainda mais BO pelo roubo do animal.
Estou encantada, porém triste com esse acontecido.
Aqui em Recife, não há esse serviço.
Há carroceiros clandestinos, que recolhem o material e jogam em terrenos baldios.
Já registrei várias vezes em fotos.
Lamentável.

Esse será pauta de assunto do dia.

Bom dia Cacá.

Xeros

chica disse...

Aqui também temos e elas circulam livremente entre o trânsito, ajudando a atravancar mais e mais pois andam com montes imenso de lixos que recolhem e é simplesmente um horror.

Um problema que aqui em Poa, pensam enm resolver sabe como?

Ensinando a profissão de pedreiros a eles. Porém não querem perder a liberdade e continuam... abração,chica

Berzé disse...

Eta textinho danado de bão.
Sempre é bom dar uma passadinha por esse seu minifundio.Seu texto lembra cheirinho de café.
Abração!
Berzé

Mel Braga disse...

Cacá... Delicia visitar seu blog... e prazer em te-lo no meu...seja super bem vindo!!!
BH é uma paixão antiga... e quando estive por aí simplesmente me encantei!!!

Mesmo com tantas mudanças preservamos algumas coisinhas não é mesmo??? Afinal, o povo precisa sobreviver de alguma forma...

Achei interessante e muito bem bolada a ideia de regularizar, mas, como vc mesmo disse... com certeza isso logo logo terá um preço... se é que já não tem...

Por aqui no litoral norte de São Paulo ainda não estamos tão organizados assim... mas, não dúvido que seja muito diferente no que se refere a roubo...
Oportunista tem em todo lugar!!!

Cacá... amei ler vc... seja super bem vindo!!! beijo grande***

Sheilla Liz disse...

Oi Cacá! É sempre uma delícia ler-te!
Aqui em Curitiba vemos alguns carroceiros as vezes.
Poxa fiquei com pena dos donos de Pipoca e Favorita. Esses ladrões de meia tijela não podiam pelo menos roubar de quem está limpando a bunda com dinheiro? Ou dos políticos corruptos? Acho que está faltando é um Robin Hood no nosso país, hehe.
Enquanto isso a caravana passa e os honestos choram... Eita meu Brasil!

Um abração amigo!

Flor.MCecilia disse...

Lindo Dia*Cláudio*Mas sabe que aqui em Campinas tem muitos carroceiros também..Mas é um pouco preocupante,assim como ai foi roubado,as vezes aqui alguns roubam..rrsrs.Eita Brasil mesmo..
Bjuss\Flor**

Anônimo disse...

OI CACÁ, QUE SERIA DE MIN SEM AS SUAS CRÕNICAS, VC TEM UM JEITO TODO SEU DE CONTAR COISAS SÉRIAS, EU ANDO UM POUCO MACAMBUSIA, MAIS IMAGINANDO O QUADRO NÃO PUDE DEIXAR DE RIR, DO CARROCEIRO LAVANDO O LOCAL DA URINADA DA ÉGUA,IMAGINEI ATÉ A SOLICITUDE DELE DAS PESSÕAS SIMPLES, ENCONTREI MUITOS NO MEU CAMINHO SÃO GENTE GENTE. MEU AMIGO OBRIGADA PELO COMENTÁRIO LINDO. O ABRAÇO DA CELINA.

Celina disse...

oi cacá apertei não sei onde e saiu anõnimo, mais vc sabe que sou eu Celina

Aleatoriamente disse...

É Cacá, lendo teu texto fiquei pensativa.
Vejo aqui em Brasília também os carroceiros, senhores que trabalham para ganhar o sustento da família.
Não sei direito com funciona porque estou aqui desde janeiro deste ano, mas observo que sempre fazem esse trabalho de carregar entulhos e restos de plantas.
Acho um trabalho honesto onde o que se visa ali é uma causa digna, é tudo que eles podem e tem no momento.
Acho de uma maldade furtar a” ferramenta” de trabalho de alguém, sem contar que essa “ferramenta “ traz ao seu proprietário outro valor, o valor sentimental.

Beijo meu amigo, um lindo texto.

PS:E eu queria agradecer tuas palavras dirigidas a mim, lá na Arena das Crônicas do nosso amigo Marcio. Obrigada!
Beijo.
Fernanda

Cronicando disse...

Esquecemos que o nosso presente só é como é por causa do nosso passado. E o pior é que pelas novas ações não pensamos no futuro.
Adorei o belo texto. Parabéns meu amigo.
Kenny Rosa (http://cronicandocomvoce.blogspot.com)

Hope* disse...

CaCá Fofo! Te reencontreiii...
(quem é essa louca que me chama de fofo e ainda fala de re-encontro!?!)
Vc não deve lembrar... Mas eu recordo e tenho registrado suas palavras tão sábias nos meus textos lá do Recanto das Letras (à Isa Hope*). Bem, pra mim foi um prazer te ver por aqui, eu há muito tempo atrás já havia visitado o blog, mas depois me perdi no caminho, sem achar o endereço... Mas como as ruas tb se cruzam na blogosfera, te vi lá no Arena e agora estou aqui, feliz da vida...

E quanto aos desavergonhados que roubam esses bichinhos, já tão cansados do calor do asfalto, é o retrato do terceiro mundo que não nos abandona!

BjOo no Coração!

Mariazita disse...

Olá, Cacá
Realmente a tecnologia avança a um ritmo tal que o que hoje é ultramoderno amanhã é obsoleto.
Felizmente há hábitos e costumes que ainda se vão mantendo e dão um colorido especial à vida.
Há uns 2 anos publiquei num post um texto de Dom Helder Câmara - os jumentinhos - que achei adorável.
Gosto muito de burros, acho-os animais simpáticos, e são muito úteis.
Olhe só como trabalham aí na sua cidade!
Algumas pessoas deviam pôr os olhos neles rsrsrsrsrsrssssss

Continuação de boa semana. Beijinhos

Sônia Silva disse...

Aqui em Recife/PE também tem, mas não andam pelo centro da cidade, o transito aqui já não está tão bom, se uma carroça passar por lá, é transito pra lá de metro.


Infelizmente, não vai parar nunca esses roubos no Brasil.

JoeFather disse...

Esse é o nosso país de extremos!

Aqui em minha ainda tem um último carroceiro. Creio que quando ele se aposentar, somente no museu iremos vê-los!

Grande abraço renovado!

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Cacá, acho que serei a única a falar que não gosto de ver carroceiros com suas carroças transbordando de lixos ou materiais pesados sacrificando os pobres animais; e dê-lhes relho no lombo... Realmente isso me faz mal. Acho que o Estado deveria interferir, arranjar um outro tipo de emprego para esta gente, pois exigir o sacrifício de animais em pleno século XXI?
Tenho visto isso muito de perto, animais trabalhando, puxando pesos além de suas forças e sangrando... Do roubo nem falo, não foi isso que chamou minha atenção. Vi sua crônica por outro ângulo. É desumano.

Beijos
Tais Luso

Adh2BS disse...

Bela crônica, companheiro!
Aqui em Sampa a prefeitura se encarregou de oprimi-los, proibir os animais sob a desculpa de maus tratos (mentira!); eles recolhiam material reciclável... Agora, na clandestinidade, se limitam a recolher o entulho de obras ou "botas-fora" e, talvez numa espécie de vingança, despejam na primeira esquina erma que encontram... E que a prefeitura é obrigada a recolher depois! Ô Brasil...
O que o Arcanjo Salustiano teria a dizer a respeito...?
Em tempo: já recebi o livro, mal vejo a hora de iniciar a leitura.
Grande abraço, ótimo fds!
Adh

Toninho disse...

Pois é Zé, quando passei por Belô vi tais carroças pela Pedro II,achei muito interessante.A saber que em Salvador ainda circulam em alguns bairros.Bela apresentação desta profissao com as criticas devidas às instituiçoes e comportamento humano como o bem sabe fazer.Voce é o cara mesmo.Abração irmão.

Lúcia Soares disse...

Cacá, pena que não ando com câmera a tiracolo, mas vejo tantas carroças em Bh e quero muito mostrá-las no blog.
No bairro Nova Suiça muitas circulam, com seus garbosos cavalos, (ou éguas?)
Perto da minha casa tem uma carroça à venda, acredita? Só a armação, claro, sem o bichinho! rsrs
Tomara que os animais sejam encontrados. Acredito no amor da família por eles, e vice-versa.
Abraços!

Rildson Alves disse...

acho muito bacana esses carroceiros com seus puro-sangues em meio a BMWs, Corolas, Mitsubishis, e forzinho ká também. é a prova inconteste de que esse sistema de civilização não é mesmo suatentável. o petróleo acaba, mas o capim, jamais.

deixo tbm um toque: atenção redobrada quando forem comprar jabá aí em BH, mas somente aos que fazem objeção à iguaria equina. rsrsrs
abrçs, velho cacá.

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