sábado, 2 de abril de 2011

VISCERAL

Para o poema UM OLHAR, de Manoel de Barros
 
Se a gente começar a despraticar as querências só de matéria, matéria, matéria;
essas coisas de pegar e gostar só até daqui a pouco
e der princípio a umas querências de análise contemplativa,

Se der um descaso para o desamor,
Largar mão dos desajustes sem provisão,
deixando eles no oposto,
o avesso da gente  fica até parecendo aquelas emendas
que nem parece que foram feitas
de tão enfeitado que o olhar fica.

José Cláudio – Cacá
imagem google
 
UM OLHAR
Manoel de Barros
“Eu tive uma namorada que via errado. O que ela
via não era uma garça na beira do rio. O que ela
via era uma rio na beira de uma garça. Ela despraticava
as normas. Dizia que seu avesso era mais visível
do que um poste. Com ela as coisas tinham que mudar
de comportamento. Aliás, a moça me contou uma vez
que tinha encontros diários com as suas contradições.
Acho que essa frequência nos desencontros ajudava
seu ver oblíquo. Falou por acréscimo que ela
não comtemplava as paisagens. Que eram as paisagens
que a contemplavam. Chegou de ir no oculista. Não
era um defeito físico falou o diagnóstico. Induziu
que poderia ser uma disfunção da alma. Mas ela
falou que a ciência não tem lógica. Porque viver
não tem lógica – como diria a nossa Lispector.
Veja isto: Rimbaud botou a beleza nos joelhos e
viu que a beleza é amarga. Tem lógica? Também ela
quis trocar por duas andorinhas os urubus que
avoavam no ocaso de seu avô. O ocaso de seu avô
tinha virado uma praga de urubu. Ela queria trocar
porque as andorinhas eram amoráveis e os urubus
eram carniceiros. Ela não tinha certeza se essa
troca podia ser feita. O pai falou que verbalmente
podia. Que era só despraticar as normas. Achei certo.”

24 comentários:

Casal 20 disse...

Cacá, lindo teu poema, por isso que sempre temos dado uma passada por aqui: para enfeitar este nosso olhar! Obrigado pelo seu blog.

Parabéns!

Abraços sempre afetuosos.

lis disse...

Oi Cacá
Adorei a música do Chico ,da postagem de ontem, é boa demais! tentei "salvar" a letra mas voce fez uma "mutreta" aqui que nao deixa ninguém levar nada rsrs

e é mesmo "Visceral " a sua deixa ao poema de Manoel de Barros
penso que a gente já anda despraticando demais Cacá !
e voce cada dia mais inspirado.
Muito bom os dois poetas.
Salve salve!

abraços bom sábado

Arena das Crônicas - Administrador disse...

Bom, nem vou comentar sobre a "dupla" Cacá/Manoel. O que eu falasse, seria pouco. E o Cacá, com seus versos magistrais, já repraticou as querências.

Mas, quero deixar aqui a minha admiração por Manoel de Barros. Ler Manoel não é nada convencional. Não se lê Manoel. Seus versos dialogam conosco, e quando vemos, estamos conversando com ele. Uma sensação única, de um poeta único, onde as metáforas poéticas são desnecessárias. E para que metáforas? Ele é Manoel de Barros.

Cacá, meu amigo. Uma escolha fantástica. Adorei.

Marcio

chica disse...

Puxa, Cacá...Sem mais , te digo que és o cara, máximo!!!Adorei! abração,lindo fds!chica

Zélia Guardiano disse...

Lindo demais, meu querido Cacá!
Demais, mesmo!
Eu estava precisando dessa leitura: ando despraticando muito! Um tanto que não sei nem dizer ao certo...
Vou me emendar, eu te prometo!
Abraço apertado, amigo!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, querida amigo Cacá.

Lindo!! As emendas do avesso nem parecem emendas, tornam-se enfeites.
--------------
O olhar da moça... A garça na lagoa, o urubu, tudo muito bonito.

Um grande abraço.
Tenha um lindo fim de semana, cheio de paz e alegrias.

JoeFather disse...

Despraticar, inverter os prumos, seguir na contramão, em alguns momentos é preciso!

Parabéns pela recomenda~ção!

Abraços renovados!

Berzé disse...

Certo...ou incerto...mas, tem q ter mais reticencias. Uma certeza mais de(i)vagar...sei lá, um, pelo menos, quase ponto final.
Abração Cacá!
Berzé

Aleatoriamente disse...

Por isso é que devemos ficar em alerta para não perder a pratica. Cacá, teu texto e o de Manoel de Barros me encantaram.
Te deixo um outro dele que gosto muito.

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas".
(***)

Beijo e obrigada pela passada lá em "casa". Saudades tuas.

Fernanda

Denise disse...

Tudo que é visceral é assim, profundo, denso, rico e belo!

Um anoitecer repleto de calmarias nas querências de tua alma, meu amigo.
Beijo

Anônimo disse...

Preserve esse seu olhar contemplativo, capaz de desaparecer com as emendas feitas no avesso da gente.

Quando se olha com o coração, a vida ganha um brilho extra.

Beijos e bom domingo,

Toninho disse...

Estes é um daqueles textos que a gente fica a reler até gravar.Mas que maneira bela de despraticar.Talvez seja melhor assim amigo.Um bom fim de semana com um terno abraço. em tempo o livro esat demorando pra chegar, até parece que esta vindo no lombo de uma tartaruga do TAMAR,rsrs.Desejo que o Paulo esteja na reta esperada por nós.

Unknown disse...

Olá, tudo bem com vc?

espero q sim!!

Olha, muito obrigada pelo comentário. E eu quero sempre sua presença em meu blog. Primeiro pq eu me encanto muito com seus comentários. E segundo, que sua presença e opinião sincera é sempre válida! Desde que iniciei o blog, vc sempre acompanha..


nossa eu amei esse poema UM OLHAR.. essa mulher combinou muito comigo..acho q sou eu hein!

beijos e bomm sabadoooo.. se cuida!!

Diogo Didier disse...

Cacá, meu sonho é ter um pouco desse seu bom gosto...PARABÉNS pelo blog amigo!

bjoxxxxxxxxxxxxxxx no coração!

Quintal de Om disse...

Nooooooooossssaaaaaaa!!!

Lindo, lindo, lindo.

Mas confesso, me vi escrita em cada palavra.
Uma emenda, um avesso, um empurrar... um querer desvirar o abismo da gente.

Sabe, até me deu um solavanco e foi bem aqui! AQUI!

Umj remendar espaços com linha sem costurar
é um alfinetar retalhos sem bordar
caminhos e ainda
manchar o tecido
com um sangrar em gota
que se derrama
sem me dizer que sou eu
quem sou derramada.

Meu beijo, querido querido querido querido meu!

Thiago Quintella de Mattos disse...

Rapaz, seu poema ali de riba foi muito bom!!! E conheci Manoel de barros recentemente, da série, adoro descobrir os consagrados! hehehe

Celina disse...

OI CACÁ BOA NOITE, TUDO DE BOM PARA VC, UM FINAL DE SEMANA BEM LEGAL, AGRADEÇO A VISITA E O COMENTÁRIO GENTIL. GOSTEI MUITO DO TUA POESIA E DO NOSSO MANOEL DE BARROS, COM ALGO DIFERENTE PARA A NOSSA IMAGINAÇÃO, FASENDO-NOS PENSAR. PARABENS AOS DOIS. UM ABRAÇO AMIGO, CELINA

Geyme Lechner disse...

Que lindo Cacázinho, nao conhecia e adorei o poema do Mano (só para os íntimos! hehe)
É hora de praticar, maos à obra!!!!

PS: Recebeu meu arquivo? (Só para confirmar!)
Beijokas!!!!!!!!

Anônimo disse...

Hoje minha visita é exclusiva. Terminei a leitura de “Arcanjo Isabelito Salustiano” com a sensação para lá de boa. Coerência de quem, entre o humor e a tradução, preferiu o caminho da transformação. Equilíbrio entre ação e psicologia é a justificativa e razão de ser de Isabelito. Não ser fragmentado no caos da ordem indecifrável, Salustiano decifra-a. A profundidade do Arcanjo se forma através de um olhar independente de um controle aparente e a perfeita criação de Isabelito se diferencia, também, pelo humor. Literatura resultante da observação de hábitos arraigados, obediências constrangidas, ingenuidades de respostas dadas em ocasiões que exigem perguntas, isto é, Arcanjo Isabelito em promissora ousadia trazendo à tona, e em boa hora, ideias que vão muito além com a palavra e com o intuito de refletir. Tudo encaixado, marcação perfeita, leitura animada. O que falta dizer? Parabéns, Isabelito. Á você, Cacá, meu sincero e profundo respeito pelo seu talento em (se) mostrar Salustiano consciente, modesto, charmosamente filosófico, divertido, enfim, feliz. Desta feita, Salustiano só poderia ser José Claudio. Meus parabéns!

Elaine Barnes disse...

Concordo com Arena das cronicas. O que a gente falar é pouco. Não conhecia o poeta e fiquei maravilhada com a simplicidade e sabedoria. Fala direto com a gente e parece que ouve nossa resposta. Amei amigo! Montão de bjs e abraços

Felipe. disse...

Oi, Cacá, tudo bem?
Seu poema carrega ensinamentos bárbaros! Muito bacana saber que ele veio de outro poema tão tocante.
Abraço.

pensandoemfamilia disse...

Adorei a dobradinha. Vamos enfeitar....., sseguir ns contramão, privilegiando a contemp~lação.
abraços

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