Augusto Boal (teatrólogo, falecido em 2009) estava exilado em Portugal em 1976 em plena ditadura no Brasil. Dizem que ele reclamava que Chico Buarque não respondia as suas cartas. Eram grandes amigos e Chico alegava que respondia a todas. Estranhamente elas não chegavam ao destino. Ai, a genialidade entrou em cena. O Francis Hime havia composto um chorinho e o Chico resolveu colocar a letra em homenagearem ao amigo com essa belezura toda. Ao mesmo tempo, numa linguagem sutil fala do dia-a-dia simples do Brasil não deixando de dar o recado sobre o clima pesado da censura e da repressão.
MEU CARO AMIGO
CHICO BUARQUE E FRANCIS HIME
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus
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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.
PS: ESTA SEMANA VOU PUBLICAR TEXTOS E MÚSICAS DE MEMÓRIAS HISTÓRICAS. (ÚLTIMA POSTAGEM)
10 comentários:
E faz muito bem postar estas musicas que fazem parte de uma historia.Que elas sejam cantadas nas praças e ruas das cidades,que as pessoas nao percam de vista o que se fez neste país.Que os jovens possam interessar em saber o lado da historia,para que possam ter uma visão ampla desta coisa.Que não saim por ai taxando as pessoas,como a fazer um jogo destes que pisaram e assassinaram em nome de algo que eles proprios não creditaram. Em recente pleito eleitoral pudemos ver um monte de email querendo denegrir algume por estar do outro lado,quando na realidade aquilo para mim era um elogio.Mas, paciencia né Zé? Bem parabens por manter viva estas coisas no seu interessante Aedo Cibernetico.Um abração e belo fim de semana para voces.
Essa tem história mesmo,heim???Triste tempo da censura...abração e feliz dia dos homens na blogosfera! chica
Bom dia, Cacá.
Se eu falar bem do Chico, estarei me contradizendo, pois sempre deixei público a minha insatisfação com o cidadão... rsrs.
Mas, é evidente que não posso deixar de levar em conta o conjunto da obra dele, assim como a luta que empenhou contra a ditadura e os abusos que ela cometia.
Já quanto ao Boal e ao Francis Hime, dois mestres, cada um em sua área. E o que me impressiona nessa época, é o modo de se falar de forma cifrada nas canções e peças. E isso contribuiu para a formação de grandes compositores nessa época, que para fugirem da ceifada do censor, tinham que dar voltas e mais voltas.
Perfeito, Cacá. Abraços, meu amigo.
Marcio
Querido amigo sempre exclente.
Amigo hoje deixei no meu cantinho “SELINHOS – Presentes dos AMIGOS”, um miminho especial é o Selo “KREATIV BLOGGER” o seu blog merece pois é um cantinho onde a qualidade e o bom gosto estão sempre presentes em todos os posts.
Beijinhos
Maria
Emcionante amigo! lindo,lindo...
P.S: seu livro chegou ontem,estou animadissima , de primeira.
abraços e um fim de semana de paz
E ele mandou bem, o recado heim?
Viva a democracia!!
Um grande abraço.
Tenha um lindo dia de paz.
Chico é fenomenal, soube bem dar o recado.
Bom final de semana.
Abraços
Essa foi uma forma muito inteligente do Chico driblar a censura.
Um abraço
Não conhecia a história do Chico e do Boal. Me emocionou como me emociona do Caetano e do Roberto(debaixo dos caracóis dos teus cabelos...)
Amei se Aedo Cibernético também
Abraços
Chico Buarque é um gênio!
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