quinta-feira, 14 de abril de 2011

A D N *

Eu não sei dizer quanto tempo leva para que se instale uma mutação genética num ser humano. Num animal e numa planta onde há a mão do homem fazendo alterações no código genético através de introdução de uma ou mais seqüências de DNA provoca alterações que muito provavelmente não aconteceriam na natureza sozinhas. Estão aí o frango, a soja, o milho, as vacas e porcos e cabras e ovelhas para não me deixar mentir. No caso dos reinos vegetal e animal, a intenção é aumentar as suas produtividades e resistências a certos fenômenos tais como pragas de lavoura ou doenças. Também servem para que produzam mais alimentos e se reproduzam mais rapidamente.

Com o ser humano já há disponível a tecnologia das células tronco e numa perspectiva extrema, a clonagem. Aspectos religiosos tão somente tem segurado o seu avanço. Acredito que num futuro um pouco mais longínquo, se a população mantiver tendências de reduzir a sua reprodução, esse método irá substituir os partos para repor gente onde faltar. Se o sistema ainda for esse onde o dinheiro é que governa, podem esperar que serão pessoas também de alta produtividade, imunes a quase todas as doenças e, se conseguir, o homem vai clonar pessoas pacatas, sem intolerâncias, sem preconceitos. Gente que não reclame muito. As possibilidades serão tantas que dá até um nó aqui na cabeça. Enquanto não caem as barreiras morais (alguns chamam de éticas), vamos convivendo com alimentação feita com produtos industrializados em escala máxima e com plantas e animais geneticamente modificados. O resultado disso é que é o assunto aqui.

Desde o século passado, quando a população mundial deu saltos exponenciais, produzir alimentos em abundância e a custo baixo, criar animais em espaços menores mas em grandes quantidades e fazer com que tudo gere mais e mais lucros, ficou uma conta para alguém pagar pelas conseqüências. A genética humana vem se alterando ao longo de sua história no planeta. Os primeiros homens tinham apenas um tipo sanguíneo. Com a introdução de novas dietas, tornando-os menos carnívoros, apareceram outros tipos de sangue. A dentição que era composta de muitos mais dentes caninos já mudou um pouco. Isso tudo levou muitos séculos para se efetivar. Foi um processo mais ou menos natural. Aí não deu pra gente acompanhar como estamos sendo testemunhas históricas atualmente. Minha hipótese é a de que a geração que começou a nascer no ínício do século passado e as que se seguem, até mais ou menos daqui a uns vinte, trinta anos vai ser meio cobaia dessa revolução rápida no modo de manipular a natureza. Estamos convivendo e sendo vítimas de doenças novas que são atribuídas meio sem explicações consistentes, à “vida moderna”. Mas para mim podem ser conseqüências dessas mutações. As gerações futuras provavelmente irão nascer mais desvinculadas do estado de natureza. Serão uma espécie muito mais resultante de combinações de química e engenharia biológica. Mais duradouras e mais resistentes, pode ser.

 Estou esses dias com meu pai e um irmão doentes com uma certa gravidade e tenho feito um périplo por hospitais quase o dia inteiro. O que tenho observado e conversado com pessoas acerca de doenças que nunca antes eu havia ouvido falar não é pouca coisa. Enquanto observo as novas especialidades médicas que vão surgindo em função dessas demandas novas, vou tentando reduzir meu espanto. Meu pai, a não ser a idade, possui apenas um dos 8 ou 9 fatores de risco que os médicos explicaram a respeito de sua aterosclerose, aneurisma de veias e outras complicações. Tudo bem, podem dizer que é da idade ou algum “defeito de fábrica”. Meu irmão (coincidência ou não) foi o que mais se alimentou de comida industrializada desde sua adolescência entre todos os demais. Padece de um hipernefroma, doença da qual sequer havia ouvido falar em toda a minha vida leiga. Não estou nem falando só deles para justificar tudo o que escrevi até aqui. É do que tenho observado também  durante o tempo que passo nos hospitais e clínicas diariamente. Estou aprendendo que o glossário de termos médicos e o CID (Código Internacional de Doenças) também estão crescendo seu volume com novas informações.


PS: O título ADN refere-se num trocadilho proposital, tanto ao Acido desoxirribonucleico (DNA), como ao assunto a que me propus, significando Antes e Depois do Natural.



20 comentários:

chica disse...

Cacá, foste mais uma vez feliz nessa crônica.

O que vemos por aí que existe e o que falta existir, ocmo condições básicas para a saúde não é mole,não!

Que tudo se ajeite do melhor modo para os dois e para isso, estamos juntos na torcida.

Tenho certeza, ótima crônica sairão dessa tua observação nesses locais! Abração e parabéns pela entrevista no Canteiro! chica

João Vitor Fernandes disse...

Conhecendo seu Blog através do "Arena das Crônicas".

Sou obrigado a concordar, esse processo de evolução acelerado que estamos vivendo tem consequências drásticas na saúde do nosso organismo. Ao que parece os pensadores e cientistas de hoje ainda não deram muita importância para essa questão.


Abraços

Aleatoriamente disse...

Cacá teu texto foi muito transparente e entrou num assunto que nos deixa apreensivos por demais.
Observar essas mudanças e ver os efeitos que isso origina é algo alarmante.
Enfim, a minoria busca por soluções mais os estados em que as coisas se encontram são caóticas.
Desejo que teus queridos se recuperem logo.
Um beijo Cacá.

Fernanda

Celina disse...

Oi Cacá, PAZ PARA TODOS, GOSTEI MUITO DA TUA CRÕNICA E APRENDÍ MUITO, COMO SEMPRE. SÓ SEI QUE TEN AS VANTAGENS DE TUDO ESTO E TEM O PREÇO TAMBEM.AMIGO O MEU ABRAÇO E VOTOS DE SAÚDE PARA TODOS DA FAMILIA, CELINA.

Yasmine Lemos disse...

É de arrepiar ,de ficar numa de horror e sem poder fazer nada. Doenças que nem imaginamos e nem sabemos se tem cura,surgindo,enquanto o sistema de saúde,e muitos médicos aquém da invasão dos virus e bactérias.
Fé meu amigo.E que o seus fiquem bons,voltem pra casa,fiquem bem.Estou na torcida.
abraço e muita energia positiva pra vocês

pensandoemfamilia disse...

Caca
Vc transforma em crônicas suas observações sábias e nos faz refletir sobre vários temas. Eu trabalho, na UFF, atendendo aos servidores afastados por doenças, e, constantemente, me deparo com doenças que nem imaginava que existisse, Gostei de forma como conduziu o raciocínio.
Melhoras para os seus e meu desejo.
Abraços,

Arena das Crônicas - Administrador disse...

Esse é um assunto que dá margem para uma sequência inteira de crônicas, partindo da ética médica lá da idade média, a qual já explorei também, e vem terminar aqui, com as novas doenças surgindo das "evoluções" forçadas que o ser humano tem provocado.

Um show de crônica, para variar.

Quero deixar aqui um agradecimento, Cacá. Você, mesmo diante da escassez de seu tempo, ainda destinou a mim e ao Arena a sua atenção, e mesmo que no final alguns fatores ainda tenham fugido ao nosso controle e a entrevista ficou incompleta, ela foi ao ar e está sendo um sucesso.

Você tem um coração enorme, meu amigo. Fico aqui na torcida para que se pai e seu irmão tenham melhoras, e que voltem ao seu rítmo normal de vida.

Um grande abraço e meu agradecimento a ti, meu amigo.

Marcio

Mel Braga disse...

Cacá... que delicia passear mais uma vez no seu cantinho!!!
Amo essa versatilidade que você possui... a capacidade de abordar vários assuntos de forma brilhante!!!

Fico aqui pensando na ousadia do homem em querer brincar de Deus... em modificar certas coisas e achar que pode governar o mundo...
É bem verdade que a ciência colabora e muito com suas pesquisas e descobertas... com criações capazes de revolucionar...
Mas, confesso que às vezes o homem se perde e ultrapassa limites... ousa mais do que deveria...
Enfim, se ele quer brincar de Deus terá que mostrar competência e serviço...sem contar que terá que arcar com as consequencias...

Cacá meu anjo, vc é um magnifico!!!é muito bom ler vc...e meu aplauso carinhoso... é adoooorei visita-lo...
voltarei mais vezes!!!beijo grande***

Anônimo disse...

CHEGO AQUI PELO MARCIO JUNIOR... JA TINHA PASSADO AQUI ANTES MAS COM PRESSA E VOLTEI HOJE LA NO ARENA, PRIMEIRAMENTE PARABENS PELA ENTREVISTA..RESUMIU ALI O QUE EU PENSO DESSE MUNDO DOIDO QUE ENTRAMOS E NEM SABIAMOS QUE ERA UMA EXPLOSÃO SRS DE SENTIMENTOS SRSRS POR QUE NO COMEÇO FALAMOS QUE VAI SER SÓ UMA BRINCADEIRA E DEPOIS JA ACORDAMOS DE MADRUGADA PENSANDO EM ESCREVER SRSRSR MAS TUDO BEM..GOSTEI DO QUE LI POR LÁ..
QUANTO AO SEU POST HOJE.. EU TENHO MUITA SAUDADE DE TUDO QUE VIVI..NOS MEUS 46 ANO DE VIDA..AS COMIDAS BOAS QUE MINHA MÃE FAZIA ..OS DOCES DE ABOBORA,DE GOIABA,DE MAMAÕ,O LEITE DA VACA..E OUTRAS COISAS QUE MUITOS JOVENS NÃO VÃO VER NUNCA!! NOSSA JUVENTUDE ERA SAUDAVEL..NOSSOS DOMINGOS ERAM DE VIOLÃO UMA PRACINHA E MUITA ALEGRIA ..NOSSAS BRINCADEIRAS DANÇANTES ERAM COM CUBA LIVRE SRSRS SRSR ENTRE OUTRAS LEMBRANÇAS MAIS..NOSSA MESA TINHA COISA SIMPLES MAS QUE ALIMENTAVA ..HOJE SINTO POR TUDO,PELOS IMENSOS CONFINAMENTOS ..OS TRANGÊNICOS DA VIDA E O PIOR AS COITADAS DAS GALINHAS QUE HOJE NEM DORMEM MAIS?LUZES DIA E NOITE PRA BOTAREM OVO ..ATE NÃO AGUENTAREM MAIS DEPOIS VIRAR CANJA ´´CACÁ É TRISTE MAS REAL..QUERIA MESMO ERA UMA MAQUINA DO TEMPO..QUANTO A DOENÇAS, MINHA IRMÃ MAIS VELHA QUE EU UM ANO PASSOU POR ESSE CALVARIO DE HOSPITAIS...COM UM CANCER RARISSIMO..FOI DFICIL PRA TODOS MAS PELA FÉ FORÇA DE DEUS E AMOR DA FAMILIA TUDO ACABOU BEM...ESPERO QUE COM SEU IRMÃO SEU PAI SEJA DO MESMO MODO
ABRAÇOS
PARABENS PELO CANTINHO MINEIRO
ADOREI VIR AQUI
UAIIII
OTILIA LINs

Renata (impermeável a) disse...

Eu também já estive nos corredores dos hospitais e graças a Deus estou viva pela evolução da tecnologia medicamentosa, por isto sou totalmente a favor de toda e qualquer pesquisa para melhorar e nos livrar de doenças, quando se está lutando pela vida, TUDO que se ouve falar nesta vida de evoluçao na medicina nos interessa de uma forma particular.

Por outro lado, quando estamos nestes corredores, vemos o quanto ainda falta para ser descoberto e sanado.

Quanto a reposiçao de humanos...rsr, quando vejo certas coisas me lembro do ADMIRAVEL MUNDO NOVO de ALDOUS HUXLEY. Sinceramente não gostaria de estar no mundo se a profética narrativa de Huxlex se concretizasse... Mundo chato, sÔ!
rsrsr

Mas, então..... me vem a mente a imagem do Japão, da tentativa de conter radiaçao com agua no mar com um aviaozinho e uma lona.... e penso... SOMOS MUITO PRETENSIOSOS MESMO.... precisamos comer muito feijão para controlar a natureza e nosso DNA,....

Anônimo disse...

Diante da miséria da maioria sem acesso digno ao sistema de saúde, somos privilegiados. O que não entendo é como em meio à tanta falta de estrutura e carência de investimento na àrea da saúde, existe o atendimento do SUS para mudança de sexo. Abraços!

Jaime Guimarães disse...

Cacá, existe um livro chamado "O Monstro bate à sua porta", do professor de história e escritor Mike Davis. Lembra da gripe suína? E da gripe do frango?

Pois é: esses vírus não foram especificamente "caprichos da natureza", mas sofreram mutações por conta das horríveis condições dos frigoríficos - favelas de frangos e galinhas - e dos diversos hormônios utilizados para o rápido desenvolvimento destes animais. E, claro, como a indústria farmacêutica e governos falham na distribuição de vacinas - claro que os mais pobres só se...

Daí surgem doenças mais estranhas todos os dias e que os médicos, após pedirem uma bateria de exames com nomes mais estranhos ainda, constatam, desolados, que se trata de uma "virose". E assim vamos pulando de médico em médico, numa espiral de exames, consultórios e remédios que praticamente aprisiona o sujeito. Quando este possui acesso a um plano de saúde, claro.

E se eu disser "tudo atende ao interesse do capital", me chamam de socialista, comunista e sei lá o que...mas é só dar uma olhadinha nestes processos todos - interligados: comida rápida para uma vida rápida, sem tempo para cozinhar ou preparar algo saudável. O importante é não perder tempo.

Talvez o próximo passo seja reduzir o tempo de gravidez...

Cacá, estimo melhoras pro teu pai e teu irmão. Espero que já estejam bem!

Abraço!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa noite, querido amigo Cacá.

Adorei!! Reflito muito sobre isso, porque durante um terço da minha vida, me alimentei de produtos naturais, cujo sabor era muito diferente de hoje. Até o tomate tinha um gosto especial.

Quando apareceu o "Chester", eu fiquei espantada de ver um frango gigante, cujo peito é quase o seu tamanho total.

As carnes de hoje são cheias do hormônio do crescimento, de antibiótico, e tantas outras químicas, que nem sabemos quais são.

A minha mãe viveu 93 anos, mas acho que é porque a maior parte da vida dela, foi à base dos naturais.

Penso que a minha geração não irá tão longe. É tanto cloro que bebemos junto com a água, que acho que não há organismo que suporte isso durante muito tempo.

Viramos cobaias.

O mundo inteiro se preocupa com a longevidade, por motivos econômicos. Mas acho que quando os idosos de hoje forem embora, o quadro mudará.

O idoso de hoje, teve o seu alicerce no natural, e usufrui do avanço da medicina.

As gerações artificiais, cada vez, irão menos longe. Tomara que não!

Um grande abraço.
Que Deus abençoe seu pai e seu irmão.

Tenham um bom fim de semana, cheio de paz.

Rosane Marega disse...

Cacá, estou aqui Conhecendo melhor o seu Blog, que ja sou seguidora a tempos, venho la do "Arena das Crônicas" e confesso que a sua entrevista agradou e muito.
Super perfeita as respostas e perguntas que vi por la, parabéns a você e ao nosso querido Marcio.
Sinto muito por esse momento delicado que esta passando e espero de coração que seu Pai e seu Irmão fiquem ótimos.
Beijos Cacá e tudo de ótimo.

Helena Frenzel disse...

Chica tem razão: foste, mais uma vez, feliz com esta crônica. Lendo os comentários, soube que deste uma entrevista. Vou tentar conferir. Quanto às mudanças genéticas, BBs do futuro já vão nascer sem vesícula, pois além de guardar pedras, parece que hoje em dia não têm mais a mesma função de ontem, graças aos alimentos LOW FAT que lotam as prateleiras dos supermercados por aí. Neste ponto, vantagem dos sertanejos, que não sabem comer sem torresmo - e dos mineiros também! Bom, deu até saudade de uma picanha bem gorda, assada na brasa. Tento cuidar da alimentação por aqui, mas hoje em dia, desconfio até dos produtos bio... Eu, hein?! Saúde pro teu irmão e pro teu pai, um abraço fraterno!

Toninho disse...

Amigo voce sempre inteligente nas cronicas com alta criatividade,aqui mesmo em momento de angustia e aflição,consegue uma bela cronica.Estamos cada dia diante de uma nova doença, com seus nomes mais escalafobeticos possiveis e muitas das variações geradas nos proprios hospitais e laboratorios. Espero que neste momento o pai(Zé Felipe) esteja em melhor situação e que Paulo esteja sob cuidados e com cuidados.Fé sempre meu amigo e que Deus estará com voces nesta assim como nós em nossas orações.Meu terno abraço.

Berzé disse...

Oi Cacá,
Sou mais um na torcida pelo seu pai e irmão! Muito legal escrver a respeito.
A gente tem q encarar.
Abração, amigo!
Berzé

Néia Lambert disse...

Cacá, é assustador o número de novas doenças, acredito também que a alimentação tem muito a ver com esse quadro. Estamos ficando cada dia mais frágeis diante do desenvolvimento dos produtos que consumimos, são os transgênicos e outras substâncias que aumentam a produção do que se planta, mas acaba com a nossa saúde.

Um abraço.

Hope* disse...

Ai Cacá se não clonarem gente que reclama, vai faltar molde para o futuro, rs...
Belíssima crônica!
Abç!

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