Os veículos de comunicação não costumam se pautar muito pela ética. Mas a democracia faz com que eles deixem pelo menos que ela seja discutida. Uma espécie de metalinguagem por expiação. Eles, no entanto, não fazem isso na sua programação dirigida aos grandes públicos que freqüentam os chamados horários nobres. Horário nobre na televisão quer dizer uma forma de aumentar as vendas de produtos e serviços, não é necessariamente horário de programação nobre. A palavra nobre ganhou uma dupla significação ao longo do tempo. Se levarmos em conta o comportamento das pessoas que fizeram parte de uma certa nobreza secular, por exemplo, o significado é vilipendioso. Portanto, o horário nobre pode ser mesmo algo terrível. Hora de ver desgraças de toda sorte nos telejornais e depois as “educativas” novelas e programas de auditório.
As televisões possuem nos seus contratos de concessão com o estado, uma obrigação de destinar uma parte de sua grade diária a programas educativos e programas com fins sociais. Isso é feito normalmente bem cedinho ou bem tarde da noite, hora em que as pessoas estão indo dormir ou ainda não se levantaram. O canal Futura, por exemplo, foi uma criação da rede Globo para canalizar tudo de bom que ela produz mas para ser visto apenas por quem possui uma parabólica ou tv a cabo; uma parcela que não deve chegar a 5 por cento da população. Ali está tudo de bom, de ético, de digno em qualquer horário. Uma programação limpa, em todos os sentidos, inclusive de propagandas de produtos para a gente comprar entre intervalos comerciais. E é sobre ética que tive oportunidade de assistir a um programa outro dia, falando historiadores, psicanalistas, juristas e gente nas ruas sobre esse valor que circula no meio da sociedade. Um valor de alta importância para as nossas relações no cotidiano, pois dela decorre toda nossa fracassada ou vitoriosa investida humana. Da nossa percepção do mundo e da nossa atuação nele, enquanto sujeitos que constroem uma história. Falava específicamente sobre as pequenas corrupções, pequenos subornos, o “jeitinho” com fins de adulteração e do serviço público. Nos primeiros tempos coloniais, os cargos públicos eram comprados. Um investimento, portanto, para ser remunerado depois que se chegava ao serviço público. Essa herança parece não ter sido modificada pelos concursos públicos, que vieram a substituir o sistema de aquisição. Ainda se trata o público como coisa privada a ser recompensada quando se vislumbra um cargo, seja de representação política, seja cargo de confiança, seja de servidor de carreira. A corrupção e o mau serviço prestado pelos poderes constituídos ainda são uma exceção, para o nosso consolo, mas acho que a raiz da corrupção vem desse gene da aquisição de cargo desde lá em 1808.
No rádio também é muito curioso. Aqui em Minas, a radio de maior audiência e a mais popular, a Itatiaia, possui um programa diário de debates, riquíssimo do ponto de vista dos temas abordados. Assuntos presentes no cotidiano da sociedade e ancorados por pessoas do mais alto nível intelectual, de carreiras sólidas em suas áreas de atuação. A ética, por exemplo, é um assunto que freqüenta amiúde esses debates. Só que, entre um intervalo e outro o que mais se ouve é comercial de remédios milagrosos para artrite, artrose, emagrecedores, impotência, afrodisíacos, e tudo que pode ser adquirido em qualquer estabelecimento do ramo sem nenhuma receita médica. A maioria eles dá até números de telefone para adquirirmos sem precisar sair de casa. Pra quem tem artrite e artrose deve ser uma “mão na roda”! Outro dia eu mandei um e-mail para lá (a gente pode participar com mensagens on line) perguntando ao apresentador se eles não se sentiam constrangidos com esta situação. Não obtive resposta. Sei lá, deve ser por que a ética é um princípio de vastíssimo alcance, pode ser que ainda estejam tentando onde enquadrar uma resposta para me dar ou então preparando uma ação para me processar por calúnia, difamação ou falta de ética.
______________________________________________Fontes: Além dos programas citados do Futura e da Radio Itatiaia, baseei-me também no artigo: A Função Social da TV, disponível em:
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI194592-EI306,00.html
2 comentários:
Essa palavrinha:ÉTICA junto com outra>RESPEITO, andam muiiiiiiiiiiiito esquecidas ou até desconhecidas ´por aqui...abração,chica
Pois é Cacá... espere escrevendo produzindo belos textos para nós.
Porque é "nunca" que essas "pessoas" te darão essas suas e nossas respostas.
Bom dia de carinho.
Goretti
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