Permitam-me um trocadilho infame antes de começar: esta crônica não é pra alimentar preconceito. É antes, sobre o preconceito alimentar.
Se existir uma grande vontade interior acabar com um preconceito, uma boa dose de pesquisa acerca de sua origem ajuda bastante. Primeiro há que se assumir que ele existe, mesmo contra o desejo. Depois disso as coisas vão se tornando mais fáceis. O preconceito de cor, por exemplo, que é inclusive chamado de preconceito racial é duplo. Primeiro por causa de separação. Quem acha que uma cor é uma raça e outra cor outra raça, já está exercendo um preconceito. A raça é humana e só. Segundo porque as cores não tornam ninguém melhor nem pior, a não ser por parte daqueles que se julgam assim. As origens disso creio que é de conhecimento bastante geral e se o preconceito permanece é por vontade própria, assumida e o que nos resta é apenas lamentar, execrar e combater. Há outros, no entanto que a gente possui, não acha que seja preconceito e exercita-os na maior tranqüilidade, mas eles escondem uma cultura de subserviência de séculos.
A cachaça e a feijoada já tiveram uma reputação bastante denegrida por causas de suas origens, de seu preço e de suas relações com quem tinha hábitos de consumir. Hoje, elas freqüentam as mais elevadas rodas do mundo do dinheiro e ganharam status de produtos tradicionalissimamente brasileiros, exatamente porque uma elite começou a lhe dar uma atenção. Imagine que quem começou a produzir e tomar cachaça e comer e feijoada eram os escravos. A primeira com uma descoberta acidental da fermentação da cana, saindo um álcool forte e lhes entorpecendo da dura vida que levavam. A segunda, enriquecendo o seu feijão preto (que também não era apreciado pela nobreza por causa da cor) com restos de miúdos de porco, recusados à mesa dos abastados. A mesma turma que cria e enraíza os preconceitos depois manda acabar com eles e quase todo mundo acha que isso é normal, que a vida é mesmo assim.
Essa conversa fiada é toda por causa de um prato que saboreei enquanto pensava: camarão na moranga. Uma delícia! Há uma abóbora da mesma família da moranga que é chamada de abóbora de porco. É porque já foi comida de porcos, considerada ofensiva para o consumo humano por gente de posses. Com tanta gente passando fome no mundo!. E é muito comum ver uma cara de desprezo quando se abre uma panela com um abóbora (qualquer que seja o tipo, pois os preconceitos tendem a se estender por toda a família) e uma frase infeliz: “isso é comida de porco!” Quanto à banana caturra, eu não sei de onde vem o preconceito, mas ainda vou pesquisar. O que deu para saber até agora é que ele também existe, sob o disfarce de que é um alimento indigesto. Quase todo mundo prefere as pratas, as maçãs e as ouro. Estas são um pouco mais caras. Quem sabe não seja por causa do preço quase irrisório, “preço de banana”, como costumamos dizer e isso não atice o pavor a coisas de pobre? Sei lá, só sei que como uma todos os dias para equilibrar o sódio no meu organismo. Para quem não sabe ela é a mais rica em potássio e esse elemento é fundamental para equilibrar o sódio no organismo dos hipertensos. Aprendi com gente que não tem preconceito.
5 comentários:
Cacá...
NÃO a qualquer tipo de preconceito né?
Agora ler este post às 11:50...deu uma fome rsrs
Um beijo
Esses preconceitos existem, mesmo...Eu não gosto da caturra...me lembra zoológico e sempre que Franco vai ao super recomendo:não traz as dos macacos,rrssr Não suporto o cheiro forte dela!Confessei!!! abração,chica
Preconceito faz mal para a sociedade, mas o mais prejudicado é quem sente, pois demonstra pobreza de espírito.
Uma bela critica ao preconceito com sabor de moranga com camarao,uma delicia.Pois é Zé, esta coisa odiosa esta viva nos nossos dias.Inclusive esta um auê sobre o tema com um personagem do CQC,ao se referir loiras e jogadores negros.Mas a cronica é feliz nestas analogias.Para se frear esta coisa, há que se começar na familia passando pelo maternal e assim sucessivamente.Um abraço amigo pela sua coerencia e vivacidade, com belas cronicas.
Oi Cacá
Interessante esse preconceito alimentar que a gente acaba nem se dando conta que existe de verdade, comida de pobre e comida de rico.
Com ralçao a b anana caturra que também chamamos d'água creio que é por ser menos sa borosa , bem mais doce e sem gosto, gosto de aproveitar pra fazer doces ou colocar nos bolos fica uma delícia.
Estou chegando atrasada nos comentários , problemas tecnologicos
rsrs
abraços
abraços
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