O livro “Seis Propostas para o Próximo Milênio” – Ítalo Calvino – Cia.das Letras, (na verdade, possui cinco; ele faleceu antes de concluí-lo) trata de aspectos a serem considerados pelos escritores na construção de sua obra. Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade e Consistência (essa última, a ausente). Mas não tem problema no meu caso, já que a minha insatisfação e rebeldia (sem causa?) foi com relação à leveza, que manifesto a seguir.
A busca pela leveza na literatura é um peso a mais. Como leveza, se a própria palavra já é pesada demais aos nossos tão diminutos conhecimentos dela? Como leveza se eu, treinado no materialismo dialético não aprendi outra forma de analogia do real com flores, orvalhos e luas?
Ah, Calvino, a gravidade sem peso que você disse ser a relação intima do humor com melancolia, vira sofrimento com ironia irascível nas páginas de meu papel. A lida com o cotidiano pesa.
Como leveza, Calvino, se usa Teseu tirando a vida da Medusa, ainda que com o fito de salvação, porém sangrenta? Leveza, meu caro, é privilégio dos poetas. “ o poeta desafia o impossível e tenta no poema dizer o indizível: subverte a sintaxe, implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisa sem permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência.” (F. Gullar – não coisa).
E para você também deve ter sido mais fácil de seu leito de morte. Você estava prestes a encantar, como disse o Guimarães Rosa. Não morremos, não é mesmo?
As palavras, no entanto ficam aqui procurando quem se encante com elas.
2 comentários:
Meu amigo Cacá.
Recebi um convite e estou participando do site abaixo. Publiquei lá dois artigos meus. De uma olhadinha e faça seu cadastro, é um lugar a mais para você publicar seus ricos trabalhos.
Abração meu querido
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Eu me encanto com elas, as tuas palavras, as tuas nobres intenções. Me encanto porque me reconheço no teu interesse, na tua busca, no teu mergulho à procura da tal lição. Lição essa que já aprendeu faz tempo, mas que de tão humilde, insiste em não reconhecer. E me interesso porque igualmente me encanta a tua modéstia perante as letras que trazem até nós boa parte do que há em tua alma. E é isso, meu amigo, a receita do escrever leve: a alma!
Escrever é uma viagem mais pra dentro do que pra fora; a diferença é que quanto mais fundo mergulhamos interiormente, mais de nós se reflete aqui fora.
Beijos
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