Quem já atingiu uma certa maturidade costuma dizer que não se assusta com mais nada. Crianças e adolescentes são levadas a se adaptar aos ventos das modernidades. Os jovens é que sofrem a maior conseqüência de mudanças sociais bruscas. Talvez por que estejam em uma fase crucial de definições. Estudos, carreira profissional, geração de descendência. Ou seja, o futuro está presente a todo instante em suas vidas de forma urgente. No estágio atual das coisas, a correria, a busca por resultados imediatos e rápidos em tudo, as pressões decorrentes disso, vêm de algum lugar e afetam sobremaneira a todos. Uns mais outros menos.
Estou querendo falar de jovens médicos acometidos de depressão.* Eles estão padecendo desse mal por causa destes e de outros fatores, o que é preocupante para o mundo leigo. Além das causas supostas já citadas creio que faltou uma que considero um achado. Nos últimos 20, 30 anos, os jovens saíam de casa em busca de sonhos, desvinculavam-se dos laços familiares mais cedo. Isso gerava um amadurecimento por volta da idade em que hoje eles mal terminaram a adolescência. De um lado, pais protetores, preocupados com um futuro digno para os filhos em meio à selvageria mercadológica, protetores quanto à violência cotidiana, colocam-nos sob suas asas até onde eles mesmos (os próprios filhos decidam qual é a hora de levantar vôo solo). A sociedade já foi menos rápida, menos competitiva, menos violenta. E não quero com isso estabelecer alguma verdade pronta, não sendo eu nenhum portador dela nem postulante. Apenas observador e paciente a qualquer momento.
Também não há aqui imputação de culpas, apenas circunstâncias e contingências. Enfrentar o caos da saúde pública, o abandono e as carências psicológicas da população, perder um paciente, como se diz no jargão próprio quando não se acostumaram com perdas durante a formação, podem ser mais um ingrediente nesse caldeirão de possibilidades. Mas que não deixam de causar um certo temor, isso é fato.
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* Pesquisas da Universidade Federal de Uberlândia (MG), Faculdade Médica do ABC (SP), do portal internacional Biomed Center, e reportagem da revista ISTOÉ, nº 2070/09.
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