quinta-feira, 14 de julho de 2011

IMORTALIDADE

imagem daqui:
Você já pensou na imortalidade?  A do corpo está por um fio de ser conseguida através de pesquisas com as células-tronco. Só que na sociedade de consumo em que vivemos eu vejo opostos se materializando, quero dizer, quanto mais caminhamos na direção da imortalidade carnal, mais nos distanciamos da outra imortalidade etérea, sublimada pela criação. É que a ordem geral é consumir sem guardar. Consumir sem apego histórico, sem apego de estima. A ordem é quanto mais você tiver possibilidade de substituir bens materiais, mais prestígio você tem. A história está perdendo fôlego diante da velocidade do mundo e desconexão das coisas. Uma sensação de morte da dialética, de tanto que só há negação, negação, negação das inter-relações das coisas entre si. Só o presente tem servido de referencial

Outro dia eu assisti a um documentário sobre investigações acerca de roubos de obras de arte famosas tanto em museus como em residências de colecionadores e em igrejas. A tônica do programa era exatamente a pouca importância que a polícia tem dedicado a procurar por raridades em função da excessiva ocupação na busca por outras coisas mais fáceis de ser substituídas (a meu ver) mas muito mais valorizadas. Quer um exemplo? Um carro roubado é muito mais procurado do que uma tela de Van Gogh. E olhe que carros, por mais caros e luxuosos, há um seguro que pode garantir outro igualzinho no lugar do que foi levado.

 O conhecimento e a contemplação tem servido a propósitos muito pragmáticos. Só adquirem significado intrínseco se se transformarem em algo que possa ser consumido de imediato, já ensejando um novo conhecimento e assim por diante, mas não mais para serem guardados como permanência.

Vou falar para quem escreve: se sua obra está registrada na Biblioteca Nacional, tudo bem, ali reside a garantida a sua imortalidade, caso algum dia alguém se interessar por ela.  A obra tornando-se famosa, a imortalidade ganha abrigo em corações e mentes e estantes de bibliotecas, além do google, claro! Mas tem uma coisa que me inquietou: quando assinei um contrato com a editora para publicar um livro, veio uma cláusula em destaque de negrito e sublinhada: a que garantia aos meus herdeiros o direito ad infinitum de receber os direitos autorias. Então imaginei duas coisas. A possibilidade de herdeiros quererem se livrar do gerador da herança rapidinho se ele se eternizar, caso sejam gananciosos por dinheiro. Nesse caso perde-se até mesmo a chance de imortalizar-se pelas graças dos recursos da medicina dos quais falei lá o início. E com  o desprezo absoluto dos modernos homens de negócio editorial com o destino da obra no sentido literário, cultural e da contribuição para o conhecimento humano, só mesmo com a graça dos leitores para não ser olvidado depois de seu último ponto final numa folha qualquer.

32 comentários:

Diogo Didier disse...

Por isso que é sempre bom estar por aqui Cacá. Suas reflexões e sua alma inquietante são coisas das quais eu sou fortemente atraído. Infelizmente, nem todos possuem esse olhar analítico e acabam sendo engolidos por essa sociedade pautada na ganância, no ter, suplantando a essência que cada um de nós carrega dentro de si.

Bjoxxxxxxxxx no coração amigo!

Rô... disse...

oi Cacá,

esse mundo está mesmo
de cabeça para baixo,
os valores estão trocados,
e as importâncias sentadas em lugar
errado,
engraçado,
o que era para surpreender,
não mais surpreende,
o que era primordial,
perdeu seu valor,
e assim vamos nós,
os otimistas tentando ver o lado bom
disso tudo...

beijinhos

lis disse...

oi Cacá
Depois de alguma dificuldade consegui chegar aqui.Algo estranho nos blogs , de novo pelo menos comigo rs
espero que o sr blogger nos deixe quietinhos e nao nos roube a paz rs
Nesse momento o blog vale mais que a tela do Van Gogh Cacá rs
até porque é mesmo inacessível pra mim, entaõ posso desdenhar rs
bom texto ,como sempre.
e um abraço meu amigo

chica disse...

E as coisas ainda dependem dos valores atribuídos por cada um d nós. Apesar de gostar de arte, nem me passa pela cabeça de brigar por um quadro de um famoso, mas experimentem me tirar os rabiscos feitos há tantos anos atrás pelos filhos e agora pelos netos.... Daí enfuribundeço,rrs... Isso tem valor pra mim... um abração e tudo de bom,chica

Aleatoriamente disse...

É mesmo interessante tua hipótese.
Os valores estão declinados eu diria.
O que contemporiza a arte é seu objetivo característico, ou de uma apreciação apurada.
A arte em geral, até uma poesia simples pode ser imortal.
Se cair nas “graças” de quem apreciam verdadeiramente.

Amigo querido, obrigada pelo carinho.
*
Beijinho
Fernanda

Anônimo disse...

E não é que o "amor" pode fazer este engano?! Abraços, Cacá!

Beth/Lilás disse...

Nossa, Cacá, nunca me toquei de que pudessem não procurar um quadro famoso dando prioridade para um carro desses caros!
É o tal tempo do TER e aí não adianta muito ficar para semente, já que o que interessa não é bem o ser humano e sim o que ele tem.
Ô mundinho complicado esse nosso!
bjs cariocas

Yasmine Lemos disse...

Amigo,
se a maioria a grande maioria das pessoas não se apegam e trocam de bem querer como se fosse uma peça de roupa,imagine o lado material.
abração

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Olá Cacá, muito interessante sua crônica, valores depende de cada pessoa eu não me importo com telas famosas mas vem aqui tirar o quadro de papai que mamãe pintou,só o meu olhar vai matar um e os meus escritos, ah são rabiscos, imperfeitos, mas são espelhos de minha alma, vem mexer vem,não vai fazer bem pra saúde não,rsrsrs
Cacá fiz uma ARTE, coloquei o seu livro na Página Livraria Adulto
de blog que comecei se não gostar me fale que eu tiro, link do blog
http://textoscontextosereflexoes.blogspot.com/

Catia Bosso disse...

Cacá Lindo Escritor 'Uai'!!!

Belo texto. Eu sempre pensei na imortalidade, mas na da alma. A questão dos valores morais é uma preocupação constante em minha mente, penso que logo vão inventar um robô que faz a faxina e dai não teremos nem que arranjar uma faxineira de confiança, visto que o robô fará tudo e nós ainda acharemos 'legal'. Nem percebemos que a modernidade está nos consumindo também. Assim como nós somos convidados a consumi-la...

Salve as reflexões do Cacá!!!

bjs meus

Catita

Toninho disse...

Que beleza de texto amigo,rico em reflexões nuas e cruas para questão imortalidade com um belo link para o que vale ou não nos dias atuais.Vivemos esta loucura do descartar coisas e assim pessoas viram coisas nesta dança feia. Um abração amigo.Oxalá que venha a bienal mesmo,com toque de acarajé,rsrs.
Boa sorte e toda paz.

Hotel Crônica disse...

Belo texto.
A relação entre pessoas torna-se uma relação entre coisas, diz a teoria marxista do fetichismo da mercadoria. Creio que o cenário que o senhor descreveu é muito bem explicado por Marx em o Capital, embora o capitalismo em que vivemos, e que inspira seu texto, já tenha se modificado imensamente desde a publicação de Marx, e as relações de produção modificam-se constantemente para evitar a derrocada do sistema capitalista.

Em relação à desconfiança com relação aos parentes te sugiro um filme italiano chamado "parente é serpente", o título é bem sugestivo, rs.

Abraço de quebrar a costela,
belo blog!

Leninha Brandão disse...

Cacá,boa noite.Será que um dia conseguiremos atingir a imortalidade,acompanhada,lógico, por um elixir da juventude eterna?
Bjsssssss,
Leninha

Helena Frenzel disse...

Essa questão de direitos autorais pode se tornar bastante complicada. E o que fizeram com a cláusula de que depois de 75 anos da morte do autor a obra se torna de domínio público? Será que isto ainda está valendo? Sei lá, por essas e por outras é que às vezes se perde até o prazer de escrever, digo: tentar viver do que se escreve. Bom, Cacá, meu BB deu um cochilo e eu vim aqui matar as saudades. Seus posts estão cada vez melhores. Ah, gostei do novo visual do blog também! Um abraço fraterno :-)

zelia maria freire disse...

Bom dia zé. Como prezo muito a sua amizade e levando em consideração a sua condição de escritor, a quem muito respeito, o tenho como imortal . beijo de zélia

Néia Lambert disse...

Os valores não são mais os de outrora, hoje o efêmero pesa mais que qualquer valor sentimental. O consumismo tirou a noção do que é realmente importante, uma tristeza isso!

Um abraço.

CESAR CRUZ disse...

Ahaha! Excelentes considerações, Cacá!

Bem, seguro de vida eu já tenho, se bem que quando eu enpacotar, não serei eu a gastá-lo!

Quanto à minha obra, duvido que alguém se interesse. Tenho gerado risível interesse nos meus leitores; porém me orgulho da legião que tenho, de não leitores! ahaha!

Vamos rir de nós mesmos que é a melhor saída,

abço forte
Cesar

Anônimo disse...

Amigo,

Por essas e outras eu me pergunto: será que vale a pena mesmo ser imortal? Sei não, às vezes acho até que seria mesmo muito chato viver pra sempre, né? Literalmente passar por TUDO. Prefiro deixar as coisas como estão. E que se melhore a vida, enquanto estivermos por aqui.

Bjs!

Miriam de Sales disse...

Cacá,as coisas e as pessoas valem o que vale a afeição da gente.Aos bens materiais não estou presa; aos meus amigos,sim.Sinto falta qdo n/os vejo ou qdo n/ interagimos.
Qto á imortalidade da alma ainda procuro respostas.
Mas,tem algo q/ nunca entendi:se estamos aqui de passagem,viajantes do tempo,p/ q/ amealhar tanta tralha?
A cada dia desejo mais uma vida simples como queria Thoreau. bjs

C. disse...

Tantas coisas sendo descartadas, como moral e bons costumes, imagine entao se vao se preocupar em tornar imortal essas outras coisas que você tao bem disse.

Um ótimo fim de semana, Cacá! Muito bem fundamentado e escrito esse post.

Vera Lúcia disse...

Olá Cacá,
Infelizmente, o ser humano anda se perdendo em relação a valores.
Para que se importar com imortalidade física se não estamos tendo tempo sequer de cuidar de nossa alma, que é verdadeiramente imortal?
O consumismo exacerbado distrai o ser humano. Estamos perdendo o foco.
Abração.
(Se tiver um tempinho, visite meu Recanto. Sigo aqui).

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

no que diz respeito ao mercado editorial, ele está fadado a sumir, se não olhar para além do mesmo.Nos blogs hoje há muita literatura de qualidade

Celina disse...

Oi Cacá, boa noite, como sempre os assuntos das tuas cronicas são creativas despertam em nós interesse. Eu mesma não me preocupo de viver tanto como eles os cientistas almejam, o que vale é viver bem, Um abraço amigão, Celina

Berzé disse...

Mudei agora para um apartamento já gasto, com história, as escadas carcomidas. História faz muito bem...dá tempo...descansa. Tô gostando mesmo(ainda) sem linhas disponíveis para internet. Seu recado tá muito bom Cacá!Pra variar.
Abração!
Berzé

Lena disse...

Oi, Cacá
Ainda bem que estou te seguindo e você a mim. Sempre via a sua foto, entrava no seu blog e adorava tudo o que lia. Agora estamos nos (per)seguindo.rsrsrs...
Sobre a imortalidade,apesar de não gostar muito de envelhecer e ter o maior MEDA de morrer, acho que não curtiria ficar aí por mais de 100 anos...hehehe. Acho que 1 século tá bom, desde que sem depender dos outros e com relativa saúde!!
Saiu uma reportagem muito legal sobre a imortalidade numa Veja há cerca de 1 mes atrás. Você leu?
Depois vou voltamdo aqui com calma pois tem posts muito legais para eu me deter para uma leitura! Bjkas com carinho!!!

Milla Pereira disse...

Eu penso nisso sempre, Cacá e, a cada pensamento, fico mais confusa ainda. Passando pra desejar um bom fds, abrçs, Milla

Severa Cabral(escritora) disse...

Passando por aqui...desejo ficar...mas não sei se me queres como teu seguidor...
Convido-o a passar no meu cantinho,se gostares deixa teu rastro para saber que passastes por lá.Ai poderemos trocar informações...
Bjs para aquecer teu blog!

Aleatoriamente disse...

Boa noite Cacá.
Adoro quando te encontro lá em "casa".
É sempre alegria para mim.
Beijinho querido.

Fernanda

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