terça-feira, 15 de março de 2011

SENTIDOS

            Estamos vivendo era da carência. A material já é sentida há muito tempo. Como não vivemos só de comer e dormir e trabalhar, outras carências vão se acumulando e se manifestando das mais diversas formas. Especialmente aquelas que atingem o nosso mais profundo sentimento: o de estar no mundo. Acabam se materializando em ações ou reações inimagináveis.
            Daria um tratado de filosofia, outro de sociologia, outro de psicologia relatar tudo que decorre das carências humanas. Mas não é esse o meu propósito nem minha capacidade. Quero, portanto falar de uma carência que, talvez, seja das mais urgentes para a sanidade da alma e do corpo: ouvir. Todos necessitamos ser ouvidos. Para tanto precisamos aprender a ouvir. Primeiro ouvir a si mesmo, o coração e a mente. Depois ouvir o outro.
            Já reparou os diálogos atualmente como se estabelecem? Se é que podemos chamar de diálogos, eu chamaria a maior parte das conversas de diálogos de surdos. Fala-se, fala-se, fala-se. Escuta-se muito, mas não se ouve. Ouvir requer estabelecer comunicação. Mas as carências são tão grandes que colocamos em primeiro lugar as nossas necessidades. Como o outro também é portador de muitas necessidades, ninguém ouve, apenas escuta. O cabedal de informações disponíveis e a rapidez com que nos são apresentadas, mais a soma de nossas carências, não abrem espaço para o tempo que deveríamos ter para transformar tudo em formação. Essa sim, é que proporciona ou permite-nos desenvolver a capacidade de ouvir. E faz um bem enorme para a alma, para o encontro de nosso lugar no mundo e como conseqüência para as nossas relações com as pessoas e das pessoas conosco.

21 comentários:

Anônimo disse...

Um nevoeiro que impede a visão clara do que, de fato, ocorre na vida de si (carente) e ao seu redor. Tudo fica confuso. Muito oportuno o texto. Na era da modernidade, é tempo de fortalecer as emoções. Abraços!

lis disse...

Oi Cacá
Primeiro quero dizer que adorei a postagem anterior sobre os poetas e suas poesias.
É sempre agradável le-los e eu que vivo as voltas com elas todos os dias são dias rsrs
Os sentidos todos da maior importância Cacá destacas a audição precisamos ouvir pra entender, pra responder,pra interagir.
O mundo anda apressado e estamos sempre atrasados pra ouvir o outro.
Nao tenho muito esse problema - gosto mais de ouvir quede falar.rs
abraço obrigada pela boa partilha.

Carla Piva disse...

Você sabe como poucos esclarecer de forma simples tudo que se propõe a fazer. Realmente é verdade o que disse, existe uma enorme diferença entre ouvir e escutar. Que bom que nesse mundão ainda existem pessoas, como você, que podemos escutar não pelos ouvidos e sim pela alma. Beijinhos!

Inaie disse...

querido, essa tocou fundo! Por que eu sou a pior ouvinte do mundo. Eu falo, falo, falo...

ai que triste!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Cacá, tudo bem?

Eita que isso é velho. Ninguém ouve, ninguém escuta. E muita gente tb na blogsfera tb nao lê. Passa o olho e comenta.

Boa semana

chica disse...

Que beleza de observação.A falta de encontrar quem sabe OUVIR, nos faz até deixar de FALAR... Vamos desistindo...abração,chica

Yasmine Lemos disse...

Lembrei do meu filho. Muitas vezes não tenho tempo de ouvi-lo.Com 6 anos ele descobre as coisas do mundo e eu com pouco tempo de parar ,sentar ...Isso é tão precioso e importante.
valeu grande Cacá,recebi um puxão de orelha virtual rss
abraços

Misturação - Ana Karla disse...

Considero o "ouvir" hoje, um comportamento intelectual.
Vejo que a necessidade das pessoas em falarem é tão grande, que em alguns casos, os diálogos, entre duas pessoas claro, se tornam um monólogo pelo simples fato de cada um(a), falar de si mesmo e de seus pensamentos, mal ouvindo o que o outro(a) está falando.

Cacá, gosto dos seus textos, por serem curtos e objetivos, sem falar que mandas a mensagem por inteira.

Diferente de alguns que escrevem verdadeiros jornais e no final não dizem nada.

Xeros

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, querido amigo Cacá.

Adorei!!
Saber ouvir parece uma arte difícil de ser encontrada.

Para não cansarmos o outro, precisamos até editar o que vamos falar, na tentativa de sermos ouvidos.

Muitos não se contêm, e não permitem que concluamos nem uma frase, interrompendo-nos à todo instante.

Alguns jovens encontraram uma maneira mais educada de não ouvir. Eles ficam calados e parece que a palavra nos foi dada.

Poucos minutos depois, se lhe perguntarmos alguma coisa sobre o que foi dito, descobrimos que enquanto falávamos eles estavam longe... Pensando outra coisa, para torna-los imunes ao diálogo.

No passado adorávamos ouvir, e não perdíamos nenhum detalhe na expressão de quem estava a falar.

Acho que com o avanço da tecnologia, o que está faltando é tempo para esse diálogo.

Quando não estão fazendo nada, estão com o fone de ouvido. O som pode até estar desligado, mas já enxergamos isso como um "escudo" contra quem gosta de conversar.

Um grande abraço.
Tenha um lindo dia de paz.

Sheilla Liz disse...

Oi querido Cacá! Poxa, que legal esse texto, eu estava pensando sobre isso esses dias, em como as pessoas gostam de ser ouvidas e precisam disso. Ás vezes vc até percebe que a pessoa não escuta nada do que vc fala, ela só quer falar e falar. Acho que o que todos precisam é de um psicólogo portátil, um bem fácil de usar, hehe.

Quintal de Om disse...

"Ainda que eu falasse a lingua dos anjos, sem amor eu nada seria"
[Legião Urbana]

Precisamos cada vez mais tirarmos as vendas dos olhos do espírito, desatar os nós das mãos, se atentar pras situações que realemnte nos acrescentem de algo.iNFELIZMENTE ISSO É FEITO DE PASSO EM PASSO... E MUDANÇA É DE DENTRO PRA FORA.
sÓ QUE NOSSOS OLHOS SÃO AINDA CEGOS DA PELE PRA DENTRO... PRA PODER ENXERGAR MAIS ALÉM, AO REDOR DOS SENTIDOS.

Lindaaaaaaaaaa Manhã querido meu!!!

Abraços, flores e estrelas...
coração agradece sempre o seu carinho e tão bonitas palavras.

Meu beijo pra vc!

Anônimo disse...

Sabe Cacá,
o bom é saber que sempre podemos fazer diferente.
Bjs.

Berzé disse...

E com temos dois, é comum entrar por um e...
Abração Cacá!
Berzé

Denise disse...

Ah, Cacá, onde assino embaixo, meu amigo??

- olhar e ver,
observar e sentir,
escutar e ouvir,
pegar e tocar -

tão semelhantes, totalmente diferentes!

As emergências do dia-a-dia engolem as urgências do nosso SER.
Dia desses ouvi: "temos fome de carinho, sede de amor e frio na alma"

Para ouvir o outro, concordo contigo, antes precisamos aprender a arte de silenciar-nos. Ouvir-nos. compreender e atender nossas demandas pessoais. O respeito pelo outro nasce na consciência do que desejamos receber tb, não é unilateral essa relação, embora as conversas hj sejam monólogos cheios de desesperada falta de atenção, de amor e acolhimento, que nos fortalece e define nosso lugar e sentido no mundo.

Adorei tua reflexão!
Um enorme abraço!

Beth/Lilás disse...

Boa reflexão, Cacá!
Eu também percebo isso nas relações atuais, por isso muitas vezes não vai pra frente uma amizade.
Sou das que gostam de interagir, conversar e ouço muito as pessoas, mas já tive contato com pessoas que só querem falar, falar de si, das suas conquistas, viagens, família, blá blá blá, mas não têm ouvidos para um amigo, assim que com gente dessa espécie saio fora, não me aproximo mais.
um beijo carioca

pensandoemfamilia disse...

No consultório isto surge "ao vivo e a cores". É como se cada um não visse o outro, pois o muro que cresce os distancia pela falta da escuta plena, do estar aberto um para o outro.
Nossos sentidos como precisam ser domesticados,rs,rs,
Abraços,

Celina disse...

Oi Cacá, tudo de bom para vc, achei muito boa a sua crônica, realmente vc tem razão, hoje em dia é muito difícil alguém escutar outro. Fazendo às vezes perder até a vontade de falar.
Um abração amigo,Celina

Toninho disse...

Feliz cronica Zé, o mundo a muito perdeu a capacidade ouvir com a alma.Realmente fala-se muito e pouco de capta.Saber ouvir e ser ouvido é arte nos dias de hoje,onde tudo passa como vendaval e assim a perda de aprendizado é isto que bem coloca.Meu abraço de paz e luz.

Elaine Barnes disse...

Amigo você bateu num ponto que eu não me canso de dizer. Todas as guerras,desavenças,relacionamentos infernais...Tudo é porque as pessoas não sabem se comunicar, não tem uma lealdade com a comunicação,não se expressam como deveriam. É bem isso que você descreve aqui tão bem: O que fala muito sem fazer bom uso das palavras o outro que escuta,mas não ouve...Nussss Parabéns amigo,sempre enriquecendo a gente. Montão de bjs e abraços

Casal 20 disse...

Cacá, que sensibilidade e percepção!

Ótimo texto. Verdade. Somos assim, carentes. Queremos falar, nos derramar, chorar. Mas e o outro? Este tão ao nosso lado? Não seria ele também feito dessa mesma carne carente? Ouvir o outro para além de mim mesmo é uma disciplina da maturidade.

Vamos a ela!

Parabéns, Cacá.

Abraços sempre afetuosos.

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