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À parte a necessidade de ganhar a vida, penso haver quatro grandes motivos para escrever, seguramente para escrever prosa. Existem em diferentes graus em cada escritor, e no mesmo escritor variarão com o tempo, e de acordo com a atmosfera em que ele está a viver. São eles:
- “Puro egoísmo”.
O desejo de parecer esperto, de ser falado, de ser recordado depois da morte, de conseguir a desforra dos adultos que nos desprezaram na infância, etc., etc. É ridículo fingir que isto não é um motivo, e forte. Os escritores partilham esta característica com os cientistas, artistas, políticos, advogados, soldados, empresários de sucesso, em suma, com a camada superior da humanidade. A grande massa dos seres humanos não é profundamente egoísta. Depois dos trinta anos abandonam quase por completo o sentimento de individualidade e vivem apenas para os outros, ou deixam simplesmente abafar-se pelas suas labutas. Mas há também a minoria de pessoas dotadas, esperançosas, que estão determinadas a viver as suas vidas até ao fim, e os escritores pertencem a esta classe. Os escritores sérios, devo acrescentar, são de forma geral mais vaidosos e egoístas que os jornalistas, embora menos interessados no dinheiro.
- “Entusiasmo estético”.
A percepção da beleza no mundo exterior, ou, por outro lado, nas palavras e na sua precisa disposição. O prazer do impacto de um som em outro, da firmeza da boa prosa ou do ritmo de uma boa estória. O desejo de partilhar uma experiência que se considera de valor, e imperdível. A motivação estética é muito débil em inúmeros escritores, mas mesmo um panfleteiro ou um autor de manuais terá palavras favoritas e frases que lhe apelam por razões não utilitárias; ou pode ainda ser sensível à tipografia, ou à largura das margens, etc. Acima do nível dos horários dos comboios nenhum livro está completamente livre das considerações estéticas.
- “Impulso histórico”.
O desejo de ver as coisas como são, de descobrir os fatos verídicos e preservá-los para uso da posteridade.
- “Propósito político”
Usando a palavra “político” no seu sentido mais lato. O desejo de empurrar o mundo numa certa direção, de mudar as ideias das pessoas sobre o tipo de sociedade pela qual devem lutar. Mais uma vez, livro algum está livre de uma tendência política. A ideia de que a arte não deve ter nada a ver com a política é, em si mesma, uma atitude política.
É fácil ver como estes vários impulsos se antagonizam entre si e como devem flutuar de pessoa para pessoa e de tempo para tempo.
George Orwell – ensaio
In: blog do joaonunes.com - 2007
25 comentários:
Post formidável, meu querido Cacá!
Muito interessante!
A necessidade de escrever...
Gostei demais!
Abraço bem apeado, amigo!
Bom dia, gostei da matéria, estou seguindo você amigoa - abraços do ALBERTO ARAÚJO
Cacá, George Orwell analisou de forma esplêndida a alma de quem gosta de escrever, perfeito!
Boa semana, um abraço.
Pois é Cacá, o danado do Orwell me ajudou muito com "A revolução dos Bichos". Um camarada como o George, é muito mais q um grande escritor: melhora o mundo, pode ter certeza!
Abração!
Berzé
acho q hj dificilmente é a arte de ganhar a vida que faz alguém escrever. beijos, pedrita
Muito legal tua postagem,Cacá! abração,tudo de bom,chica
BOM DIA CACÁ, SENPRE NOS OFERECENDO COISAS MARAVILHOSAS, MUITO BOM POST . UM ABRAÇÃO DA AMIGA CELINA
CACÁ ESTOU SEMPRE COMETENDO ERROS DE DIGITAÇÃO, DESCULPA AMIGO ENQUANDO NÃO ME CURAR VAI SER ASSIM, UM ABRAÇO GRANDE CELINA
Oi Cacá só acrecentaria duas coisas que existem de formas nebulosas na vida demuitos que esrevem: a inveja e a vaidade , me esbarro com frequencia , e é bem dificil de acitar.Humildade e necessidade da escrita não combina com isso.Acho que você também ja conheceu isto de perto,afinal somos eternos aprendizes não sabemos de nada
barços e uma ótima semana
meu teclado ta todo esculkhambado desculpe os erros
Concordo com o Orwell, como não! hehehe! Eu escrevo para os outros, pois meus textos nada valem se não forem dos meus leitores.
E eu, fico aqui... deliciando-me com que tu trazes.
beijosssssss!
Excelente apreciação sobre as motivações dos escritores e considerei interessante o comentário da Yasminee aoreferir-se a inveja e vaidade.
Abraços.
Boa tarde, querido amigo Cacá.
Eu cliquei naquele espaço para encomendar o seu livro, mas não consegui avançar.
Confesso que tenho muitas limitações ainda, para usar os recursos da net.
Eu passando o meu e-mail, você não se importa de me instruir?
Endereço: mariamapola@yahoo.com.br
Um grande abraço.
É perfeito. Aí estamos nós, às vezes mais em uma característica, às vezes mais em outra. Algumas vezes nos debatemos entre mais de uma delas, mas sim, estamos exatamente aí.
Eu me incluo neste grupo. Ainda não sou uma "escritora", mas gosto de escrever, e é sobre estas pessoas que se fala, não é?
Beijos.
Oi Cacá
Formidável leitura sobre a percepção de um escritor baseado na sua experiência e escrever e convicer no meio.
Quem me dera tivesse o dom! sou admiradora de todos que se propõe e faz!
abraços Cacá, boa noite.
uau! Que espelho!
Muito bom, Cacá.
Aguçado texto de Gerge Orwell.
Parabéns.
Abraços sempre afetuosos.
Olá!! Achei seu blog na lista de um blog amigo. Sigo.
Sds,
Daniele Barizon
http://www.neointerativo.com
Boa noite, querido amigo Cacá.
É interessante...
Acho que o motivo maior é a comunicação em si.
Um grande abraço.
Tenha uma linda noite.
Cacá: escreve-se por muitos motivos, mas o que fica mais visível é que se torna um vício.
No meu perfil coloquei uma frase que gosto muito: 'escrevo porque é a maneira mais fácil de dizer as coisas sem ser interrompida'. Pra mim serve isso.
Mas concordo com tudo, sim. E também, Cacá, o 'meio' tá qualhadinho de escritores que escrevem por vaidade, parece uma 'guerra das estrelas'. Vi muito isso em escritores de fama, a gente vê de longe, quase que pelo olfato... Chega a doer na alma! Coitados. Mas em qualquer lugar, onde as vaidades se proliferam, fica um rastro difícil de se seguir. E difícil de engolir.
Um pouco de modéstia não faz mal a ninguém, mas só é próprio dos espíritos mais nobres.
Beleza de postagem. Teu novo filhote está na minha coluna, com a devida permissão!
Beijo / Tais Luso
Gostei desta definição sem dor da arte de escrever a partir da alma do escritor e do inconsciente.Perfeito.
Um abraço amigo/irmao Zé e aquela corrente se inicia.
Oxalá tenhamo sucessos.Estou preparando uma postagem a ele, para esta semana.
Excelente texto!...
A frase de Thais Luso, também é excelente. Ganha ponto quando diz:
"Um pouco de modéstia não faz mal a ninguém, mas só é próprio dos espíritos mais nobres."
O pior de tudo é quando a vaidade toma conta da alma de alguem... estudei com um ser muito humilde (era tão pobre que costumava ter um cheiro estranho na roupa surrada que vestia) e hoje, por ter-se tornado, um "letrado" não pisa no chão de tanto orgulho! Para mim este é o pior defeito de um "escritor", de um ser humano!!!
Abração, Cacá.
Postagem perfeita. Concordo com tudo que ele colocou, principamente o "egoísmo' que vejo mais como exibicionismo e fico um pouco reticente quanto a "viver" desse produto.
Cacá!
Este Orwell é um barato, instigante e como consegue dizer aquilo que a gente gostaria.
Eu não sou e nem quero ser escritora, admiro o talento de tantos, você inclusive, mas percebo em quase todos estes itens que ele coloca, incluindo os que a Yasmine deixou, principalmente a vaidade e necessidade de se colocar no mundo.
Percebo que o escritor é um ser muito rico em seu íntimo e ao mesmo tempo difícil de se lidar.
um abraço carioca
Não conhecia essa análise do Orwell. Mais uma vez tenho que concordar com ele! Ótimo post!
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