segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Carlos Ceia

UM APARTE: com esta postagem estou homenageando o MÁRCIO JR do blog Abismo das Vaidades.  Hoje é dia de seu aniversário e não vejo, daqui de longe, uma melhor forma de abraçá-lo, de desejar-lhe muita saúde e alegrias senão através daquilo que é substância vital para ele: a leitura e a escrita. Claro que gostaria de lhe dar o abraço, de tomar com ele um café e cantar-lhe os parabéns. Mas isso aqui fica sendo oferecido com festa, pois bem sei que ele vai apreciar. PARABÉNS, meu amigo Márcio! De todo o meu coração e com todas as letras possíveis. 
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Da importância de ler e escrever
   LER
1.   “ Acredita-se que a leitura é uma aprendizagem desde os primeiros dias de vida. Ler a uma criança por ser, ainda no útero, pode ser benéfico, mesmo que a ciência não consiga provar que espécie de benefício possa ser esse. Sabemos, isso sim, que em qualquer dos casos ler é um alimento do espírito sem o qual ficamos incompletos. 
2.    Ler às crianças durante os seus primeiros anos de vida, ajuda-as a crescer não só intelectualmente como do ponto de vista da compreensão do mundo. A medida da imaginação de cada um na vida adulta, a meta que cada um de nós consegue atingir no exercício da mais espantosa e complexa das nossas capacidades — o ser capaz de pensar — é determinada pela forma como nos moldaram a nossa imaginação durante os primeiros anos de vida. Somos o que lemos. Quem nunca leu ou quem leu muito pouco, não conhece nem o mundo em que vive nem os mundos que podemos sonhar.
3.    Quem lê, vê mais; quem lê, sonha mais; quem lê, decide melhor; quem lê, governa melhor; quem lê, escreve melhor. Poucos são os atos que valorizamos e que praticamos que não possam ser melhorados com mais leitura.
4.    Recomendar a leitura de livros é tão importante e tão inútil como recomendar que se beba muita água. É bom leitor quem transformou o ato de ler numa necessidade e num instinto primários.
5.    Ler é um remédio santo para a mais complexa das doenças que é a solidão. Ninguém está só, havendo um livro para ler. E se tivermos um livro para escrever, então somos muitos. “
 
   ESCREVER
1.   “ Um escritor não tem/não deve ter nada para ensinar sobre os seus livros. Muitos podem pensar que sim, por isso dão muitas entrevistas, onde explicam e interpretam aquilo que escreveram, como se os livros estivessem incompletos ou como se receassem que uma leitura alheia os possa desvirtuar. Um livro publicado não pertence mais ao escritor. E de certeza que a interpretação da obra de arte não passa por quem a criou ou não depende de quem a criou. O que é histórico ou sempiterno já ultrapassou o seu criador.
2.    É possível falar das motivações da escrita. Porque escrevemos? Como escrevemos? É tudo o que de interesse público deve um escritor revelar. O resto é um espetáculo que não merece ser aplaudido.
3.    “O que é mais difícil não é escrever muito; é dizer tudo, escrevendo pouco” (Júlio Dantas); hoje escreve-se pouco, com o pretexto de que se diz muito. A sociedade da informação na qual somos obrigados a viver não tolera o muito que podemos dizer quando escrevemos mais do que esperam de nós. Continuamos a fazer o elogio do minimalismo literário. Quanto mais aforístico for o nosso pensamento, maiores serão as probabilidades de sermos ouvidos ou lidos. Ninguém se importa hoje com o fato de que aprendemos a escrever pelo esforço, pela repetição, pelo treino desta alta competição que é a de ser escritor.
4.    Escrever é um desporto único de alta competição: pratica-se ao longo da vida, exige um treino intensivo diário, e tem a grande vantagem de ser arbitrado pelo público.
5.    Quando Harold Bloom publicou How To Read And Why (2000), uma obra escrita para elogiar o poder da leitura literária contra o impoder de certos fenômenos juvenis como Harry Potter, acreditou que era possível trocar precisamente o Harry Potter por Shakespeare, Cervantes, Oscar Wilde ou José Saramago. E disse numa entrevista: ''Para pensar melhor, precisamos da memória do que foi ensinado, lido e escrito. E isso só se encontra nos grandes livros.'' A questão que se coloca é: se não temos muito tempo para ler, o que devemos ler? J. K. Rowling ou William Shakespeare? Consta que na primeira semana em que o livro de Bloom esteve à venda, recebeu mais de 400 cartas protestando contra a crítica aos milhões de leitores de Harry Potter.
6.    Bloom não gosta de Harry Potter, porque, diz, é uma colecção de lugares comuns que em nada enriquece os jovens. Recomenda como alternativa o clássico Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll, e o excelente Contos de Shakespeare (1807), de Charles Lamb. Ora, eu aprendi a ler através da literatura oral e popular e devorando todos os livros de banda desenhada que o meu pai colecionava. Aprendi a ler através dos lugares mais comuns da própria literatura. Aprendi que ler tudo é o melhor remédio para saber hoje o que é que vale a pena ler. A pergunta J. K. Rowling ou William Shakespeare? nunca devia ser ser colocada perante ninguém. O importante é o compromisso que cada um de nós estabelece com aquilo que sente que deve ler. Errado é pensar que J. K. Rowling é suficiente. Harry Potter é apenas um cantinho do mundo. As tragédias de Shakespeare estarão certamente do outro lado do mundo, mas a nossa imaginação, se estiver predisposta a isso, pode viajar para todo o lado e não deixar ninguém de fora.”

In: Carlos Ceia, O professor Sentado: Um Romance Acadêmico. Ed. Duarte Reis, Lisboa, 2004

19 comentários:

Toninho disse...

Esta sua série é rica pela qualidade de pesquisa com definoções e reflexões perfeitas.Ler é a maneira de me entender e reposionar sempre.interessante esta reflexão da leitura à criança ainda que no utero.Ainda me lembro de minhas primeiras leituras das latas da cozinha de minha mãe,era muita emoção a cada palavra.Escrever é o outro lado da arte e bem define quanto a propriedade apos a criação,quando a cada um cabe a leitura e interpretação do que se pensou ou não, possivelmente nenhuma obra esteja pronta de tudo aos olhos do autor.Bem o certo é que esta sua postagem é mais uma aula.Meu abraço de paz e luz.

Ester disse...

Muito bom, Cacá!

Conhecendo um pouco o nosso amigo, acredito que não poderia haver uma forma melhor de homenagiá-lo,
o texto é magnífico e prato cheio para os amantes da boa leitura e escrita!

O Marcio é quem aniversaria, mas usufruimos também de presentes como este seu,

Abraços!

Unknown disse...

Eu volto pra ler.
Cacá,
Tenha uma semana, rica das bençãos de Deus.
bjs.

Diogo Didier disse...

PERFEITO!

Sou professor de redação e ensino a meus alunos a importância da boa leitura, bem como o exercicio constante da escrita. Claro q não sou daquela opinião clássica de que temos q obrigar os alunos a ler livros consagrados e desconsiderar qualquer outra esfera textual.

Acredito e sei da importância dos livros clássicos, como construtores de valores atemporais de extrema crucialidade para o entendimento do mundo. No entanto, a leitura não pode se restringir a isso. Ela é polissêmica e deve ser trabalhada em toda a sua plenitude. Em outras palavras, ler um livro, um jornal, um site, um BLOG, uma cartilha, um folheto, ou até mesmo um miséro bilhete, tem a sua importância para o nosso enriquecimento intelectual.

Quanto à escrita eu sou verdadeiramente um apaixonado. Gosto muito de colocar no papel o q penso, sinto e acredito. Muitas vezes acho q não consigo exprimir tudo o q vejo, mas faço um esforço enorme para ser o mais descritivo possível.

Belo post amigo! bjoxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx no coração!

Adriana Alencar disse...

Achei muito interessante a parte do texto que fala sobre como é o escrito, identifiquei-me principalmente com a afirmação da necessidade de ser conciso e dizer "tudo". Realmente, o tempo é escasso e selecionamos o que lemos, então os textos mais curtos e bem elaborados tem preferência.
Procurei um feed no seu blog e não achei, você não tem?
Um abraço,
Adri

chica disse...

Maravilha de verdades nesse "papo"...

Desde o berço, as crianças podem ter contatos com histórias, livros e isso se reflete depois...

Parabéns ao Marcio e felicidades Sempre! abração aos dois,chica

Quintal de Om disse...

Cacá!!

Cá entre nós, que belas palavras e não haveria momento melhor para dizêlas?... ou, escrevê-las?... ou ainda, lê-las? rs

Muito bonita homenagem.

Depois pasdsa lá em casa que tbm fiz uma homenagem a ele.... é q a Esterzinha esqueceu de mim na lista dela! rs

Bjsssssss

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, querido amigo Cacá.

Nossa... Adorei!
Desde criança comecei a ler tudo que meus irmãos colecionavam. Ia dos romances de José de Alencar, até as revistas do Ziraldo, Disney, etc.

Para mim representou um portal que me transportava para diversos outros mundos. Era sinônimo de felicidade.

Muito obrigada pela matéria. É um privilégio estar aqui.

Um grande abraço.

pensandoemfamilia disse...

Homenagear um escritor através da sua arte, muito bom. Gostei da forma como ele nos coloca sobre o ler e o escrever.
Meus pais não liam muito para mim, mas meu pai, principalmente, contava-me estórias.Meu interesse pela leitura de livros só se despertou na adolescência.
Vou lá conhecer seu amigo e parabenizá-lo pelo dia de hoje.
Abraços,

Aleatoriamente disse...

Bom dia Cacá!
Que preciosidade teu presente ao Marcio.
Amei os detalhes do texto também.
Marcio é essa pessoa maravilhosa, que fazemos questão de ter ao nosso ladinho.
Tão bom fazer parte desse laço de amizade, que nos une em prol de coisas lindas feito essa.
Como não podemos lhe dar o abraço que desejamos, lhe abraçamos assim com palavras vindas da alma, que fazem o um efeito puro e harmonioso também.

Ficou linda tua homenagem querido.
Um beijo.
Fernanda.

Marcio JR disse...

Cacá, meu amigo, me colocar na mesma postagem com Carlos Ceia, é um presente inestimável. Isso foi muito mais do que um presente.

Sempre compartilhei as opiniões dele, principalmente no tocante ao incentivo à leitura. Quem me conhece, sabem muito bem. Está perto a mim, será incentivado, de uma forma ou de outra, a ler. Aquele que não lê, viverá apenas a metade daquilo que tem direito, ou até menos.

A primeira pessoa a quem tive o prazer de incentivar a ler foi meu pai. Gostei tanto disso, que nunca mais parei.

E hoje, algo me deixa muito feliz. E não é o fato de ser meu aniversário, mas sim o de que estou sendo congratulado por pessoas a quem nutro uma admiração enorme. Sou um fã de carteirinha do Cacá, a eum conheci como José Claudio. Tantas foram as vezes que me deleitei em teus escritos, que busquei inspiração, que ri, que interagi com a maior vergonha do mundo, por me sentir tão pequeno diante daquilo que você escreve. E qual não foi minha surpresa em ver que aquele que eu considero um dos grandes, tem uma grandeza ainda maior no coração, chamada humildade.

E, como se já não bastasse todos os predicados que carrega, ainda tem o prazer de trazer para a luz os novatos, os que precisam não de uma mão financeira, mas de uma mão de apoio, aquela que gera palavras de incentivo, que orienta e apóia.

A grandiosidade de tua obra não está apenas naquilo que você escreve, mas na pessoa que você é e nos discípulos que você está gerando e que tão bem espalharão as sementes literárias que está plantando.

Grato, Cacá.

Ter essa homenagem aqui, representa muito para alguém que tem na leitura e na escrita uma forma de ver, aprender e viver.

Abraços, meu amigo.

Marcio

Marcio JR disse...

Um complemento no comentário que fiz acima... rsrsrs. Acho que a emoção anda me tirando a cooncentração.

Quando me referi a sua humildade, não pensei que você não a tivesse, mas sim ao fato de você vir aos iniciantes, diante de um tempo que, por vezes, sei que você não tem. Esse reconhecimento que você dá aos outros escritores é algo de um valor imenso, e que alguns outros talentos por aí, escritores que já tem nome, sequer se dão ao trabalho de fazer.

Abraços, meu amigo.

Marcio

Thiago Quintella de Mattos disse...

Que bela homenagem! E presente para os leitores/escritores! A análise de Harry Potter foi muito interessante.

Antonio Vendramini Neto disse...

Guarde os amigos, aqueles que são do peito,que sempre estão dispostos a nos ajudar em qualquer momento e estão sempre perto do nosso coração. Bonita homenagem.

Anônimo disse...

Para mim, leitura é fascínio e escrita é necessidade. Belíssima homenagem. Nós, leitores, recebemos também esse presente. Abraços!

Norma de Souza Lopes disse...

As palavras de Márcio me fizeram lembrar as descrições de Henri Miller em Sexus:
"o escritor verdadeiramente grande não quer escrever: quer que o mundo seja um lugar em que possa viver a vida da imaginação [...] o processo de por palavras no papel equivale a tomar um narcótico[...] a palavra tem que flutuar na superficie de seu impulso[...] não merece aplausos...
Gostei de conhecer as palavras de seu amigo. Que ele tenha um feliz amiversário.

Celina disse...

Oi Cacá. agraddeço a sua visita e o comentário, Que bom ter um amigo como vc , com estas palavras tão belas qualquer amigo ficaria lisongiado pois ao meu ver e um ato de respeito e admiração. o que me levou a ler foi a solidão muito jovem, sem liberdade. vc imagina a educação antiga[imagina] a mais velha dos irmãos o passa-tempo era ler, lia tudo que consenquia obter.Bem amigo um abraço carinhoso. Celina

Hugo de Oliveira disse...

"Quem ler decide melhor"...costumo dizer isso aos meus colegas professores, pois muitos deles não gostam de ler...ACREDITE! Grande parte dos professores, costumam exigir leitura, textos escritos a seus alunos, mas, muitos desses mesmos professores não criaram o hábito de ler.



Gostei muito da sua postagem.

Abraços
de luz e paz

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