segunda-feira, 21 de novembro de 2011

LER NÃO CAUSA L.E.R. * - QUADRINHOS

imagem : Geografia.uol.com.br

Em determinada época, as revistas em quadrinhos foram vistas como um grande perigo para a educação. Formou-se então um consenso errôneo de que elas alienavam as crianças e os adolescentes de tal modo que não apenas eles perderiam o interesse pelos estudos e pela leitura de livros, como seriam afetados psicologicamente pela malignidade expressa em tal tipo de leitura , resultando em grande prejuízo moral, e na deturpação irreversível da personalidade de gerações inteiras (!).

O preconceito contra as histórias em quadrinhos (HQs) veio de uma visão muito elitista da educação, segundo a qual somente a leitura de literatura impressa em formato de livro seria positiva e contribuiria para o desenvolvimento dos indivíduos. Daí, educadores, psicólogos e vários segmentos sociais, além dos pais, chegaram à conclusão de que as "más leituras" - os quadrinhos - seriam um obstáculo oposto às benesses das "boas leituras" - os livros.

Exageros à parte, essa visão, digamos, apocalíptica das histórias em quadrinhos, que se provou inteiramente equivocada, foi o estopim para uma perseguição feroz que não somente lesou partes importantes da conjuntura econômica e atingiu uma série de classes profissionais, como prejudicou justamente aqueles a quem alegava proteger, pois a eles foi negado o acesso livre a um tipo de leitura importante na sua formação socio-educativa.

A VALORIZAÇÃO DOS QUADRINHOS

Levou tempo para se compreender e se aceitar nos meios acadêmicos e educacionais que os quadrinhos exercem uma função exatamente contrária ao que alegavam os seus detratores: para os indivíduos ainda em formação, crianças e adolescentes, os quadrinhos se mostram uma porta de entrada para a literatura que eles vão consumir em futuras etapas de sua vida. Mais ainda, por serem quase irresistíveis e de comunicação extremamente fácil, desde que valorizados adequadamente, os quadrinhos são uma ferramenta importante para a educação, basta que os educadores e os pais saibam usá-los no trato com os mais jovens.

Não há assunto ou gênero que não seja aproveitado pelas HQs: história, ficção científica, aventura, romance. Por que, então, não aproveitar e oferecer as atraentes revistas em quadrinhos àqueles que começam a querer ler além do que há em seus livros didáticos? Em sala de aula, as HQs podem ser usadas para despertar o entusiasmo dos alunos pelo hábito da leitura, para fazer trabalhos coletivos e estimular discussões e interação social. Mais ainda: as HQs servem como um ponto de partida, de facílimo acesso, para a educação artística completa, porque as HQs, hoje, transcendem a mera definição de "arte sequencial" configurada para a apreciação estética - com a evolução tecnológica e a integração das mídias, os quadrinhos se definem como uma arte complexa, inteiramente integrada a outras formas de arte, como a alta literatura e o cinema.

Não são os quadrinhos, portanto, uma arte menos nobre, apenas porque é popular e acessível; não são, de forma alguma, nefastos para os educandos, como ainda podem pensar alguns - a lembrar que a própria internet, quando começou a se popularizar, foi vista com a mesma desconfiança que os quadrinhos há algumas décadas. Dizia-se que as pessoas mais jovens ficariam mal influenciadas por ela e que abandonariam as atividades que implicam o ler e o escrever. O que se vê é exatamente o avesso do que se preconizava - nunca os jovens escreveram tanto e leram e se informaram tanto como acontece hoje.




L.E.R. - Lesão Por  Esforço Repetitivo



15 comentários:

Pedrita disse...

hj acham q a internet acabará com o prazer de ler. sempre mitos. beijos, pedrita

chica disse...

Que bom que estavam errados e vejo os pequenos cada vez lendo mais! abração,linda semana,chica

Meire Oliveira disse...

Adorei o texto Cacá! Ainda bem que a ficha caiu, pois hoje tem muita criança que começa a ler exatamente pelos quadrinhos :)

bjokitas com master carinho!

Néia Lambert disse...

Cacá, eu vivi a experiência de gostar de ler através das revistas em quadrinhos, pois os primeiros livros indicados na escola, como leitura obrigatória, não eram nada adequados para a minha idade, de difícil interpretação e árduo vocabulário. Um pouco mais tarde, já habituada e fã ardorosa da leitura, embrenhei-me pelos livros de forma natural para nunca mais deixá-los de lado.

Um abraço.

Misturação - Ana Karla disse...

Oi Cacá!
A internet tem sido uma grande fonte de leitura para meu filho mais velho que ainda não tomou gosto por leituras.
Ele se interessa mesmo em HQs e alguns livros do tipo: "O Diário de Um Banana".
Sem ter muito o que fazer, incentivo essas leituras que podem sim construir e instruir para o futuro próximo, ativando assim a curiosidade por outros tipos de leituras e histórias.

Já o caçula, ler tudo que passa pela frente, inclusive as HQs.

Pode-se aprender, e muito com as Histórias em Quadrinhos.

Gostei muito desse texto e concordo totalmente.
Palavras de mãe...kkkkkkkkk

Boa semana
Xeros

* Edméia * disse...

*Cacá, como você está ?!

*Menino, tô aqui na correria de

segunda-feira e passo aqui para

te desejar uma tranquíla semana

ao lado dos teus !!!

*Beijossssssssssss.

P.S. - Ler SEMPRE é bom : contos,

romances, jornais, charges, bulas

de remédio, receitas de bolo,

histórias em quadrinhos ...

tudo !!!

Jaime Guimarães disse...

Mestre Cacá,

já escrevi sobre as HQ´s e como elas foram a melhor influência para que eu tomasse gosto pela leitura ainda na infância - http://grooeland.blogspot.com/2009/06/homenagem-um-amigo.html

Felizmente a resistência aos quadrinhos sobretudo na educação vem diminuindo progressivamente. Eu me lembro de ter um gibi confiscado na época da escola, imagine. Hoje temos adaptações em HQ de clássicos da literatura brasileira e universal. É um bom ponto de partida porque evidentemente a curiosidade das crianças é estimulada a conhecer a obra "original". Comigo foi assim: as aventuras do Tio Patinhas em busca de tesouros pelo Peru, Egito, China, Pérsia também me levaram a uma viagem pelas bibliotecas e enciclopédias, de modo que muito cedo já conhecia as histórias dos Incas, dos egípcios, a Mesopotâmia, a mitologia grega...

E até mesmo aquelas HQ´s de "aventura", como o Homem-Aranha, traziam coisas interessantes; no gibi do aracnídeo, por exemplo, a manipulação da imprensa - o super herói salvando vidas e o jornalista rancoroso distorcendo as informações. Porém, por outro lado, eu nunca tentei trocar de roupas em uma cabine telefônica...rsrs

Abraço, Cacá!

Tatiana disse...

Cacá querido!!!
Pois é... eu adoro ler, e minha vida literária começou com Monica e Cebolinha, Luluzinha e Bolinha...rs ...adoraaaaaava!!!!
Meus filhos nao gostam, acho que com a Internet os interesses mudaram para alguns.
Beijocas!!

pensandoemfamilia disse...

Penso que há modismo e, hoje, creio que já se está revendo muitas concepções consideradas verdadeiras na educação que necessáriamente precisa acompanhar os tempos...
bjs

Toninho disse...

Boa abordagem Zé,para nós que iniciamos a leitura com os velhos gibis sempre no bolso e depois entramos para as HQs, e assim embrenhamos pelas leituras.Lembro que com relação aos gibis, era costume meu, ver sempre o dicionaio para definição de palavras.No caso da net, a principio vi cm olhos tortos o acesso de jovens,copiando e colando pesquisas sem ao menos ler. Claro que a recepção dos professores mais atentos começou a rejeitar tal pratica e assim tivemos uma evolução.Hoje nós que militamos pelo Recanto das Letras temos a grata alegria de deparar com varios jovens muito bem inseridos na literatura.Mas toda novidade causa estranheza mesmo.
Muito boa reflexão.
Meu abraço e boa semana com paz e saude.

Anônimo disse...

Eu lei tudo. E gosto de (quase) tudo. Ainda me lembro de uma colega que fez o Curso de Letras me contar que um de seus professores dizia que aluno do Curso de Letras estava proibido de ler Paulo Coelho! Abraços, Cacá.

Jacques disse...

Até algum tempo atrás as hqs eram vistas como "leitura infanto juvenil despretensiosa", Cacá, mas hoje tudo é diferente.
Desde a criação de histórias adultas e genias como Watchmen e Sandman, esta mídia definitivamente deixou de ser considerada infantil.
E a perseguição que ela sofreu décadas atrás (como o infame e retrógrado Código de Conduta estadunidense) quase a extinguiu, mas os profissionais da área adaptaram-se.
Hqs são apenas mais uma mídia e, assim como a internet, possui conteúdo de qualidade e lixo em excesso.
Cabe a nós distinguirmos um do outro.
Um abraço e uma ótima semana, Cacá.

Vera Lúcia disse...

Olá Cacá,
Ótima abordagem! Minhas leituras tiveram início com os gibis e as HQs. Adorava!
Creio que sempre foram leituras importantes, que mexiam com o imaginário infantil.
Ainda bem que os conceitos a respeito foram revistos, pois considero as HQs uma boa fonte de incentivo ao gosto pela leitura.
Abraço.

Tunin disse...

Cacá, quando pequeno eu lia muito os artigos da Rachel de Queiroz.Estampados na última folha de O Cruzeiro.Umas coisas eu entendia, outras não, mas lia. E assim começou o gosto pela leitura. O texto está muito bom! Abração.

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