Os glutões, nossos ancestrais tinham uma relação voraz com o alimento. Não importava muito qual fosse ele. Saciar a fome era garantia de mais um dia vivo. Portanto não primavam muito pela seleção. É verdade também que não havia muitas opções. Temperos então, o que dizer? Mas também não havia culpa com relação à quantidade nem com estética corporal. Sendo o suficiente para repor energia estava bom demais. Afinal, depois iriam precisar sair à caça novamente. E era também esse o seu trabalho. Os aperfeiçoamentos que vieram com o tempo foram no sentido de melhorar seus métodos e diminuir os esforços para adquirir seu produto alimentar.
O trabalho, na medida do desenvolvimento relacional com a natureza foi ganhando gosto e especialização. Com isso o prazer ia aumentando. O homem descobrindo que com um instrumento novo, conseguia obter com mais facilidade os meios necessários para a sua subsistência.
Os preguiçosos (que devem ter gerado os invejosos) passaram a disputar o produto tecnológico que o outro inventou e a disputa ferrenha entre os homens passou a ser não só pela comida, mas também pelos meios mais fáceis de consegui-la.
Bom, de lá para cá, muita coisa se passou e muita gente conhece essa história de como chegamos à mesa com toda a sofisticação moderna, com as culpas que vieram junto do ato de comer e do tédio provocado pelo trabalho. Desde que o homem deixou de fazer para si, com gosto e teve que se sujeitar ao outro e ficar apenas com uma parcela de sua produção, trabalhar e comer não tem mais o mesmo charme lá das cavernas.
O que botamos para dentro e o que botamos para fora?
As angústias decorrentes desse processo histórico, antropológico e sociológico resvalam no estômago e nas crises decorrentes da insatisfação com o trabalho. Para dentro, enviamos alimentos que nos causam prazer momentâneo e culpa imediata. Alguns colocam outros agentes, menos alimentares e mais tóxicos em sinal de rebeldia. Mas é opcional. Para fora, botamos ruminâncias verbais. Alguns colocam balas e outras formas de agressão. Opção ou doença?
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Inspirado na crônica PATOLOGIA ASSUMIDA, de Milena Romariz (do Recanto das letras).
12 comentários:
Bom dia, querido amigo Cacá.
Adorei!! Acho que é a mistura de tudo.
Um grande abraço.
Certo Cacá...acho que nos temos que prestar atenção e cuidar nosso corpo, que é único...agora é tão gostoso comer...rs rs...falta educar sobre os alimentos adecuados...mais sabe eu acho que muita gente ya se estão ocupando e prestando atenção ¿ verdade ?...bom, deixo carinhos pra voçê.
Muito boa tua pergunta e faz pensar...
Sempre instigante!!!abração,chica
Uauuu, muito legal!! Vc colocou as palavras nos devidos lugares!! A gente coloca pra dentro mais qtdade de comida do que necessitamos, temos prazer momentaneo, e como consequencia, arrependimento imediato!
Achei que acontecia só com as mulheres, mas ontem, conversando com um amigo vi que também rola essas paranóias bulimicas no universo masculino, e agora, encontro seu texto!
A comida é boa, gostosa e pode ser sempre saudável, resta que nós saibamos fazer as melhores escolhas! A culpa é toda nossa!! rsrs
Sao as tendencias do novo mundo, trabalho mole, computador, sedentarismo, comida congelada, e bobagens deliciosas... Já fiquei com a consciencia pesada (acabei de comer), verdade, rsrsrs
Beijaoooooooooo!!!
A trajetória histórica tem o homem como agente de sua construção, portanto, de certa forma, estamos falando em escolhas, mas no produto final encontramos a doença que está disseminando o nosso planeta, assim eu penso.
Nem sei dizer, vou pensando e concluir a frente.
Mas que botamos muitas porcarias pra dentro, isso não tenho dúvida.
Bom final de semana Cacá.
Xeros
Boa pergunta para tempos de crise. Penso que trabalhar não significa renunciar a vida e comer não é o fim. Tudo depende do equilíbrio, o qual se adquire através de disciplina e entendimento de que a vida tem muitos caminhos. Para mim isto é maturidade, só depois disso se é capaz de fazer um movimento para mudar, para melhorar, para equilibrar as coisas. Portanto, doença é resultado de escolhas erradas. Aproveito para te agradecer pelas palavras de incentivo registradas, sempre com muita elegância, em meu blog. Abraços!
A que se dizer também dos rituais que o homem moderno criou para diferenciar o ato de comer dos primitivos: por a mesa, usar talheres guardanapos e toda a parafernália comensal.
Vi certa vez uma imagem comparativa de um homem andando com um sanduiche e um cahorro andando com um osso. Era bem sugestiva acerca do fast food.
Eu sou a favor do slow food. Mas com muito food, de preferência....
Você foi além do literalmente degustar ,alimentar-se. A humanidade come e mastiga coisas insuportavéis como a hipocrisia,inveja ,ganancia.alimentos vendidos quase de graça. os bons armários guardam relíquias como a amizade , a cautela até para comer de verdade.
abraço e um grande fds sábio amigo
OI Cacá, teria tanto para dizer sobre isso que não caberia num comentário. E não mudaria a realidade, o que é o mais triste da história.
Onde a gente vira a chave? Muda o rumo? Por que vejo a coisa se complicando cada dia mais.
Cada vez é mais difícil manter-se fazendo o que se gosta. E se você faz o que gosta, não come o que gosta, não é? kkkkkkkk
Beijos.
Interessante seu texto.
Bjs.
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