domingo, 23 de maio de 2010

DESMERECIMENTO EM PROSA - "TÁ PEGANDO QUEM?"

A contabilidade já foi uma fria matéria de números resultantes das perdas e ganhos de financistas e produtores em geral. Agora está nos quentíssimos diários de beijos das meninas e nas embaladas conversas de meninos. Quantos beijos e quantas namoradas(os) no melhor estilo: - “tá pegando quem?” como se tirassem alguma mercadoria da prateleira para usar e devolver ou jogar fora e trocar por outra mais vistosa, cheirosa e gostosa. É um termo usual, muitos poderão dizer que é da moda, é da onda, é maneira, véi. Eu tô ligado, mas não me conformo mesmo assim. Entre tantos insultos à dignidade humana, entre tantas insignificâncias que estamos adquirindo para suprir nosso lado gente e empatarmos pari passu com as mercadorias, “tá pegando quem?” para mim está num dos primeiros lugares em termos de desmerecimento humano.



Hoje, tratarmos esse termo por conta das idéias de machismo e antigos ideais de feminismo não encontra mais eco no meio da juventude que sequer se dá ao trabalho de pensar a individualidade e a auto determinação como valores psicológicos e sociais. Estão em sua maioria nos embalos do que ditam os valores econômicos para serem transmitidos subliminarmente ao seu comportamento. Individualismo é a palavra mais apropriada para se conceituar as bases que sustentam o trato entre uma pessoa e outra ou entre uma pessoa e o restante da coletividade. É desmerecimento à medida que não se buscam mais outras formas de se qualificar relações fora de um sistema que envolva recompensas materiais palpáveis e imediatas. Qualificar, aliás vem sendo um gesto afirmativo de quanto vale, quanto custa, qual o resultado em termos de ganhos. Usurpou o significado de quantificar. Não arreda pé de um materialismo insistente em ser a única forma de valoração humana. Assim, o “Tá pegando quem?” significa uma materialização do indivíduo em um formato de coisa , de objeto de uso e descarte. Claro que os sentimentos podem acabar aflorando em algum momento, mas ele dificilmente vai se descolar da base que o originou: o ser coisa-propriedade, bem de consumo. Aí, quando e se aflorarem sentimentos é que vai ser determinado se o bem será de consumo durável ou não durável, tal como fazemos com os objetos e utensílios que nos emprestam alguma serventia no nosso dia-a-dia. Talvez por isso, complementem o desmerecimento tão gravemente com a uma ameaça velada a quem não se enquadra ou não quer fazer parte do jogo por qualquer motivo, dizendo: “a fila anda”.

9 comentários:

Adh2BS disse...

Bom dia, amigo!
Pois é, não há mais mistério, a moçada parte pra cima (outra expressão da moda) pra sair pegando... Não é à toa que os casamentos formais (ou informais) durem cada vez menos. A saudade dos primeiros amores não vai ocupar a memória dessa gente... É pena.
Grande abraço, ótima semana, não esqueci do selo, a qualquer momento estaremos de volta!
Adh

Mulher na Polícia disse...

Falei com uma amiga ontem, que havia "ficado" com um policial aqui, muito pouco recomendado... Quando lembrei o currículo dele pra ela, me respondeu: "Oi, eu só fiquei com ele!"...

Sentiu?

Anônimo disse...

Esse mundo está é ficando romanticamente sem graça...

Celina disse...

OI CACÁ UM SEMANA DE MUITA PAZ PARA VC, OBRIGADO PELA VISITA E PALAVRAS TÃO SÁBIAS. UM ABRAÇO CARINHOSO, CELINA.

chica disse...

Linda crônica e realmente,acabou a poesia...Tá muito "frouxa" a coisa...abração,chica

Mariana disse...

E tem gente, como eu,que acredito no amor, na cumplicidade e amizade em uma relação, mas vejo muitas gentes que parecem não ter sentimentos.

Teresa Aragão disse...

Há tempos estava devendo uma visitinha por aqui Cacá...
em matéria de "ficar"sempre reprovei e também meus filhos reprovaram rrsrrsr ensinei a eles que amor é algo sublime,beijar tem que ser por amor, namorar e respeitar é a melhor coisa para se ser feliz a dois! abraços!

Jaime Guimarães disse...

Lembro-me também daqueles desenhos animados onde havia um bang-bang e a personagem marcava um "X" em cada bonequinho acertado.

Tá bem por aí. Um bang-bang "pegador". Atira-se para todos os lados e vamos marcando os bonequinhos (as): "Aquele ali? Já peguei!" "Ah, aquela? Ih, old! Peguei, já!"

abs!

gorettiguerreira disse...

E por falar em sentimentos Cacá, será que você colocaria um link de pessoas desaparec idos que está em minha página? Seu Blog é super visitado e você querido, que me diz???
Bjs humanistas pra ti.
Goretti

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