Vilma foi à feira livre com uma disposição alegre. Despertou num daqueles dias em que nem o cinza das nuvens muda a cor do humor da gente quando acordamos com alegria para o mundo. Na feira livre, há a oportunidade do contato com as coisas da terra, que têm um poder mágico, senão de aumentar, pelo menos de manter a disposição. Fora a chance de poder estampar no rosto a satisfação para todo mundo ver que a vida pode ser bem melhor do que pensar nas metáforas de abacaxis e pepinos ou dar uma banana para alguém. Comprou, comprou e acabou o pensamento numa boa ação. Afinal, dar bananas para alguém não quer necessariamente dizer que esse alguém não vá ficar feliz, sendo bananas de verdade, longe das alegorias do gesto bananoso de mandar alguém se ferrar. Era isso, enquanto comprava as outras verduras, legumes e frutas, pensou na sua filha. Gostava de bananas. Fazem muito bem para a saúde física e mental dos adolescentes em fase de crescimento. Possuem fósforo, sódio e potássio, sais minerais essenciais aos meninos e meninos se desenvolvendo e estudando. Comprou um pouco a mais do que costumava e como passava pela porta da escola da filha, resolveu entrar um pouquinho. Foi assim que a Vilma me contou.
– O que a gente não faz para alegrar os filhos, né? Era a hora do intervalo para recreio e podia muito bem fazer uma surpresa agradável para a Brisa, a menina que gostava tanto da fruta tropical. As caturras então, hum!!!
Distraída nas conversas pelo pátio da escola no meio das amigas, provavelmente falando de alguma professora ou de matéria fácil ou difícil, muito ao contrário do que pensam os adultos que acham que elas ficam fofocando sobre meninos bonitinhos da escola ou da rua. Não entendem nada do mundo sério e preocupado com os estudos. Esses adultos! Quanta maldade! De repente, alguém avista a sua mãe e a avisa. Ela sai logo correndo em sua direção, pensando ser notícia ruim. Como comparecer àquela hora, interromper “aquele assunto” se não fosse para trazer uma má notícia, quem sabe até buscá-la para ir lhe confortando pelo caminho para absorver melhor o impacto dos acontecimentos? Mas o sorriso da Vilma radiante desfez a suspeita. E mais ainda quando ela lhe entregou o embrulho. Uma penca de bananas, ali, no recreio, no meio de toda a turma. A menina foi ficando rosada e avermelhando à medida em que a vergonha se misturava com a raiva. Meu Deus, como pode ser insensata! Me trazer bananas na escola, na frente de todo mundo, ainda por cima me fazendo parecer uma criança?
_ Mãe eu vou fazer de conta que nem te conheço. Foi tudo o que conseguiu dizer, saindo em disparada para a sala de aula. E a Vilma nem teve tempo de falar que era um lanchinho para reforçar sua alimentação. Para a menina, o maior mico de toda a sua existência.
– Pode véi, uma mãe dessas!!! Foi o que ela me contou depois.
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Este texto ia fazer parte de um concurso promovido pela Rádio Bandnews: MÃE CORUJA (Mães sem noção, um mico inesquecível). Era para ser narrado ao vivo lá na rádio, mas preferi escrever para não cair no esquecimento da família.
E com ele homenageio a todas as mães no seu dia. Que seja ele feliz juntamente com todos os demais.
7 comentários:
Muito legal e sem dúvida os filhos passaram micos desse tipo, mas todos, pelo grande amor e cuidado das mães. Um abração e tudo de bom,chica
Chefe!
Me ocorre que o mico é o da menina ao recusar um mimo da mãe, perdendo a oportunidade de evidenciar as suas amigas o quão privilegiada era ela por ter mãe assim... coisa que só irá descobrir quando ela própria fizer algo parecido pelos filhos que vier a ter!
Grande abraço, e uma benção especial a todas as mães deste mundo, onde quer que estejam!
Adh
Em tempo - o livro chegou ontem, valeu! Faço minha parte na 2af., abção.
Oi KK, adorei recordar os acontecimentos. Me senti extremamente lisonjeada pelo fato ter sido narrado por voce para homenagear as mães. Ah, faria tudo de novo, agora em local diferente, na "Facu", rsrsrsrsrsrs!!!!! Abraço fraterno, Vilma
Oi, mas não era uma simples babana, era uma penca! Eu tinha apenas 11 anos, adolescente, tinha acabado de vim do interior para a capital, cheia de amigas em volta. A única coisa q me veio na cabeça foi sair de perto! Mas hj se a história se repetir na "facu" receberei o presente e não sairei correndo! hahaha
Adorei a crônica KK!!
Abraços!
Brisa.
É...mãe não tem mesmo noção. Só amor demais.
Gente, que delícia ler essa crônica, ela nos faz pensar tanta coisa dos nossos comportamentos de mães, por exemplo, que "a falta de noção" ou o "excesso de noção" das mães pode ser proteção ou superproteção. Antigamente, muitas mães não erravam na qualidade do mingau de maizena só para ouvirem "nó, que bebê fofinho!" Atualmente, "olha, se você não proceder direitinho na escola, não vai tomar sorvete, vou tirar a coca-cola, vai ficar sem computador... De qualquer forma, a maioria é capaz de enfrentar um leão, partir uma cobra ao meio para salvar sua cria. Sônia
Cacá,
Essa historia parece com as nossas, pois, nossa mãe também mandava entregar lá no colégio: abacate com açucar, pão com recheio de frango(aquele do almoço). Hoje tenho saudades...
bjos
Edina
PS.: obrigada pela homenagem a nós mães.
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