sexta-feira, 19 de março de 2010

PREMIAÇÃO OU VALORIZAÇÃO?

A NOTÍCIA

Lei prevê 14° salário para professores de escolas que tiverem bons resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O projeto, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), prevê que, para ter direito ao 14° salário no final do ano, os professores precisam elevar o Ideb de sua escola em pelo menos 50%.
Também serão beneficiados profissionais de escolas que alcançarem um índice igual ou superior a sete. O indicador foi criado em 2005 e avalia a qualidade do ensino público a partir do desempenho dos alunos na Prova Brasil e das taxas de aprovação.
Escolas, municípios e estados ganham uma nota, em uma escala que vai de zero a dez. A média nacional em 2007 foi de 4,2 pontos para os anos iniciais do ensino fundamental. O novo Ideb será divulgado em 2010.
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FONTE:
http://educacao.ig.com.br/us/2009/11/10/ 10/11/09
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A CRÔNICA

SÓ PARA DESANUVIAR, ANTES DE MAIS NADA: PROFESSOR DEVERIA SER A CATEGORIA MAIS BEM REMUNERADA DO MUNDO.

Não sei se minhas teses têm fundamentos, mas não me parece uma boa idéia premiar professores pela produtividade com dinheiro. Entendo a educação como um processo de formação integral do indivíduo, uma preparação complementar para a vida. Esse tipo de compensação pode legitimar uma tragédia que vem acontecendo há muito tempo no sistema educacional. Ele está muito mais voltado para a preparação do sujeito para o mercado de trabalho do que qualquer outro fim. E mesmo sendo assim, a preparação tem sido péssima na maioria dos casos.

Ora, a escola não pode se tornar apenas instrumento das relações de produção! Se assim for, não podemos sequer queixar de que, não havendo espaço para todos num mercado seletivo, alguns descambem para a marginalidade pura e simples. É um complexo sistema de inter-relações que nem dá para ser tratado em uma crônica simplória, mas que tem seus desdobramentos negativos nesse aspecto, isso eu afirmo com todos os ônus possíveis para mim. Um professor é uma extensão de um lar, de uma família e não de uma teia de relações sociais de produção. A partir do instante que a sua valorização depende de gratificação extra para aprovar e melhorar alunos, sua atenção pode se concentrar exclusivamente em resultados palpáveis e não mais em formar pessoas. O que seria educar viraria treinar, disciplinar, adestrar pessoas. Então, nesse caso, melhor mesmo é ensinar às crianças até a alfabetização e a partir daí, coloca-las logo em instituições exclusivamente profissionalizantes e pronto. Aí, sim, está desfeita a ligação aparentemente real de que estará educando. Sairão todos prontos para serem mão de obra disponível no chamado exército de reserva do mercado de trabalho e acabaríamos com a hipocrisia de que a escola é lugar para se educar. Melhor colocar uma placa na porta: Centro de Formação, Disciplinamento e Adoção para o Mercado.


NOTA: Mesmo discordando dessa lei, contemporizo com o senador por considerá-lo uma voz quase solitária em defesa da qualidade da educação no Brasil nos meios do executivo e legislativo.

4 comentários:

chica disse...

Concordo contigo que eles deveria ser bem reminerados.,Todos passamos por eles , é inevitável. Salários BEM MELHORES e não prêmios somente...abração,chicA

Mariana disse...

Cacá foi nas asas da coruja q descobri o teu blog.
E por aqui fiquei tb.
Gostei dos temas, e este o último post é de uma importância enorme.
Valorização dos educadores é um dos grandes males deste país.

Celina disse...

OI AMIGO CACÁ, VC ME FEZ FELIZ, É O PREMIO QUE NÓS RECEBEMOS,SABER QUE EM ALGUM LUGAR TEM ALGUEM LENDO O SEU TRABALHO. CRESCE A NOSSA RESPONSABILIDADE É VERDADE, OBRIGADO PELO COMENTARIO CARINHOSO E POR ME SEGUIR.GANHOU TAMBEM UMA AMIGA.UM ABRAÇO FRATERNO CELINA.

Jaime Guimarães disse...

Grande Cacá!

"os professores precisam elevar o Ideb de sua escola em pelo menos 50%."

Os professores? Chamem Jesus Cristo para fazer um milagre, então. Olha só, Cacá, eu até gosto do senador Buarque, acho que ele realmente se preocupa com a educação e tudo, mas aí já é demagogia.

Ora, as escolas são desiguais. Em um município há escolas que recebem alunos em uma situação de risco tão grande que o professor acaba, muitas vezes, deixando os conteúdos de lado - Prova Brasil, alô, alô! - para se concentrar no que o aluno traz de fora para dentro da escola. E há escolas que recebem alunos provenientes de uma situação social bem mais tranquila, que possuem até computador com internet em casa para auxiliá-los em seus trabalhos.

Ou seja, o que irá mudar efetivamente na educação? Pouco, ou quase nada. Como elevar um índice em uma escola que enfrenta terríveis problemas de infra-estrutura e violência em seu entorno? Os professores que se virem com amor e dedicação, certo? É o que dizem os demagogos. Há professores que entram nessa linha. A afetividade, sem dúvida, deve permear o trabalho sobretudo quando falamos em relações humanas, mas é necessário o mínimo de recurso para as escolas proporcionarem um bom trabalho pedagógico.

Isso poderá criar não uma competição entre professores, mas uma fuga de professores de escolas periféricas em busca de unidades de ensino "melhor equipadas". O profissional tem o direito de fazer isso, claro, afinal a busca por um ambiente de trabalho melhor e com remuneração maior é a meta de todos; mas como fica aquela escola da periferia? Sem professores, sem índice, sem meta, sem recursos, sem que o governo obrigatoriamente invista.

Sem o 14° salário desta lei já há uma fuga de escolas assim aqui em Salvador. Há unidades que passam o ano letivo inteiro sem professor de Matemática, de Química, Biologia, História, diversas matérias. Nessas horas faço a mesma pergunta que a molecada faz no twitter: "e aí, coméquefaz?"

Maior exclusão? É bom pensar nisso.

Exagerei no comentário, me desculpe. E não foi dos melhores porque já ando com os neurônios um tanto gastos por aqui só de pensar nessas coisas...rs

Um abraço!

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