O que se faz hoje em intranet, se fazia até pouco tempo intramuros: fofoca. Muitas empresas para não deixar que a lavação da roupa doméstica caia na rede mundial possuem esse sistema privado de internet. Ali se distribuem novidades de interesse corporativo, se faz propaganda dos produtos e se impõe a doutrina dos donos. E fala-se muito, mas muito mesmo dos concorrentes, tudo com a garantia dos empregados de manutenção do sigilo interno. Rola uma fofoca solta.
Uma vizinha que tive, a Dona Iranilda gostava muito de jogar buraco * . Chamava a gente por trás do muro para uma partidinha quase todos as noites e íamos sempre que havia disponibilidade. Continuamente em sua casa, não gostava alternar nas de seus parceiros ou adversários. Proclamava-se a mais velha e mais cansada e alegava gostar muito de receber pessoas. Durante o jogo, conversas poucas e muita concentração, afinal não gostava de perder de jeito nenhum. Uma boa anfitriã, descontando-se o verdadeiro nevoeiro de pub inglês em que se transformava sua sala, de tantos cigarros que fumava em cerca de três ou quatro horas que duravam as partidas. Eu gostava dela até o momento em que começou a atazanar a minha vida com fofocas. Captava todos os ruídos que vinham de minha casa e transformava-os em histórias que a sua imaginação queria. Gostava de provocar desavenças. Falava com a minha mulher pelo muro, nem subia para mostrar a cara. Ficava aquela conversa de ecos.
- O pau quebrou ai em sua casa neste final de semana, hein? Tava um cheirinho de churrasco...
- Você não estava aí nesse fim de semana, né? Uai, parecia que estava tendo festa...
- Menina, seu marido fica muito em casa, né? Tem dias que você está viajando e ele está aí em plena luz da manhã... (Eu trabalhava em regime de revezamento de turnos).
A minha esposa do primeiro casamento tinha crises de enxaqueca frequentemente. Sempre que havia amigos em casa e as dores a acometiam ela se recolhia num ambiente fechado e escuro. Não suportava luz. Então, estava sempre junto dos eventos. A D. Iranilda, da última vez que fui lá jogar, discretamente a convidei, na saída para aparecer em minha casa qualquer dia. Ela disse que saía pouco, estava ficando velha e cansada. Aproveitei e respondi injuriado - Por isso mesmo, vá dar uma relaxada. Tem sempre festa!
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* buraco é um jogo de cartas
Uma vizinha que tive, a Dona Iranilda gostava muito de jogar buraco * . Chamava a gente por trás do muro para uma partidinha quase todos as noites e íamos sempre que havia disponibilidade. Continuamente em sua casa, não gostava alternar nas de seus parceiros ou adversários. Proclamava-se a mais velha e mais cansada e alegava gostar muito de receber pessoas. Durante o jogo, conversas poucas e muita concentração, afinal não gostava de perder de jeito nenhum. Uma boa anfitriã, descontando-se o verdadeiro nevoeiro de pub inglês em que se transformava sua sala, de tantos cigarros que fumava em cerca de três ou quatro horas que duravam as partidas. Eu gostava dela até o momento em que começou a atazanar a minha vida com fofocas. Captava todos os ruídos que vinham de minha casa e transformava-os em histórias que a sua imaginação queria. Gostava de provocar desavenças. Falava com a minha mulher pelo muro, nem subia para mostrar a cara. Ficava aquela conversa de ecos.
- O pau quebrou ai em sua casa neste final de semana, hein? Tava um cheirinho de churrasco...
- Você não estava aí nesse fim de semana, né? Uai, parecia que estava tendo festa...
- Menina, seu marido fica muito em casa, né? Tem dias que você está viajando e ele está aí em plena luz da manhã... (Eu trabalhava em regime de revezamento de turnos).
A minha esposa do primeiro casamento tinha crises de enxaqueca frequentemente. Sempre que havia amigos em casa e as dores a acometiam ela se recolhia num ambiente fechado e escuro. Não suportava luz. Então, estava sempre junto dos eventos. A D. Iranilda, da última vez que fui lá jogar, discretamente a convidei, na saída para aparecer em minha casa qualquer dia. Ela disse que saía pouco, estava ficando velha e cansada. Aproveitei e respondi injuriado - Por isso mesmo, vá dar uma relaxada. Tem sempre festa!
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* buraco é um jogo de cartas
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