terça-feira, 28 de setembro de 2010

O TERNO

imagem -oficina do estilo


Tudo mudou tanto nesse mundo nos últimos séculos... e o ser humano vai se adaptando. Eu gosto de falar que as coisas mudaram, não o homem. Se pegarmos história e literatura dos últimos quinhentos anos, vamos constatar que o homem mudou muito pouco. Então vamos falar de progresso material, tecnologia e valores simbólicos.  As muralhas que protegiam as cidades medievais caíram ou viraram atração turísticas. Do aríete evoluímos para o canhão e dele para os bombardeiros aéreos foi um pulo, ou melhor, um vôo. Tantas profissões foram criadas... A última das últimas novidades é o tal de emprego verde. Não, minha gente, não se trata de plantadores nem de um retorno do homem para o campo. É o tal emprego em atividade sustentável - provavelmente para homens sem terno. Se esse negócio não é mais um lance de marketing, só vamos saber se continuarmos sustentados mais algum tempo aqui nesse mundo assolado.

E no meio disso tudo, o terno está aí, firme, já caminhando para o quarto século de seu reinado absoluto. Desde que o homem abandonou a roupa de guerreiro e criou as máquinas de combate para substituí-lo nas frentes de batalha, a roupa do poder simbólico ficou sendo o terno e dele não mais se abriu mão. Isso vem desde a revolução industrial. Portanto não se trata de moda, como alguns insistem em dizer, por exemplo que a moda feminina vive se modificando e a masculina, não. Na verdade o terno não é uma moda. Quem o veste está entrando dentro de um status não de um enfeite. Em alguns cai tão bem que o poder de sedução manifesta-se, mesmo que o cara não tenha poder nenhum. São os poderosos mais transitórios Alguns radicais já tentaram derrubá-lo. Deve ser algum esquerdista da moda, algum adepto do Joãosinho Trinta.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde o calorão é incompatível com a roupa já houve movimentos rebeldes que se reuniam em hotéis cinco estrelas e com ar condicionado para tramar a sua eliminação pelo menos no verão. O movimento só não ganhou as ruas por causa do insistente calor que faz lá fora.. Mas como abolir se quem manda nas coisas lá também anda de terno? Pergunte a eles se querem que o cara vá de bermuda e camiseta para o trabalho? Só se for vendedor de produtos de praia.

É o contrário: o movimento, em vez de ganhar adeptos da abolição, ganha  mais e mais uso. Crianças fashion usam ternos. Para o bem das aparências e respeito, porteiros e vigilantes, seguranças. Até ladrões de terno impõem menos medo (ou mais respeito, dependendo do ponto de vista de quem está sendo assaltado). Uma coisa pelo menos já virou consenso: quando os assaltantes estão de terno, as vítimas não costumam sofrer grandes traumas físicos. Eles não costumam atirar, no máximo uma coronhada em alguém que não acredita que o sujeito de terno esteja fazendo aquilo e vai tirar satisfações na hora que estão sendo feitos reféns.

Tem também os colarinhos brancos, mas isso é uma outra história. Mulher que tem poder exibe-o de tailleur. É um dos resultados da sua luta de anos e anos a fio, a linha, a chuleado e a caseado para se igualar ao poder masculino. Com isso, aumentou seu poder de barganha e também de sedução: uma belezura o traje!

Já tentei argumentar aqui em casa, sem sucesso, que quando eu morrer não precisam me enterrar de terno. Eu tenho apenas dois, comprados em muitas prestações, usados raramente, então no meu senso de sustentabilidade pensei que poderiam servir para vestir alguém depois de minha partida. Mas já fui vencido e, mesmo que não fosse a última palavra não vai ser minha mesmo! Nem o mau exemplo que eu contei para a minha família convenceu: é que outro dia eu ouvi num velório um cara se aproximar do morto, verificar bem a indumentária e comentar baixinho: “mas precisava enterrar com um Armani?”

13 comentários:

chica disse...

É, o terno passou tanto tempo, acompanha o homem,as mulheres o imitaram e na hora da morte, há os que vão de ARMANI e outros com aqueles que é só até fechar o caixão...Depois são retirados...rsrs

Linda crônica!abração,chica

Celina disse...

Cscá bom dia, crõnica muito bõa, instrutiva e ao mesmo tempo interessante. Um abraço carinhoso Celina.

pensandoemfamilia disse...

Com esta crônica vc se superou, quanta criatividade para falar da inalterável essência humana. Òtimo.
Abços

Anônimo disse...

É Cacá. E tudo continua como dantes, nos tempos de Abrantes. O terno segue sua trajetória através dos tempos: mais curto, mais longo, mais justo, mais largo, etc. Mas segue imperturbável. Já conquistou o seu lugar ao sol. E o homem? Ih, esse ainda tem léguas a percorrer. De terno. E as mulheres? Também. Só acho que enterrar de Armani é pura falta de criatividade. Mas, aí você dirá: depende. E eu concordarei. Quem é o "de cujus"? Ah, bom, então vai de Armani. Tudo é relativo. Ah, meu Deus, alguém já disse isso. Não tem nada de novo mesmo. Tudo como dantes..., rsrs. Bjsssss

Isadora disse...

Cacá, um barato o seu post. Acho o terno muito elegante e passa, sim seriedade em algumas ocasiões, mas em um calor de lascar como aqui no Rio, ele seriam bem substituído por uma calça e camisa social e ficaria muito bem.
Deixei para você, no Tantos Caminhos, um selinho, mas fique à vontade caso nào curta.
Um beijo

CESAR CRUZ disse...

Cacá, convenhamos, enterrar o cara de Armani foi um erro. Tudo bem, deixa lá pra família e os amigos verem (sem flores para não manchar, sem flores!), mas na hora de enterrar, pela o presunto!!

Excelente crônica, valeu, abço!

Cesar

Mari disse...

Oi cacá...boa tarde meu querido.
Muito bom seu texto...
Agora enterrar de Armani? rs
Beijos

Maria Rodrigues disse...

Amigo excelente narrativa como sempre. Eu sou você, não vale a pena levar grandes coisas na morte, afinal para quê?
Hoje vim especialmente para agradecer a sua doce mensagem de parabéns ao meu filhote Pedro.
Obrigado por todo o seu carinho e amizade.
Que Deus ilumine hoje e sempre o seu caminho.
Bjs do tamanho do infinito
Maria

Sheila disse...

Olá Cacá ,voce sempre especial nos seus textos,inteligente e observador.Continuo lendo sempre aprendendo também.Abraços.

Neca disse...

Ô Cacá... meu reino por um homem charmoso e de terno!!!! rssss. Sei que não era este o intuito do texto, mas impossível não comentar que, para algumas de nós (eu!, eu!, eu!, por exemplo!), o terno é um verdadeiro fetiche. Então, para o bem dos nossos olhinhos e delírio de nossas mais 'luxuriosas' fantasias, que vocês continuem suando às bicas de terno por pelo menos mais um século.
Beijocas.

Sueli Gallacci disse...

Hahaha Armani neles! Até no morto!

Cáca, eu espero que o terno nunca caia de moda, acho elegantérrimo e charmoso um homem de terno.
Pelo menos até não inventarem nada melhor.

Essa sua crônica está em sintonia com uma que escrevi lá no meu Crônicas & Agudas: "Mais Respeito aos Enlutados"

Quando puder, dá uma passadinha lá, é a primeira crônica do blog.

Parabéns, um bjo enorme.

Tais Luso de Carvalho disse...

Cacá foi a melhor crônica que li sobre o homem de terno... Sobre o terno propriamente. É verdade, não é moda, por isso que não tem muita firula ao redor de um terno: é apenas status. Pode ter é um nominho que ajudará no peso da coisa... Em algumas épocas me questionei o porquê o homem não revolucionava um pouco sua moda, afinal, um terninho?? Mas que terninho! Um homem de terno dá credibilidade, né??? Que digam os ternos de Brasilia...
Beijo, gostei muito.

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