quinta-feira, 23 de setembro de 2010

OS DONOS DO MUNDO

Quem não sabe de uma história de injustiça onde o réu foi livrado da pena por influência de seu poder e dinheiro? Foi preso e depois foi solto rapidinho? Ou sequer foi preso mesmo com todas as provas evidenciadas?Ao final da leitura tenho uma proposta diferente de interatividade. Quem quiser comentar com exemplos, será muito bem vindo.

P.S: Maluf não vale. Ele já foi transubstanciado para a condição de felino. Tem sete vidas e não perdeu ainda nem a primeira no round com a lei.

OS DONOS DO MUNDO

Eu fiquei matutando até o pito acabar todinho no canto da boca. Esta expressão é de mineiro quando está pensativo demais. Custei a encontrar um título para este texto, como demoro a deixar de insistir que há possibilidade de equilíbrio da justiça, a despeito de uns terem muito dinheiro e outros terem pouco. Uns representarem muita coisa simbólica, gloriosa e heróica e tudo isso ultrapassar os limites que o poder deles emana, sabedores que todos somos que as ditas leis são para tornar todos iguais. Mas me acho um tolo idealista, renitente, um babaca, afinal, metido a querer uma boa medida para as coisas.

Um exemplo que vou dar vem do futebol. Podia ser do mercado financeiro, dos industriais, dos grandes latifundiários. Podia vir de um magistrado, de um parlamentar ou de um prefeito, governador ou  presidente, todos com foro privilegiado Mas estes não servem porque já criaram eles mesmos a sua superioridade com os tais foros. Poderia citar um astro da tv ou do cinema, um famoso âncora de jornal, uma top model. Tanta gente famosa, endinheirada e poderosa que poderia citar mas o caso é de um rapazinho do futebol. Não é o goleiro do Flamengo, apesar de haver ainda muita gente gritando por sua inocência no caso em que se meteu. A bajulação submissa sempre presume inocência, tanto de quem bajula (que pode ser ingenuidade) quanto de quem é acusado, por ferir os princípios da superioridade presumida.

Eu falo é do Neymar, do Santos, 18 anos.  Da noite para o dia, jogando um bolão, passou de um pobre garoto a estrela internacional. Num jogo, o técnico falou que o pênalti havido a favor de seu time deveria ser batido por outro jogador. Ele esperneou, esbravejou, insultou o técnico diante de todo mundo. Até ali, poderia entender-se como um episódio de “cabeça quente”. A rebeldia dele (naquele episódio) é mais do que justa. Própria da idade e do instante de emoção. Depois o técnico foi reclamar com a diretoria se não ia haver uma punição para o jogador pelo desrespeito. Descontaram 30% do seu salário e ficou um jogo sem jogar. O técnico queira dois jogos ou 15 dias. Final da história: o técnico foi demitido.

O incômodo é o que o dinheiro vem fazendo com as pessoas. Está se criando e reforçando o indesejável - que já estamos vivendo há tempos: para quem tem dinheiro e fama não há lei que seja eficiente, nem hierarquia que equilibre as quedas de braço quando há ilegalidade ou abuso. O poder econômico já foi mais disfarçado para mostrar quem é que manda. Agora não tem mais desfaçatez. E tem ainda um apoio popular e midiático que chega a dar medo. Esse sistema faz a gente se sentir cada vez mais insignificante humanamente. Tudo bem que haja consenso que devemos ser desiguais socialmente, já fui muito contra, hoje nem tanto por causa não do pensamento, mas da impotência. Então meu inconformismo fica restrito a escrever.

Não tenho medo da Dilma, nem do Serra nem do PSTU ou PSOL, tenho medo é do ilimitado poder que o dinheiro confere, acima e apesar de gente que rala, sua, acumula experiências e trabalho e é vilipendiado pelo poder da grana.

O dinheiro é ou não é o poder e a gente fica simulando, fingindo que acredita que existe justiça e se esforçando feito Sísifo para fazer com que ela equilibre aqueles dois pratos da balança? Hierarquia tem limites, ora, dirão os poderosos!

O Boris Casoy humilhou com seu pensamento de desprezo pelos pobres os garis em pleno ar para o país inteiro ouvir e o demitido foi o operador de áudio da TV. O Daniel Dantas, banqueiro, foi denunciado por muitas falcatruas e corrupção e o delegado foi desmoralizado, o juiz que ordenou a prisão foi desmoralizado, disseram que queriam aparecer. Tudo bem que quisessem, mas as denúncias não foram desmoralizadas até então. Ele falou que chegando ao Supremo Tribunal se livraria e foi assim mesmo que aconteceu. Ganhou habeas corpus rapidinho, rapidinho. Desviaram foi a atenção do caso para outro ponto O  Fred, jogador do Fluminense disse que o médico do time era um incompetente e o médico foi demitido. Fred sabe jogar muita bola, mas de medicina ele não sabe nada. O que todos eles têm em comum? Dinheiro, status, poder, nesta ordem.

13 comentários:

chica disse...

Sempre brilhante e teus pensamentos bem colocados.

Muito legal e concordo com essa ordem que ao final, causa a desordem!

abração,chica

Rildson Alves disse...

ufa!! sabe, velho cacá (ainda bem que não se escreve com dois K's, senão voltaríamos ao futebol), não faço o tipo superior que sai por aí distribuindo bibliografias,longe de mim. mas tem alguns livros que realmente merecem, em nome da sua utilidade, ser recomendados por se fazerem de extrema relevância ao nosso crescimento. dois deles são:"O lucro ou as pessoas?" de noam chomsky e "tudo o que é sólido desmancha no ar" de marshall berman. além do superclássico
"das kapital" do sempre apropriado karl marx. todos disponíveis em pdf internet a fora. abraços.

Tati disse...

Amigo KK, hoje estou arrasada. Esta blogosfera está desesperançosa... Beth/Lilás, Yoyo Pizzi, você... Tantos blogs em que entrei hoje falando sobre este tema, que me entristece, que é o que penso também, e que é uma realidade que não sei como mudar. A cada dia fica mais difícil estar do lado da honestidade, princípios, valores. COmo posso ensinar meu filho que ser correto é o melhor sem criá-lo em uma bolha? Até que ponto nossos exemplos serão suficientes? Como sobreviveremos nesta realidade que só se agrava? COncordo com seus argumentos, com suas conclusões. O poder está com o dinheiro e tão somente... Queria citar alguns casos, você já o fez brilhantemente.
Não me oponho ao dinheiro, acho-o válido e importante no mundo que vivemos, fico triste que ele seja a única voz ouvida. Beijos.

Toninho disse...

É amigo,com relação ao jovem milionario do futebol,acabo de ouvir que o mesmo nao foi relacionado na convocação da seleção,uma maneira Mano de ser solidario ao colega.Oxalá a imprensa no o derrube.Mas meu amigo sua cronica esta perfeita sobre esta força da grana,que bem sabemos da sua atrocidade sobre a moral.Poder é coisa que deveria ser repensando,pois os detentores sempre se perdem nos rumos.Impunidade neste país é uma coisa vergonhosa em todas as facetas desta vida.Acabamos por alimentar o sentimento horrivel do ódio nesta platéia triste.Assino com voce esta bobagem de acreditar na senhora da balança,como nosso ultimo restinho de ilusão.Não tem como se iludir,a força é vista pelo acumulo de dinheiro que se pode ter.Em plena chegada da Primavera,cada vez mais vemos nossos campos devassados em nome do capital selvagem que não tem nenhum escrupulo.Exemplo de impunidades? Basta olhar para nossa politica com todos seus anões gordinhos e metidinhos a salvadores da pátria.Meu abraço e que Deus nos proteja.

pensandoemfamilia disse...

Caca

Veja um trecho qo decreto abaixo. Quem são os donos do mundo?
DECRETO Nº 6.381, DE 27 DE FEVEREIRO DE 2008.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.
84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no
7.474, de 8 de maio de 1986,

DECRETA:

Art. 1o Findo o mandato do Presidente da República, quem o houver
exercido, em caráter permanente, terá direito:

I - aos serviços de quatro servidores para atividades de segurança e
apoio pessoal;

II - a dois veículos oficiais, com os respectivos motoristas; e

III - ao assessoramento de dois servidores ocupantes de cargos em
comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, nível 5.

Art. 2o Os servidores e motoristas a que se refere o art. 1o serão de
livre escolha do ex-Presidente da República e nomeados para cargo em
comissão destinado ao apoio a ex-Presidentes da República, integrante
do quadro dos cargos em comissão e das funções gratificadas da Casa
Civil da Presidência da República.

Art.. 3o Para atendimento do disposto no art. 1o, a Secretaria de
Administração da Casa Civil da Presidência da República poderá dispor,
para cada ex-Presidente, de até oito cargos em comissão do
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, sendo dois DAS 102.5,
dois DAS 102.4, dois DAS 102.2 e dois DAS 102.1.
Sem mais palavras.
Abraços

Mari disse...

Perfeita a sua crônica Cacá!
Concordo plenamento contigo...e como você, sinto muito por não saber prever onde isto vai nos levar!

Beijos

Celina disse...

E cacá vc tem toda razão, não adianta ficarmos triste, quem sabe um dia as coisas melhore, prefiro se otimista, não é possivel que as coisas vãao de mal a pior. que Deus So noss ajude.

Celina disse...

E cacá vc tem toda razão, não adianta ficarmos triste, quem sabe um dia as coisas melhore, prefiro se otimista, não é possivel que as coisas vãao de mal a pior. que Deus So noss ajude.

Sheila disse...

Belo texto Caca acredito que de tudo temos que ter uma dupla visão,
Senão perderemos a esperança ,temos que ter os sentidos aguçados para as coisas erradas desonestas que se apresentam no nosso dia a dia,e temos que ter os olhos e o coração voltados para a face da eeperança,só ela muda o homem.

gorettiguerreira disse...

Nossa meu querido "Cidadão Instigado!"
Você diz o nosso grito viu Cacá?
Amo seus artigos, amo você querido.
Bjs de luz.
Goretti

Jaime Guimarães disse...

Cacá, sobre o Neymar você já leu o que eu penso lá no Grooeland. Mas a demissão do Dorival, mais uma vez, teve o poder, mas não do Neymar como pensam: o treinador já havia combinado com a diretoria do Santos que o jogador voltaria contra o Corinthians. Mas um dia antes do jogo o técnico surpreende e deixa o atacante fora. Chamado para uma reunião, foi inflexível e acabou demitido. E ainda teve patrocinador ( do Neymar) telefonando para saber o que raios estava acontecendo...

Enfim, poder e dinheiro, né?

E infelizmente o mundo é assim . O Neymar ainda foi punido - e linchado -, mas outros casos...sempre me pergunto como é que empresários, políticos e assessores ligados a esse povo se metem em todo o tipo de falcatrua, provadas e comprovadas, e escapam ilesos de todas as acusações.

Aqui em Salvador um juiz - veja que história - dirigindo seu carrão fez uma "roubadinha"(!) em uma via movimentada e atropelou um motoqueiro, que acabou falecendo. O que aconteceu com o juiz? Adivinhe...

Abs

Natália Cassiano disse...

Cacá,

Infelizmente, é impossível discordar. Quem tem o dinheiro, tem o controle, até da opinião pública. E se não ficarmos atentos, nos tornamos manipuláveis, passíveis de acreditar que os donos do mundo também são os donos da razão.

Esse controle acontece em todas as esferas e também nos mais variados níveis de poder. Existem os ‘mundos regionais’, com seus respectivos donos, é claro. Um exemplo advindo da minha cidade, que poderia ser o exemplo de qualquer outra cidadezinha do país:

Um conhecido grupo de empresários, incluindo o dono de uma rede de supermercados da região, o de uma rede de lojas de calçados e os sócios de uma usina, interfere na política da cidade. Há anos não é permitida a entrada de empresas novas. A cidade parou no tempo, tem a economia estagnada e como era de se esperar, esse seleto grupo também interfere nos meios de comunicação daqui.

Nessas eleições o dono da rede de supermercados se candidatou a deputado estadual e conta com o apoio da imprensa local, é obvio.

E assim o poder se perpetua. Quem
comanda uma parcela da população, se aperfeiçoa e faz de tudo para continuar no poder. E a política é apenas a mostra mais visível disso, com todas suas regalias e meios de acesso para obter vantagens pessoais. A política, porém, só é o meio de perpetuação de quem já conseguiu o poder econômico.

Neca disse...

Exemplo?
Seleção Masculina de Vôlei. Caso Ricardinho x Bernardinho. Ricardinho, na condição de capitão da equipe e em nome dos jogadores, reclamou com a CBV sobre o sistema de escravidão e ausência de folgas, o repasse dos valores das premiações que praticamente não chegavam aos jogadores, a estada nos hotéis que beneficiava a Comissão Técnica em detrimento dos que ralavam em quadra e por aí vai. Repito: representando os 12 jogadores e em nome do grupo.
Bernardinho, do alto de sua 'magnificência' e arrogância travestida de garra, colocou-se entre a CBV e o atleta e o afastou terminantemente do grupo. Os demais se calaram.

Como já dizia aquele outro...O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.

Grande beijo, Cacá!

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