sábado, 20 de fevereiro de 2010

À GUISA DE SOLIDÃO

Solidão é lava que cobre tudo/Amargura em minha boca/Sorri seus dentes de chumbo/Solidão palavra cavada no coração/Resignado e mudo/No compasso da desilusão.”
(Dança da Solidão - Paulinho da Viola)



A NOTÍCIA
Solidão é contagiosa como uma doença, diz pesquisa
Um estudo conduzido conjuntamente pelas Universidades de Harvard, da Califórnia, e de Chicago, mostrou que pessoas solitárias costumam espalhar seu modo de encarar a vida a quem os cerca e que, após um tempo, esse grupo acaba se posicionando à margem da sociedade. Aparentemente o processo funciona, pois pessoas solitárias têm menos interações com os outros e só isso por si leva os outros a sentirem o mesmo.
Segundo o líder da pesquisa, Dr. John Cacioppo, existe um padrão de contágio da solidão que leva as pessoas a se afastarem da vida social e destruir até mesmo os poucos laços de amizade que restam...
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Fonte:
http://vidaeestilo.terra.com.br/homem/interna/11/12/09
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A CRÔNICA

Trabalhei durante sete anos com o Gouveia e só descobri que ele possuía dentes porque almoçava no mesmo restaurante que todos. E mastigava. De vez em quando também proferia umas poucas palavras. e dava para ver que tinha dentes de uma simetria e brancura invejáveis. Sorriso, nunca mostrou. Sisudo e carrancudo, ficou prejudicado em todas as possibilidades de ascensão na carreira, apesar do grande profissional que era. Entendia de sistemas hidráulicos, desenhos técnicos e matemática como poucos. Seu comportamento parecia de um autista. Diziam que era um solitário. Eu preferia dizer que estava numa fronteira entre timidez, misantropia e falta de educação. Se não fazia bem a quem quer que fosse, também mal físico não arriscava. Estava mais para impassibilidade. Só tinha um detalhe que o afastava de amizades sinceras: era um agiota. Talvez seu riso se reservasse para os momentos em que estivesse sozinho em casa contando dinheiro e o mal que ele causava fosse a ira que atraía para si por causa dos juros altos.

As formas como as relações humanas se estabelecem costumam esvaziar alguns conceitos ou então enchê-los de significados de tal forma que o próprio conceito fica confundido. Liberdade, solidão e felicidade são três estados da alma que bem poderiam compor, junto com o tempo, o universo das relatividades. Quase nunca sei definir essas coisas com muita propriedade. A solidão que me acomete de vez em quando é uma escolha que faço por necessidade de reclusão para elaborar alguma forma de me sentir colocado no mundo. O mundo não se adapta a ninguém por mais poderoso que seja o sujeito. A própria subjetividade elimina essa possibilidade. Isso, não creio que contagie ninguém. A minha felicidade não passa de um estado de alegria do espírito e já notei que, se bem cuidado pode ser duradoura. Minha liberdade é poder sonhar, ir e vir. E uma certeza quanto ao meu pensamento: ele é inexpugnável. Contagioso é mau humor.

3 comentários:

Camila de Souza disse...

Ei, Cacá,
Eu li uma crônica muito interessante também sobre a aparentemente solidão, ou o mal-humor: http://carpinejar.blogspot.com/2010/02/o-mar-pede-um-tempo.html

Às vezes, é só alguém pedindo um tempo.
Agora, alguém que tem a solidão e o mal-humor como "modus vivendi" é preocupante.

Essa coisa de criar crônica em cima da notícia é empolgante.

Um abraço,
Camila
www.ilimitada-mente.blogspot.com

Jaime Guimarães disse...

Oi, Cacá!

Olha, difícil...não sei se concordo com o "padrão de contágio da solidão". Há uma espécie de "acomodação" também. Muita gente é solitária e vive bem assim, vive feliz ao seu modo. Por outro lado, há realmente quem se acostume com a solidão porque simplesmente não tem habilidades sociais ou é demasiado tímido ou possui uma baixa estima. E esses aspectos devem ser levados em consideração antes de se rotular um solitário como "esquisitão" ( que é o acontece em boa parte dos casos).

Agora, o mau humor, sim, é contagiante e terrível. Pensamentos negativos, mau humor, esses fatores tornam uma pessoa insuportável!

Cacá, você já pensou em reunir essas crônicas todas em um livro? O Moacyr Scliar escreveu uma obra bem parecida com este modelo, de relacionar as notícias e dar uma continuidade a elas com um conto ou crônica. Ficou um trabalho bastante interessante. Que tal?

um abraço!

P disse...

A solidão é algo ruim, há quem veja beneficios, mas eu prefiro estar junto sempre.
já sofri de solidão e foi horrivel, e acabei ficando sem amigos, me afastando aos poucos.
mas quando vi que tudo aquilo era errado pedi ajuda, e fui salva!

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