quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

GÊMEOS

Silvestre Silvério e Silvério Silvestre eram os tais gêmeos idênticos. Não se satisfizeram apenas em nascer na mesma hora. Corria à boca pequena uma conversa meio polêmica sobre o fato de pais criarem gêmeos iguais em tudo. Se eram idênticos fisicamente, tinham que se diferenciar pelo menos nas características mais subjetivas. Isso forçaria uma personalidade independente para ambos e menos confusão para quem estivesse à sua volta. O outro lado da polêmica se fundava no fato de que sendo vontade de um ser igual ao outro, tinham que ser respeitados. No entanto, respeitados ou não, faziam tudo para confundir. Eu, por exemplo, só aprendi a diferenciá-los por causa das casas diferentes em que moravam. Ficava abismado como podia dois homenzarrões, que tinham filhos da minha idade, alguns até mais velhos andarem de roupa igual, sapato igual, fumarem o mesmo cigarro e acenderem nas mesmas horas. Ainda bem que não se casaram com duas irmãs gêmeas! Eram engraçadas as suas vestimentas. Sempre estilizadas. As que mais usavam eram de cowboys americanos. Indefectíveis calças de brim azuis e camisas também de brim mais fino, com chapéus e botas de couro.

Acho que gostavam muito dos filmes de bang-bang que passavam nos dois únicos cinemas da cidade naquela época. As desovas sempre ficam guardadas para serem feitas nos cantões. Os filmes de baixa qualidade iam sempre para o interior em primeiro lugar. Na minha cidade, os cinemas passavam muitos filmes de cowboys exterminando índios, como se os invasores fossem esses últimos e não o contrário. Uma inversão dos papéis de mocinho e bandido feito pelos americanos para justificar a colonização do país tomando as terras dos nativos. Se bem que nós aqui nem podemos falar muita coisa! Os nossos foram dizimados sem dó nem piedade.

Então, voltemos aos gêmeos, que pelo menos nisso eram honestos. Se vestiam feito os mocinhos bandidos mas não faziam mal a ninguém. Um deles tinha um filho que me batia muito e como ambos protegiam suas crias, quando ia reclamar um sempre me dizia que o pai era o outro.
- Eu sou o tio, você tem que choramingar é com o pai dele.
Acabei um dia tomando coragem e enfrentando o menino por que do pai-tio não ia sair nada que me amenizasse a humilhação.

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