Numa reunião entre uns vinte
estavam presentes irresponsáveis, aventureiros, descontrolados, sobreviventes e
também os desprovidos de recursos. Eles tinham uma única coisa em comum na
pauta: eram todos pobres. Cada um dando seu jeito de, primeiramente, justificar
a pobreza. Uns transferindo a culpa para os ricos, “aqueles egoístas”. Outros se
lamuriando de que não conseguiam vender nada para quem tinha dinheiro, pois
sempre queriam pagar menos do que o que seu produto valia. Havia os
megalomaníacos, que diziam ser seu
endividamento causado por “aquelas grandes obras”, mas que ainda haveriam de
dar um bom retorno algum dia. O objetivo era encontrar uma saída em conjunto e
honrosa para a situação, seja ajudando-se uns aos outros, seja traçando metas
comuns de agir. Esbarravam sempre nas resistências dos ricos em ajudar com
empréstimos ou perdão das dívidas. Não houve nenhum acordo até que apareceu o
Sr. Fundão, aquele que dizia ter uma procuração dos mais ricos do mundo para
ajudar aos pobres a se manterem de pé. Chegou, olhou aquela bagunça de papeis
amassados pelo chão, copinhos que descartavam por todos os lados, muita
fumaceira de cigarro e já foi dando logo um aviso. “Primeiro, arrumem a casa,
depois eu volto.” Voltou e já com tudo em seus devidos lugares impôs condições
duríssimas para fornecer ajuda. Ela
viria em primeiro lugar com consultorias e com determinações rígidas em como
gerir os poucos recursos (de preferência fazendo aquela famosa realocação,
tirando de um lugar para colocar em outro mais carente). Por exemplo, falou
para um homem mal arrumado à beça: você pode, em vez de usar esse terno
caríssimo, um mais baratinho e , em compensação, comprar um sapato mais
apresentável do que esse. Em vez de ostentar esse relógio de ouro (foi lá no
braço conferir se era mesmo um rolex legítimo), pode usar daqueles que vem com
um monte de pulseiras coloridas para variar e todos pensarem que é relógio
novo. Depois disso tudo, aí, sim, nós emprestamos dinheiro novo ou perdoamos
parte dos juros de quem cumprir tudinho à risca. Meio ensaiando alguns
protestos, a reunião foi encerrada e o acordo assinado para os próximos seis
meses (com acompanhamento quinzenal por uma equipe de metas do Sr Fundão).
Num outro lugar não muito
distante em outra ocasião não muito distante, estavam reunidos uns outros vinte
com dificuldades financeiras - que eles preferem chamar de desajustes pontuais. Tinha lá até representante real, reinos
unidos, parlamentos inteiros, gente graúda mesmo, dona de mais da metade da
riqueza que circula pelo mundo afora. Tinha também irresponsáveis,
megalomaníacos, descontrolados e aventureiros. Mas o comum entre eles é que eram
todos ricos, muito ricos. Nunguém queria justificar nada, achando que não
deviam dar satisfações do que fizeram com seu dinheiro. Sequer admitiam alguns
de possuírem dívidas. Veio o Sr. Fundão dar palpite e quase é enxotado da
reunião. Onde já se viu vir querer falar para os ricos que deve-se gastar assim
e não assado? E ainda por cima, o Sr fundão era o próprio procurador deles mesmo.
Quanta petulância!
Resolveriam eles mesmos e a seu
modo como sempre foi depois que ficaram ricos. Antes até aceitavam ajuda de um
certo Tio Sam. Mas ele agora também estava em sérias dificuldades.
______________________________________________
O Fundo Monetário Internacional
(FMI, aqui chamado de Sr Fundão) já mandou e desmandou no mundo chamado
subdesenvolvido, agindo acintosamente com as economias pequenas e países
pobres. Os Estados Unidos sempre controlaram-no junto com os europeus. Os EUA
hoje estão “sem bala na agulha” como se diz no jargão das finanças quando
alguém está sem dinheiro. Os europeus estão tentando a todo custa salvar o Euro (sua moeda
única). França e Alemanha lideram as tentativas de entendimento sob a
resistência da Inglaterra( e todo o Reino Unido). Afinal eles já foram um império
mas perderam o trono e boa parte das jóias
da coroa. Não estarei aqui para presenciar o desfecho mas isso não vai terminar
bem. Nem EUA nem Europa. Na história os grandes impérios nunca caíram em
situação de paz.
32 comentários:
Cada dia melhor! Alem de gostoso, esse seu texto, dá um chute na conciência(doi mais ainda q no saco).
Parabéns! Começo bem meu dia.
Abração, Cacá!
Berzé
Esse tema, tão complicado e importante foi trazido nesse crônica de forma levem boa de ler e ver. Parabéns! E a situação tá fogo mesmo...Vamos esperar que o melhor aconteça pra todos! abração,linda semana,chica
Bom dia Cacá!
Uma bela e inteligente crônica.
Como diz aquela música: É que o de cima sobe e o debaixo desce".
Uma ótima semana pra ti.
abração com carinho
Não consigo vislumbrar caminhos, a guerra dos homens pelo podere a ganância destroem as possibilidades, no entanto enquanto há "vida" há esperança, quem sabe????
Boa semana.
Bjs
Excelente crônica! Bjs
Cacá, tuas crônicas inteligentes sobre assuntos importantes nos dão maiores discernimentos sobre os assuntos.
Os de cima nunca querem descer. Que se danem os pobres!
Abração.
Uma sátira ácida, crítica e sobretudo pertinente ao atual e irônico contexto. Muito bom, Cacá.
Meu querido Cacá,
Enquanto não houver fraternidade,enquanto reinar a opressão dos ricos sobre os menos favorecidos,não haverá solução para os males que assolam o planeta Terra.
O que nos aguarda?Será utópico imaginar que estas REUNIÕES trarão soluções.É o apocalipse que se aproxima?
Ainda não temos as respostas,mas quem viver verá.
Inteligente e esclarecedora sua crônica,amigo Cacá.
Bjsssss,
Leninha
Cacá,uma excelente cronica e sempre com assunto do momento!Os paises ricos nem querem saber do sr Fundão,que só dita regras em paises como o nosso,que ainda não se deu o devido respeito!Eu adorei!bjs e boa semana!
Difícil, Cacá.
Enquanto predominar entre os povos o egoísmo, a luta desmedida pelo poder, o interesse individual e a falta de fraternidade, não haverá soluções que abrandem o quadro atual. Somente a união fortaleceria as nações.
Receio, como você, que um final feliz seja uma possibilidade bem remota.
Que pelo menos haja ponderação suficiente para se evitar uma nova guerra que, sem dúvida, levará o mundo à catástrofe.
Excelente, amigo!
Grande abraço.
Que texto maravilhoso amigo. Faz lembrar o tempo que aquela Senhora do Fundão vinha ao Brasil e ditava suas ordens.E os mandantes inteligentes e pos graduados aceitavam.O que foi que mudou? Seria apenas a ousadia de um torneiro? Que depois falava grosso com eles? O que foi que mudou? Agora com nojo,vejo as portas se abrirem para brasileiros viajarem para o pais da Aguia maldita, que bondade deles! Liberando passaporte por todos os lugares e o povo adorando.Gente besta ou boba. Ai vejo aquela senhora do outro lado do muro que caiu, dizendo grosso a eles, que se arrumem ou não terão dinheiro. É comico demais. Literalmente eles meteram o pé naquela jaca mole e não sabem como fazer a digestão. Não sabem ser espalhafatosos,kkkkk.
Otimo texto.
Um abração e bela semana.
Oi Cacá!
Perfeita a sua crônica!
Pena que retrata uma relação de desigualdade, onde os que podem ditam as regras. Esta é uma situação cada vez mais difícil de terminar bem, pois cada vez mais o desejo de ter mais e poder mais tem tornado o homem surdo e cego em relação ao outro.
Abração e uma ótima semana!
Creio que o FMI mudou a sua política de negociar com os países endividados depois que negociou conosco. Hoje é melhor,ao menos, espero! Um abraço, Yayá.
OI JOSÉ CLAUDIO!
UMA CRÔNICA,QUE SE BASEIA EM REALIDADES E SUSPEITAS QUE SÃO AS DE TODOS NÓS.
ABÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
Click AQUI
Yes, amigo, God save the euro, senão sobra pra nós também!
Li hoje no blog da Luma, uma frase que pode se encaixar ao seu belíssimo texto: "Tudo passa: o que ontem era verdade, hoje é erro, e o que antes de ontem era considerado um erro, será talvez uma revelação amanhã…” C.G. Jung
boa noite e abraço carioca
Oi Cacá! E fico pensando se será resolvido. Pois, me parece sempre um diálogo de surdos e um monólogo de poderosos. Muito excelente os seus escritos. Abraço!
Cacá, meu amigo, isso dá pano pra manga.
Concordo que o FMI agiu de forma não muito sadia com relação aos países pobres. Esculachou e escorraçou muita gente. Naquela época, quem era rico ficava ainda mais rico, e os pobres... bem, esses apertavam o cinto de todos os lados.
O engraçado é que alguns países, de tanto apertarem o cinto e viverem com o pouco que tinhas, aprenderam a lição, e agora, em plena crise, não estão sofrendo os efeitos.
Veja, no entanto, a situação da Grécia. Tá certo que ela não é nenhuma potência, mas eles querem dinheiro sem CORTAR AS GASTANÇAS. Desse jeito não dá, né?
Hehe. Mais um pouco e vira um fórum aqui.
Cacá, meu bom amigo. Crônica perfeita e com teu toque de humor. Abraços e ótima semana.
Marcio
Um tema bem polêmico nos dias de hoje.E nada Esperançoso,pois o Universo esta despencando.Fazem,inventam escrevem no papel mas realizar concretizar,resolver nada,nada fazem e a palavra de entendimento entre todos é"Sustentável"Que eu vejo como Insustentável!!!É Cacá por muito positiva que eu seja,ando assustada,depois deste Rio-20.Deus nos guarde.Amém.Bjus\Flor*
Olá amigo Cacá
Confesso que não tenho muito interesse por esses assuntos, deveria, né? rssss
Onde predomina a ganância,o poder, o egoísmo, vai existir conflitos, seja em qualquer segmento da sociedade. Cacá, eu só posso dizer que suas crônicas são excelentes, seja qual for o assunto abordado. Um forte abraço!
Cacá, tudo bem?
Excelente texto! Hoje eu estava, por acaso, revendo o conceito de 'aldeia global' do Mcluhan, que entre tantas coisas, dizia que iria aparecer uma espécie de ajuda mútua entre os povos..., sinceramente, acho que a globalização trouxe concretamente é o efeito dominó..., e creio que a ganância não ajuda em nada, principalmente ao maior afetado, o povo.
Grande abraço!
oi meu querido,
você sempre perfeito em suas crônicas,
assuntos sérios podem ser tratados com bom humor e inteligência,
adorei!!!
beijinhos
Cacá, é triste refletir sobre a situação. Você traçou um belo paralelo entre dois mundos e ambos estão sendo afetados, com ou sem dinheiro. A ilusão do poder destrói e provoca escolha de caminhos prejudiciais a todos os povos. Sabemos que ninguém sai vencedor nessa disputa e que a ausência de fraternidade pode nos levar a drásticas consequências. Parabéns pela crônica, oportuna e sábia. Bjs.
Pois é, será que os caras de Wall Street vão deixar Deus ajudar? Vou começar a comprar PUTO, única moeda que nem balança, nem cai - pergunte aos Fufu-Lalenses! Ótima crônica! Por enquanto, estou mais na 'escutatória', dando um tempo da zoeira da Internet. Um abraço fraterno, inté!
Sábio isso moço.E eu que já estava longe a algum tempo, venho e seguro o queixo.Isso aqui tá bom demais.Teu texto é tudo de bom é liberdade de expressão.
Cacá, você sente que é especial no meu coração, da mesma forma que sinto ser especial no seu.
Isso se chama cativar né? Sabe? Posso contar da saudades em vários tons, mas o mais bonito dela é escancarar o coração e dizer: sinto sua falta.Sinto falta de todos vocês que moram na minha vida também.
Beijão querido
Adorável sua crônica Cacá, um tema mais que atual...e vamos acompanhando o desfecho desta situação.
Beijos,
Valéria
A história (segundo alguns, o conto) do euro, assim como o da União Européia, o tempo nos revela, continua mais fundada na vaidade de seus Estados-membros que efetivamente em uma necessidade real para as economias do continente. Conheço relativamente bem essa história (ou conto, como querem alguns) pois a acompanho desde mesmo antes de sua criação. O adotar do nome União (United) Européia e utilizar estrelinhas douradas como símbolo não foi absolutamente casual, fortuito. A alusão aos EUA é claríssima e, desde ontem, fala-se mesmo até em "Federação de Estados Europeus"! é uma guerra declarada mas intestina contra os norte-americanos.
É claro que existe um grande interêsse dos anglo-saxons de se apoiarem em suas moedas (o dólar americano e a libra), bem mais por uma questão ligada ao tradicional orgulho deles que de um apego insensato.
Todavia, o problema não é a guerra que foi estabelecida entre o euro e o dólar que vem fazendo, já há vários anos, a economia européia navegar a bordo do Titanic. Não é isso. Trata-se do fato que o euro, desde sua criação, é uma anomalia. É uma moeda fundada sobre uma irrealidade, uma utopia mesmo. Economistas britânicos e mesmo do continente denunciaram isso em livros e artigos de imprensa, mas que foram (o poder de Bruxelas é muito inspirado no do Kremlin da antiga URSS) praticamente censurados por aqui.
O euro é, e todos vêem isso de forma clara atualmente, uma "coisa alemã" e não européia. Se o euro deixa de existir hoje, a única despesa que terá o governo alemão será apenas com a impressão de deutsch marken e mais nada. Isso porque o euro é calcado na antiga divisa alemã. Poder-se-ia dizer que o marco alemão vive sob um outro nome, o que não seria falso.
Porém, o marco é fruto da realidade financeira alemã, não nasceu por decreto. Quem nasceu por decreto foi o euro que entrou num Reino do Faz-de-Conta e passou a considerar a realidade financeira alemã de igual para igual com a realidade financeira grega, espanhola, portuguesa e mesmo francesa. O resultado está aí para todos verem!
O seu comentário sobre o FMI (que eu não conhecia ainda pelo apelido de "Sr. Fundão") é totalmente justo. No entanto, eu só tenho a lamentar que os países da chamada economia emergente, e antigos devedores de tal Fundo, mesmo que hoje estejam ajudando a velha Europa a sair de suas dores (o Brasil doou, recentemente, 10 bilhões de euros como ajuda para diminuir a dívida pública de países europeus), não tem o menor peso político internacional. Um exemplo, cogitava-se muito há anos atrás que Lula seria indicado para a presidência do FMI ou do Banco Mundial. Não deu em nada. Para o Fundo puseram um economista francês, reconhecido tarado sexual, expurgado dessa entidade devido a um estupro do qual responde até hoje em processo, mas que foi substituído, às pressas, pela ministra da Economia da…. França!!!
E que fizeram os "emergentes" nisso tudo? endossaram a francesa pois, afinal, uma presidente do FMI cheirando a Lancôme é de longe preferível que um Lula e seu sabonete! e assim vai o burro puxando a carroça dele, querendo morder a cenoura que o condutor mantém diante de seus olhos mas… à distância prudente, sempre.
Muito se teria que falar disso (um dos meus assuntos preferidos) mas não vou brincar de posseiro com o seu espaço, José Cláudio, mais do que já fiz!
Um texto lúcido, meu amigo, parabéns!
Um forte abraço e bom fim de semana,
André
Boa noite, Cacá.
Excelente texto o seu, contando de forma irreverente aquilo que ocorre na realidade.
O euro mostrou-se um tapa-buraco insatisfatório e uma solução simplista (lembrou a estratégia brasileira absurda da década de 80 de cortar os zeros) para países com tantos problemas financeiros seríssimos.
E esses mesmos países ricos que por tanto tempo falaram mal do terceiro mundo, agora precisam implorar alguns trocados ao Sr.Fundão.
Ainda não escrevi nenhum texto sobre isso, mas acho que o farei.
Abraço e um ótimo final de semana pra ti, Cacá.
O quadro está se invertendo. As grandes potências, hoje em dia, estão endividadas. Só desejo que o nosso Brasil saiba aproveitar a oportunidade para saber manter-se "bem" (não estamos tão mal assim).
Abraços,
Oi caca..tudo bem?
Que bacana ler a sua cronica!!
Excelente.... falando de um assunto tão complexo e atual!!
..E com tudo o mundo da era do TER..esta cada vez mais desumano..
e quem paga a conta são sempre os mais fracos...
Um bj..fiquei muito feliz em recebe-lo de volta em meu blog.
Cacá,
Cá entre nós,
adoro a forma sempre bem humorada com que você trata de assuntos, de diferentes aspectos (sociais, economicos, culturais, etc) e os representa com crônicas maravilhosas e diria, apetitosas aos nossos olhos e claro, a literatura agradece.
Beijo meu,
Sam.
Oi Caca,
menino to aqui de queixo caido com esse texto kkkkkkkkkkkkkkkk...acertou no meio!E assim mesmo...e aqui na Alemanha se irritam com as observacoes do emergentes que ousaram critica.los...Bju de domingo.Lu.
Em relação ao texto, criatividade está a 1000/h.Mas acho que outros leitores da crônica não identificou o raciocínio do texto pelo que vi nos comentários.
Eu entendi no seu texto que o que está em jogo não a diferença política e econômica entre ricos e pobres e sim a relação autoritária entre os poderosos e as demais classes da sociedade.
PS: Hoje no mundo já sabemos que existe uma ordem acima de todos os índividuos que vivem em sociedade, que vive nas cidades do Brasil, essa ordem são os valores sociais, seja econômico(consumo), sociais(alienação),filosóficos(entendimento do ser/psicologia), descartei algumas disciplinas, pois nunca vi em nenhum livro de fisica, matemática, engenharia,economia, tratar esse tema.Se tiver vai ser bom ver.
Aos leitores do comentário, não se assustem com o tema. Essas questões são debatidas em muitas universidades no mundo e no Brasil. E sabe a proposta que está surgindo no mundo? Que precisamos da compreensão de todos vocês, para fazer juntos. Quanto tempo? não sei, digo que surge do próprio sistema social vigente.
Devemos esperar o desenrolar da história, mas proponho, para quem quiser, que enquanto isso devemos pensar na nossa existência.
Exemplo: Não existe problema no que a mídia diz, mas existe problema no que ela não diz.
Abraço
Leandro
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