“Palavras são palavras e a gente nem percebe
o que disse sem querer e o que deixou pra depois
Mas o importante é perceber que a nossa vida em comum
depende só e unicamente de nós dois.”
(da música Um Jeito Estúpido de Amar, cantada por Roberto Carlos).
Gleicineide me diz ouvindo o radio que todas as vezes que vem fazer faxina aqui em casa, sua cabeça fica fervendo com pensamentos. Eu pergunto se é por causa do noticiário cheio de sangue, sensacionalismo e as enfadonhas notícias do mundo da economia e ela me responde que é por causa das músicas românticas da emissora que eu gosto de ouvir.
- É cada lembrança, seu moço que eu nem te conto!
- Antigos romances, paixão recolhida, Gleicineide?
-Seu moço, se não lhe incomoda eu vou contar. Antes de me mudar para cá, tinha um rapaz na minha cidade chamado Celinho, feio, seu moço, de dar dó. Mas eu era apaixonada por ele de um tal jeito que o senhor nem vai acreditar. Na época eu tinha 17 anos e ele 28. Era o motoqueiro da cidade. Um homem especial de bom. Namorava escondida de meu pai; como já lhe disse, eu tinha muito medo dele, de suas violências com a gente lá em casa. A minha paixão pelo Celinho era além desse negócio de beleza física, seu moço. Ele me tratava como uma princesa, como uma rainha, melhor dizendo. Um dia, seu moço, meu pai flagrou a gente juntos e eu tremi. Mas ele não falou nada até eu voltar pra casa. Ele ficou sabendo que o Celinho era filho de um homem de muitas posses, muita terra, muito gado e começou a fazer um gosto danado pelo namoro. Aí me falou que eu teria que casar de qualquer maneira. Mandou chama-lo lá em casa e falou sem rodeios que fazia muito gosto de um casamento; que éramos pobres mas que ele faria questão de fazer todas as despesas. Ainda usou uma expressão que me envergonhou demais: “nem que seja um arroz com feijão simples, eu quero dar uma festa.”. Foi um apego só, dele com o Celinho. Eu continuei o namoro com um entusiasmo maior ainda, seu moço. Meu sonho era casar com o Celinho. Todas as vezes que eu ouço Se A Casa Cair, do Teodoro e Sampaio até arrepio, seu moço.
- Péra lá, Gleicineide, eu não ouço esses caras, não! São as músicas que eu gosto de ouvir que lhe trazem lembranças ou não?
- É, seu moço, mas quando o senhor não tá aqui eu mudo pras emissoras que tocam. Gosto de outras também, mas essa me faz lembrar ele dançando em volta de mim toda vez que a gente ouvia e me dá uma saudade danada daquele homem. Vou falar um negócio pro senhor: se o Celinho aparecesse aqui agora, eu acho que largava o Juninho na mesma hora. Apesar de já fazer 11 anos que isso aconteceu, eu não esqueci dele até hoje.
- Mas então foi uma paixão mal resolvida?
- Pois é. Minha mãe tinha adoecido de depressão profunda e eu acho que foi por culpa do meu pai que maltratava ela demais. Veio para a capital se tratar e meu pai veio atrás. Só que a minha mãe não contou onde estava ficando nem onde se tratava e nunca mais quis saber de meu pai. Passado um tempo ela voltou à cidade, mandou a gente (eu e meus irmãos) arrumarmos tudo correndo e nos trouxe. Não deu tempo nem de despedir do Celinho. Liguei para ele depois e ele me disse que ia dar um jeito de vir pra cá também. Não sei o que aconteceu mas não veio e eu não o vi nunca mais. Comecei um tempo depois a namorar o Juninho e seus ciúmes não me deixam muito solta por aí. Uma única vez que voltei na minha terra ele foi lá atrás de mim. Acho que é intuição de homem, né seu moço? Porque intuição de mulher não falha de jeito nenhum. O senhor tem intuição?
- Hum, hum! (interessado mais em ouvir do que estender essa parte)
- Eu tenho uma vontade, sabe do quê? Um dia voltar lá, ir a um salão, me produzir toda e chegar perto dele e dizer assim: “mas como você tá feio, hein, Celinho”?
Hoje ele já deve estar chegando nos seus quarenta anos, imagine que bagaço não virou! (interrompendo a divagação):
- Olha aqui nos meus braços, seu moço, eu fico arrepiada só de pensar nesse homem.
- É, Gleicineide, acho que ainda tem um sentimento meio enraizado aí dentro, não é?
- Acho que tem sim, seu moço. Apesar de ele nunca ter me feito nada (nada daquelas coisas, o Sr. sabe, né?) eu arrepio desse jeito, imagina se tivesse feito? Já falei pra minha mãe que eu não vou me casar nunca mais.
- Então é sério mesmo?
Uai, seu moço já se passaram mais de 10 anos e eu não consigo esquecer dele, como é que eu vou fazer? Me diga o senhor aí que deve de ter mais experiência: como é que eu faço, seu moço?
Desconversar nessas horas é o melhor conselho, mesmo sem sair do assunto. – Olha, Gleicineide, eu também tenho muitas lembranças de música que me remetem para momentos inesquecíveis que já tive na vida. Ah, que saudade quando ouço certas músicas! Elas estão presentes na memória afetiva da gente para sempre.
Gleicineide saiu para a área de serviço cantarolando
“...Foge de mim quando eu quero um abraço
Fazer amor, ela não quer nem saber,
Já não agüento essa falta de carinho
Hoje eu quero uma mulher pra me amar
Custe o preço que custar...”
Fazer amor, ela não quer nem saber,
Já não agüento essa falta de carinho
Hoje eu quero uma mulher pra me amar
Custe o preço que custar...”
25 comentários:
Lindo e bem humorado conto e essa Gleicineide é fogo,srsrr abração,lindo fds,chica
Eita que paixão a da Gleicineide!
E a conversa rolou descontraída e bem humorada.
Não vou negar que ri de muitas passagens aqui, principalmente dela trocar a estação da radio e esta de ir no “salão se produzir “. Rsrsrs.
É sempre muito bom dialogar, alguém sempre tem um fato interessante para contar.
E o Roberto lá em cima do texto comandando o coração e alertando :” depende só unicamente de nós dois”.
Gleicineide é espontânea , outra beleza nas pessoas.
Beijo Cacá.
Fernanda
Quantas lembranças podem trazer uma música!
Pena que não deu certo a Gleicineide ter ficado ocm o Celinho, mas mesmo assim rendeu uma estória divertida e apaixonada.
beijos
Conto de paixão platônica mantida na mente romântica com um bom recadinho - para exitir depende de dois.
Sempre com humos.
Bom final de semana.
Hoje estou às voltas com o wordpress, não consigo entrar no meu blog.
Cacá é sério..quando li o nome da personagem e olhando sua cara(de menino ruim) na foto...eu não consegui ler tudo..rss
depois eu volto rsssssssssss
Beleza Zé adorei este dialogo vindo de uma lembrança teimosa destas que a gente tenta e nao consegue espantar.Muito interessante este poder que as musicas tem de nos remeter ao momentos vividos e muitas vezes sofridos..Bom fim de semana e meu abraço de paz e luz.
Paixão antiga
Instiga
A memória
Nossa louca história
De amor
Ou rancor!
Beleza de narrativa, 'seu moço!'
Abraços!
Boa tarde, querido amigo Cacá.
Esse amor que fica...
Foi engraçado demais ela querer ir no salão, enfeitar-se, para depois dizer que ele tá feio. O coitado não fez nada...
Êta amor...
Adoro as histórias da Gleicineide.
Um grande abraço pra vocês dois.
É seu Moço,
Toda Glecineide tem um Celinho "Mal resolvido" e é pra vida toda seu moço.
Cacá! Tudo bem, meu querido!
Vim dar uma passadinha aqui antes do fim do mundo! heheehhehe..
Conferi a novidades e gostei de tudo!
Estava com saudades!
Um super beijo!
Paz e Bem!
Passei por aqui hj cêdo, mas não tive tempo de comentar, mas tudo bem voltei. Uma gracinha de texto, torço para que a Gleicineide resolva esse caso de amor mal resolvido, só assim ela poderá seguir o seu caminho, com Celinho ou sem ele. É sempre bom "papear" com as pessoas que fazem parte do nosso cotidiano, elas sempre tem uma história para contar. Abraços... Bom Domingo
oi Cacá querido,
no fundo,
no fundo,
todo amor tem um pouco de louco,
é o que dá sabor,
aroma e cor
na relação de dois seres,
mesmo que esquisitos, feiosos
e com nomes estranhos!!!
adorei!
você me fez rir...
beijinhos
Eita, que a Glecineide tá apaixonada que só!
Mas onde será que a mãe dela arranjou este nome?
O mais interessante é que estas pessoas contam suas tristezas sempre com uma pitada de humor, pelo menos para a gente.
abraço carioca
Hahahaha...Gleicineide???Seu moço?
Nao aguentei com esse teu post Cacá, você imitou muito bem, parecia que eu a estava vendo!!!!
Como eu ri...vou dormir feliz...
Bjs.
Essa fantasia a acompanha,imaginou algo tão espetacular com o Celinho que,mesmo que esse relacionamento que ela vive seja perfeito, nunca chegará a imensidão que ela fantasiou.Bom demais ela conseguir se abrir e ser franca CONSIGO MESMA. Como a música nos reporta a momentos de sonhos. Nessa hora é melhor ouvir né?! Linda e espontânea a história amigo. Adorei! Montão de bjs e abraços
Oi Cacá, vim agradecer o teu comentário dos quais eu gosto muito, traz a tua marca registrada que é a sinceridade e a cordialidade,. Estou gostando do desabafo de Gleicineide, na sua simplicidade do mundo que ela conhece e está na sua cabeça,tudo isso é conhecimento e cultura, principalmente saber como as outras pessoas pensam , e vc passa com o seu estilo que nós todos admiramos. Vai um abraço carinhoso. Celina
paixão mal resolvida é o caos.
coitada de Gleicineide, o jeito é se esconder nas músicas... muito divertido, cacá, e sério também!
abçs
Betha
Lindo seu conto (ou relato verdadeiríssimo e universal). Eu adoro essas histórias de amor!
Enquanto comento essa belezura de texto, coloco pra tocar Roberto, em homenagem à Gleicineide e Celinho... rs
"Você foi...
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci..."
Ah, mas que delícia! Que momento, Cacá! Como é bom ouvir (e saber contar) histórias assim!
Adorei! Ri um monte aqui!
Abraço grandão procê!
Olá amigo!
Meu blog está comemorando 1 ano de existência nessa segunda-feira, 23 de maio de 2011, e por isso pensei em fazer algo especial para homenagear essa data tão importante para mim. Por isso, quero saber o que representa para você a frase “SER FELIZ É SER LIVRE” que encabeça o meu blog. Pode ser um pequeno texto, uma simples frase, uma mensagem, um verso, uma palavra ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça.
Por favor, não deixe de participar, pois a sua opinião é MUITO importante para mim.
Bjoxxxxxxxxxxxxxxxx no coração!
Ahhhhhhh cacá, dessas paixões que nos marcam a ferro e fogo... sem nos queimar e sentir dor.
Não esqueço as minhas.
Meu carinho, amigo
Quantas saudades!
Meu beijo e que esteja bem
Samara Bassi
tadinha da Gleicineide...o que sera que aconteceu com o Celinho?
Oiii Cacá, demorei mas vim no seu cantinho agradecer sua visita no meu blog...Fique a vontade se tiver alguma duvida de informática, que ficarei muito feliz em responder. O nome é Mulheres na Informática, mas os leitores masculinos também são bem vindos.
Abraços
jpmulheresnainformatica.blogspot.com
Estava aqui a ouvir Paul McCartney e chego no seu Mundo...com mais romance , música de RCarlos , hoje durmo embalada por lembranças tal qual Gleicineide. rs
Adorei a prosa Cacá.
deixo um bom abraço e agente se vê, por aqui ,por lá , de algum modo rs
boa segunda
Que conversa tem essa Gleicineide,hein Cacá?Dá prá escrever um livro,só das confidências dela,né?Boa semana prá você,amigo.Bjssssss,Leninha.
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