Publiquei aqui uma série de excertos de pensamentos de escritores sobre escrever. Agora, o mais importante, creio, e um combustível para a escrita, publico outra série sobre o ato/hábito da leitura.
imagem google |
Quando eu era criança minha mãe me presenteou com as obras completas de Monteiro Lobato.
Eu era uma criança solitária, filha única e vivia numa pequena cidade do interior, sem diversões nem vida cultural interessante.
Pela mão de Monteiro Lobato descobri o mundo e as pessoas; D. Benta,a vovó carinhosa que contava belas estórias,Tia Nastácia,e a sabedoria popular transmitida às crianças Pedrinho e Narizinho e a destrambelhada boneca Emília,que depois virou gente,atrevida,irreverente,inconveniente como eu mesma.
Sempre digo que Lobato foi o meu pai espiritual, mas depois vieram muitos outros livros.Livros à man’cheia como queria o poeta,fazendo a criança pensar.
Nunca mais me senti solitária. Estou sempre rodeada de livros e tanto aos cinco anos quanto agora aos 68 os livros são a minha companhia.
Não temo a morte, mas,receio morrer sem ler todos os livros que desejo.
Mas, o propósito dessas reminiscências é lembrar aos pais e professores o quanto a leitura é importante para o bom desenvolvimento da criança.
Nesta nossa era cibernética, do computador,da Internet,dos games e até mesmo dos livros digitais que estão surgindo – e-books,e-readers – cabe a nós fazermos com que nossos garotos não percam o interesse pelo bom livro impresso,seu conteúdo e sua magia.
O livro é o tapete mágico que nos transporta a mundos diferentes, que nos abre portas para outras culturas e pessoas diversas e nos faz compreendê-las.
A Literatura deve ser levada às crianças e adolescentes de uma forma fácil, interessante, para que possa ser entendida por eles.
Um adolescente me confessa detestar Machado de Assis; acho apenas que Machado lhe foi apresentado de modo errado.
Talvez esse interesse que não veio, tenha sido prejudicado pela leitura em português castiço, antiquado para a nossa época ou essa leitura tenha sido obrigatória e o garoto não pode captar a beleza desses livros.
Pois os temas são os mesmos desde o começo dos tempos: amor, solidão, ciúme, traição, família, interesses escusos ou não; os personagens vivem até hoje em outros corpos; quem não conhece alguma Capitu ou Bentinho, ou José Dias ou Escobar ou o Ayres?
São eternos, puxa!
Poderiam ser nossos vizinhos, amigos próximos, parentes até.
Uma coisa parece certa; se os pais têm o hábito de ler os filhos terão também.
Se a criança receber livros de presente e esses livros forem interessantes, adequados às suas idades e explicados de forma informal pelos pais e professores, com certeza estaremos formando futuros leitores.
No Brasil temos um probleminha; os livros não chegam à senzala, ou seja, crianças pobres de escolas públicas quase nunca têm acesso aos livros, principalmente porque o livro é caro para o bolso da maioria.
Porque não colocar um livro na cesta básica visando alimentar o espírito?
No meio de bolsa-escola, bolsa –família etc porque não criar o vale-livro,formar bibliotecas nas escolas e centros comunitários,estimular o contador de estórias ,discutir a leitura, “fazer o povo pensar”?
Porque não interessa aos donos do poder. Povo que pensa escolhe melhor seus governantes.
** Miriam de Sales Oliveira é escritora Baiana, autora de CONTOS E CAUSOS, BAHIA DE OUTRORA e CONTOS APIMENTADOS. Dona dos blogs: http://wwwfiatluxblogspotcom.blogspot.com/ - http://contosecausos24x7.blogspot.com/ - http://miriamcafecompimenta.blogspot.com/ - http://abahiadeoutrora.blogspot.com
* L.E.R. = Lesão por Esforço Repetitivo
21 comentários:
Oi Cacá
Um texto muito bom que concordamos, claro! .
A leitura seja na escola ou fora dela é muito importante no crescimento intelectual e espiritual.
Sempre fui rata de biblioteca, adoro ler e os filhos mais ou menos rs
Obrigada por apresentar novos escritores.Vou lá conhecer um blog da Miriam.
deixo o abraço da madrugada
Bom dia, Cacá.
Nem tenho muito o que comentar, pois concordo com tudo o que a Miriam falou, principalmente na "apresentação" dos autores de outrora aos jovens. Eu sofri na pele essa situação, pois quando estava ainda no fim do antigo primeiro-grau, era praticamente obrigado a ler algo que eu não entendia. E foi graças a um amigo que pude conhecer obras e autores fantásticos, como Graciliano por exemplo, de um jeito mais "amistoso".
Meu amigo, peço perdão pela ausência, mas meus dias têm sido terríveis. E o pior, sem uma data certa para melhorarem, uma vez que não existem profissionais da minha área disponíveis por aqui.
Grande abraço, Cacá.
Marcio
Sim, ler é muitissimo importante, só uma coisa é certa: Nao há incentivo para que se leia no Brasil. A comecar pelos precos absurdos dos livros! Mas, tenho minhas dúvidas, também, se os precos fossem mais acessíveis se os pais incentivariam seus filhos à leitura!
Em 2005 e 2009 estive no Brasil com meu marido e ele, ficou impressionadissimo com os precos dos livros... aqui, na Alemanha, temos livros com precos mais "convidativos". É preciso que o governo e as editoras se voltem para isso. Editem mais livros de bolsos (sem luxo) e, certamente, a leitura será bem maior...
As criancas alemas, leem como hábito e nao tao-somente na escola; tudo que é OBRIGADO, torna-se chato.
Abracao,
Cacá
virei fã dessa moça.
Quanta verdade ela esparramou no seu desabafo.
Ler é tudo de maravilhoso e as crianças principalmente, precisam ter mais acesso a literatura.
Na verdade um livro é cheio de magia.
Para mim começa pelo cheiro, ah como eu gosto do cheiro dos livros e depois vou pegando com cuidado como se fosse algo bem precioso e frágil, é um verdadeiro ritual meu contato com o livro até começar a ler. Rsrs.
Ela citou “os livros não chegam á senzala”.
Não meus amigos não chegam e eu que o diga!
Aprendi a ler com seis anos e meio por aí, não tinha sete ainda, e me encantava com as revistas e jornais das bancas, mas sempre lia apenas as capas , as chamadas.
Um dia encontrei um almanaque com história da Disney na lixeira, e nossa foi lindo acompanhar cada pagina e cada conversa entre os personagens e foi aí que eu amei ler. Mas era muito difícil entrar em contato com estas coisas e foi isso que me levou as salas de aula.
Mas deveria ter mesmo um “livro na sesta básica” viu?
Ler... É uma descoberta em cada linha.
Um beijo Cacá.
Fernanda
Velho Cacá de paz!
A baiana tem razão.
Os livros são mundos!
Abração!
Berzé
Leitura só faz bem.
E esse texto da Miriam, como tudo que ela escreve foi muito lehal trazer aqui.
Adoro a Miriam, seus escritos e seu jeiinho...
Muito legal! beijos,ótima semana,chica
Magnífico!
A sugestão de um livro na cesta básica.
Eu fui uma dessas crianças que não lia nada.
Tomei gosto pela leitura já adulta e aos poucos.
Hoje me sinto completamente atrasada, pois penso que a leitura é para uma vida inteira.
A leitura tem que ser incentivada sim e de forma natural.
Bom dia Cacá!
xeros
Meu querido Cacá,obrigada por me colocar nessa vitrina maravilhosa q/ vc criou na Internet e, me fazer,através dela,estar em sinergia com toda essa gente boa q/ a frequenta.
Gente de escol q/ fala,sabendo o que diz.
Um grande abraço amigo extensivo a todos os seus inúmeros leitores.
Quando era criança apareceu em minha casa vários livros de histórias, dentre eles do Monteiro Lobato, foi uma festa para mim na época que lia a relia todos aqueles livros. Infelizmente hj as crianças diantes de tantas figuras e informações em telas, estão deixando de viajar e imaginar com as histórias nos livros. Gostei da idéia de das bolsas... Parabéns Cacá pela divulgação desse texto, com certeza passarei pelo blog da Miriam.. Abraços
Perguntaram a Confúncio porque ele comprava arroz e flores. E ele repondeu: "Compro arroz para viver e flores para ter um motivo para viver". Acho que a leitura passa por aí, é o alimento do espírito.
Lembro que essa discussão sobre um livro na cesta básica já foi feita há tempos atrás e resolveram colocar no lugar, absorventes menstruais. E sabe porquê? É que constataram a existência de inúmeros casos de infecção nas mulheres pq elas obrigavam-se a usar jornais para a menstruação. É, meu amigo, a questão é séria. Confúncio tinha o poder de compra, mas quem recebe a cesta básica, não tem sequer o mínimo existencial. O que me traz de volta à velha indignação: se não houvesse essa vergonhosa corrupção entre os que lidam com o dinheiro público, poderíamos ter "livros à mão aberta". Mas aí vem outra dúvida: será que as pessoas da família (crianças, inclusive) TERIAM ACESSO aos livros da cesta básica, ou melhor, leriam os livros? Teriam esse INCENTIVO por parte dos pais, soterrados na ignorância e no salve-se-quem-puder? Tenho minhas dúvidas. Mas concordo com o ponto de vista da Miriam, todos deveriam ler, ler e ler. E aprenderiam a pensar.
Ótimo texto, Cacá, como sempre aliás. E você tem razão: ler não causa L.E.R. Experiência própria, hehe.
Bjssssssss
Com toda certeza, amigo, o hábito da leitura só tem a acrescentar em nossas vidas, mesmos aos que não aspiram viver das letras.
Bjs!!
Eu sou seguidora da Miriam e este seu gesto de trazer novos escritores e´excelente.
Abços.
Que grande texto da Miriam!Muito bem escrito e argumentado,mostrando a importancia da leitura!Cacá,teu livro está no Recanto dos autores hoje e nas redes sociais.Bjs,
Cacá, acredito que a principal condição para que alguém, em qualquer idade, aprenda a gostar de ler, é que lhe caia nas mãos uma obra adequada para a idade e que o conteúdo seja absolutamente apaixonante.
Abraço
Cacá,to passando nas "carrera" como diz omatuto..não consigo postar comentário em alguns blogues..
tomara que este vingue
abraçossss1!!!!
Yasmine
Excelente post Cacá! Interessante, educativo...
Engraçado, minha primeira leitura também foi Monteiro Lobato. Lembro-me que anos mais tarde no ginásio, fiquei com o primeiro lugar com um trabalho de literatura, escrevi sobre Monteiro Lobato. Ganhei graças ao que havia lido no curso primário.
Confesso que odiava a minha professora de português que nos obrigava a ler um livro por mês e depois fazer o resumo. Hoje a agradeço, pois foi com ela que desenvolvi o gosto pela leitura.
Mas eu acho que gostar de ler é como treinar o paladar, temos que experimentar. É aí que entra o papel dos pais e professores. Mas como podem todas as crianças ter acesso com os preços exorbitante dos livros aqui no Brasil?... Nas escolas públicas os pais mal têm condição de comprar os livros didáticos que são necessários, e quase nunca é fornecido pelo Ministério da Educação, estão sempre em falta. Lamentável.
Um grande abraço.
Olá José, muito bom o tema. A leitura ainda é um problema nesse País. Abraço Cy.
Sou um leitor da Miriam em livos e espaços da internet.Ela é fantastica e tem uma bela visão da importancia da leitura alem de ser uma grande incentivadora de jovens talentos.Voce fez uma bela postagem amigo.Meu abraço e muita paz ai.
Oi Cacá!
Que legal vc dividir com a gente esse texto da Miriam! O que ela disse é muito tocante e deveria servir de exemplo, um exemplo bonito!
Machado de Assis já foi meu tema e já o vi por aqui tb. O "Problema" com ele (se assim posso dizer), é que as escolas acham nosso grande autor leitura obrigatória e quando os pré-adolescentes o fazem, nao voltam a pegar outra obra tao cedo, dado o peso da tortura que o Machado deixa em certa idade. Machado de Assis é um clássico da literatura brasileira, verdade, mas peralá, tem que existir certo poder de discernimento e captacao da ideia pra gostar dele, e isso, aos 15, 16 anos, acredito que nao rola...
Aii, eu tb, olho pra minha estante e vejo ainda os livros que tenho pra ler e lembro dos que quero ler (inclusive sua indicacao) e fico louca!!! Falta tempo pra tudo, mas ainda chego lá!!
Beijao, queridaoo, boa semana!!!
Comecei eu também por Monteiro Lobato, o grande!
Gostei muito da idéia do vale-livro, alguns políticos deviam arriscar mais, principalmente arriscar a deixar uma herança melhor para seus próprios filhos!
Abraços renovados!
Primeiro quero parabenizá-lo pela nova série, desta feita sobre a leitura, pois as conversas com quem gosta de escrever foi uma série fantástica.
O excelente texto da Miriam já é uma prova da qualidade do que vem por ai. Me identifiquei com tudo o que ela disse da experiência com os livros. Sobre Machado, ela está certíssima. Ai meu Deus, o que essa moçada perde em não prestar atenção nele. A única diferença fica por conta do "guia espiritual" para a literatura, no meu caso foram dois, Olavo Bilac e Cecília Meireles.
Parabéns e um grande abraço aos dois.
Celêdian
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