quarta-feira, 28 de maio de 2008

QUE A MÚSICA NÃO OS SEPARE

...eu vou cantando com a aliança no dedo...

(Caicó (Cantiga) M. Mascimento


Os ensinamentos que tornam sólidos o nosso caráter são aqueles que vamos praticando ao longo da vida, às vezes, de forma enviesada e nem tanto ou quase nunca ao gosto de quem os ensinou, no caso, e na maioria das vezes, os pais e professores das primeiras letras e humanidades. Coisas do tipo, ganhar a vida honestamente. Temos que nos virar para demonstrar para nós mesmos que estamos no caminho certo. Pelo que julgamos ser certo ou estabeleceram para nós que assim seja. Às vezes, na falta dessa certeza, fazemos para demonstrar para o outro, mas vá lá, já é alguma coisa. Ainda mais se de nosso jeito de ser brotar sempre um desejo de independência emocional e, principalmente, material. Essas pelejas, o brasileiro sabe fazer e bem. Na rua, em casa e no trabalho, as três coisas que mais freqüentamos na existência.

Na época de estudante secundarista e namorador, passava os finais de semana quase sempre em Itabira, quando não tinha nenhuma paquera em Belo Horizonte ou dava aquela saudade da comidinha da mãe, se conseguisse carona na beira de estrada.

Enquanto não se garantia um emprego, ia inventando-se malabarismos e fabricando uns talentos em forja de necessidade. Treinei mal e parcamente acordes ao violão e animava rodas de amigos, de festas caseiras e outros espaços onde sempre havia platéia alterada pelo álcool ou péssimos cantores, ambos com baixa exigência de qualidade sonora. A ordem dos fatores não alterava o entusiasmo. Licença para meu amigo Primo, que tem um timbre mavioso e uma afinação perfeita.

Conseguimos convite para um casamento cujo noivo gostaria muito de ter o Primo ilustrando o cenário com sua voz e ele sem certeza para confirmar. Tinha a voz, mas não tinha tocador. Contou para nós e, quando disse que seria pago, pensamos logo: tá garantida a noitada, as cervejas, o namoro na noite e quem sabe, não sobrava algum para um jantar, já que o convite ao casório não incluía a comida e a bebida da festa. Ensaiamos numa tarde só, Cantiga de Caicó, Fascinação e Eu Sei Que Vou Te amar, depois da permissão do padre censor. Também não era bom que ele liberasse muita coisa. Eu não saberia tocar, ia ser feio. Mas foi bonito e rendeu bela noite. O problema foi ter que pedir insistentemente o Primo, a Marisa e a Rosa para cantarem numa altura que abafasse o som do violão. Caso eu errasse algum acorde, não destoava da cerimônia nem chamava a atenção dos convidados para nós. A igreja tava lotada e o bar nos esperando lá fora.

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